Quando o pai chegou lá em casa e com ele a doença de Alzheimer, a vida de todos mudou. Eu, que sou filha, não tive muita opção. Desde o primeiro dia assumi o cuidado, buscando aprender o máximo para lidar com tudo. Comigo vivem meu companheiro e meu sobrinho, e eles também precisaram aprender. A demência é uma doença da família. Há que ter parceria para lidar com ela.
Sei o quanto foi difícil para os dois. Meu sobrinho que é, portanto, neto do pai, acabou sendo o mais requisitado, por estar mais em casa. Coube a ele uma parte significativa do cuidado e sei o quanto é duro ver o avô ir se desfazendo diante dele. Um avô que foi pai. Um avôhai. Ainda assim, com todos os medos e perplexidades ele foi adentrando no universo do avô, sacrificando também seus estudos, suas noites e muitos finais de semana. Hoje, é ele o responsável por levantar o pai, pois trabalho de manhã. Já pegou as manhas todas e é capaz de fazê-lo sozinho, mesmo nas difíceis horas escatológicas. Ainda encontra tempo para brincar de corrida com a cadeira de rodas e desfrutar com ele as músicas caipiras e as gaúchas de raiz.
Além disso, faz as mais deliciosas comidas para deleite da família, girando na cozinha entre especiarias de todo tipo que amealha na feira. É um feiticeiro dos sabores. É um pouco atrapalhado e cabeça de vento, mas isso vira qualidade quando a vida pesa. Quase todas as noites ele me ajuda a trocar e deitar o pai e é também o parceiro na hora do banho. Sem ele, a parada seria mais dura, com certeza. Hoje, ele começa mais uma voltinha em torno do sol, repleta de música e redemoinhos emocionais. Às vezes fica sem pernas, mas segue andando, e eu agradeço por sua presença.
Ainda que quebre todos os copos e pratos possíveis, nossa casa seria bem sem graça sem ele. Feliz dia, meu amado Paulo Renato. E obrigada por ser quem és. Te amo!
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