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Trabalhadores da educação entram no terceiro mês da greve
A semana que passou foi de muita mobilização em Brasília no âmbito da greve dos trabalhadores técnico-administrativos. Milhares de pessoas saíram de seus estados rumo à capital para mais um ato de enfrentamento e de busca de negociação. Como sempre, é um esforço tremendo que os trabalhadores precisam fazer para garantir que os burocratas do governo se dignem a abrir a porta para uma reunião e uma conversa. A cada ano, em cada greve, fica mais escandalosa essa demora em definir o reajuste salarial dos trabalhadores.
Sempre é bom relembrar. Trabalhador público não tem data-base, logo, o governo fica desobrigado de reajustar salário a cada ano. Sua tática - e isso acontece em todo o governo, azul ou vermelho - é arrochar até quanto o trabalhador aguentar, então, quando não dá mais, precisa estourar uma greve para que venham discutir o tema.
Ainda dentro da tática de desgaste do trabalhador público, o governo faz com que a greve demore, demore, demore, até que a sociedade comece a achar "um abuso" que "essa gente" (no caso, os trabalhadores das universidades) fiquem dois ou três meses sem trabalhar, atrapalhando a educação de seus filhos. É tudo como um recorrente teatro, ano após ano. Na última reunião do Conselho Universitário da UFSC, por exemplo, foi possível perceber o quanto essa tática é vitoriosa. Um dos representantes do Diretório Central dos Estudantes, diante da discussão de uma moção de apoio à greve, disse que só poderia apoiar se os trabalhadores não "prejudicassem" mais os alunos, visto que as aulas iriam começar e precisava ter Restaurante Universitário e Biblioteca.
Ora, a greve é um momento de subversão da ordem das coisas. É quando a vida sai do lugar. Justamente porque os trabalhadores precisam repor o poder de compra dos seus salários. Os técnico-administrativos das universidades estavam desde 2012 amargando um acordo feito também numa greve, o qual não acompanhou a inflação. Assim, as perdas salariais estão em 27,30%. O que isso significa? Que, em relação a 2012, os salários perderam essa porcentagem no poder de compra. Assim, é justo que isso seja reposto. São perdas. Não está aí embutido nenhum aumento real.
Pois o governo, usando o argumento da crise, não aceita discutir essas perdas e pretende impor a reposição de apenas 21%, divididos em quatro anos. Ou seja, quando chegar 2020 é que os trabalhadores terão reposto esses 21% de perdas acumuladas de 2012 a 2016. Isso significará que as perdas reais já serão bem maiores. Nesse sentido, é impossível aceitar a proposta.
E foi justamente para pressionar o governo que os trabalhadores fizeram mais uma caravana à Brasília, com atos e passeatas de protesto. O objetivo: estabelecer uma mesa de negociação. Uma humilhação a mais. Todo um esforço para que se abra uma maldita mesa. Como pode um governo permitir que milhões de pessoas fiquem sem condições de estudo simplesmente porque não quer dialogar? Pois é assim. E os trabalhadores é que passam por vilões.
Pois, feitos os atos e passeatas, uma última caminhada noturno, com tochas acesas, terminou em frente ao Ministério de Orçamento, Planejamento e Gestão, que foi logo em seguida ocupado. Ninguém arredaria até que houvesse uma reunião. Gritaria, correria, polícia, todo o kit básico desse tipo de manifestação aconteceu. Então, os "magnânimos" resolveram conversar. A reunião serviu para marcar outra reunião, no dia seguinte, no MEC. E lá foram eles outra vez.
Na nova reunião, a mesma surdez. O governo mantém religiosamente os serviços da dívida, que consomem 47% do orçamento nacional, e obriga os trabalhadores públicos a apertarem os cintos, ficando sem reajuste nos salários. Ou seja, que paguem os trabalhadores pela garantia de boa vida dos bancos e dos banqueiros internacionais.
Agora, o governo acena com uma nova (?) proposta, igualmente trágica. Pagar 10 ou 12% divididos em dois anos, mesmo sabendo que a previsão de inflação é bem maior do que 5% ao mês. Ora, não há novidade aí. São os mesmos 21 anteriores. Apenas que serão pagos apenas 10 ou 12 em dois anos. Depois, em 2017 pode haver nova negociação para os 11% restantes. Seria cômico se não fosse trágico.
Aos trabalhadores é o que está posto. Ou aceitam isso, ou aceitam isso. Não há negociação. Não há sensibilidade alguma com as gentes locais. Aos credores da dívida (ilegal e ilegítima) nenhum pedido de apertar cinto. Só aos trabalhadores, essa gente de casco duro que aguenta tudo. Será?
Agora, ao iniciar o terceiro mês da greve vem o início de semestre e todas as dores de uma paralisação. Alunos sem biblioteca, sem RU, sem coordenadoria. E o dedo apontado para os trabalhadores: "vagabundos". Poucos são os que dirigem seu ódio aos verdadeiros responsáveis por essa tragédia das greves anuais. Os trabalhadores só têm sua força de trabalho para vender no sistema capitalista e, assim, precisam lutar para garantir o provimento da vida. Unidos, eles formam um corpo gigante, que pode mover o pêndulo. Às vezes, vencem, às vezes não. Sempre depende da força da mobilização.
A semana será longa.
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