terça-feira, 23 de julho de 2019

Somos alfabetizados para o desamor


Sexta-feira, fim do dia, todo mundo no terminal com aquela cara de desespero, louco pra chegar em casa. O dia foi pesado, a carga ruim cobrando seu preço, e aquelas filas imensas. No ponto do Tirio a fila dobrava duas vezes. É impressionante. Um desassossego sem fim. O Ônibus estava ali, parado. E o motorista ao lado, conversando com outros motoristas. Nada de abrir a porta. E aquele povo cheio de sacola rezando pra sentar o corpitcho.

- Abre aí, moço? Pede uma senhora. E o motorista nem aí. Sequer vira a cabeça e segue conversando. 

- Abre pra gente sentar? Repete a senhora, a cara amassada de tanta vida esgotada. E o motorista nem aí. 

Eu tinha tido um dia de inferno e imediatamente comecei a chorar. Não consigo entender porque as pessoas são tão insensíveis. Não é possível que um cara, que é trabalhador explorado, não se compadeça das pessoas que estão ali, em pé, naquela infinita espera. O que que custa abrir a porra da porta?

Fico pensando que, na real, somos alfabetizados para o desamor desde criancinhas. Na família, na escola. Só pode ser isso, porque não é possível. Por que não uma gentileza? Por que não um sorriso, um bem-fazer, um carinho, um cuidado? Sei que a vida é dura pra  maioria, mas se acontece uma gentileza é como se abrisse uma porta no paraíso. Até a dor dói menos. Eu mesma não sei o que fazer. Então, sigo aplicando a regrinha ensinada por um querido amigo de infância e vivo distribuindo gentilezas aos desconhecidos. Mesmo quando não correspondem, mesmo quando fazem cara feia, mesmo quando agridem.

Quando é tempo do conflito, peleamos. Mas, no dia a dia, que nos custa?

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