segunda-feira, 26 de setembro de 2016

O voto e a mãe de todas as batalhas













Com Lino e com Elson, na esperança...

Hoje um amigo muito amado me questionou privadamente no face sobre o que ele considera uma “grande incoerência” da minha parte. Não queria me expor, disse, por isso, falou no privado. Sua questão era: como podia eu votar para prefeito num partido (PSOL) que não se posicionou claramente contra o golpe, e que ainda tinha coligado com partidos golpistas (PV e Rede). E como podia também eu votar num vereador do PT, sendo eu tão crítica do PT. “Isso não te parece loucura”, perguntou.

Achei muito pertinente a sua questão e expliquei que já havia exposto minhas razões. Mas sempre se pode voltar ao tema, até porque sei de muita gente que está perdida nessas eleições por conta da fragilidade dos partidos políticos e das alianças esdrúxulas que estão sendo construídas.

Respondi a ele que se tem algo que eu amo de paixão é essa minha cidade. Um lugar que eu escolhi para viver e lutar, e que me acolheu. Por isso, sinto que tenho responsabilidade para com esse espaço geográfico e essa gente que comigo constrói a realidade local.

Vivemos um tempo em que os partidos políticos perderam sua força. O campo da esquerda está confuso e esgarçado, seja pelo processo de domesticação vivenciado no governo petista, seja pela incapacidade de constituir uma proposta classista, radical e revolucionária. Isso faz com que o velho hábito de votar em um programa partidário se perca.

Se formos peneirar as alianças dos partidos, vamos perceber que apenas o PCO, PCB e o PSTU, do campo da esquerda, mantém um programa mais próximo daquilo que se poderia chamar de classista. O PCB é um partido que vem se re-constituindo e pode vir a ser uma opção de militância, mas não tem candidatos em Floripa. Tampouco o PCO existe por aqui.

No caso da capital catarinense, apenas o PSTU tem candidatura para prefeito e vereadores, mas confesso que por conta de suas práticas cotidianas há muito deixei de ver nele uma possibilidade. Falta conexão com a realidade.

Sendo assim, decidi votar em pessoas que tivessem propostas que mais se aproximassem das minhas convicções e dos meus desejos de cidade. Escolhi para prefeito o Elson porque ele congrega nas suas propostas – ainda que coligado com pequenos partidos que apoiaram o golpe – as propostas que temos construído coletivamente para Florianópolis no processo do Plano Diretor. E ele mesmo é uma pessoa que participou ativamente desses momentos, formulando propostas concretas para esse nosso lugar. Vou com ele, acreditando que, caso ganhe a prefeitura, possa avançar na construção de uma cidade para as pessoas e não para os carros ou a especulação. Acredito que ele possa cumprir com as propostas que vem apresentando, mesmo com os aliados que tem, partidos praticamente sem expressão na cidade, com pouca força de barganha. É um cálculo pragmático.

Já o voto no Lino Peres vai pelo mesmo caminho. O Lino é um vereador do PT e carrega com ele todas as mazelas causadas por esse governo em nível nacional. Mas, alguém pode colocar algum defeito na atuação parlamentar do Lino nesse mandato que passou? Ele cumpriu todas as propostas que fez, atuando em sintonia completa com as lutas sociais e com as demandas da cidade real. Foi um guerreiro no processo do Plano Diretor, é presença segura nos movimentos sociais, cotidianamente, e não apenas nos “bons momentos”. Reuniu gente que nunca participou de política, criou espaços de debate, de organização popular, levou para dentro da Câmara os mais variados grupos e temas, impulsionando a luta popular. Não tenho reparos ao trabalho que fez. Respeito demais o Lino, pela sua força e pela dedicação com a cidade. Ele respira Florianópolis, conhece cada canto e sabe que seu trabalho parlamentar é só uma gotinha no oceano da luta. Ainda assim, cumpre suas tarefas como se delas dependesse a vida de todos. É puro compromisso. Isso não é pouca coisa.

Assim, em nome do amor que eu tenho por essa velha Meiembipe, eu mergulho de cabeça no nojo que pode me causar algumas coligações e mesmo algumas posturas. Afinal, a vida real não é um reino encantado. Ela precisa que a gente caminhe em meio ao desgosto, para chegar num lugar melhor.

Ademais, a eleição municipal não é a mãe de todas as batalhas. É um pequeno e quase inútil combate. Só que precisa ser travado. Gostaria de lutar por dentro de um partido revolucionário, cujo elemento suleador fosse a consciência de classe. Mas, essa é uma opção ainda em construção. Enquanto isso, pragmaticamente, darei meu voto a essas duas criaturas, nas quais – a despeito de seus partidos  - eu confio. Não nego que isso me frustra, mas, a vida não é um carrossel colorido. Ela é feita de contradições e de opções duras, por vezes indigestas.

Não me sinto mal por tomar essa decisão. Ela é consciente, como tudo que faço. Espero que meus candidatos sejam eleitos e eu possa ver que acertei.

E, se forem eleitos e defraudarem minhas esperanças, ali estarei, na trincheira, batalhando contra eles.

O Lino já se provou. Fez bonito. E tenho confiança de que o Elson também cumprirá, caso seja sua hora.  



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