sábado, 5 de maio de 2018

Aniversários de Marx



Hoje é dia de celebrar os 200 anos do meu jornalista preferido, Karl Marx. Impossível não amá-lo pelo texto brilhante que tem e, principalmente por ter escolhido narrar a vida dos que eram chamados de "perdidos da história". 

Quando voltou seus olhos para os catadores de lenha, que eram mortos por buscarem pedaços de árvores nos bosques convertidos em "propriedades privadas" ele selou seu destino como aquele que iria desvendar o segredo da mercadoria e do sistema capitalista de produção. 

Mais que um jornalista, um cientista social, inventor de uma nova forma de conhecer. Feliz aniversário velho amigo. Por aqui vamos seguindo teus passos, narrando os mundos que a classe dominante quer esconder!


sexta-feira, 4 de maio de 2018

A bandeira do Brasil



Minhas primeiras palavras criaram vida nas carteiras duplas, de madeira marrom, na Escola Municipal Francisco de Miranda. Ficava no bairro do Paso, na beira do rio Uruguai, em São Borja. Ali, além do amor aos livros, aprendi a amar os libertadores da América do Sul, a língua argentina e a bandeira do Brasil. Uma mistura encantadora. Só podia dar nessa paixão latino-americana. De manhã, ficávamos em duplas, no pátio, para o hasteamento da bandeira e o hino nacional. Eu acompanhava com olhos brilhantes o pavilhão nacional tremulando lá em cima. E, em casa, desenhava a bandeira colorida em cada lugar.

Sempre amei os hinos e as fanfarras. O hino do Brasil, o hino do Rio Grande, o hino da bandeira, em particular: "salve lindo pendão da esperança"... e era com a mão no peito que eu cantava: “recebe o afeto que se encerra em nosso peito juvenil, querido símbolo da terra, da amada terra do Brasil”. Sempre fui às lágrimas com o hino da Marinha. 'O cisne branco que em noite de lua, vai deslizando no lago azul".. A pátria era minha mátria. Sempre.

Quando fiquei mais velha e comecei a entender o que acontecia no meu país, senti a necessidade ainda maior de expressar meu amor por esse Brasil, espaço dos meus afetos e amores. Lá em casa sabíamos bem o que era a ditadura e o que aqueles milicos faziam em nome da “pátria”. Mas, eles não eram a pátria. Estavam usurpando o que eu considerava o “sagrado pavilhão”. E isso me fazia amar ainda mais a bandeira verde e amarela, a qual sempre tinha colada nos cadernos.

Por isso que ao longo da vida sempre gostei de me vestir com as cores da bandeira. E quando chegava o tempo da Copa do Mundo eu saltitava de alegria, porque sabia que poderia, enfim, comprar várias camisetas verde-amarelas, as quais não se encontravam em tempos normais, pois os brasileiros, em geral, acham brega usar as cores da bandeira. E a vida toda foi assim. Nos anos de copa, lá estava eu fazendo minha provisão.

Quando viajo para fora do país faço questão de levar a minha camiseta verde-amarela e coisas que marquem a minha origem brasileira. Sou irremediavelmente uma patri/matriota.

Digo isso porque vejo com tristeza, outra vez, pessoas usarem esse símbolo que amo tanto para defender uma minoria que nada mais quer do que servir a outra bandeira, que não a nossa, mas a do "tio Sam". Falo dos chamados “coxinhas” que vestem as cores da bandeira contra os pobres, contra os trabalhadores, contra os sem-terra, contra os sem-teto, que apoiam políticos que entregam nossas riquezas, que se vendem por 30 dinheiros, que se dobram ao grande capital, que sangram o país. Sinto como nos tempos da ditadura que estão usurpando os símbolos nacionais. Causa-me profunda dor.

Venho ao tema porque está chegando o tempo da copa e eu vou comprar minhas camisetas verde-amarelas. Porque nunca vou permitir que tirem de mim esse símbolo que amo tanto. A bandeira do Brasil, o pendão da esperança, que encerra todo o meu afeto. E mesmo com os olhares virados de alguns, seguirei carregando essas cores que dizem tanto do nosso espaço geográfico. O verde das matas, o ouro do sol, o azul dos rios abençoados, o branco do luar do sertão. Meu brasil brasileiro, o qual gosto de cantar.

Sou comunista, quero a força do comum, e quero no mundo todo. Mas, sou filha desse lugar, do descampado da pampa e aqui estão fincadas minhas raízes. Patriota sou, matriota, brasileira, e me cubro de verde e amarelo porque amo esse lugar e essas gentes. E como dizem os meu compas sem-terra, “e é por amor a essa pátria, Brasil, que a gente segue em fileira”.

Assim que não estranhem se me virem com a bem-fadada camisa verde-amarela. Ela não é dos coxinhas. Ela é de quem ama o Brasil.


terça-feira, 1 de maio de 2018

Dia do trabalhador no Campeche



Fotos: Rubens Lopes

No Campeche é tradição. Todo primeiro de maio a comunidade se junta na missa que celebra o início da safra da tainha. Porque o Campeche é bairro de pescador. Terra do seu Deca, seu Chico, seu Aparício, seu Getúlio, seu Hélio e tantos outros que fizeram do mar sua roça, e dali tiraram e tiram o peixe que alimenta corpo e cultura.

A missa foi ideia do seu Getúlio, maestro e pescador, sempre preocupado em não deixar morrer os antigos costumes da comunidade. Assim, desde há 13 anos, o povo vem até o racho de canoa, onde rende graças e pede boa safra. Esse foi o primeiro ano sem o seu Getúlio, que encantou faz três meses. Foi triste e foi bonito. Triste porque ele não estava, com seu andar miudinho, colocando ordem em tudo, e bonito porque veio todo mundo lembrar o quanto ele foi importante para essa comunidade.

E tudo se repetiu. A banda formada por alunos do rancho, a procissão, as bandeiras subindo, tremulando ao vento, os pescadores, as senhorinhas, o povo da reza, o pessoal da Floram, do projeto Tamar, o SOS Praia limpa, a Amocam, os turistas, a gente da praia. E vieram ainda os trabalhadores da prefeitura que estão em greve, com seus cartazes e panfletos, para informar a comunidade e pedir o apoio nessa luta contra as OSs. Estranhamente não veio o prefeito, que sempre vem. Gean Loureiro não apareceu, nem ele, nem qualquer secretário. Hum... Primeira vez na vida que o prefeito não vem.

Veio o Espiridião Amin com Angela Amin, mas ficaram lá atrás. Perto do altar, só mesmo a gente do Campeche. Vieram os vereadores Lela e Afrânio, discretos, entre os pescadores. E quem brilhou mesmo foi o padre Antônio, na sua primeira missa no Campeche, chegado do Paraná. Ele saudou a gente local e fez uma menção especial aos trabalhadores em greve da prefeitura, que ali estavam com seus cartazes. E o povo aplaudiu o padre e os trabalhadores. Hora bonita demais.

No final da missa teve as homenagens ao seu Getúlio, lembrado com carinho e saudade. Teve poema, teve fala de amigo, teve flores e lágrimas. No rancho da canoa Gloria o povo comeu, tomou café e suco, porque o rancho sempre foi a morada da gente. Ali se falou do seu Getúlio, se contou causos, se deu muita risada. Teve abraço, teve beijo, teve emoção.

A manhã sem sol foi perfeita, o vento leve. E as gentes cantaram e comungaram no amor. Amor pelo nosso lugar, pela nossa cultura, pela nossa história, pelos nossos amigos. E entre as pessoas que se aglomeraram na tenda em frente ao altar dava até pra ver a Dona Nicota, com seu tercinho e o seu Getúlio, de olhar atento, cuidando pra não sair nada do script. Os vivos e os mortos, juntos, nessa festa de bênçãos e bem-querenças. Esperando o peixe que virá com o vento suli e o ar gelado de maio.

O Campeche é essa belezura de gente e história. Esse nosso bairro jardim, que pesca e reza. Que canta e se move. Que luta e vence. E, nesses dias assim, a gente se sente como numa rede, descansando corpo e coração, pronta para enfrentar os gigantes.

A bênção seu Getúlio, nosso mestre, a bênção Irene Baldacin, que fez tudo acontecer, e que venham as tainhas!