quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Porque precisamos da alegria


Fazer o almoço aqui em casa é sempre uma festa. E há que fazer comida todos os dias por conta do pai. A festa acontece porque quem cozinha gosta do que está fazendo. É o caso do meu sobrinho, Renato. Está sempre a inventar coisinhas boas e suas misturas tem o sabor dos deuses, mesmo quando é um simples guizado. Porque ele gosta de temperos, os quais mistura em poções quase mágicas. E também tem a música. Quando é o Renato que escolhe é um som mais sofisticado. Mas quando fica por minha conta a coisa fica eclética. Misturo samba, sertanejo raiz, música gaúcha, bregas raiz e melosas coreanas. Uma confusão. E também sempre tem uma cervejinha bem gelada. 

A alegria é de lei, faz parte da vibra da casa, mas também é legal por conta do pai. Ele precisa desse ambiente de risos e sons festivos. E também é de lei que enquanto se faz a comida ele saboreie um bom copo de vinho tinto, embora às vezes também espiche os olhos para nossa cerveja, aí a gente o deixa tomar um copinho. Todo mundo se ocupa em deixá-lo integrado e feliz. Penso que é também o que faz com que ele ainda esteja firme, apesar dos sete anos de Alzheimer. 

Cuidar de uma pessoa com demência não é bolinho. Mas, sem fazer dramas e com boas doses de bom humor, a gente vai atravessando esse deserto. Ao longo desse tempo de cuidado noto que a alegria é sempre o melhor dos “remédios”. Se há riso, tudo fica melhor. E com o pai é assim... Vê-lo sorridente é nossa missão. Por isso dançamos e cantamos alto, chamando a alegria. E como bem nota o Uaná, que é meu netinho emprestado, sempre que estamos nessa função ele aponta e diz:

- Olha, o vovô Nelson risô... Ou seja, na língua do curumim... ele está rindo... e é assim...

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