segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Consciência de classe



Florianópolis tem suas delícias, mas também abismos. Um deles é o transporte coletivo. Incrível como os políticos de plantão conseguem piorá-lo, quando se pensa que isso seria impossível. Pois agora inventaram de cortar horários. E os argumentos? Ah, os argumentos... São singelos: existem horários em que há menos gente circulando, logo há que ter menos ônibus. Lição de lógica. Assim, diminuem-se ainda mais os custos para os empresários, porque afinal, eles sofrem muito para manter suas frotas.

Bueno, mas se a lógica do serviço público é essa – e temos de lembrar sempre que o transporte coletivo é um serviço público – então teríamos de aplicá-la em todos os níveis. Assim, a partir de agora, os estados deveriam cortar a água nas residências no horário das 15 às 18h. É que nestas horas tem pouca gente usando água. E também deveriam cortar a luz entre 10 e 17h, pois parece que aí também tem menos gente usando a energia elétrica. E assim por diante...

O mais incrível destas decisões esdrúxulas da prefeitura de Floripa é que elas não provocam rebelião. Engraçado que outro dia, quando os motoristas de ônibus paralisaram algumas horas para reivindicar a permanência de seus colegas cobradores no emprego, teve gente que, indignada com os trabalhadores, chegou a destruir catracas no terminal. Gente tomada de ódio pelos motoristas, “esse povo irresponsável”.

Mas, contra o empresariado e os políticos que nos deixam horas e horas mofando nos terminais nestes dias de calor infernal, ninguém diz nada. Ninguém quebra catraca ou incendeia ônibus. Bom, parece mais fácil explodir contra os iguais. Outro dia peguei um ônibus, destes que não têm janela – o que é um atentado à vida. E o ar não funcionava. Tirando eu e outra mulher que bradávamos, ninguém dizia um ai. E fomos todos sufocando até o Rio Tavares. Eu havia conclamado o povo para ir falar com o fiscal, mas quando o ônibus parou, saíram todos correndo. Só eu fui pedir ao fiscal que não deixasse sair o ônibus, pois estava sem ar. Uma voz solitária e inútil.

Ele mentiu. Disse que ia tirar de circulação. Eu entrei no ônibus do Castanheira e quando vi lá estava o ônibus, indo para o ponto do Rio Tavares direto. Sai correndo, mas não deu tempo de impedir. As pessoas ficaram rindo de mim. Eu perdi meu ônibus e tive de esperar mais 30 minutos pelo outro. E as gentes de cabeça baixa, fingindo não perceber que aquilo que devia ser um direito lhes é negado todos os dias. Eu me indigno, mas não desisto. Um dia, quem sabe, os trabalhadores entendem o que é consciência de classe, que é essa coisa de saber o lugar que ocupamos no mundo.

Um comentário:

Marcelo Kenne Vicente disse...

Parabéns pelo comentário e atitude. Embora não concorde muito com suas visões político-econômicas, acredito que esse caminho abordado no texto é o correto. Se não houver mobilização do povo, nenhuma mudança ocorrerá.

Parabéns novamente.