terça-feira, 1 de setembro de 2009

Eleições em Honduras


O governo golpista de Honduras está dizendo ao mundo que o país “volta à tranqüilidade” uma vez que já estão convocadas as eleições presidenciais para 29 de novembro e se inicia a campanha política. Mas, para as gentes que lutam pela volta do presidente Manuel Zelaya, este processo chamado pelo governo golpista não tem o menor respaldo e tampouco garante a volta da “paz” ao país. Um dos dirigentes da resistência, Rafael Alegría, confirma que o povo em rebelião não aceita a idéia de eleições sem a volta de Zelaya ao seu posto de presidente. “Não vamos aceitar nenhuma imposição dos golpistas. O povo não vai participar desta farsa”. Também alguns partidos de esquerda se recusam a participar do processo. Em Honduras, dizem, assim como aconteceu em muitos outros países da América Latina, é o próprio sistema político que está em questão. Essa democracia de votar a cada quatro anos em candidatos com velhas práticas está morta. Há que surgir novas práxis.

Por outro lado, há lutadores sociais que insistem não ser a abstenção às urnas a melhor solução para o conflito. Acreditam que a população poderia dar um sonoro não ao governo golpista e colocar no poder gente capaz de tirar o país da lama onde está. Mas, sem a participação de candidatos mais ligados às causas populares, como garantir isso?

Para os partidos políticos que legalmente disputarão as eleições de 29 de novembro se apresentam novos desafios. Já não bastarão as mesmas promessas de sempre, pois a população deu um salto de qualidade nestes dias de resistência e mesmo aqueles que decidirem participar do pleito estarão de alguma forma já impregnados do novo clima político que se inaugurou com o golpe.

Disputarão as eleições cinco partidos formalmente constituídos. A coalizão “Compromisso por Honduras”, traz, na disputa para deputados, nomes conhecidos que sempre estiveram na luta por uma Honduras melhor, tais como Matías Funes, Efraín Díaz Arrivillaga e Enrique Aguilar Paz e tem como candidato à presidência Bernard Martínez do Partido da Inovação e Unidade Social-Democracia.

A Democracia Cristã tem à cabeça a candidatura de um líder sindical também muito conhecido, Felicito Ávila, e este tem se proposto a caminhar pelo país, ouvindo os eleitores no cara-a-cara, marcando uma prática diferenciada.

O Partido Liberal apresentou a candidatura de Elvín Santos e o Partido Nacional a de Porfírio Lobo, mas como estes são os partidos tradicionais de Honduras, que representam visceralmente a situação golpista que hoje se instaura, é bem provável que tenham de trabalhar bem mais do que com suas velhas práticas assistenciais ou abuso de poder econômico. Há uma nova Honduras aí.

O favorito das eleições, e no qual parte da esquerda está colocando peso é o candidato independente Carlos Reyes, destacado líder popular e sindical que, inclusive, aparece palatável às elites locais. Ele é o primeiro candidato independente da história de Honduras nos últimos 28 anos e participou ativamente das manifestações pró volta de Zelaya coordenando uma Frente Nacional contra o golpe.

Sobre o movimento que luta pelo retorno de Zelaya os analistas falam da existência de três forças: uma que é a do setor liberal, outra de extremistas de esquerda e outra de um setor popular que não aceita a forma como Zelaya foi tirado do processo. Com três vertentes tão díspares ainda não se sabe como o movimento vai se comportar durante a campanha e as eleições, embora já tenha havido declarações de algumas lideranças pelo não comparecimento às urnas.

Entre os populares que não se filiam nem à esquerda radical, nem aos liberais, há o receio de que ao aceitar o jogo imposto pelos golpistas, a candidatura de Carlos Reyes acabe sendo a opção das elites moderadas que querem pôr um fim aos protestos e voltar a “normalidade”. Assim, se por um lado, não votar pode acabar dando a vitória aos velhos políticos de sempre – uma vez que o candidato liberal tem dito que qualquer cem votos elege o presidente - eleger alguém que aparece como “tragável” pela elite pode configurar a queda numa armadilha. A mesma na qual já caíram outros países, de colocar no poder uma esquerda que se direitiza. Optando pelo “menos pior”, o que pode esperar o povo em luta?
Esta é uma batalha que só o povo hondurenho pode travar.

*Com informações da Telesur

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Exigimos Patriotismo y Dignidad


Carta abierta de la sociedad civil latinoamericana y del Bloque Regional de Poder Popular (BRPP) a los Presidentes de la Cumbre Extraordinaria de UNASUR, Bariloche, Argentina, 28 de Agosto de 2009


“Exigimos Patriotismo y Dignidad a los Presidentes latinoamericanos ante Uribe-Obama”


Estimadas señoras y señores Presidentes de la Unión de Naciones Suramericanas:

Los firmantes, representantes de movimientos sociales, políticos, civiles, de DDHH e intelectuales de América Latina y Europa, les solicitamos a ustedes que, recogiendo el sentir de sus pueblos, en la Cumbre Extraordinaria de UNASUR adopten medidas eficaces y contundentes, sobre dos temas específicos que actualmente significan una amenaza a la Patria Grande, a la paz regional y a los intentos de los estados y los pueblos por avanzar en la unidad latinoamericana.


1. El golpe militar en Honduras;

2. La ocupación militar estadounidense de Colombia.


Hacemos nuestra, en el primer tema, la tesis del canciller argentino Jorge Taiana, en el sentido de que los gobiernos no hicieron lo que podían haber hecho, frente al golpe militar en Honduras; y coincidimos con el Presidente Lula del Brasil, en que el segundo tema debe ser tratado de manera directa entre la UNASUR y el Presidente de los EEUU, Sr. Barack Obama, por ser los interlocutores reales de la geopolítica en el continente ante temas tan delicados como las bases operativas del Comando Sur en todo el territorio colombiano y el golpe de estado en Honduras.

Por todo lo dicho, demandamos de los presidentes progresistas latinoamericanos corregir esa irresolución política en la Cumbre Extraordinaria de Bariloche mediante las siguientes medidas:

1) Solicitar públicamente al gobierno de Obama, la derogación de visas estadounidenses para todas las personas que se hallen participando actualmente en cargos importantes dentro de la dictadura hondureña y el bloqueo de sus cuentas bancarias en los Estados Unidos.

2) Solicitar al gobierno estadounidense que aclare públicamente la versión, del mismo Presidente Zelaya, de que el avión donde lo sacaron del país aterrizó primero en la base aérea militar de EEUU en Palmerola, desde donde se coordinó su destino y se ordenó a los militares hondureños llevarlo a Costa Rica.

3) Advertir al Presidente Uribe y a su gobierno, sobre la unilateral suspensión colectiva de las relaciones diplomáticas y económicas por parte de todos los países miembros de UNASUR, de no revocar en 15 días contados a partir de la finalización de la cumbre de UNASUR en Bariloche, los acuerdos militares entre Colombia y EEUU ratificados por Bogotá el 19 de agosto de 2009, al contrariar el espíritu del Tratado Constitutivo de UNASUR, los principios del Consejo de Defensa Suramericano, y por constituirse en una ofensa a la soberanía latinoamericana y en una amenaza a toda la región.

4) Suspender la participación del gobierno de Colombia en el Consejo de Defensa Suramericano mientras persista la permanencia de unidades militares privadas u oficiales de EEUU en su territorio.

5) Solicitar una reunión urgente al Presidente Barack Obama, para tratar directamente el tema de la presencia militar de su gobierno y de corporaciones militares privadas de los EEUU en Colombia, y analizar mecanismos conjuntos para lograr una solución pacífica y negociada del conflicto armado en Colombia.

Adicionalmente los países limítrofes de Colombia deben proceder a la integración de un Sistema de Defensa Integrado que prevenga cualquier ataque sorpresa y deben establecer claramente que un ataque contra uno de ellos, constituye un ataque contra todos ellos.

Invitamos a todas las organizaciones e instituciones sociales latinoamericanas a solicitar públicamente a los presidentes latinoamericanos, cumplir con su deber patriótico y continental en esta hora decisiva de la Patria Grande.

Señoras y Señores Presidentes: O la UNASUR crece en esta hora trascendental del continente, o se erosiona junto con el prestigio político de todos los Presidentes y Presidentas de Suramérica.

Un cordial saludo a ustedes en esta hora decisiva.

Firmas
Alberto Valiente Thoresen, Comité de Solidaridad con América Latina, Noruega
Aleida Centeno Rodriguez, Licenciada, Puerto Rico
Alfredo Tovar, Blog:
www.hablandoconderechoylibertadexpresion.blogspot.com
Alfredo Sumi Arapa, Movimiento por la Democracia Participativa, Perú
Andrés Eduardo Perez Serú, Sociólogo, Decano de la FACSO-UMSS (Facultad de Ciencias Sociales, Universidad Mayor de San Simón de Cochabamba), Bolivia
Álvaro Campana Ocampo, Activista, Perú
Anaité Vargas – Asamblea Permanente de Derechos Humanos/Apdh del Ecuador
Asamblea Regional de Ciudadanas y Ciudadanos del Cono Sur 2010
Bloque Regional de Poder Popular (BRPP), secciones: Argentina, Bolivia, Brasil, Cuba, Ecuador, El Salvador, Noruega, Perú, República Dominicana, República Federal de Alemania, Uruguay, Venezuela
Carlos Angulo Rivas, poeta y escritor peruano residente en Canadá
Carlos Morillo, Coordinador, Movimiento Nacional por la Democracia Participativa, Venezuela
Carlos Moya Ureta, Rector Instituto Latinoamericano de Altos Estudios Sociales (ILAES Posgrados).Chile
Casa Bolivar Anfictionica y
Red Informativa Virtin, Presidente y Director, Virgilio A. Contreras, Colombia
Claudia Videla Sotomayor, Historiadora, Chile
Cuauhtémoc Amezcua Dromundo, Abogado, México
Dante Ortiz, Profesor de Historia, Facultad de Humanidades, Universidad Autónoma de Santo Domingo
Edgar Ponce, Comité de Empresa de los Trabajadores de la Empresa Eléctrica Quito S.A.
Elaine Tavares, Periodista, Universidad Federal de Santa Catarina, Brasil
Elgry Aldana, educadora, BRPP, Venezuela
Emilio Cafassi, sociólogo, Universidad de Buenos Aires, Argentina
Enrique Mario Fukman, Asociación de ex-Detenidos Desaparecidos, Argentina
Enrique Gaucher, Movimiento por la Democracia Participativa, Uruguay
Equipo multidisciplinario Salud y Comunidad El Salvador
Equipo editorial Radio Suchitlán-El Salvador
Escuela Latinoamericana de Comunicación Alternativa Popular
Esteban Silva Cuadra, Coordinación Nacional, Socialistas Allendistas de Chile
Federico García Hurtado, DNI 10319073, Lima, Perú
Félix Tejeda, dirigente Foro Social Alternativo, República Dominicana
Fernando Arellano Ortiz, Colombia
Fernando Dorado, Colombia
Frank Schwitalla, Alemania
Freundschaftsgesellschaft BRD-Kuba, Alemania
Gilo Muirragui, economista, Estados Unidos
Gloria Cuartas, Colectivo Otra Colombia es Posible, Colombia
Heinz Dieterich, Coordinador, Scientists for a Socialist Political Economy (SSPE), Europa-Estados Unidos-América Latina
José Antonio Gutiérrez, Research and Development Coordinator Latin American Solidarity Centre, Irlanda
José Gerald Rodrigo Tórrez Jordán, Politólogo, Coordinador de la Red de Responsabilidades Humanas - Bolivia
Jesús López, Dirigente del CIMA y de la MINGA de Resistencia Social y Comunitaria, Colombia
Lourdes Contreras, dirigente feminista, República Dominicana
Luis J. Álvarez Lozano, economista-filósofo, México
Manuel Rozental, Profesor, Universidad de Algoma, Ontario Canadá
Marcelo Solórzano, Enlace: Red Nacional de Trabajadores de la Energía Eléctrica del Ecuador
Milton Castillo, Constitucionalista, Ecuador
Mujeres de la América Morena, América Latina
Netzwerk Cuba e.V., Alemania
Narciso Isa Conde, Coordinador Nueva Izquierda-Círculos Caamañistas, República Dominicana
Nildo Ouriques, Economista, Universidad Federal de Santa Catarina, Brasil
Omar Meneses, p. Secretariado Ejecutivo, Foro Centenario de Mariategui, Lima, Perú
Pablo Fernandez,
www.principioesperanza.com. Portal de noticias latinoamericano desde la Patagonia, Neuquen, Argentina
Paul Cockshott, Matemático, Universidad de Glasgow, Escocia
Pilar Roca, dni 10319074, Lima, Perú
Raiza Ester Solano, Defensora de Derechos Humanos, Centroamérica
Raúl Guerrero, dirigente de la Nueva Izquierda-Círculos Caamañistas, República Dominicana
Rebeca Llasag, Movimiento indígena, Ecuador
Red de Jóvenes del Cono Sur
Ricardo Martínez Martínez, periodista México-El Salvador
Salah Ahmine, Grupo electrónico Nicaragua Socialista, Nicaragua
Verein Perspektive unabhängige Kommunikation e.V., Alemania
Virgilio PONCE, Coordinadora de Cubanos Residentes en Francia
Waldir Rampinelli, Historiador, Universidad Federal de Santa Catarina, Brasil
Walter Formento, Licenciado, CIEPE Argentina
Alexis Ponce, Ecuador

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Os pobres e a gripe A


Pois outro dia eu estava mui fagueira assistindo televisão, quando vi uma matéria feita lá no Colégio Catarinense, com um professor cujo nome não lembro. Ele, muito sério, dava algumas dicas sobre como prevenir a mal fadada gripe A. primeiro fiquei um pouco estressada com essa de chamar a gripe suína de gripe A. Porque, afinal, é uma maneira de esterilizar um pouco as razões de mais esta pandemia. Tirando o “suína” do nome, as pessoas não mais precisam associar a doença ao modo de produção dos pobres bichos, confinados e torturados.

Depois, então, ouvi esta pérola: “as pessoas devem evitar usar o ônibus”. Fiquei pensando no meu buzão, o que pego todo dia para ir para casa, uma vez que moro a uns 30 quilômetros do lugar onde trabalho. Nele, seja a hora que for, a lotação sempre ultrapassa. As pessoas praticamente se matam para entrar no buzú, não importa que não haja mais lugares, e ali ficam espremidas umas contra as outras. Caso alguém esteja com a tal da gripe, babaus.

Então fiquei a pensar no conselho do professor. “não devemos usar o ônibus”. Bem, ele dá aula num dos mais tradicionais colégios da cidade. Seus alunos devem ser de classe alta ou média alta. Poucos devem usar o ônibus. Nada sabe ele da vida das gentes, cuja liberdade de ir e vir está condicionada ao trajeto do ônibus. E que precisam balançar feito sardinhas todos os dias nos latões.

Aos empobrecidos tudo está negado. Eles são obrigados a andar nos ônibus lotados, e se pegam a gripe tampouco tem um hospital de qualidade onde amparar a dor. A vida real é coisa dura. A das gentes e a dos porcos. E assim segue a humanidade...

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Dia triste


O dia começa tenso. Muita coisa pra fazer e as horas parecem não dar conta. Trabalho demais, estrutura de menos, demandas excessivas, encheção de saco por parte de quem não faz nada, TPM, dores pessoais. Tudo conspira para uma grande explosão. O tempo vai passando e a pressão aumenta. O coração dispara, a mente desatina, o corpo enrijece.

Então aquele mais importa joga a última gota, a que faltava. O mundo desaba. O dia escurece, a ira aflora, a mágoa rói. Mas, é preciso reprimir, afinal, ninguém tem culpa das nossas misérias. Esse é o destino de quem se faz tanque de guerra. Por fora, lago sereno. Por dentro, vulcão.

Na hora de ir embora a chuva aparece. Jorra forte, intensa, parece zombar do turbilhão que assoma lento, mas furioso. Vou para a parada do ônibus, cheia de bolsas, carregada do peso dos livros. O horário falha. O ônibus não vem. Um carro passa sobre a poça de água e a roupa encharca. Os minutos se arrastam. Passam-se 45 minutos e eu molhada feito um pinto. Quando vem, o buzão está lotado, pois pulou um horário. Não há lugar para sentar.

Lá vou eu, o peito ardendo, segurar a onda de enfrentar o trajeto até o Rio Tavares, em pé, com duas sacolas, espremida feito sardinha. Com a chuva, o trânsito está mais lento do que o normal, sinal de que será uma longa jornada. Uma hora e quarenta minutos para fazer menos de 30 quilômetros. Algumas mulheres gritam para que se abra a janela. Tem medo da gripe suína. Outros não querem nem saber de se molhar. O ônibus parece uma panela de pressão. Todos se olham com raiva.

Quando chega ao terminal, lá se vai o Castanheira. Por um minuto perco o segundo buzú. Toca esperar mais 30 minutos no vento frio. Sinto que se alguém me tocar, explodo! Então, finalmente sigo para casa. Mais 30 minutos pelas ruas do Campeche. Quando salto no ponto a chuva está torrencial. Prioridade para os livros. Tiro o casaco e embrulho nele as bolsas. Um avião passa baixinho, descendo para o aeroporto. A bomba finalmente detona. Só então, sob a chuva, começo a chorar. Foi um dia duro. E, às vezes, até mesmo um tanque de guerra precisa um pouco de ternura. É o meu cachorro, todo pureza, quem me recebe, serelepe. Suas patas barrentas na minha blusa branca mostram que pelos menos, para ele, faço a diferença. Meu Steve Biko salva o dia.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Conferência da Comunicação em Santa Catarina

Em Santa Catarina seguem as discussões sobre quais propostas levar para a Conferência Nacional de Comunicação, que deve se realizar em dezembro deste ano. Há meses que representantes de vários setores do movimento social (majoritariamente os ligados ao campo da comunicação) estão se reunindo e debatendo. No último dia 15 de agosto foi a vez da realização do Primeiro Seminário Pró-Conferência Estadual, com a participação, como conferencistas, do presidente da Federação Nacional dos Jornalistas, Sérgio Murilo de Andrade, e do professor da UFSC, Carlos Locatelli, além de representantes de várias regiões do estado.

No debate, que ocupou toda a parte da manhã, foi possível perceber a dificuldade que será o avanço nas questões mais estruturais da problemática comunicacional brasileira. No mais das vezes, cada grupo acaba refletindo apenas as suas questões intestinas, minimizando o debate dos temas mais gerais. Não bastasse isso, ainda há os que atuam dentro de uma consciência ingênua acreditando que os meios de comunicação, da maneira como estão estruturados, não são tão maléficos assim, e que a população de maneira geral tem bastante clareza sobre a enxurrada de lixo - e sobre a sedução capitalista - que os meios lançam sobre ela. Por conta disso, acusam os que querem pensar a totalidade de estarem subestimando as gentes.

Outra questão que mostra certa debilidade no debate é o desconhecimento dos avanços efetuados em outros países da América Latina no que diz respeito à comunicação. No geral, as pessoas não se preocupam em saber sobre como se deu, por exemplo, a mudança da lei na Venezuela, onde durante vários meses o governo discutiu com a população a proposta de uma lei geral de radiodifusão, que acabou aprovada sob o nome de Lei Resorte, garantindo mudanças estruturais no sistema. Também poderíamos citar o caso da Argentina, que desde a ditadura militar não mexia neste setor e que agora, no governo de Cristina Kirchner, também aprova uma lei que avança em pontos que o movimento social considera importantes. Igualmente na Bolívia e no Equador, as novas Constituições apontam mudanças e provocam reestruturações que devem ser conhecidas para que se possa pensar o nosso país dentro do contexto latino-americano. E aí não se trata de copiar modelos, mas de perceber como estes países conseguiram avançar desde uma postura nova do Estado.

E é por entender que sem mudança no Estado fica praticamente improvável o avanço da democratização, que a nossa intervenção se dá na direção da proposta de um outro Estado, com democracia participativa, com projeto nacional, com propostas concretas de transformação estrutural. A conferência precisa realizar um grande debate sobre qual é o Estado que queremos, porque é isso que vai delimitar os avanços que poderemos fazer acontecer. O governo de Luis Inácio, desde o seu início, em 2003, deixou bem claro a quem está servindo. É um governo se tem se prestado a todas as demandas do capitalismo internacional e, como se sabe, é da natureza deste sistema viver sob a ditadura do capital, inviabilizando, portanto, qualquer avanço democrático de fato. A dita democracia capitalista é um regime no qual a lei é movediça e está sempre mudando para defender os interesses dos graúdos. Assim, fincar pé em pequenas mudanças na lei é fazer muito barulho por nada, já que nestas condições, as mudanças acontecem apenas para que tudo fique como está.

Os empresários

A última jogada do tabuleiro da Confecom deixa muito explícita a tranquilidade do empresariado da comunicação no que diz respeito à movimentação popular. Ao não verem contempladas as suas exigências na organização do evento, no qual queriam impor suas pautas, decidiram sair do processo, deixando registrado em documento oficial que os movimentos sociais poderiam “fazer a conferência e apresentar as suas sugestões”. Ou seja, ao povo está dado o direito de “fazer sugestões” porque eles, que são os que detêm o controle do Estado, podem fazer o que quiserem depois. Isso, por si só, já deveria mostrar aos movimentos sociais que sem uma mudança no quadro de poder do Estado, muito pouco vai se avançar.

Mas, na contramão da história, os dirigentes da Fenaj insistem que a presença dos empresários na Conferência é muito importante para que se estabeleça o diálogo. “Queremos os empresários lá, porque teremos condições de igualdade”, afirmou Valci Zucolloto. “Muita coisa nós podemos discutir só com o Estado, mas outras não. Por exemplo, a regulamentação, as concessões. Isso temos que discutir com os empresários”, disse Sérgio Murilo.

Acreditar que a simples presença dos empresários na Conferência estabelece uma “igualdade no diálogo” é, no mínimo, estar muito equivocado sobre o lugar histórico que a Fenaj ocupa neste jogo de poder que é a luta por uma comunicação verdadeiramente democrática, com controle social. O espaço da conferência não dá e não pode dar igualdade porque esta igualdade não existe no plano real. O que há, de fato, é um poder enorme dos grandes monopólios de comunicação, em completa harmonia com o Estado. Aos movimentos sociais caberia compreender que, por serem maioria e por estarem conectados com os anseios populares, a eles – e só a eles - pertenceria o papel histórico da luta concreta por uma mudança radical no setor de comunicação. Nenhuma composição de classe é possível, nenhum consenso habermasiano é possível, quando aos donos das empresas - ramificados nos legislativos nacionais, estaduais e locais – está reservado todo o poder. E, se é assim, por que diabos discutir com eles questões chaves como as concessões? Se a radiodifusão é uma concessão do Estado, é com ele, e só com ele, que a sociedade tem de dialogar. Os empresários deveriam apenas se submeter à vontade popular, pois isso sim é democracia.

O povo não é bobo

Algumas falas durante o encontro catarinense se remeteram a idéia de que o povo sabe muito bem que os meios de comunicação mentem e que não é preciso que nenhum “iluminado” venha “ensinar” sobre esta questão. Isso para rebater a proposta de que é necessário sair das reuniões de gabinete e ganhar às ruas onde está a maioria das gentes que não pertence ao mundo da comunicação. Mas, como bem já ensinou Guerreiro Ramos existe uma diferença abissal entre a consciência ingênua e a consciência crítica. O trabalho daqueles que atuam na área da comunicação não é o de “ensinar”, mas sim o de desvelar os mecanismos que fazem os meios serem como são, levando as pessoas a entender de maneira crítica aquilo que elas já sabem não ser bom.

As gentes que não estão envolvidas diretamente neste processo não têm como saber sobre todas as nuances que envolvem o jogo de poder, no qual os empresários da comunicação dão a diretriz e instituem a pedagogia da sedução capitalista. Por isso que atuar nas Associações de Moradores, nos sindicatos, nos movimentos populares de outra ordem que não os da comunicação, passa a ser condição fundamental para o sucesso da Confecom. Sem tirar da mira a idéia de transformações estruturais, poderemos avançar nesta conjuntura, mesmo sabendo que a luta será difícil. Mas, sem a participação de outros setores da luta social isso fatalmente não acontecerá.

sábado, 15 de agosto de 2009

Que venham os 50



Quando eu tinha 20 anos me assombrava um medo: fazer quarenta. Mas, esse medo não era do prosaico envelhecer, que sempre achei muito charmoso. Não! Era o medo de perder a consciência de classe. Naqueles dias eu reparava que as pessoas, passados os 40 anos de vida, mesmo as mais aguerridas e militantes, iam desmilinguindo, esmorecendo, perdendo a radicalidade. Alguns viajavam para a França, outros compravam casas gigantes, e outros simplesmente se rendiam ao sistema repetindo o mantra: “não há como lutar contra isso”. Então eu tinha medo. E eu? O que faria quando todas as ilusões se perdessem aos 40 anos? E, na medida em que esse tempo chegava, eu ia estremecendo.

Então veio um dia a manhã dos 40. Acordei sem pressa, a cabeça espiando por baixo da coberta. Aquele radiante dia de maio poderia ser meu fim. Ressabiada, saí da cama e corri ao espelho, nada mudara. Ufa. Tomei banho e saí para a rua. Tudo normal. A indignação no ponto do ônibus sinalizou que eu estava bem. No trabalho, arrumei algumas encrencas. Hum... Tudo certo. Os dias passaram e eu seguia firme, sem claudicar.

Agora aqui estou. Já se passaram oito anos do fatídico 40 e eu ainda sei quem sou. Nas lutas pelo transporte, pela moradia, pela segurança, pelo HU público, pela Vale, pela Embraer, contra o Lula, contra os transgênicos, pela universidade, pela comunicação livre, pela minha categoria. Nas passeatas, nos encontros, nos debates, pelos trabalhadores, contra a opressão. Faço revista, faço jornal, escrevo blogs, crio páginas, faço as palavras voarem. Sei quem sou e onde estou. Sei pelo que lutar e não me deixo render pelo canto da sereia da babilônia em chamas.

Outro dia, durante um ato, me vi no reflexo da vitrine. Ali estava, na minha madurez. Os cabelos revoltos, a pele cansada, a bunda já caída. Mas os meus olhos... Ah!...estavam cheios de eternidade! Então, num átimo, vi a guria de 20, que um dia eu fui, sorrir pra mim. Ali estava eu. Inteira! Que me esperem os 50... Ainda tenho todas as minhas ilusões.