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A casa das primeiras letras, onde Simón Rodríguez deu suas primeiras
aulas.
A primeira vez que ouvi falar de Simón foi num pequeno texto de Galeano. Nele, o escritor uruguaio contava sobre esse educador venezuelano que era chamado de "el loco", por estar completamente a frente de seu tempo numa Caracas do final do século 18. Era 1791 quando ele redigiu seu primeiro texto de crítica da escola. O jovem de vinte anos queria uma escola na qual os professores fossem valorizados. No seu quase panfleto “Reflexões sobre os defeitos que viciam a Escola de Primeiras Letras de Caracas e os meios para uma reforma por um novo estabelecimento”, ele arrasa com o sistema vigente, critica o fato de só ser oferecida educação às crianças brancas e aponta a necessidade de educar as crianças pobres, aos agricultores, aos artesãos. “O regime deve ser de igualdade”, diz.
Mostra também que o sistema não se preocupa com a formação dos professores e insiste que esse deve ser o principal fator de mudança. Como proposta exige o aumento do número de escolas, capaz de atender todas as crianças em idade escolar, a formação de professores profissionais, salários dignos para os educadores, jornada de seis horas, móveis adequados para o ensino e finalizava exigindo que se tomasse a sério a escola de primeiras letras. “Uma escola até pode ser superficial, mas não inútil. O aluno não pode esquecer o que aprendeu. Há que ter cuidado e delicadeza para dar às crianças a primeira ideia de uma coisa”. Dizia isso porque havia a tradição de ensinarem até nas barbearias, enquanto afeitavam os clientes. Simón abominava isso. Defendia que como nessa idade a criança se distrai com qualquer coisa, era necessário um ambiente adequado e que o professor também prestasse atenção nas brincadeiras. “É necessário saber ler em todos os sentidos e dar a cada expressão o seu próprio valor”.
Por conta disso passou a ser olhado de revés pelos colegas e pelos que cuidavam da educação. Mandou tudo às favas e foi ser preceptor de Simón Bolívar, aquele que viria a ser o libertador. Naquela cabeça plantou ideias de liberdade e foi-se pelo mundo, plantando escolas por onde passava.
A história desse homem passou então a me perseguir depois da leitura do texto de Galeano. E, com o tempo fui descobrindo toda a sua trajetória de vida. Nesse encontro, amando-o. O louco nada tinha de louco. Era um amante do conhecimento, um amante dessa terra nova. "Imitamos demais a Europa. É hora de inventar", dizia, juntando meninos, meninas, negros e índios em sua própria casa, repartindo o saber. E, quando chegou a revolução, ele voltou para a América para formar gente capaz de viver numa democracia. Acolhido por Bolívar ele bem que tentou implantar seus métodos, mas, com a morte prematura do libertador, caiu em desgraça. Ainda assim, escreveu uma vasta obra, hoje recuperada pela revolução bolivariana, a partir de Chávez, que também o amava.
E foi atrás de seus passos que cheguei em Caracas nesse janeiro de 2015. O desejo era conhecera a atmosfera na qual ele viveu, as ruas por onde caminhou, a escola onde ensinou as primeiras letras e onde gestou seu pensamento original.
No centro histórico da capital venezuelana está o bem cuidado prédio onde o maestro ensinou. Bem no bulevar Panteão. Hoje é um museu que abriga a história do educador. Recuperado, o prédio ainda concentra uma biblioteca com a obra de Simón e outras obras que falam dele, um café e um espaço interativo no qual os jovens podem jogar com aplicativos nos quais os personagens não são mercenários decepando cabeças, mas os heróis da independência.
Na tela grande podemos ver um Bolívar menino - com a idade de nove anos (tempo em que teve Rodríguez como professor) - contando a história do mestre e também outros momentos da vida do educador. Desde um longínquo passado nos sorri aquele que aprendeu pelas mãos de Rodríguez a beleza de semear a originalidade. Não foi sem razão que Bolívar ousou pensar uma Pátria Grande.
O recorrido pela casa é um turbilhão. Passado, presente e futuro se misturam. A cada minuto entra um jovem para um passeio interativo com as máquinas, ou para sentar-se a mesa do café, folheando as ideias que saltam dos livros. Nas paredes, pequenas frases do educador indicam caminhos e sonhos. Pode-se ficar por ali uma eternidade, porque há muito para aprender.
Na porta, um Simón Rodríguez de papelão dá as boas vindas e é um repetir-se de cliques das pessoas que querem mostrar-se ao seu lado, numa fotografia insólita. Meninos, jovens, gente madura, é uma procissão. O "louco" que foi corrido de Caracas agora descansa bem ali, entre livros e mentes ávidas. Pode-se até sentir a presença do mestre, espiando pelas frestas.
Quando saiu de Caracas ele jurou nunca mais retornar, tanto que morreu bem velho, no Peru, sem jamais voltar a pisar no solo pátrio. Mas, certamente, hoje, amado de forma tão intensa pela juventude bolivariana, o sério e compenetrado professor está feliz. Aquelas carinhas risonhas e festivas estão cheias de novos sonhos, de ideias de integração, de liberdade e de originalidade. Bem ao gosto de Simón. E a gente sai dali renovada porque, enfim, o mestre tem o lugar que merece no coração e na mente de toda uma pátria, a grande pátria latino-americana.
Vindo de Porto Alegre nessa quinta-feira, acompanhamos dois bloqueios de caminhões. Um deles na altura de Sombrio estava muito grande. Os veículos parados no acostamento juntavam os motoristas que, ao primeiro sinal de caminhão trafegando, já se colocavam no meio da pista, insistindo para que parasse. Os ônibus e carros de passeio estavam com o passe livre. Entre os manifestantes, o instrumento mais visível era o celular. Ou estavam se comunicando via internet, ou fazendo fotos. Para eles, esse é um movimento histórico que foi se fazendo assim, pelo boca-a-boca.
Na pauta estão: a diminuição do preço do diesel, uma tabela fixa para o preço do frete, a aprovação sem vetos da Lei do Caminhoneiro, que já teve o aval do Congresso, e maior cuidado com a estrutura das estradas. Alguns desses itens tem ligação direta com o governo federal, outros são de competência dos grandes empresários de transporte. E, também, alguns dos pontos da pauta são demandas importantes, que dizem respeito à segurança e a garantia de vida dos caminhoneiros. Mas, por outro lado, alguns pontos da Lei do Caminhoneiro, que eles querem aprovação sem vetos, são, contraditoriamente, bastante complicados no que diz respeito à segurança e à vida.
No caso da estrutura das estradas, ninguém melhor do que essa categoria para saber como é necessário um investimento generoso. Alguns caminhos são intransitáveis, outros parecem crateras na lua. Segundo a Confederação Nacional dos Transportes, pelo menos 75% das estradas são consideradas deficientes. Estradas estratégicas, que são corredores de produção carecem de manutenção e são um perigo cotidiano para esses trabalhadores e para qualquer cidadão. Dados também da CNT dão conta de que acontecem perto de 100 mil acidentes ao ano, com 12 mil mortes só com transportes de carga.
No Brasil, 61% da produção é transportada pelo transporte rodoviário, o que corresponde a 485,6 bilhões de TKU (Toneladas por quilometro útil). E, como esse é um país continental, os números são gigantescos. Em 2013, só em grãos, os caminhões transportaram 183 milhões de toneladas. A malha rodoviária é de aproximadamente 1,8 milhões de quilômetros, contabilizando 146 mil rodovias federais e estaduais asfaltadas. Por isso, impacta de maneira tão arrasadora a manifestação que bloqueia os transportes de carga em vários estados do país.
Nesse cenário de abandono das estradas e risco de vida não parece estranho uma manifestação dessa natureza. É conhecida a sofrida vida dos trabalhadores que muitas vezes recorrem a energéticos e drogas para poder cumprir seus horários. Agora, o aumento do preço do diesel e a consequente organização dos empresários do setor, foram o estopim para que de todos os cantos do país surgissem trabalhadores revoltados, querendo melhor preço para o frete e a queda do preço do diesel.
A isso se somou a reivindicação da Lei dos Caminhoneiros, aprovada pelo congresso, que tem elementos muito complicados para todos aqueles que usam as estradas. Na nova lei, o horário de trabalho, de oito hora, pode ser expandido para mais quatro, permitindo que um motorista dirija até 12 horas seguidas. Segundo informações de peritos em acidentes de trânsito, depois da nona hora os riscos de acidente aumentam muito e passadas doze horas, eles triplicam.
Outra mudança na lei foi passar de quatro para cinco horas e meia, a permissão para horas contínuas ao volante, também considerado um risco muito grande para o trabalhador. Além disso, foi diminuído o período de intervalo entre jornadas, passando de 11 para oito, o que pode fazer com que o motorista trabalhe em diferentes períodos do dia e tenha muita perda de atenção.
No que diz respeito às cargas, a nova lei permite um sobrepeso de até 10% por eixo (hoje é de 5%). Especialistas consideram isso mais um risco na estrada, pois com mais peso o caminhão demora mais para parar.
Já um ponto realmente bom para os caminhoneiros, que está na nova lei, diz respeito ao não pagamento de pedágio quando estão vazios. Mas, por outro lado, essa isenção pode fazer com que o preço suba para outros veículos.
Ao analisar esses requisitos da lei pode-se perceber que as vantagens maiores serão dos empresários do transporte de carga, já que os trabalhadores ou mesmo aqueles que são donos do seu próprio caminhão, terão, na verdade, mais trabalho e mais risco na profissão. Fica aprovada a superexploração do trabalho - com a possibilidade de uma jornada de até 12 horas, e os elementos como o aumento do número de horas seguidas no volante e a diminuição do período de descanso entre duas jornadas, são carga pesada nos ombros dos trabalhadores. É de estranhar que eles desejem que isso seja aprovado, sem qualquer discussão.
Nas análises políticas que circulam pelo país há duas versões mais pontuadas. Uma, é de que essa é uma greve de patrões com o intuito de garantir mais lucro e, de quebra, desestabilizar o governo de Dilma Roussef, num contexto de golpe branco. E pode-se perceber muitos elementos dessa possibilidade nos pontos já tocados acima. O peso do trabalho parece mesmo estar no trabalhador e no proprietário individual que vive do seu caminhão. Para esses, será justamente o aumento da carga horária nas estradas que garantirá melhoria de vida. Já para quem tem uma empresa e emprega os caminhoneiros, o lucro virá farto pela superexploração sofrida pelo empregado.
De qualquer forma não há como menosprezar o movimento dos caminhoneiros. Muitas de suas demandas são reivindicações antigas e sistemáticas, que sempre são relegadas a acertos muito pontuais. Os que trabalham no transporte de cargas não são os culpados pela incompetência governamental em promover novos modais de transporte como o ferroviário ou hidroviário, que seriam bem mais seguros. Mas, os empresários do transporte, esses sim são culpados pela demora na instalação de novos modais, uma vez que não querem perder seus privilégios de controlar mais de 60% da distribuição de produtos no país.
Muitos tem feito comparações com a Venezuela que hoje vive uma crise de desabastecimento por conta de um boicote empresarial. Lá, como aqui, é a iniciativa privada que detém o controle da distribuição de produtos e bens. O governo bolivariano, ciente disso, foi, ao longo dos anos, construindo um sistema de distribuição que hoje ocupa 30% do setor e é o que está conseguindo segurar o bloqueio. Distribuição de alimentos e bens é coisa estratégica e precisa ter o estado no controle. Sem isso, o governo fica vulnerável a boicotes e movimentos que podem servir de barganha para mais lucro e controle por parte dos empresários. Essa é uma lição a aprender.
De qualquer forma, o Brasil não é a Venezuela, não tem um presidente que enfrenta o império nem fala em socialismo. Aqui, a proposta governamental é de aliança com a burguesia agrária, industrial e financeira. E, ainda assim, toma rasteiras como essa agora, comandada por um forte núcleo do empresariado dos transportes.
É fato que na esteira das reivindicações empresarias também vão demandas dos trabalhadores. E aí se estabelece alguma confusão pois, a um olhar menos atento, as jogadas patronais podem passar desapercebidas. O certo é que o setor está jogando uma queda de braço com o governo e já recebeu algumas benesses. Acalmados os apetites dos graúdos, a tendência será de desmonte do movimento. E, quando a vida retomar seu lento trafegar, no dia a dia é que se poderá perceber se as mudanças foram boas. A nova lei dos caminhoneiros, se aceita como está, também será testada na realidade. E, o que se espera é que os piores presságios não se verifiquem. Ainda que seja difícil aos caminhoneiros, seguirem bem, com tanta exploração e risco, respaldados em lei.
Sempre guardarei nas retinas aquele a quem Leonard Nimoy deu vida. Spock. Um vulcano, meio humano. Na vida real, Nimoy era nascido em Boston, num bairro judeu, de imigrantes ucranianos. Daí seu nome russo. Começou cedo, no teatro, aos oito anos de idade e fez várias coisas no cinema até chegar ao personagem Sr.Spock, que marcou a sua vida e a nossa. Eram os tristes anos 70 no Brasil e a séria Jornada nas Estrelas passava no final da tarde. Ali, colocávamos nossas tristezas de lado e vibrávamos com as aventuras da nave interestelar Intrerprise, indo até onde ninguém jamais esteve. A fronteira final.
A série trazia temas novos para a época. A relação com os diferentes, os casamentos inter-raciais, a luta contra preconceito, a capacidade de enfrentar o novo, a construção da paz. Tanta coisas. O capitão Kirk era o herói, mas Spock roubava a cena, e isso foi até motivo para algumas ciumeiras entre os atores. Spock era o lógico, o racional, o científico, mas sua metade humana era capaz das coisas mais bonitas. Momentos de profunda ternura, demostração de fervorosa amizade, companheirismo e amor. Spock era o sonho da gente.
Eu mesma o amava mais que tudo e quando a série acabou segui seus passos. Hoje, tenho alguns dos episódios em DVD, aos quais recorro sempre que estou vazia. Os cenários de uma singeleza imensa, feitos de isopor e papelão, e todas aquelas histórias de seres de outros mundos, com os quais sempre parece ser possível se relacionar. Tirando, é claro, o caráter ideológico da indústria televisiva estadunidense, Spock ultrapassa tudo. Ele é o ser com o qual qualquer um de nós gostaria de compartilhar a vida. Sempre um exemplo de amizade, lealdade, cindido entre a razão e a emoção. E, mesmo com sua expressão fria, seu leve arquear de sobrancelhas deixava sempre claro qual o caminho a seguir: a emoção, segura e vital. Seu profundo amor por Kirk, seu carinho pelo dr. Mac Coy, seu respeito pelo transloucado Sr. Scott.
Passe o tempo que passar sempre carregarei a doce lembrança desse amado personagem. De olhar firme, jeito esquisito, capaz das mais ousadas ternuras. Parte do meu mundo.
Hoje, o homem que deu vida a esse improvável vulcano encantou. Foi- se para o reino da energia pura. Mas Nimoy é um desses que nunca morrem. Vive para sempre nas nossas retinas e nas daqueles a quem o apresentamos, como é o caso da nova geração hoje devora os episódios do Star Treck, que o conhece e o ama pelos nossos olhos.
Vida longa e próspera, dizia Spock, a moda de cumprimento. E foi assim com Leonard. Viveu longo e próspero. E nos encheu a alma de belezas. Cumpriu um lindo destino. Feliz fui eu que pude desfrutar. Valeu Nimoy. Descansa no cosmo infinito, nos braços da luz!!! Nós seguiremos nossa jornada, até o encontro ...
No mês de janeiro a Venezuela viveu o ápice da crise do desabastecimento. Muitas filas, produtos faltando nas prateleiras e grupos golpistas atuando a todo vapor. Na mídia comercial, o ataque é sistemático. Televisão, jornal, rádio, vociferam dioturnamente contra o governo, como se o país nunca em sua vida tivesse passado por algo semelhante. Crises de desabastecimento são frequentes, inclusive nos governos anteriores, porque a Venezuela sempre foi refém do pretróleo. A diferença é que , no passado, quando vinha a escassez, os mais pobres ficavam a ver navios e tinham de se virar sozinhos. Hoje, os mais pobres são a preocupação primeira do governo. Tanto que todos os esforços foram realizados no sentido de abastecer os mercados populares. "Antes do governo bolivariano, não havia uma rede estatal de distribuição. Tudo estava na mão privada. Depois de Chávez, o estado foi criando uma rede, que ainda não é suficiente, mas já consegue dar combate em situações como a que vivemos agora", diz o professor de economia Luis Salas, da Universidade Bolivariana. Hoje, a distribuição estatal de alimentos consegue abarcar 30% do setor e essa porcentagem cobre 70% da população.
Ainda segundo Salas, antes de Chávez a pobreza na Venezuela chegava a 60%, o desemprego passava de 20%, e isso mudou muito nos últimos 15 anos. A elite não perdoa o governo por essa mudança na relação com as populações mais empobrecidas. "O que chamávamos antes de população flutuante - aquela que não tinha acesso á educação e muito menos aos bens mais básicos - praticamente não existe mais. Hoje, um venezuelano que more na periferia tem acesso á educação, saúde, moradia, gás e outros serviços básico. É um cidadão com direitos". Luis lembra que antes de Chávez, a Venezuela era conhecida pelo consumismo exacerbado de sua elite, chegando a ser chamada de "venezuela saudita". Mas, é bom que se tenha claro. Dos 15 milhões de habitantes, apenas três milhões tinham acesso a esse consumo "saudita". Hoje, a população toma o destino nas mãos e garante direitos básicos. É uma mudança radical.
A grande questão na Venezuela é justamente esse processo de democracia popular, que tira da elite o seu poder. Incapaz de conviver com os novos tempos, esse grupo vem, nos últimos 15 anos, provocando tomentas e tempestadas, como o golpe de 2002, a sabotagem petroleira e agora a sabotagem comercial. Ainda que o governo tenha passado por 15 eleições - praticamente uma por ano - democratizando o processo decisório, que vai desde a formulação de uma nova Constituição até a decisão sobre investimentos públicos, os grupos de direita insistem em usar os termos "ditadura", "falta de liberdade de expressão" e outras bobagens que não se sustentam quando se observa a realidade. A luta de classe se faz diuturnamente no país, com o setor privado agindo livremente e de maneira criminosa em alguns momentos.
Um desses momentos foram as conhecidas "guarimbas", de 2013, quando a oposição, tentando criar um clima de desestabilização incitou seus militantes a atos de violência nas ruas, que resultaram em mortes e destruição. Todo esse processo esteve sob forte investigação e uma de suas lideranças - o prefeito de Chacao - Leopoldo Lopez, foi preso. Ele acabou sendo o pivô de mais um factóide promovido pela mídia comercial, quando a oposição realizou um evento para discutir democracia e chamou os ex-presidentes Sebástian Pinera, do Chile, Andrés Pastrana, da Colômbia e Felipe Calderón, do México. Acompanhados de líderes da oposição, esses "exemplos" de democracia tentaram uma visita a Lopez na prisão e protagonizaram manchetes denunciando a inexistência de liberdade de expressão. Outra mentira gigantesca. A oposição tem toda a liberdade na Venezuela e domina grande parte da mídia e do sistema produtivo.
Nas últimas semanas de janeiro, quando o governo deu duro combate ao processo de desabastecimento, o presidente Maduro chamou os militantes bolivarianos para um encontro em Caracas. Eles vieram e lotaram o teatro Tereza Carrenho. E o que mais cobraram do presidente foi que ele aplicasse a lei diante dos crimes de lesa pátria que estavam acontecendo. Os militantes da revolução bolivariana querem maior rigor diante dos chamados "golpistas". Até porque eles sabem que nessa siatuação de esconder alimentos e joga-los para um mercado paralelo, são esses os que mais lucram. Isso sem contar a especulação que fazem com o dólar, capaz de alavancar fortunas nesses tempos de crise. "Há que dar mano dura", diz Oscar Flores, um trabalhador de 65 anos, que exige mais radicalidade na ação governamental.
A prisão do prefeito de Caracas na semana passada obedece a esse rigor na aplicação da lei. Antônio Ledezma foi um dos envolvidos na crise das "guarimbas", incentivando a violência e incitando ao golpe contra e eleição de Maduro. E, segundo investigação do Serviço Bolivariano de Inteligência, ele agora também estaria envolvido na mais nova frustrada tentativa de golpe desarmada pelo governo. No último dia 11 ele assinou, junto com Leopoldo Lopez e Maria Corina Machado, um documento no qual chama a população para realizar um processo de transição que vise "recuperar a democracia, a liberdade e desmontar a crise". Esse documento serviria como argumento para o ataque que seria realizado por parte do efetivo militar - armado para bombardear alguns alvos em Caracas. Assim, em vez de responder aos apelos de negociação que Maduro vem fazendo aos empresários, para que deixem de penalizar a população com a sabotagem comercial e invistam na produção, a oposição insiste na construção de um golpe para derrubar a revolução bolivariana. E Maduro atua com a radicalidade exigida pela maioria da população.
Em toda a mídia internacional, as críticas ao governo Maduro crescem vertiginosamente, sempre coladas aos argumentos golpistas. De que a Venezuela tem um governo autoritário, antidemocrático, que não há liberdade. Praticamente nenhum veículo de comunicação é capaz de reportar as críticas verdadeiramente pertinentes. É fato que o governo de Nicolás Maduro tem cometido muitos erros, como por exemplo manter-se cativo de empresários que seguem boicotando a Venezuela. Ao não conseguir manter sob controle do governo o sistema de distribuição e o sistema financeiro, acaba ficando refém de uma gente que não está interessada no futuro da venezuela ou dos venezuelanos. São empresários que só pensam na possibilidade de gerar mais e mais lucro. Se para isso precisar destruir o país, tudo bem. Os Estados Unidos interferem, financiando grupos que provocam desestabilização, mas a elite local tem uma parcela grande de responsabilidade na crise.
Maduro também tem sido ineficaz no combate à corrupção que acaba se instalando dentro do próprio governo. Essa é a cobrança mais forte do núcleo de militantes bolivarianos. "Bolivarianos" de última hora que hoje ocupam cargos nos escalões menores, são responsáveis por muitas das mazelas da população, não só desviando verbas, mas emperrando a máquina e os serviços públicos. Esse é um ponto nodal que precisa de efetivo combate e ao qual o governo não está conseguindo responder.
E é nesse cenário que se desenrola a batalha por uma Venezuela verdadeiramente soberana e livre das amarras da elite golpista e dos interesses geopolíticos. A prisão de Ledezma é o cumprimento da decisão da militância bolivariana que quer a "mão dura" diante do golpismo e das tentativas de derrubada da proposta bolivariana de democracia participativa.
Quem é Antonio Ledezma
1- Antonio Ledezma é um advogado que começou sua carreira política ao ingressar no partido Ação Democrática (AD) em 1973, umas das organizações políticas denunciadas constantemente por Hugo Chávez Frías de ter silenciado o povo da Venezuela com o chamado Pacto de Ponto Fixo.
2- Entre 1958 e 1998, o Ação Democrática e Copei se alternaram no poder, o que acabou gerando mais pobreza e descontentamento social na Venezuela. Ledezma foi secretário general de AD.
3- O político detido pelo Sebin (Serviço Bolivariano de Inteligência), nasceu no dia primeiro de maio de 1955 na cidade de San Juan de los Morros, capital del estado Guárico (centro-llano).
4- Estudou no liceu local Juan Germán Roscio e foi dirigente estudantil e juvenil da AD.
5- Entre 1979 y 1984 foi deputado regional do estado Guárico (centro-llano) no extinto Congresso Nacional.
6- Em fevereiro de 1989 Ledezma foi nomeado governador do então Distrito Federal pelo ex presidente Carlos Andrés Pérez.
7- Sob suas ordens, a Policia Metropolitana atuou sistematicamente na repressão a estudantes, desempregados, crianças de rua e aposentados que lutavam por pensões.
8- É considerado o mentor intelectual dos assassinatos cometidos durante o massacre conhecido como “El Caracazo”, em 1989. Partiu dele a ordem para que a Polícia Metropolitana disparasse contra milhares de venezuelanos que saíram às ruas para protestar contra o custo de vida que estava muito alto.
9 - Conhecido como "o vampiro", Ledezma é também acusado pelo assassinato da jornalista Verónica Tessari, atingida por uma bomba dentro da Universidade Central Venezuelana em 1993, do lutador social Sergio Rodríguez (1991) e da estudante Belinda Álvarez (1993), ambos mortos em confrontos com a polícia de Caracas.