quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Barak Obama: mais do mesmo?

Tenho acompanhado as declarações de várias lideranças latino-americanas sobre o novo presidente dos Estados Unidos e só posso concluir que estejam sendo extremamente diplomáticas e educadas. Penso que numa situação como esta, quando um novo presidente assume o cargo, deve ser de bom tom dar as boas vindas e fazer prognósticos de mudanças, de bom governo e de bons auspícios. Mas, cá com meus botões, creio que esta gente que hoje dirige países importantes como a Venezuela, Bolívia, Equador e Paraguai - que estão virando o leme e dando passos na direção de uma outra forma de organizar a vida - deveria colocar as barbas de molho.

É fato que a eleição de um homem negro para a presidência dos Estados Unidos é um acontecimento histórico. Quem conhece as práticas da Ku Klux Kan e a faceta racista do país do norte – que inclusive o levou a uma sangrenta guerra civil entre 1861 e 1865, causadora de quase um milhão de mortes - sabe da importância disso. Mas, de que vale ser negro e quebrar um paradigma se não se quebrar a política deste que é um dos partidos mais antigos do mundo, nascido de uma dissidência do que era o Partido Democrata-Republicano, fundado por Thomas Jefferson em 1793? É o que pretendemos questionar!

História de conservadorismo

As eleições nos Estados Unidos foram mostradas de forma exaustiva na televisão. No geral, os editores dos jornais mais importantes da noite esbanjaram a visão de suas mentes colonizadas. Sequer falaram dos demais candidatos, como se só os partidos Republicano e Democrata estivessem participando do pleito. Pois havia mais gente no páreo. Disputaram ainda dois candidatos independentes (lá é possível ser candidato sem partido), um do Partido da Constituição, um do Partido da Liberdade, um do Partido Socialista e uma candidata do Partido Verde. E o mais grave é que na reportagem da Rede Globo, William Bonner divide o Congresso estadunidense entre a bancada democrata, a bancada republicana e uma pequena parte “sem posição”. Ora, os 4% não são sem posição, eles tem posições muito claras, diferentes dos partidos dominantes. Já no dia da eleição alguns jornalistas chegaram a momentos apoteóticos, vibrando de prazer com o que chamavam do “regime mais democrático do mundo”. Até aí tudo bem, são propagandistas a soldo. Cumprem seu papel. Por isso cabe a imprensa alternativa estabelecer um olhar crítico.

A história do povo dos Estados Unidos contempla um passado glorioso. O país foi a primeira colônia neste continente a se libertar e criar uma nação, e tudo isso fruto de movimentos e revoltas populares, como bem conta o historiador Howard Zinn, no seu livro “A Outra História dos Estados Unidos”. Mas, o que ficou nos registros e na memória das gentes foi o conto da bravura e do heroísmo dos “Pais da Pátria”, como George Washington, Benjamin Franklin, Abraham Lincoln e Thomas Jefferson. O resultado deste momento fundador da democracia foi a destruição bárbara dos povos originários e o enriquecimento destas lideranças lideranças. A Constituição do país, datada de 1787, que ainda hoje faz aflorar lágrimas aos olhos dos “defensores da liberdade”, foi, no entender do historiador Charles Beard, citado por Zinn, um documento que serviu para atender aos interesses bem demarcados de determinados grupos dominantes e que deixou de fora os anseios de praticamente metade da população.

Pois foram estes interesses que levaram à fundação do Partido Democrata-Republicano em 1793, aglutinando a classe dominante até 1836, quando houve um racha a partir das posições de Andrew Jackson que, então presidente, decidiu acabar com o Colégio Eleitoral e não acatar as decisões do Congresso, além de permitir a invasão, por brancos, de milhares de hectares de terras indígenas, expulsando-os para longe de seus lugares originários. Foi no seu governo que houve a diáspora da brava nação Cherokee. Com a criação do Partido Democrata, Jackson passou à história como primeiro presidente deste partido. A gênese da divisão não teve nada a ver, portanto, com divergências ideológicas de fundo, embora alguns analistas avaliem que o partido saiu da órbita conservadora, passando a liberal no início do século XX. Mas, os fatos mostram que não é bem assim.

As políticas dos democratas

O segundo presidente democrata que tem especial participação na vida dos povos da América Latina. Foi Thomas Woodrow Wilson , que governou os Estados Unidos de 1912 a 1921, atravessando a primeira guerra mundial. Ele jurou manter o país fora do conflito mas acabou justificando a entrada na guerra com o mesmo velho mantra defendido por quase todos os presidentes intervencionistas: “é para garantir a democracia no mundo”. Sempre foi chamado de idealista lá no seu país e até ganhou o Nobel da Paz por sua atuação no fim da primeira guerra. Foi durante seus mandatos (cumpriu dois), que disseminou a doutrina da “livre determinação dos povos”, um belo discurso que ele mesmo não cumpriu na prática. Wilson comandou várias intervenções militares na América Latina, invadindo o México durante o processo da gesta histórica de sua revolução popular em 1914, e depois a Nicarágua, o Panamá, a República Dominicana e o Haiti. Os motivos: garantir a democracia. Pois sim!

Depois dele, outro presidente democrata assumiu importante papel na vida das gentes. Foi Franklin Delano Roosevelt, que acabou enfrentando a grande crise de 29 empregando o que ficou conhecido como “new deal”, uma espécie de novo pacto com reformas que, de alguma maneira, estabilizaram o sistema para a proteção do mesmo. Seu programa protegia os grandes donos de terra e o empresariado, mas também oferecia sufuciente ajuda aos empobrecidos, evitando com isso uma explosão social. Foi no seu mandato também que os Estados Unidos viveram a segunda grande guerra, considerada uma das mais populares naquele país, uma vez que mais de 18 milhões de soldados foram mobilizados e grande parte da população contribuiu com a compra de bonus. A economia reaqueceu e a crise foi superada. Foi Roosevelt que, junto com Churchil e Stalin, assinou o tratado de Ialta, que na prática dividiu o mundo entre socialista e capitalista, estabelecendo zonas intocáveis de influência, a famosa Guerra Fria. Foi durante seu governo que assinou uma espécie de decreto (Ordem Executiva) que outorgava ao exército estadunidnese prender sem ordem judicial ou acusação formal todo e qualquer japonês que vivesse na costa oeste do país. No total foram confinados em campos de concentração, dentro dos Estados Unidos, mais de cem mil homens, mulheres e crianças, sendo que três quartos desta gente era nascida no país.

Roosevelt morre em 1945 e assume no seu lugar o também democrata Harry Truman, este responsável pelo maior crime de guerra já perpetrado: a bomba atômica sobre Hiroshima e Nagasaki, que matou mais de 200 mil civis, num momento em que o Japão já estava praticamente rendido. Foi ainda no seu governo que foi criada CIA, agência de inteligência responsável por praticamente todos os golpes contra a democracia nos países da América Latina. É deste democrata a também famosa “doutrina Truman”, que na prática significava a auto-outorgação do direito de intervir em qualquer país que ousasse enveredar pela via socialista. Por conta disso Os EUA invadiram a Coréia, o Irã, Vietnã e Guatemala e meteram sua colher em outros tantos países de nuestra América, finaciando grupos anti-comunistas. Criou ainda o Plano Marshall, que visava enviar dinheiro para os países, comprando a consciência dos governantes para que não aderissem ao socialismo. Foi o início do processo de atuação dos malfadados “assassinos econômicos”, denunciados por John Perkins, que assim agiu durante parte de sua vida. Naquele período os Estados Unidos invadiram a Iugoslávia e a Grécia, em nome da democracia.

Outro momento crucial da vida estadunidense foi vivido neste governo democrata. A Instituição do Comitê de Investigações das Atividades Anti-Americanas, comandado pelo Senador Joseph MacCarthy, uma espécie de caça às bruxas que prendia e destruía qualquer um que fosse acusado de ter idéias comunistas. Foram os anos dourados do império, mas à custa de muita dor, tanto de sua gente como de populações de vários países do mundo.

Outro presidente democrata com uma ficha nada limpa é John Fitzgerald Kennedy, que apesar de até hoje ser considerado o “queridinho da América”, foi quem teve de arcar com as consequências da frustrada tentativa de invasão à Cuba organizada pela CIA bem no comecinho de seu governo. É ele também quem aquece o conflito no Vietnã, o que mais tarde vai explodir numa guerra de 10 anos, e invade o Laos. Na América Latina cria a Aliança para o Progresso, que nada mais é do que a sequência do Plano Marshall. Dinheiro à rodo para comprar a fidelidade das elites governantes dos países que os Estados Unidos considera seu quintal.

Ainda nos anos 60 vamos encontrar mais um democrata no poder, Lyndon Baines Johnson, que assume depois da morte de Kennedy. Com ele os Estados Unidos assumem de vez o confronto no Vietnã, com o mesmo velho papo de garantir a democracia. Também invadem o Panamá, a República Dominicana e o Camboja em nome da liberdade.

Jimmy Carter é mais um democrata no poder e foi um dos poucos que tentou a paz . Por conta disso é considerado por alguns analistas como “o mais fraco presidente da América”. Tentou mediar acordos com Israel e Palestina e conseguiu a paz entre Egito e Israel. Foi ele também que assinou, com Omar Torrijos, um tratado que devolvia o canal do Panamá ao povo daquele país, e buscou uma política de distensão com os países comunistas. Assinou tratados com a China, buscou reduzir as armas nucleares e tentou aproximações com Fidel Castro. Ainda assim, enfrentou grande tensão com o sequestro de estadunidenses no Irã e foi no seu governo que conseguiu grandes volumes de recursos para o orçamento militar. Foi com Carter que iniciou na América Latina o processo de abertura, uma vez que quase todos os países viviam ditaduras duramente impostas pelos Estados Unidos. De qualquer forma Carter não é visto como um bom exemplo lá dentro e, segundo seus adversários, foi “muito mole” durante a revolução iraniana além de “permitir”, sem criar uma guerra, a ocupação do Afeganistão pela União Soviética.

O mais recente democrata no poder foi William "Bill" Jefferson Clinton, que governou por dois mandatos, entre 1993 e 2001. Visto como simpático galã, charmoso e carismático ele governou agressivamente no que diz respeito a política externa. Invadiu o Iraque, o Haiti, o Zaire, a Libéria, a Albânia, a Colômbia e o Afeganistão. Um currívulo e tanto para um cara “bonzinho”.

E então, que será de Obama?

Este é um brevíssimo resumo da história dos democratas - que praticamente em nada se diferem dos republicanos - que governam o país na mesma lógica do “destino manifesto”, ou seja, de que há uma missão divina dada aos Estados Unidos de ser o guardião da “democracia” mundial e que, por conta disso, o país pode intervir quando bem entender. É claro que se precisa perceber a palavra democracia aí significando “toda e qualquer ameaça aos interesses das grandes corporações”, já que o que está em jogo raramente é o interesse das gentes, mas sim das empresas.

Assim, as esperanças que se colocam sobre o histórico presidente negro do país que é polícia do mundo devem ser relativizadas. A experiência do democrata Jimmy Carter, ridicularizado até hoje por não ter empreendido nenhuma guerra, não é um exemplo que os estadunidense gostariam de ver seguido. Também é bom pensar que lá está estabelecida uma crise financeira sem precedentes e que é comum ao império safar-se das crises com uma boa guerra. Como bem dizia Roosevelt, o Theodore, em 1897, numa carta a um amigo: “em estrita confidência, eu quase que agradeceria qualquer guerra, pois creio que esse país necessita de uma”. É preciso estar muito cegado pela ideologia disseminada pelos meios de comunicação para crer que Obama, apenas por ser negro e vir das classes mais empobrecidas, possa deixar de seguir a natureza do seu partido. Basta esperar e já vamos ver suas posições sobre o Iraque, Palestina, Venezuela, Cuba, só para citar alguns. O tempo dirá.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Os jovens, o mp3 e a desumanidade.

Foi assim. Eu estava ali, naquele bendito terminal do Rio Tavares, esperando já há mais de 20 minutos pelo ônibus do Castanheira. Fervia de ódio, pois ninguém gosta de fazer aquele absurdo transbordo tão perto de casa. E, assim, enfadada, observava o movimento das gentes. Então eu a vi. Lá longe, numa das plataformas, no ônibus que vai para o Campeche, uma velhinha tentava subir no coletivo. Ela fazia um tremendo esforço para alcançar o degrau e não conseguia.

Pois bem em frente a ela estava encostado um jovenzinho de uns 17 anos. Estava com um desses equipamentos de som pequeninos, o mp3, e os fones encravados nos ouvidos. Ele balançava a cabeça e cantarolava bem alto, alheio a tudo. Apesar de estar com os olhos abertos ele parecia não ver a velhinha e seu esforço quase sobre humano para subir no degrau do ônibus. Meus olhos se centraram no guri por átimo de segundo e fique a pensar: que desgrama de mundo é esse em que as pessoas não conseguem mais enxergar um ao outro. Que porcaria de planeta é esse em que os seres humanos se encaixotam dentro de seus mundos, e fecham seus ouvidos para a vida que geme ao seu redor.

O garoto seguia cantando e a fila de gente que estava por ali esperando tampouco enxergava o esforço da velhinha, o povo perdido em si mesmo, muitos também refugiados nos mp3. Estranho mundo em que a música, em vez de trazer alegria, aliena e separa. Fiquei meio bronqueada com esse lance de mp3. Bateu a vontade de sair gritando: “escuta aqui, ninguém vê essa velha tentando entrar no ônibus?”. Mas, desisti do intento.

Resignada com a falta de olhos pra ver do povo urbano, saí do meu cantinho lá atrás e vim ajudar a velhinha. Toquei o seu braço, sorri pra ela, e ajudei a entrar. Ela estava com uma trombose, falou, e a perna doía muito. Ajeitei aquele corpinho frágil no banco, ela agradeceu: “obrigada filha”. E havia um lampejo de alegria no seu olhar. Eu desci. As pessoas seguiam ali na fila, com cara de paisagem. O guri fechara os olhos e cantava alto.

Naquele triste terminal, as pessoas mofavam, perdidas de sua humanidade. Só os mp3 pareciam ter vida.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Lutas indígenas na Colômbia

Os povos originários da Colômbia estão em lutas há semanas, realizando marchas e cortes de estradas para exigir do governo o fim dos ataques contra as comunidades indígenas. Veja aqui como esta luta começou, contra o TLC e pelo direito de autonomia em suas terras.



sábado, 25 de outubro de 2008

Quem se importa?

Por Thiago Mendes

Democráticas, as decisões são tomadas em nível global, embora por apenas alguns paises envoltos de suas siglas tão repetidas.
FMI.
Banco Mundial.
Conselho de Segurança.
OMC.
...
Somos fantasticamente tão democráticos que os mesmo países que vendem as armas de guerra, velam por nossa paz mundial.

Fome; são tantas as crianças que morreram e morrerão por ela. Mas não perca o horizonte e não cometa o erro de crer que a mesma é uma doença do capitalismo...Muito pelo contrário, pois é seu sinal de saúde e prosperidade.
Salute!

Um brinde elegante aos novos escravos da Hellmedia.
Tv
Internet.
Jornais.
Terra para poucos.
Televisões para muitos.
Ontem senhores de terra
Hoje, senhores das tvs.
Tão desiguais como pode ser um sistema que não conhece o igual e inventa uma perniciosidade disfarçada de liberdade.
Liberdade não se compra, se conquista.
Ao menos os escravos do passado sabiam disso!

Money; eis a diferença entre ele e aquele.
Isso poderia ser um slogan para comercial.
O triste é perceber que faz parte da nossa realidade virtual.
Por sorte em muitos lugares a cor da nossa pele é menos reluzente do que a das verdinhas da carteira. Claro, em alguns lugares, pois em outros...

Quem se importa?

Virtual; condicionados a um mundo cada vez menos físico. A vida não começa aos trinta, mas se tu não tiver um computador talvez ela nunca comece mesmo.
Interligados, povos e línguas diferentes, uma verdadeira Aldeia Global. Como tribos antigas olham para o grande mar e não crêem nas caravelas que aos poucos se aproximam.
Ilusões!
Conforme a trágica vida dos explorados em todo mundo para que a máquina da pseudofelicidade continue.
O circo não para!
As Caravelas se aproximam.
Exploradores e explorados.
O resto... Quem se importa?

Modernos; a tal ponto que água potável não pode ser algo essencial, mas uma rede de celulares sim.
Cobertura total!
Onde falta banheiro!
Descontos incríveis!
Água potável?
Afinal problemas de esgoto, água limpa e afins.
Você falou em cólera?
Inventemos uma vacina!
Laboratórios prontos para patentear suas novas drogas.
Vendê-la. Mil vezes mais caro que o custo do saneamento.
Somos modernos.
Somos esbanjadores.

“O nosso século que tanto fala de economia é um esbanjador: esbanja o mais precioso, o espírito.”
Nietzsche.

Curemos populações enfermas, mas antes testemos em outras populações inteiras...Quem liga? Vai ser bem longe...Num lugar chamado África.

Quem se importa?

Entretenimento. Paguemos para sermos vigiados e cada caso seja um espetáculo. Banalizemos a violência, usaremos muitos números.
O pobre não sabe matemática.
Gosta de mandioca.
Ignore a sentença...Você é capaz!

Cultuemos os ídolos. Acendendo velas para assistir suas novelas de sangue nobre.
Exigiremos noticias diárias de suas vidas!
Escutaremos santos capazes de nos salvar desse inferno.
Mas tudo tem um preço, veiculado no produto.
Não se preocupe, você quase nunca percebe!
Você é capaz!

Abriremos os livros da salvação. Esses jornais onde a noticia é fresca mesmo que a carne esteja podre. A verdade repetida todos os dias.
A verdade deles!
A verdade daqueles!
A nossa ... Realidade não existe, ou carece de coisas divertidas.
Iremos ao shopping!

Crianças!
Peçam tamanho duplo e ganhem um brinde confeccionado por mãos de outras pequenas crianças, tudo bem, tudo bem é bem longe...Honduras ou China.

Quem se importa?

Dançando e pulando em datas festivas.
Feriados!
Dia do índio.
Índios.
Como aqueles que algum jornal horário caro vai afirmar que invadiram as nossas terras.
Terras brasileiras.
Empresas estrangeiras.
Índio burro!

Que não sabe ler nas cercas ... Propriedade privada!

“O primeiro que tendo cercado um terreno se lembrou de dizer: -Isto é meu-, e encontrou pessoas bastante simples para o acreditar, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não teria poupado ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou tapando os buracos, tivesse gritado aos seus semelhantes: "Livrai-vos de escutar esse impostor; estareis perdido se esquecerdes que os frutos são de todos, e a terra de ninguém”
Rousseau

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Os gatos, esses anjos


Os gatos que vivem na minha casa são incríveis demais. Todos os dias eles ensinam coisas belas sobre ser família, por exemplo. A Juanita deu à luz dois gatinhos, o Tupac e a Anita, e a Bartolina, que é mãe da Juanita e, portanto, avó dos dois pequenos, não os deixa sozinhos nunca. Elas (mãe e filha) dormem abraçadas enquanto amamentam (ambas) os fedelhinhos. Já o pai, bueno.. este fica pelo pátio, como um rei.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Crise? E eu com isso?


“A crise, a crise, a crise”. É o que mais se ouve no rádio e na TV - essa fábrica que vive da mais valia ideológica, como bem analisou o grande pensador venezuelano Ludovico Silva. Começou lá nos Estados Unidos e quase ninguém sabe muito bem por que. Os locutores falam de uma quebra nos bancos causada pelo não pagamento das hipotecas e as pessoas, jantando, não conseguem entender o que isso significa. Bueno, ao que parece, as pessoas pegaram empréstimos para comprar moradia e agora não têm dinheiro para pagar. Fico pensando na política do governo Lula que, por conta do “crescimento da economia” fez convênios com Bancos para garantir que os trabalhadores pudessem se endividar de forma tranqüila e sem qualquer entrave, com desconto em folha. A CUT aprovou a idéia e o povo começou a corrida aos bancos para tirar dinheiro e consumir, consumir, consumir. Penso que é um pouco por aí o que aconteceu por lá, na nave mãe.

Também, na televisão, já se começa a ver reportagens sobre o aumento do preço disso e daquilo, e os jornalistas avisam em tom de ameaça: “é a crise, ela vai pegar todo mundo”. É quase como a trilha sonora do Tropa de Elite. Ninguém vai escapar. Assim, pelas ruas, as pessoas vão internalizando a idéia de que há uma crise, portanto, é normal que os preços comecem a subir. Vem a pedagogia do medo e os pequenos burgueses principiam a comprar bastante carne para congelar nos abarrotados freezers, esta peça escrota da acumulação sem necessidade. Já os que não têm freezer... que se danem! “Estamos todos no mesmo barco”, dizem os economistas e analistas de TV. Só que esta é mais uma mentira do sistema. Podemos até estar no mesmo barco, mas a divisão de classe garante que haja os que tomam champanhe na cobertura e os que remam nas galés. No final, quem é que salva o barco mesmo? São os remadores, sempre os remadores. O povo das galés!

Nos noticiários internacionais chegam as notícias de gente que perdeu tudo o que tinha. Choro e ranger de dentes. Mas ninguém pergunta por que motivo afinal esta gente entrou na onda das aplicações voláteis da bolsa. A promessa capitalista do lucro fácil, sem esforço. Bota a grana ali e ela vai render, pronto. Poucos são os que falam dos riscos do sistema. É que o capitalismo é bom de propaganda e tem o controle da fábrica de ideologia. E lá se vão as velhinhas e os trabalhadores comprar ações. Aqui no Brasil também há um incentivo para que os trabalhadores usem seu décimo terceiro salário ou suas economias e apostem no cassino financeiro. E pasmem, existem sindicatos e centrais que fazem campanha para que isso aconteça. A idéia de que o trabalhador comum pode ser um empreendedor é hegemônica.

E as emissoras de TV, com seus oráculos bonitinhos, se apressam a falar que, se é preciso que as gentes apertem os cintos por conta da crise, não é necessário temer. O estado já interveio. Já colocou bilhões de dólares para salvar os banqueiros, afinal, como poderíamos viver sem bancos? Já os que apostaram suas economias nos cassinos financeiros, bom eles tinham de saber que havia riscos. Perderam e pronto. Paradoxalmente serão eles os que salvarão os banqueiros, pois afinal, o dinheiro público de quem é?

O capitalismo é bicho esperto, tem seus pedagogos da beleza, do engano, da ideologia embotadora. Vai minando a consciência de classe. Pois, o que fazer, se os sindicatos brasileiros, em sua quase esmagadora maioria, estão domados? O que fazer se as centrais sindicais gerem fundos de pensão e fazem campanha para que os trabalhadores se endividem? Como falar de socialismo e de distribuição da riqueza num tempo em que as pessoas estão em retirada, tentando salvar o que lhes resta da enganação do capital? Poucos são os que se dão conta de que a questão não é a crise em si, o salvar-se agora, o apertar o cinto esperando a tormenta passar. Esta é a tormenta mesma. E ela só está mais forte no momento, mas é a mesma ventania capitalista que tudo arrasa, até as consciências, todo o santo dia e todo dia santo.

Para os trabalhadores está dado o desafio. Vivemos até agora um tempo de arar a terra, de estudar, de desvelar os horrores econômicos impostos pelo sistema. E também estão aí os exemplos do que pode fazer a luta coletiva que tem como pilar mestre a idéia de povo – gente em luta. Está aí a Venezuela, o Equador, a Bolívia, onde a falência de instituições como sindicatos, governos e partidos levou ao crescimento dos movimentos sociais a às transformações cada dia mais radicais. Não dá para sentar diante da TV e acreditar que o capitalismo acabou. Ele é matreiro, manhoso e se recompõe muito rapidinho, a história nos mostra.

As crises cíclicas do capital mostram o quanto este sistema é predador e a cada uma delas fica claríssimo que quem perde sempre são “los de abajo”. Então é preciso sair às ruas, pedagogicamente retirando o véu do engano,” explicando, provocando a consciência de classe. É hora de movimento, de semear. Mas, fundamentalmente, é hora de anunciar a boa nova: sim, é possível viver de outro jeito, organizar a vida de outra forma. Exemplos há e é tempo de espalhar a notícia.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Reforma Agrária dá certo

Celebração no Assentamento Conquista na Fronteira, em Santa catarina, pelos 20 anos da conquista da terra. O MST mostra que povo organizado constrói a nova sociedade aqui, agora! Viva o MST!