Ao sentir que perdi a fé, fiquei oca. Olhando e não vendo nada lá na frente. Nenhuma ação – bondosa ou não – me salvaria da danação. Era só esse caminhar sem esperar nada. Apenas ir suportando toda a dor que o tempo dá até que não suportasse mais. Eu sempre achei que lá no abismo haveria um raminho onde me agarrar, como me ensinou Rubem Alves. Mas já não conseguia ver, era só uma queda silenciosa no vazio.
Por muito tempo não chamei mais por Jesus, não o invoquei para nossas longas conversas. A impressão era de que ele não morava mais em mim. Eu o perdera e não conseguia mais achá-lo. Pela primeira vez na vida me sentia absolutamente só. E isso não me parecia bom. Sempre aceitei que a fé era a minha muleta, esse apoio necessário quando tudo se esvai. E por todo esse tempo ela não estava mais aqui e não sabia muito que fazer. Olhava em volta e só via devastação. Tenho muitos amigos ateus, que vivem de boa. Eu não consigo. Preciso da muleta, mas não sabia mais como encontrá-la. Só sentia aquele vazio imenso. Ainda assim, eu caminhava, tropeçando, mas indo em frente...
Nestes dias de Páscoa, que sempre foram importantes pra mim, eu pensei que poderia passar assim, sem as conversas com meu deusinho. E estava pronta para isso. Passei a paixão incólume. E achei tão ruim. Então, eis que hoje, Páscoa, enquanto eu ainda me debatia no reino dos sonhos, ao despertar de um pesadelo ouvi aquela voz que sempre me acompanhou: “descansa, amada do senhor”... Pude saber que era ele. Estava ali, mesmo quando eu fazia tanto esforço para enterrá-lo no seu sepulcro secular. Sorri, e voltei a dormir. Agora estou aqui, vendo a chuva cair fininha, e sentindo que talvez possa recuperar aquele sentimento... quem sabe... Que seja Páscoa para todos nós...
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