quarta-feira, 14 de junho de 2023

Roberto Carlos Alves, um trabalhador



Trabalhar no serviço público não é bolinho. Além do preconceito expresso na máxima: servidor público é tudo vagabundo, ainda há todo peso da máquina que mais atrapalha do que ajuda o serviço a andar. Por isso, quando encontramos um trabalhador que sabe driblar as dificuldades e faz as coisas aconteceram há que iluminar. Porque, sim, é possível ser um bom trabalhador no serviço público. Roberto Carlos Alves é um exemplo vivo em ação na UFSC. Sua especialidade é resolver as coisas. Nada fica sem resposta e mesmo quando tudo parece impossível, ele encontra uma brecha e aparece com a solução. Ele definitivamente é um exemplo de trabalhador público.

Roberto entrou na UFSC quando tinha 19 anos. Fez concurso para o HU num tempo em que ser um trabalhador público era sinônimo de segurança e bom salário. Naqueles dias, em 1985, os reajustes eram iguais, tanto para professores quanto para trabalhadores. Sua primeira função foi de oficce boy e ele a cumpriu com bastante competência. Logo em seguida surgiu uma vaga para atendente de enfermagem. Como a irmã trabalhava em hospital ela ajudou no treinamento, e foi por conta da prova prática que ele se deu bem. “No dia do resultado, o hall da reitoria cheio de gente, eu fui olhar a lista e vi lá o meu nome em 24º lugar. Eram 30 vagas”. 

No HU Roberto trabalhou no setor de esterilização, na parte do expurgo de materiais sujos. Não gostava muito da coisa, mas, com seu bom humor característico sempre levou na maciota. Pouco tempo depois passou para o centro cirúrgico, lidando com as roupas limpas. Melhorou. Naquela época ele tratou de fazer um curso de datilografia, pois se surgisse alguma vaga de escriturário ele queria pegar. Mais uma vez buscou amparo na ascensão interna e em novo concurso passou para assistente de administração. Foi parar no balcão da clínica médica. Lá conheceu a Delvina, colega que mais tarde foi trabalhar no Gabinete do Reitor. 

E foi justamente a Delvina que o convidou para trabalhar no gabinete. Naquele tempo havia muito trabalho de datilografia e o Roberto era fera na coisa. Podia copiar um documento rapidamente, datilografando sem olhar para as teclas. Também era responsável pela digitação nas máquinas de telex. Era um fenômeno. E foi por conta dessa habilidade que acabou saindo do HU e indo para o gabinete. Mas, os dedos que corriam céleres pelas teclas da máquina também dedilhavam violão e a música era uma paixão na vida de Roberto. Daí que seu sonho era fazer o Curso de Música na Udesc. Dedicado como sempre, ele fez o vestibular e passou. Mas, tinha um problema, o curso era de manhã. A saída foi passar a fazer os plantões da noite. Ele ficava todas as noites e os colegas não precisavam mais fazer plantão. Foi um acordo feliz e assim conseguiu terminar o curso. 

Em 2003 foi convidado pela professora Elisabete Flausino para trabalhar no Departamento de Economia, no CSE. Os tempos já estavam mudando e sua habilidade como datilógrafo começava a migrar para o computador. Mas, ao longo do tempo no gabinete ele também havia secretariado a Estatuinte e aprendido as manhas sobre como administrar as coisas na UFSC. Por isso, em pouco tempo já estava envolvido com o trabalho de manutenção na relação com a Fepese. Foi quando começou uma grande reforma no Centro Socioeconômico e o professor Zapelline não teve dúvidas: chamou o Roberto. E lá foi ele coordenar a obra, resolvendo todos os problemas com a habitual alegria e bom humor. Nunca teve tempo ruim para o Roberto. 

Foi por conta disso que quando o professor Ricardo assumiu o CSE, logo chamou o Roberto para secretariar o Centro. Não haveria melhor pessoa. Para qualquer problema a frase mais ouvida era: fale com o Roberto. Fosse como fosse ele resolveria. E sempre foi assim. Ricardo saiu, entrou Eliseth e depois Irineu como diretor, a torcida de todo mundo era para que Roberto continuasse. E ele continuou, para alegria geral. Sua mesa era sempre um amontoado de papéis, com os mais variados pedidos, e sua sala um espaço de lamentações, as quais ele transformava em alegria, sistematicamente. Ninguém saía dali sem uma resposta. “Fica tranquilo, vamos resolver”, ele dizia, e resolvia.

Ele lembra que apesar de amar o trabalho na UFSC chegou a tentar uma chance na música. Montou um conjunto e estavam até indo bem, sempre com muitos bailes e apresentações. Chegaram a ser a banda base do CTG Figueira Velha. Mas, aí, ele teve um acidente de moto e precisou ficar seis meses em recuperação. A coisa esfriou. Nesse ínterim o tecladista morreu e o gaiteiro não quis mais tocar. Era o fim de “os Travessos”.  Mais tarde houve uma chance de ir para Portugal, mas Roberto se apaixonou e decidiu ficar. Quem ganhou foi a UFSC. 

Agora, aos 57 anos, ele foi nomeado pelo reitor Irineu como Diretor do Departamento de Manutenção Externa e ao andar pela UFSC já se pode notar concretamente a mão do Roberto na organização da vida da UFSC. O campus está bem cuidado, foram retomados os viveiros de flores, os problemas prosaicos vão sendo resolvidos silenciosamente, como é do seu feitio. Roberto é de uma geração de trabalhadores que tem muito claro o seu papel como trabalhador público. Sabe que para a missão da universidade se cumprir, a máquina precisa andar. E ele sabe muito bem como fazer isso acontecer. 

Roberto Carlos Alves é um exemplo de trabalhador público. Sabe fazer e sabe comandar. Sempre com muito riso, muitas histórias e muita competência. Eu o reverencio e o honro. 


terça-feira, 13 de junho de 2023

Mentindo para a Figueira


A generosa fala do companheiros de lutas e amigo Denilson Machado no lançamento do meu livro "Mentindo para a Figueira e outras histórias", lá na Desterrados. Ele conta sobre a caminhada deste texto específico da Figueira naqueles dias em que a Praça XV foi fechada e os artesão expulsos... Dias tristes... 


Transporte e Saúde Pública


Foto: terminal rio tavares - aqui mais uma etapa do inferno

Eu e minhas novelas no transporte público. Mas é que se a gente não fala, explode. Quero dizer que a linha Morro das Pedras/Eucalipto já virou caso de saúde pública. É inacreditável o que acontece. Depois que o ônibus entra na Rua dos Eucaliptos as possibilidades de a gente ter uma fratura na coluna são muitas. Os buracos se prolongam por toda a grande rua e são inúmeros, e são fundos. Os motorista em geral não estão muito preocupados com a gente que vai à parte de trás do ônibus. Em cada buraco a gente salta alto, caindo de chofre no banco, podendo danificar a sambiqueira. 

Hoje, particularmente eu já vinha com uma dor de cabeça infernal e quando começaram os saltos eu caí meio mal machucando algum nervo. Pronto, foi o que deu para as costas também começarem a doer. Faltando uns 500 pontos antes de chegar ao meu eu simplesmente tive de descer. Não havia qualquer possibilidade de seguir naquele solavanco absurdo. E o motorista pisando fundo, fazendo toda a turma gritar em cada salto. Um desses momentos tristes em que trabalhadores maltratam trabalhadores, enquanto os empresários do transporte vivem à larga. Deixo claro que não ia só eu de velha no ônibus, tinha outros tantos, todos com aquela cara de sofrimento típica de quem é obrigado a andar naquelas carroças dirigidas por seres insensíveis. 

Faço meu apelo ao Sintraturb, para que conversem com os motoristas sobre esses problemas. Sei que eles tem prazo para cumprir o trajeto, mas não é possível passar pela rua dos Eucaliptos daquela forma.  Quando ao prefeito, o Topázio, sugiro que ele pare de ficar contando mentirinhas no tiktok e trate de arrumar aquela bendita rua. Hoje, contra meus desejos terei de tomar um dorflex. Mas e se eu tivesse me machucado mais feio? E se outro velhinho se machucar, quem vai arcar com o dolo? Menos mentira e mais trabalho... porfa ... Ainda tive de andar uns três quilômetros até chegar em casa... É bom, porque o ódio cresce... 

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