Eles eram quatro, como os cavaleiros do apocalipse: Conquista, guerra, fome e morte. Cada um deles com seu furacão interior. Um era tormenta, outro fúria, um era riso e outro doçura. Nos dias e noites de Passo Fundo, no interior do Rio Grande, eram meu esteio, minha casa, meu amor. Ora me protegiam, ora me colocavam a perder. Cerveja, música, aventuras, vinho, trabalho, futebol, rancheiras. Éramos siameses de cinco cabeças. Aonde um ia, os outros iam atrás. Kapa, Gilmar, Bozó e Gildo. Irmãos, pais, amigos, amores. Sem eles, a vida era gris.
Pois então eu fui embora fazer faculdade. Outro estado, outro lugar. Eles ficaram no Passo Fundo, torcendo para que tudo me sorrisse. Porque eram assim. Só queriam que eu fosse feliz. Por isso ninguém ficou triste. A vida passou, os anos escoaram pelo ralo do tempo e a gente não mais se viu. Mas, no fundo do peito aquele amor imenso sempre ficou igual. Eles eram meus príncipes, meus furiosos cavaleiros, e viviam em mim.
Dia destes, passados 22 anos, eu voltei a Passo Fundo. Levava um frio na espinha, um medo gigante, de que não mais fôssemos os mesmos. De que algo se tivesse quebrado. E foi assim, suando frio que esperei o Gilmar em frente à biblioteca da UPF. Até que o vi, caminhando seu passo cadenciado, magrinho, do jeito como sempre fora. Lá no meio da rua ele abriu os braços e eu soube que tudo era como antes. A dobra do tempo não acontecera. Aninhada em seu peito eu encontrava o velho irmão, o companheiro. A mesma ternura, a mesma cumplicidade, a mesma intimidade.
Quando veio a noite, trouxe com ela o Kapa, meu príncipe, e o Bozó, amado. Tudo igual. Nada mudara. O mesmo abraço, o mesmo beijo, a mesma sensação de completo aconchego. Não havia espaço para o medo. Os anos não haviam apagado aquilo que nós éramos. Só o Gildo não apareceu, perdido que anda por outras plagas deste grande país. Mas os meus amigos ali estavam, mais velhos é certo, com o mesmo profundo e “imorrível” amor. E na noite fresca , aninhados na casa do Gilmar, entre suas delicadas lembranças, nós quatro festejamos – com o macarrão da Rosângela e o bom vinho gaúcho - aquilo que segurou o tempo devorador de gente: o amor verdadeiro que sempre sentimos um pelo outro. Hoje, frente ao mar do Campeche eu agradeço aos deuses, porque um dia me levaram a Passo Fundo e me fizeram encontrar esses homens lindos, que me fizeram melhor!
Aos meus cavaleiros, todo meu amor!
2 comentários:
Ola, Elaine, vim aqui para dizer que li seu conto Então, nasceu, que a Urda me passou. Lindo, lindo. Você é maravilhosa escritora e pensadora.
Escrita-dança, divina... Sempre.
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