segunda-feira, 3 de agosto de 2015

As greves intermináveis do serviço público












O jornalista Milton Temer escreveu há poucos dias um texto no qual questiona a
greve nas universidades, alegando que já é hora de os trabalhadores dos serviços públicos em geral pensarem em outras formas de se manifestar e reivindicar seus direitos, que não venham ferir a cidadania. Reforça ainda que as greves no serviço público servem mais é para dar “férias” aos trabalhadores e colocar a sociedade contra eles.  

Ruminei algum tempo sobre isso e me permitirei fazer alguns apontamentos sobre a sua indignação diante da tal “greve por tempo indeterminado”, que o colega insiste em ser algo absolutamente anacrônico e anti-sociedade.

Um primeiro ponto a ser considerado é entender que o serviço público não tem data-base. Uma coisa tão prosaica que qualquer outro trabalhador da esfera privada tem. Ou seja. Quando chega maio, ou outro mês acordado pelas categorias, o patrão é obrigado a discutir as perdas salariais e as possibilidades de ganho real. É lei. Mesmo que o patrão não queira, é obrigado a sentar com o sindicato e negociar. Assim, quando uma greve nasce é porque já foram esgotadas as conversas.

No caso do serviço público, o governo não está obrigado a discutir as perdas dos trabalhadores em um mês específico do ano. Não há data-base. Então, os trabalhadores vão aguentando, aguentando, esperando pela boa vontade do governo em negociar. Porque qualquer reposição só virá se o governo quiser discutir. Como até hoje não tivemos um governo que se preocupasse em sentar com os trabalhadores para debater salário e condições de trabalho, todo esse parto tem de ser feio à fórceps. É um drama anual. O governo não chama para discutir, os trabalhadores se articulam, buscam negociação através de suas federações, o diálogo não vem e aí acaba sendo necessária a greve. 

Logo: a greve é o único recurso que o trabalhador tem para abrir diálogo com o governo. E, no mais das vezes, o governo se recusa, enrola, tergiversa, faz com que a movimentação dure dois ou três meses. Então, como é comum, diante da falta de informação e do preconceito perpetuado, os trabalhadores passam a ser os vilões da história. São eles os que atingem a “cidadania”. São eles os malvados que deixam estudantes sem aula, velhinhos sem pensão, pessoas sem médicos. O governo parece não ser responsável por nada.

Reivindico que essa é uma velha estratégia governamental. Estender as greves por meses para que os trabalhadores sejam enxovalhados na praça pública como os irresponsáveis, os que não prestam atendimento. Assim, aceitar essa premissa acaba por reforçar o preconceito criado pelos governantes de que todo servidor público é um relapso e vadio.

Já no aspecto da metodologia da greve, Milton Temer tem razão. Já era hora de as lideranças dos trabalhadores públicos terem bastante clareza disso. A demora das greves – provocada pelo governo – é um calcanhar de Aquiles que precisa ser atingido. Sabedores da estratégia governista em demonizar o trabalhador, era tempo de pensar em novas estratégias para que a reivindicação pudesse ser feita sem tanto prejuízo às pessoas que utilizam os serviços públicos.

Mas, também é bom que o jornalista saiba que esse tema sempre foi foco de debates e discussão. As tais das “novas formas de luta” estão sempre em pauta, sem que se possa avançar. Porque, afinal, o que têm os servidores públicos para barganhar? Eles não param uma produção de salsichas, nem de sapatos, nem de carros. Coisas que geram lucros astronômicos para os patrões. Um dia de greve numa montadora é prejuízo gigantesco e os patrões logo se mobilizam para terminar o movimento, seja com violência, com punições ou negociação. Mas, a coisa é rápida.

Agora, quando para um servidor público, o que é que para? O serviço à população. Coisa que historicamente sempre foi vista como prioridade zero. Nos discursos dos políticos, eles estão no topo, mas na ação cotidiana dos governantes, é zero. Então, há que se perguntar: como são os serviços públicos quando os trabalhadores estão trabalhando? Se for olhar com honestidade vai se perceber que se a “cidadania” consegue ter algum acesso aos serviços do estado, muito é por conta da dedicação dos trabalhadores que, trabalhando geralmente em condições adversas, se desdobram em mil para dar conta de uma máquina emperrada, ineficaz, desumana. Basta passar um dia num hospital público, ou num posto de saúde, ou numa escola de periferia, ou numa universidade sucateada para ver como é trabalhar nessas condições.

Então, o trabalhador para, quando não pode mais. Quando precisa gritar por melhor qualidade no ambiente de trabalho, por carreira, por salário – essa coisa vil que não paga o valor daquilo que se produz. E o que faz o governo? Estica a greve, leva dois meses parar abrir uma mesa de conversa, na qual diz que não haverá conversa. Então passam mais meses e os trabalhadores implorando por um diálogo. É isso que é uma greve de trabalhadores públicos. Uma humilhação a mais. E no fim das contas, são ainda enxovalhados como vilões da cidadania.

O jornalista fala de um exemplo no qual os médicos em greve atendem na rua. Mas não é isso que se quer. O que querem os trabalhadores públicos é um atendimento digno, humanizado, em instalações boas, eficazes. Os professores poderiam dar aulas públicas, e dão. Mas e daí? O governo valida como aula dada? Não! E o trabalho cotidiano dos técnicos-administrativos para manter a máquina pública funcionando nas suas entranhas? Como fazê-lo em tempos de luta? Ou eles são tão insignificantes que não estão na lista dos serviços a prestar?

Sim, a greve no serviço público é um drama social. Sim, toca no que é mais frágil, que é quem precisa do serviço público. Prejudica, provoca sofrimento, angústia e dor. Logo, ela não deveria existir. Isso significa que a “nova forma” de luta deveria ser eleger um tipo de governo, um tipo de organização da vida, que realmente pensasse no Público, que valorizasse os trabalhadores do setor, que dialogasse com eles, que ao primeiro sinal de movimentação reivindicativa se dispusesse a negociar, impedindo a paralisação. 

Mas, não, o que vemos é um governo – os de todas as cores – que provoca o espichamento da greve, que se omite, que se esconde, que endurece em posições pré-definidas, que não negocia. Assim, as greves por tempo indeterminado são provocadas por essa ação governamental. Porque é o governo quem tem poder. Os trabalhadores só têm a sua força de trabalho, os seus corpos nus, como dizia o grande repórter Marcos Faerman. E é essa força, frágil, que eles colocam na rua, em luta. Claro que trabalhadores há que não participam, que ficam em casa, que são relapsos na greve e no trabalho. Mas, são a minoria. 

Por fim, questionar o método das greves intermináveis é legítimo, mas há que focar no alvo certo. Responsabilizar os trabalhadores é reforçar velhos e sofríveis preconceitos. 




sábado, 1 de agosto de 2015

Das peripécias do prefeito



O preconceito nasce da mentira, da ideologia (que é a falsa consciência) e do medo daquilo que, para nós, aparece como diferente. Daí que a melhor maneira de lidar com isso é o conhecimento, o debate, a livre discussão sobre os temas considerados tabus. Homossexualidade, sexualidade, orientação sexual, feminismo, machismo, são alguns desses temas que, em pleno século XXI, ainda provocam alvoroço. Não sem razão, afinal, estão sempre sendo colocados embaixo do tapete. Por conta disso parece tão surreal a reunião que o prefeito de Florianópolis, César Souza Junior, teve com pastores evangélicos e lideranças católicas. Não que ele não possa conversar com essas pessoas, afinal, são tão cidadãos da cidade quanto qualquer um de nós. Mas o que assusta é o resultado dela.

Segundo se pode observar num vídeo divulgado pelo superintendente do Instituto de Geração de Oportunidades de Florianópolis (Igeof) e pastor da Assembleia de Deus, Everson Mendes, o prefeito se compromete em deixar de fora do Plano Municipal de Educação - que estabelece as políticas por um década - qualquer menção à identidade de gênero ou sexualidade. E mais, diz o prefeito: "A educação e a religião são atribuições da família. A prefeitura e o Estado não podem se intrometer, até porque há muitos outros pontos importantes a serem discutidos (dentro do Plano Municipal de Educação). Da minha caneta, nada que diga respeito a ideologia de gênero será encaminhado à Câmara. Assumimos aqui esse compromisso público".

A imagem da reunião mostra o prefeito, no centro, e os pastores com as mãos impostas sobre ele, abençoando. Como resumo de tudo, diz o pastor Mendes: "Vitória da família e do povo de Deus".

O fato em si traz profundas contradições.  Se educação e religião é atribuição da família, como diz o prefeito, então o que a religião tem a dizer ao estado? Se o estado é laico, como pode permitir a interferência da religião nos seus planos para a cidade? Em que medida o Plano Municipal de Educação, ao fazer menção à gênero e sexualidade, está se metendo na família ou na religião? E por que, não discutir gênero ou sexualidade pode ser considerado vitória da família? Discutir machismo, feminismo, sexualidade, orientação sexual e outros temas dessa lavra não só é papel da educação pública, como um dever. É certo que esse não é ponto mais importante num plano de educação, mas não cabe aos religiosos exigirem algo dessa natureza.

Diante de uma realidade nacional, na qual se vê cotidianamente, pessoas agredindo pessoas por conta de sua sexualidade, e até matando por isso, esse passa a ser um tema obrigatório nas escolas. Quando uma criança, desde os primeiros passos escolares, já começa a discutir essas questões, terá, com certeza, muito menos possibilidade de se deixar levar pela ignorância ou pelo preconceito. Isso sim seria a vitória da família, de todo o tipo de família. O município, que é responsável pelo ensino fundamental, não pode ser espaço de obscuridade. Tem, por obrigação, que ser um ambiente de conhecimento, se realmente estiver disposto a formar pessoas críticas e capazes de participar da vida da cidade.

O que choca nesse episódio do encontro do prefeito com os líderes religiosos é a ignorante aquiescência à perpetuação das trevas do desconhecimento e do preconceito. Não falar é se omitir diante da realidade. Não falar é ser conivente com toda a violência que é gerada pelo discurso que confere aos que escolhem caminhos diferentes dos da maioria a marca do "demônio". Esse é um discurso da idade média, quando o poder religioso temia o conhecimento laico, e que, desgraçadamente, tem reaparecido de forma assustadora.

No princípio, esse tipo de discurso, que paradoxalmente vem da boca daqueles que dizem seguir a Jesus (um homem que só pregou amor), provocou risos e brincadeiras nas redes sociais. Foi tratado como uma aberração. Mas, quando percebemos como tudo isso está se imiscuindo na vida do estado, é hora de olhar para esse discurso de ódio com mais cuidado. Agora, vendo um prefeito, de uma cidade como Florianópolis, constrito diante dos religiosos, submeter-se a esse compromisso, a situação assume formas bem mais sérias. Afinal, se aquele que rege os destinos da cidade, se deixa levar pelas teias do preconceito e confirma a omissão da escola diante dos temas que estão pulando na cara dos educadores, o que mais se pode esperar? Hoje, rende-se a não falar em gênero, amanhã render-se-á a quê mais? Voltaremos aos tempos da ditadura no qual a palavra liberdade não podia ser escrita? O que mais será retirado dos documentos oficiais?

Sabemos que há uma classe de políticos que é capaz das coisas mais vis para garantir votos e governabilidade. Mas, é bom que eles saibam que também há uma comunidade que se move, questiona e reivindica. A escola deveria ser espaço de fomento da democracia e da participação popular,  lugar de vivências humanas amorosas vitais para o futuro das crianças, corrente de discussão de uma nova práxis. Ali, na escola fundamental está o novo, o futuro, e é ali que podemos  mergulhar no conhecimento, oferecendo às crianças outra visão de mundo no qual não caibam a violência e o preconceito.

O prefeito César Souza Junior, ao prometer não incluir esse debate na escola, só perpetua o que, talvez, lhe interesse: a ignorância.



Homenagem II - Antônio Carlos Silva




















É sempre assim. Eu entro na reitoria e fico procurando pelas paredes aquela arte que sempre mobilizou nossas greves. Não há mais. Charges, desenhos, frases de efeito, tudo muito bem pensado entre o engraçado e o crítico. Uma linguagem única, feita por alguns traços e cores. Assim era o trabalho realizado pelo nosso querido guru, Antonio Carlos Silva, que, inclusive foi imortalizado num livro editado pelo Sintufsc.  Durante os anos em que atuou na UFSC, como arquiteto, ele nunca faltou a um movimento de luta. E mais, ele foi um dos que, junto com outro ícone da luta na UFSC, Manoel Arriaga, iniciou todo o processo de discussão de organização dos trabalhadores pela esquerda. Com eles, nasceu o Movimento Alternativa Independente, o MAI, que mudou a cara da UFSC. Com seu jeito meio tímido, discreto, ele agigantou a luta política de tal maneira, que desse criadouro nasceram inúmeras lideranças que fizeram história na universidade.

Pois com o Silva era assim, bastava eclodir um movimento grevista e lá estava ele com suas tintas e pincéis. Sempre disposto ao trabalho coletivo. Ele desenhava as charges e a galera fazia as pinturas, em manhãs e tardes de puro contentamento. Assim a greve sempre assumia aquele aspecto de arte, alegria e compromisso. Os imensos desenhos, ironizando os governantes, os reitores, os pelegos, depois de pintados eram pendurados por toda a UFSC. E, nas reuniões de comando, que aconteciam todos os dias, lá estava ele, fazendo sua análise, construindo a política.  Um homem completo. Imprescindível.

Há poucos anos ele se aposentou. E, sem ele, os movimentos grevistas da UFSC perderam muito em beleza e em alegria. Artista plástico de reconhecida competência, ele segue por aí fazendo seus desenhos, pintando suas telas. Mas, nós, na UFSC, ficamos órfãos, e não apenas de sua arte. Mas, também do seu sorriso de menino e da sua lucidez.

Minha homenagem de hoje vai para esse homem. Colega, amigo, companheiro, fazedor de mundos. Sim, sentimos sua falta, mas temos sua arte e sua ternura marcadas em nós de maneira indelével. Sabemos que está bem feliz curtindo seu tempo de livre das pressões do trabalho cotidiano. E eu, do fundo do meu coração quero dizer obrigada. Por ter nos ensinado tanto, por ter tido a paciência de trabalhar com os mais jovens, por iluminar nossa UFSC com a beleza que criava no papel.


Antônio Carlos Silva, guru, mestre, amigo, um ser especial. Obrigada por tudo!!!




quinta-feira, 30 de julho de 2015

Eu chorei por Cecil



Sim, eu chorei. Chorei pelo tal leão que o dentista estadunidense matou na África. Chorei também pelo dentista, que precisa investir milhares de dólares para ter uma sensação de poder. Chorei pelo leão, como choro pelos palestinos, pelos meninos negros de Serra Leoa, pelos jovens da Guiné, as mulheres do Saharauí, os ciganos, os indígenas de Mato Grosso do Sul, os garotinhos negros das comunidades empobrecidas das grandes cidades brasileiras. Toda essa gente, e muito mais, que é abatida, cotidianamente, por seres como esse homem dos Estados Unidos. Chorei pelo leão, na sua inocência selvagem, entregue ao predador. Choro pelas gentes, violentadas e violadas na sua dignidade e na sua tentativa de simplesmente viver. 

Mas, diante destes fatos, que envolvem a vida de bichos e gentes, não basta chorar. Nossas lágrimas não mudam as coisas que já são. O que muda é nossa ação concreta, cotidiana e sistemática. A luta incessante contra um sistema que nos ensina a banalizar a vida. A batalha sem trégua que temos de dar para constituir outro modo de organizar a vida. E isso não é coisa fácil. Muito mais fácil chorar e dormir achando que já fez o suficiente. Mera musculação de consciência.

Sim, a vida do leão é importante, porque ela faz parte do grande equilíbrio cósmico. Ela também enchia de orgulho e autoestima toda uma gente que quase nada tem. Porque quem tem a savana africana como território ancestral sabe que aquele animal, como todos os outros que por ali são protegidos, mantém o mundo deles balanceado. Ali, o homem respeita o bicho e o bicho cumpre seu destino.

Da mesma forma é importante a vida das gentes, em todos os rincões da terra, porque são expressões desse universo mágico e inescrutável. Bicho e gente, gente e bicho, balançando no pêndulo da existência e com direito de viver em paz. O leão precisa existir não para alegrar meus olhos, mas porque há uma razão para que ele exista na natureza: equilíbrio. E, naquela parte da África, eles estão sendo exterminados, até que sua ausência extermine também o homem, porque são um.

E assim é também no sistema político. Os predadores - os que têm as riquezas - vão exterminando os que nada têm, sob pretextos variados: comunistas, terroristas, marginais, possíveis criminosos. Tudo o que constituir ameaça ao mundo de benesses que construíram a custa dos que massacram, eles eliminam. Com a mesma alegria deslavada do matador de leão. Armados com as armas do dinheiro, do poder, eles caçam e decepam as cabeças, riso aberto na cara. Depois, levam os troféus para casa, para enfeitar a sala. É bem assim.

Por isso há que chorar sim. Chorar pelos que são sacrificados. Mas, logo depois, secar as lágrimas e sair para a batalha. O leão vivia numa reserva, aparentemente protegido, inocente, sem consciência da maldade humana. Nós, não.  Nem em reservas, nem protegidos. E, conscientes. Sabemos que há homens com fuzis à espreita. E mais, temos a capacidade de, sabendo disso, nos juntar e dar combate. É a luta de classe.

Vivo por um sonho que persigo com atos concretos: um mundo de riquezas repartidas, de justiça, de vida plena, de equilíbrio entre gente, bicho e planta. Vivo e morro por isso. Um dia o condor encontrará a águia e virá o pachakuti. O tempo novo, pelas nossas mãos.

Assim, choro por Cecil, choro pelas gentes e arreganho os dentes, pronta para as batalhas. 

Trabalhadores do HU retomam debate das 30 horas


















A assembleia dos trabalhadores técnicos-administrativos da UFSC realizada nessa quinta-feira, dia 30, dentro do Hospital Universitário, colocou em destaque a luta dos trabalhadores do HU pelas 30 horas. Desde há muitos anos o hospital vem praticando os turnos de seis horas, entendendo que isso não só é melhor para o trabalhador, mas também para o serviço público, visto que aquele que oferece o serviço está menos estressado, mais descansado e conseguindo ter alguma qualidade de vida. 

Mas, a reitoria da UFSC insistem em aplicar a letra fria da lei – na interpretação que lhe interessa – para fazer com que os trabalhadores voltem a fazer oito horas. Segundo a administração essa foi uma indicação do Ministério Público Federal  por conta de inúmeras denúncias que recebe sobre o não cumprimento de horário por parte de trabalhadores. A mais visível diz respeito aos médicos, que agora está em destaque na mídia.

Pois os trabalhadores que atuam dentro das clínicas médicas, no setor administrativo, estiveram na assembleia contando sobre o que acontece dentro do HU. Segundo eles, apesar de estar no setor administrativo, o trabalho dentro das clínicas tem certa singularidade que a administração - nem do HU, nem da UFSC - leva em conta. Daí que também eles reivindicam o direito de trabalhar em turnos de seis horas. 

Na interpretação da administração da UFSC, existem aqueles que podem e os que não podem fazer as 30 horas, apesar de o decreto presidencial ser bem claro, dizendo que onde haja atendimento em 12 horas seguidas é facultado a realização dos turnos de seis. Ora, se a universidade funciona das 7h30min até as 22h , o dirigente, usando da autonomia que está garantida por lei, pode implantar os turnos e garantir as seis horas. Isso depende apenas de decisão política.

Com base nisso, os trabalhadores do HU querem conversar com a administração. Primeiro para mostrar que o relatório que circula no HU não espelha a realidade do trabalho cotidiano, e depois, para reivindicar as seis horas com a garantia do atendimento em 12 horas seguidas. 

Na assembleia ficou decidido que os demais trabalhadores da UFSC, que inclusive já fizeram uma greve interna, no ano passado, com essa pauta, se juntarão aos colegas do HU nessa batalha. O sindicato também deve apresentar um documento à reitora sobre o tema. Tudo isso reverte em luta de todos os trabalhadores, porque, afinal, a batalha pelas 30 horas não é só da UFSC. Ela é internacional. Os avanços tecnológicos já permitem que o trabalhador possa ter mais tempo  livre. Insistir na jornada de oito horas é seguir na lógica da superexploração dos trabalhadores, coisa que uma instituição como a universidade não deveria apoiar.

Assim, hoje, às 15 horas, os trabalhadores buscam abrir uma janela de diálogo com a administração levando para o debate esse tema que é considerado tão espinhoso pela atual gestão. Basta lembrar os ataques que foram perpetrados contra os trabalhadores durante a greve de 2014, quando a reitora Roselane Neckel chegou a  cortar os salários – coisa nunca feita na UFSC – e a não reconhecer a greve, sujando a ficha dos trabalhadores com “faltas injustificadas”.

E é assim, na força da mobilização que a luta avança. No ano passado os TAEs foram derrotados, mas novas batalhas se avizinham.   



terça-feira, 28 de julho de 2015

Homenagem I - Seu Lidinho

As coisas são assim. A gente gosta muito de alguém, admira, ama. Mas, muitas vezes não expressamos esses sentimentos assim, loucamente, para o mundo todo ouvir. Então, um dia a pessoa encanta, vai embora, e parece que fica faltando algo. Faz-se textos sobre ela, diz-se do amor. Só que ela não está mais. Isso me perturba. Então, por isso, vou criar uma série de homenagens em vida. Para que as pessoas que eu quero bem, que respeito, admiro ou amo, saibam agora, de todo esse carinho que tenho.

Começo essa série com o seu Lidinho, uma figura imprescindível na vida de Florianópolis.



Seu Lidinho é rei!

Ele já é mais que um homem. É uma lenda... Em Florianópolis, onde bate o samba, lá está. Aparece como mágica, sem que ninguém precise chamar. É como se a própria música feita de cavaquinho, pandeiro e tambor o materializasse. Seu corpo rodopia, balança, saltita. É o samba feito gente.

A primeira vez que o vi foi num baile, no antigo Clube 15, lá pelos anos 80. Era impossível desgrudar o olho do seu gingado, fosse no samba ou na lambada. A mulherada fazia fila para dançar com ele e ele concedia, como um deus. Enquanto dura a música, ele não para.

Hoje, deve andar para lá dos 70, mas o corpo pequenino e magrinho parece ter 16. É energia pura, incansável, serpenteando no asfalto pela noite afora. Camisa vincada, chapéu branco, ele é reverenciado por onde quer que vá.  Faz parte da cultura da cidade, é monumento vivo, filho amado de Zumbi. Velha guarda da Copa Lord, seu Lidinho é história. Não há carnaval sem ele, nem samba, nem batucada. Quando chora a cuíca ele aparece, o corpo molinho, o passo gingado.

Seu Lidinho é o rei do samba e pontifica com seu riso de menino nos bares, na passarela do carnaval e nos pagodes. Sua corte somos todos nós, que nos afastamos, reverentes, para que ele passe, feito um Oxalufã, a nos encher de todas as bênçãos que só o samba pode dar.


Seu Lidinho é rei!!!

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Seguem as greves no funcionalismo público




Estive na última sexta-feira, em dia de muita chuva, na assembleia dos trabalhadores da previdência. O encontro foi embaixo de uma lona, em frente ao prédio central da Previdência, próximo à catedral. Convidada que fui para fazer uma análise de conjuntura, não pude deixar de arrepiar ao ver a disposição dos trabalhadores em discutir sobre a realidade nacional. Gritos, palmas, palavras de ordem. Um frisson de alegria, entusiasmo e esperança na luta. Coisa difícil de encontrar em muitas categorias de trabalhadores atualmente. Caso semelhante, nos últimos tempos, só a greve dos trabalhadores da prefeitura, que mobilizou de maneira belíssima mais de seis mil pessoas na rua. 

Na assembleia, o tempo de discussão da conjuntura foi de 30 minutos, contando ainda com outras avaliações de companheiros de outras categorias que foram levar seus informes e também outros olhares sobre a realidade nacional. Categoria atenta e sedenta de informação. 

As greves no funcionalismo público crescem em todo o país, mas ainda são movimentos isolados, cada um no seu quadrado. A tão sonhada unificação é estrada dura, difícil de ser palmilhada. E tem um certo sentido essa dificuldade de unir. O governo sempre joga na desagregação, chamando as categorias em separado, oferecendo saídas particulares. E, no mais das vezes, o que começa unificado, vai se esgarçando, fruto das saídas de greve, de uma ou outra categoria que consegue avançar mais nas suas pautas específicas.

Um sinal de maturidade das lideranças seria o de compreender que as negociações de pauta específica são naturais e não deveriam servir de desculpa para a não-unificação das lutas. Existe uma pauta que unifica todo mundo: melhoria salarial e a manutenção da qualidade do serviço público. Isso, por si só, já seria motivo mais do que suficiente para que todas as categorias de trabalhadores públicos se juntassem numa grande mobilização nacional. 

O governo já mostrou que jogará bem duro com os trabalhadores. Em duas reuniões que realizou com as representações das categorias em greve insiste no reajuste escalonado em quatro anos, bem abaixo da inflação. Uma proposta inaceitável. Tampouco está disposto a rever, dentro das pautas específicas, qualquer coisa que gere demanda financeira. Quando muito está propondo um aumento insignificante nos auxílios, deixando de fora os aposentados, como sempre. 

Por conta disso não deixa saída aos trabalhadores que não o fortalecimento da luta. A Federação dos Sindicatos das Universidades Federais (Fasubra) está chamando uma caravana para os dias 05 e 06 de agosto, e convoca as demais categorias para unificar nesse ato. A proposta é dar visibilidade à greve em nível nacional e pressionar ainda mais o governo para que avance nas negociações. Afinal, até agora, nada de positivo saiu das mesas de conversa, nem a mesa geral, nem a específica. No caso da educação, na última reunião com a FASUBRA, houve a fala de que o governo poderia pensar em baixar uma portaria garantindo as 30 horas, mas não para todos, em setores específicos. A proposta ficou no ar, sem especificação, por isso ainda há muito que caminhar.