segunda-feira, 3 de junho de 2013

Sou Luta Fenaj - Chapa 2




Já é hora de todo e qualquer jornalista saber da importância da Fenaj. Uma federação de luta, que tenha papel destacado nas batalhas específicas da categoria, e que efetivamente fortaleça cada sindicato de base. Muitas são as peleias que precisam ser travadas contra os patrões da mídia nacional, contra o oligopólio que impede não só o trabalho do jornalista, mas também a real informação da sociedade. Com o grupo do Luta Fenaj isso será feito, porque é uma gente comprometida com as demandas dos jornalistas, principalmente daqueles que estão na base da pirâmide, atrelados às empresas comerciais. 

Dentre os grandes desafios que estão colocados para a Fenaj e que ainda não foram cumpridos por esse grupo que se perpetua no poder estão os seguintes pontos, que pretendemos atacar e transformar:

1  -  Coordenação nacional das campanhas salariais
2  - Assistência técnica, jurídica, política e material se for preciso, aos sindicatos filiados
3 - Campanha nacional de filiação dos jornalistas aos sindicatos
4  - Coordenação dos esforços de unificação com os demais trabalhadores do setor de comunicação, especialmente os radialistas e os gráficos
5 - Fortalecer a atuação junto ao poder público para combater as fraudes rotineiras nas relações de trabalho — até mesmo alterando a legislação para proteger os jornalistas — e para ampliar o mercado de trabalho
6 -  Combate ao oligopólio dos meios de comunicação social
7  - Defesa da expansão e qualificação da mídia pública — emissoras educativas, legislativas, universitárias, comunitárias, além de jornais e outras mídias mantidas pelo poder público e submetidas ao controle social — gerando empregos e informação plural e regionalizada
8 - Defesa dos jornalistas que no Brasil e nos demais países da América Latina e do mundo estejam sendo ameaçados, perseguidos ou mortos por conta de suas atividades

Venha para a luta também. É hora de mudar a Fenaj - Chapa 2  - Luta Fenaj

Na eleição, dias 16,17 e 18 de julho, vote Chapa 2

domingo, 2 de junho de 2013

Encantou Bautista Vidal



Encantou no último sábado, o paladino da biomassa: José Walter Bautista Vidal. Um nacionalista, apaixonado e apaixonante. Impossível ficar impassível diante do profundo amor que tinha pelo país e pelo pensamento próprio, autóctone, original. Cientista, professor universitário, físico de renome, ele foi, juntamente com Urbano Ernesto Stumpf (1916-1998), o idealizador do motor à álcool, que hoje move a maioria dos carros brasileiros.  Fez da sua vida uma peregrinação incansável pela soberania energética, dando conferências por todo o país, nos recantos mais inauditos, e escrevendo livros. Conseguiu editar 12 títulos entre os quais estão : De Estado Servil à Nação Soberana; Civilização Solitária dos Trópicos; Soberania e Dignidade, Raízes da Sobrevivência; O Esfacelamento da Nação; e A Reconquista do Brasil.


O último trabalho foi a "Economia dos Trópicos", no qual martela pesada crítica ao pensamento cepalino do desenvolvimento e manifesta seu desejo de ver o Brasil saindo da dependência, rompendo com o sistema de dominação global. Bautista acreditava que o sol, a água e a mata eram as maiores riquezas do país e que com esses dois elementos o Brasil poderia ser auto suficiente em energia. Fez dessa ideia o seu discurso itinerante e defendeu até o fim dos seus dias a proposta da biomassa como substituta do petróleo e dos outros sistemas poluentes e destruidores.

Bautista Vidal era chamado para discutir energia em todos os lugares do Brasil, mas foi muito pouco escutado por aqueles que tinham o poder de fazer acontecer as suas idéias. Sonhava com um encontro íntimo com Fidel. Acreditava que o gigante cubano iria entender a sua proposta e ser cúmplice dos seus desejos. O encontro nunca se deu. Quando Chávez assomou no cenário latino-americano, voltou seus olhos para o venezuelano sonhando também trazê-lo para sua proposta de energia limpa. Com esse teve muitas conversas mas, ao que parece, não teve tempo de fazer brotar uma outra proposta de matriz energética para a Venezuela. Foi-se o comandante, e agora Vidal. 

Lembro dele, numa noite amena em Campina Grande, falando alto, as bochechas vermelhas na excitação das palavras que jorravam aos borbotões. Tudo o que queria era que o Brasil acreditasse nos seus jovens, que os governos criassem laboratórios, centros de pesquisa, e criassem a ciência nova, descolonizada. Vidal se mudava em menino quando defendia esse sonho. Ele acreditou nisso até o fim dos seus dias. Crítico feroz do neoliberalismo e das privatizações efetuadas por FHC, Bautista não poupava imprecações contra aqueles que chamada de vende-pátria. Amava o Brasil, amava a ciência.

Enquanto vivo, suas ideias mofaram nas prateleiras. Agora, encantado, haverá de brotar outra vez, descoberto por um ou outro. E, dos livros agora heréticos, haverão de repercutir seus sonhos de um país autônomo, soberano. Porque é sempre assim que acontece. Existem pessoas que são póstumas, com suas ideias reconhecidas só bem depois de deixarem o mundo. Espero que não demore.

De minha parte, tive a alegria de ter convivido com esse "quixote" por várias ocasiões, sentada a seus pés, ouvindo seus ensinamentos, seus palavrões, suas indignações.  O Brasil fica mais pobre sem esse homem especial. Mas, Bautista Vidal é um desses seres eternos, que deixam sua marca indelével. Agora, transformado ele mesmo em energia, retornará, na íntima fusão a qual tanto amava, de sol, verde a água. E nós, que o conhecemos e o amamos, o receberemos como merece: estudando seus livros, defendendo nossa soberania, criando pensamento próprio. 


Bautista Vidal, nacionalista, tropical, homem de paixão. Nunca nos deixe em paz. Tua voz troante, indignada e profética seguirá ecoando. Tu vives.


terça-feira, 28 de maio de 2013

De homens e mulheres


 Desde pequenina circulo pelo universo masculino, mundo secreto, cheio de surpreendentes mistérios, sempre a me atrair. Mas não o suficiente para desvendá-los, uma vez que, assim, perderiam  beleza. Minha opção foi despejar neles minha mulheridade, em diálogo amoroso. Nunca pensei em competição ou igualdade. Não creio que sejamos iguais, homens e mulheres. Nosso mundo úmido também tem seus deliciosos mistérios, que jamais poderão ser conhecidos pelo homem. São perspectivas diferentes e absurdamente belas, cada uma com suas especificidades.

Minha entrada nesse mundo masculino se deu pelo futebol. Em casa, pai e mãe eram aficionados. Menina ainda, meus domingos eram passados no estádio, acompanhando as partidas do velho Internacional de São Borja. Momento sagrado. O que nunca inviabilizou as brincadeiras com bonecas e panelinhas. Futebol era para ver, no estupor da beleza do drible, da magia do gol. Ao mesmo tempo eu dava a esse mundo masculino minha risada cristalina em momentos de tensão, e aquela capacidade de torcer tanto pelo Internacional quanto pelo Cruzeiro, porque o que era bonito era o jogo mesmo. Os garotos não entendiam, mas aceitavam. Na rua de casa, as brincadeiras mais apaixonantes eram os campeonatos de bolita, reduto dos meninos. Gostava de me meter, apesar dos protestos. E, enquanto os companheiros se aprimoravam nas técnicas, eu falava da cor das bolinhas e colecionava as mais bonitas. Uma pitada de estética na brincadeira popular.

 Quando comecei a trabalhar na televisão esse também era um mundo masculino. Estar ali tinha dois significados: ou se atuava como homem, na disputa, na conquista, no jeito de fazer as coisas, ou era vista como vagabunda, por andar sempre metida com a rapaziada. A “tradicional família brasileira” não acreditava que uma mulher pudesse viver no mundo dos “machos”, sem se “perder”. Procurei fazer outro caminho: nem macho, nem vagabunda, apenas uma mulher vivendo num universo diferente, o qual respeitava e amava. Partilhava dos jogos de futebol, ia às mesmas boates, acompanhava nos bares, na cerveja. E, nesses momentos tão particulares do gênero, me atrevia a despejar uma ou outra gota de mulheridade, para que eles também vislumbrassem o meu universo, conhecendo e respeitando.

 Assim, em meio a acalorados debates sobre o grenal, falávamos também de cores de esmalte e de pontas duplas. Tudo sem que o nível da conversa fosse tripudiado. Nos balcões de boteco, ouvia os absurdos que diziam sobre as mulheres e apontava novas perspectivas. Muitos deles mudaram sua maneira de pensar. Alguns iam comigo fazer compras, e opinavam sobre cores e modelos de roupas. Dois universos conversando, sem competição.  Muito aprendi sobre o mundo masculino e muito ensinei sobre mulheridade. Nunca acreditei que falar de moda ou de cabelo nos definisse, assim como coçar as bolas e dizer sacanagem não define o homem. As coisas são muito mais complexas.

 O que aprendi nessa caminhada é que há momentos, absolutamente singulares, que são dos homens. Não podemos e nem devemos entrar. Assim como há outros que são nossos, femininos, incognoscíveis para os homens, os quais também não podem nem devem ser compartilhados. Isso não significa que sejamos melhores ou piores. É só o desfrute de um mistério, único, perfeito, de homem e de mulher. Acredito ainda que esse secreto ponto pode ser conhecido pelo humano, independentemente do sexo. O que nos faz conhecer a chave de entrada do universo masculino não é o pênis, assim como a chave para o mundo feminino não é a vagina. É o mistério. E que assim continue! E que se respeitem aqueles seres que, conhecendo os segredos, optam por um desses mundos. Porque, afinal, a melhor coisa desse presente que é a vida, é que a gente possa vivê-la com toda a intensidade, buscando as gotas de felicidade que se pode colher aqui e ali.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

A luta das gentes ao redor do mundo

Vídeo criado por Leopoldo Nogueira e Silva,  apresentado no encerramento do WAPE 8a. edição. Evento aconteceu na UFSC e reuniu economistas políticos de mais de 20 países.


quinta-feira, 23 de maio de 2013

Transpondo o São Francisco



Apesar de todas as vozes que gritam contra mais um crime ambiental, o governo federal segue as obras de transposição do rio São Francisco, esse imenso manancial de vida e de beleza que percorre o norte de Minas e se vai até Pernambuco. O argumento para a obra é de que levará água para os pobres, mas, na verdade, o objetivo é oferecer água para o agronegócio, grandes fazendeiros e indústrias. Com a “mexida” nas águas, como dizem os sertanejos, o velho Chico corre risco de secar. As gentes ribeirinhas fizeram sua luta. Foram derrotadas. A obra já está quase 50% terminada.  Para aqueles que se debruçam no cais do rio, espichando o olho para o profundo das águas, resta o medo de que tudo vire lenda, assim como as histórias de encanto que soem acontecer nas margens feiticeiras.

Eu mesma tenho a minha. Foi lá, na beira do rio, que conheci uma mulher que não era gente. Era orixá. Vivi minha adolescência na beira do São Francisco, na cidade de Pirapora, bem no ponto em que o gigante aquieta suas quedas e permite o navegar. Naqueles dias – e ainda hoje - era comum, ao final da tarde, as gentes passearem pelo cais, a ver o pôr do sol, coisa mágica. Assim, todos os dias eu pegava a magrela e, pedalando, percorria o cais, desde as duchas (pequenas cachoeiras), onde ficava o Xangô (um bar), até o final, lá onde descansavam os “gaiolas”, grandes barcos que navegam o rio, ainda movidos a carvão. Bem no final era a zona do meretrício, lugar proibido para as mocinhas “de bem”. Mas, eu, sempre fui curiosa e distraída. O rio me encantava e eu descia, descia, descia... Quando dava por mim, já estava em meio às pequenas casas de luz vermelha.

Foi lá que conheci Lucinha, uma linda negra pernalta, de riso solto e gestos largos. Era como uma flor de manacá, fresca e cheirosa. Lavava roupa para fora e passava o dia inteiro nas pedras do rio. “Tem problema não, branquinha. A gente fortalece os músculos e não cria barriga. Olha só... É só encolher o estomago... Sempre. A barriga não se cria”. Não ligava de morar na zona e não dava bola para fuxico. “Me deito com quem eu quero. Ninguém me paga as contas”. Gostava de ficar na calçada, ao fim do dia, com sua bacia de mangas ou tamarindos, repartindo, generosa, com meninos e gurias curiosas. Depois, banhava no rio e secava ao sol, como as roupas que lavava. “Têm dias que eu queria deitar na água e ir até Juazeiro, boiando. Será que existe céu? Conheci minha mãe não, acho que sou filha do cão”.

Hoje, pensando no destino do velho Chico  lembrei-me daquela moleca, poucos anos mais velha que eu. Tão negra, tão linda, tão cheia do espírito do rio. Onde andaria? Que teria sido feito de sua vida? Ainda posso ouvir sua risada de cristal enquanto corria pela areia da praia perseguindo um pássaro qualquer. Nossa amizade fugidia, de alguns minutos ao pôr do sol, de compartilhamento de frutas e pequenos sonhos se quedou lá, na beira do grande rio. O bom e velho São Chico, forjador de belezas em mim. A Lucinha, orixá das águas, força viva da natureza, deve andar por lá, de músculos duros e barriga sarada. Com certeza acompanhou as passeatas, os protestos, na luta pelo seu mundo. E espia o rio, assustada, todos os dias, com medo de perdê-lo.  Porque ela sabe...

Enquanto vejo as fotos das máquinas, rasgando a terra, criando canais artificiais, desviando o rio, desfigurando o gigante,  assoma a tremenda impotência de saber que o crime vai se dar. A despeito de toda a luta das gentes. O rio vai secar, e Lucinha nunca mais poderá ir boiando até Juazeiro...
 

A colônia ainda vive, aqui e lá



Chile. Era madrugada e um pequeno grupo saía em direção a El Tatio, um dos pontos mais altos da região da quebrada de San Pedro de Atacama, no deserto chileno, onde ficam os famosos gêiseres. Havia chovido na noite anterior e as estradas estavam ruins. O guia que levava o grupo era um legítimo representante dos Likan Antay, o povo atacamenho, originário do lugar. Seu nome: Getúlio. Homem de poucas palavras, com aquele silêncio pesado que precede tempestades, típico das gentes do Atacama que veem a cada dia seus espaços sendo tomados por empresários europeus.

Na Van seguia um animado grupo composto por brasileiros, chilenos, e um espanhol. Colocávamos nossa vida nas mãos daquele homem, pois o caminho era absolutamente invisível, tamanha a espessura da neblina. Nada se via e só o que se sabia era que de num dos lados da estrada se abria um precipício. Getúlio seguia impávido, conhecedor que era das milenares veredas.

Então, houve um estrondo e o carro caiu num buraco, pendendo para o penhasco. Pânico geral. Mas, todos saíram bem e Getúlio começou a tirar o carro da fenda. Foi aí que o espanhol surtou. Começou a gritar, xingando o índio de irresponsável, acusando-o de colocar sua vida em risco, e outras barbaridades impublicáveis. Getúlio ouvia com impassível paciência enquanto, sozinho, lutava para tirar o carro da vala. Dava para tocar o desprezo que o espanhol tinha pelo homem enlameado a sua frente. Os demais ouviam estupefatos.

Quando o carro saiu do buraco, a histeria do europeu obrigou todo mundo a voltar para a vila. Ele fazia ameaças e impedia o carro de subir a montanha. Para ele, o acidente era culpa de uma natural “burrice” de Getúlio. A situação foi tão tensa que todos decidiram descer e se livrar do cara, prometendo voltar na madrugada seguinte, sem o espanhol.

E assim, no outro dia partimos pela mesma estrada, com o mesmo motorista, vivendo a mesma aventura da neblina fechada. Lá em cima, a maravilha dos gêiseres pode ser vivida sem alardes. Na hora do almoço, comendo sanduiches preparados por Getúlio, pudemos conversar. “Esse povo é assim, acha que ainda manda por aqui”, disse ele. “Pensam que somos sua colônia. Não somos mais!”. Estava indignado, mas tranquilo. “Nosso trabalho é esse. Temos de aturar muita coisa”.

Voltamos crentes que estávamos livres do espanhol. Não estávamos. Ele tinha dado parte de Getúlio, na chefatura dos “carabinieri”, acusando-o de quase matá-lo. Fomos todos dar declarações, afirmando que o espanhol era quem tinha colocado todos em risco com sua histeria. Getúlio cuidara de tudo e sabia andar por aquelas estradas de olhos fechados.

Em São Pedro de Atacama é comum encontrar estrangeiros. Tudo parece ser deles. Na rua principal, os bares e restaurantes já não são mais dos locais, que sobrevivem na periferia da vila. No geral, os turistas, muitos desses tipos, tal qual o espanhol da excursão, fazem discursos sobre a América Latina, gostam de segurar indiozinhos no colo, visitar os pobres, percorrer favelas. Mas, quando colocados em situações limite, o preconceito assoma. É que, de fato, a colônia ainda vive, tanto em alguns deles, como por aqui mesmo, nessas terras abyayálicas. Procurando bem pode-se ver que a Espanha, por exemplo, ainda domina grande parte das terras de cá. Hoje, de um jeito novo, via empresas transnacionais. Controla minas, telefonia, bancos, comunicação, serviços estratégicos, no mais das vezes. É um novo jeito de colonizar, de manter sob o cabresto as gentes da grande américa. Governos latino-americanos há que ainda se submetem e baixam suas cabeças para esses interesses, espanhóis ou não. Mas, pessoas como Getúlio também há, que apesar do silêncio diante da agressão, sabem que essa terra tem dono. E que, um dia, por força da luta, tudo vai mudar.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Mulher no mar

Vinda da cidade de Campinas, São Paulo, Juliana Regazoli, ao chegar em Florianópolis, logo se apaixonou pelo mar. Na vivência com as gentes da praia do Campeche viu a possibilidade de compreender o espetacular universo da pesca de canoa à remo, até então absolutamente masculino. Nunca qualquer mulher entrou no barco para remar. Ela enfrentou o desafio, o medo, o preconceito e se foi ao mar. Conheça essa bonita história de amor de Juliana com o mar e a ancestral profissão da pesca.