Valentes lutadores da cultura local e nacional
Corria o ano de 2004, num festival de primavera promovido pelo
Sintufsc, sindicato no qual atuavam como diretoras e jornalista, quando Raquel Moysés,
Elaine Tavares e Miriam Santini de Abreu conheceram o trabalho da SoSaci,
Sociedade dos Observadores de Saci. A entidade, com sede no interior de São
Paulo, então já desenvolvia uma verdadeira batalha cultural e anticolonial na
tentativa de discutir a cultura nacional em contraposição à invasão dos
festejos do Halloween no país.
Como todos sabem o “raloím” é uma festa tradicional nos
Estados Unidos, comemorada no dia 31 de outubro que, aos poucos, foi invadindo
as escolas e o comércio brasileiro. E, como o mundo caipira reverencia muito o
Saci, foi primeiro no interior de São Paulo – em São Luiz de Paraitinga - que
começou essa proposta de, no nosso 31, colocar foco no gurizinho negro, de uma
perna só, que é responsável por estripulias e traquinagens, além de ser o protetor das
florestas e o amálgama das tradições étnicas formadoras do país: o índio, o
branco e o negro. Depois, a festa do Saci Pererê foi se espalhando, congregando
outros mitos que representam cada espaço particular.
Em Florianópolis a luta pela cultura nacional e local
começou a ser feita pelo Sindicato dos Trabalhadores da UFSC, em 2004, e depois
que as três mulheres que iniciaram os festejos saíram da entidade foi incorporada
pela Revista Pobres e Nojentas, que passou a promover a festa. Assim, todo dia
31 de dezembro, a Pobres realiza o Dia do Saci e seus amigos no centro da
cidade, contando com a parceria de vários militantes da causa cultural, outros
sindicatos e movimentos sociais. A ideia é levar à comunidade o debate sobre a
cultura brasileira, mostrando que aqui também temos lindos mitos que podem ser
celebrados com festa e beleza. No caso de Florianópolis é assegurada a participação
das bruxas, muito bem caracterizadas por Franklin Cascaes, que são elementos
míticos tradicionais da vida do litoral
catarinense.
Assim, a cada ano que a festa se realizava apareciam novos
parceiros para dar conta das atividades e também surgia o desejo por parte da
população que passava pela rua de garantir a oficialização do festejo, para que
a discussão sobre os mitos nacionais pudesse também ser incorporada pelas
escolas e entidades sociais. “Não bastava mais lembrar as bruxas e o Saci só no
dia 31. Era preciso levar esses personagens ao conhecimento das crianças, para
que pudessem conhecer mais a cultura nacional e local”, lembra Raquel Moysés. Assim,
começou a ser construído um abaixo-assinado para ser encaminhado à Câmara de
Vereadores pedindo que o 31 de outubro entrasse para o calendário oficial.
Imediatamente o vereador Lino Peres (PT) assumiu o
compromisso de apresentar um projeto para tornar esse dia o Dia Municipal do
Saci e seus amigos, a exemplo do que já existe em muitas outras cidades do
Brasil, como São Luiz do Paraitinga (SP), São Paulo (SP), Vitória (ES), São
José do Rio Preto (SP), Uberaba (MG), Fortaleza (CE), Guaratinguetá (SP), Embu
das Artes (SP), Poços de Caldas (MG), Independência (CE). Também o Estado de
São Paulo já instituiu o dia oficialmente.
A proposta foi feita, o projeto tramitou e nesse dia 14 de
dezembro foi votado na Câmara Municipal da capital catarinense. Agora, a
capital se junta, de maneira oficial, a essa luta pela cultura nacional e local,
e o Dia do Saci e seus amigos passa a integrar o Calendário Oficial de Datas e
Eventos da Prefeitura de Florianópolis. “Houve, por parte dos vereadores,
sensibilidade em relação à valorização dessa figura ilustre do folclore
popular, um símbolo da síntese de etnias que são base da nação brasileira: o
índio, o negro e o branco. O Saci e seus amigos, como o Boitatá e o Curupira, são
parte do folclore brasileiro, em contraponto à bruxa da festa do Halloween, que
tem raízes irlandesas e virou dia de frenéticas compras nos EUA e também no
Brasil, em um contexto bem diferente das Bruxas da Ilha de Franklin Cascaes,
que simbolizam bela referência de Florianópolis e região”, comemorou o vereador
Lino, depois da votação.
Não foi sem razão que a terça-feira amanheceu diferente, com
rajadas de vento “suli” e redemoinhos varrendo as ruas. Dava para ver no céu
emburrado a passeata das bruxas, tocando, com suas vassouras, uma penca de
Sacis, os quais pulavam de nuvem em nuvem, em enlouquecida alegria.
Eita...
2 comentários:
Parabéns Elaine, Miriam e Raquel por mais esta LUTA. A insistência de vcs, meninas valentes, valeu a pena. E VIVA O SACI e seus amigo! E VIVA a cultura e o folclóre brasileiro.bjs.
Oi Elaine, me chamo Rodrigo e trabalho com o Saci há tempos.Li seu texto e fiquei muito feliz de ver que aqui em Floripa também foi oficializado o dia do Saci.Faço parte do Sacizal dos Pererês, de Brasília.Trabalhei um tempo numa rádio comunitária legítima, no interior de Minas, abordando sobre nossa mitologia.Um vereador abraçou a causa e apresentou o projeto.O dia do Saci foi oficializado tb em Guaxupé-MG.Dia 31 de outubro nesta cidade, as crianças desenham e se ocupam do Saci...Estou morando em Floripa desde Julho, queria me deixar à disposição para tais traquinagens.Deixo aqui meu contato. consultpsisp@gmail.com.
Abraços e Há braços!
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