Sábado é um dia que eu tiro pra mim. Os cuidados com o pai me exigem demais e a gente precisa de uma janela para oxigenar a existência. A minha é no sábado. Eu acordo bem cedo, como sempre, e enquanto a casa toda dorme eu ajeito o cantinho do pai que fica na sala. Arrumo as mantas, passo um pano com cheirinho bom, tiro o pó, deixo tudo ajeitadinho. Depois, tomo café e leio um pouco até umas oito e meia. Tenho de aproveitar o silêncio. Aí é hora de começar a me preparar para ir para a rádio, onde tenho um programa das onze ao meio dia. Sempre vou cedo para arrumar a rádio, preparar tudo.
Geralmente o pai dorme até às 10 horas, mas ontem ele acordou antes de eu sair. Aí não tem escapatória. Tenho de ajudar ele a levantar. Arrumo as roupas, dou banho de gato – que é que é possível nesse frio - e trago para tomar café. Nesse ínterim o resto do povo já levantou então entrego o pai para eles e vou para a rádio. Pedro e Renato ficam no comando. Eu pego a bicicleta e saio na pernada. A rua resplandece ao sol. Os vizinhos estão sentados nas calçadas, uns tomando mate, outros só lagarteando. Bom dia. Bom dia. Bom dia. Vou passando e deixando sorrisos.
Na rádio a manhã passa voando. O programa tem uma hora, mas conseguimos trazer sempre um bom conteúdo. Terminada a função é hora de ir para o Bar do Zeca, tradição desses 16 anos de Rádio Campeche. Na beira da praia, com os amigos queridos. Rola solta a cerveja e sempre beliscamos um peixinho. Tenho amigos especiais. Eles se importam comigo e com a minha vida, então é nessa hora que abre-se a assembleia para buscar soluções para os meus problemas cotidianos. Surgem as ideias mais mirabolantes. Rimos muito. É bom demais. Eu os amo.
Lá pelas três horas tomo o rumo de casa depois destas horas estelares regadas à cerveja. Chego e já me espera o pai. Pedro e Renato saem e eu fico. Tudo recomeça. É hora de ver os calouro do Raul Gil e depois preparar a janta. Então, vem a hora de dormir e todo o ritual de arrumação do seu Tavares. Feito isso, ele se embola nas cobertinhas e eu fico ao seu lado, velando até ele dormir. Quando ele ressona é minha hora de embolar na quenturinha...
E assim termina mais um sábado santo, um dia ordinário, como diz Adélia Prado, mas bunitu dimaisdaconta, e eu agradeço!