segunda-feira, 22 de julho de 2019

O Brasil autoritário


A campanha de Jair Bolsonaro para a presidência foi absolutamente clara sobre o que iria acontecer com o Brasil caso ele se elegesse: “vamos acabar com tudo isso que tá aí”.  Eleito, está cumprindo a palavra. Suas primeiras ações já foram ataques a tudo o que é público. Nada é poupado. Ele encarna o senso comum que diz que o público é ruim. Não importa que não seja verdade. O próprio presidente é o senso comum. Ele tem os Estados Unidos como modelo e quer fazer do Brasil uma cópia. 

Na semana passada ele tripudiou das informações oficiais ao afirmar que no Brasil ninguém passa fome, e chegou a fazer gracinha com os jornalistas dizendo que não havia nenhum magro ali. Negava assim os dados do próprio governo, de instituições sérias como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e o IPEA, que mostram, a partir de pesquisas, um número de mais de cinco milhões de pessoas ainda sofrendo com a fome no país e 54 milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha da pobreza. 

Também criticou o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais fazendo crer que os pesquisadores mentem quando mostram que mais de mil quilômetros quadrados da Amazônia foram desmatados só na primeira quinzena do mês, num avanço desenfreado do latifúndio. Depois de ouvir uma reprimenda do diretor do INPE, que ficou indignado, o presidente brasileiro voltou à carga dizendo que o Instituto não poderia divulgar a informação sem antes passar pelo ministro ou por ele mesmo. Ao que parece Bolsonaro não quer que mais nenhum órgão tenha vida própria. Tudo tem de passar por ele. Isso tem um nome: censura!

Outra decisão foi diminuir a representação da sociedade civil nos Conselhos. Ele já havia tentado acabar com qualquer Conselho, pois acredita que eles são “ideológicos”. Não conseguiu. Na verdade os Conselhos são uma conquista da sociedade organizada para acompanhar as ações governamentais.  Bolsonaro não quer ninguém que não seja do governo ou aliado em potencial discutindo as questões importantes do país. Ele pretende cada vez concentrar o poder na presidência. Nada de participação popular. Nada de democracia. 

No caso do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas, ele extinguiu a participação das seguintes representações: jurista, médico, assistente social, enfermeiro, psicólogo, educador, cientista e estudante. O argumento para isso é que ele é contra a descriminalização das drogas e no Conselho tem gente que é a favor. Então, tratou de tirar os que são a favor para ter a posição majoritária. Isso se chama decisão arbitrária. 

Hoje (22/07) também informou que o governo vai cortar o que ele chama de “merreca” do orçamento nacional, na ordem de um bilhão e 44 milhões de reais. Não disse onde vai cortar, mas especula-se que seja em setores de maior demanda pública como educação ou saúde.

Na mídia comercial os factoides vão se acumulando sem qualquer nota crítica. A cobra vai engordando. O comando da política está sendo feito sob ordem unida. Nenhuma voz dissonante pode aparecer. Entre os apoiadores, palmas e mais palmas, a ponto de manifestantes bolsonaristas carregarem cartazes pedindo mais cortes na educação. E no campo da esquerda, esperneios pontuais. 

O autoritarismo se apresenta como graça. A reação é individual, portanto, praticamente inútil. Quem se atreve a lutar de cara ao sol, como é o caso dos povos indígenas, que desde o primeiro mês de governo vem se manifestando coletivamente, vai sendo atacado pelo terrorismo paralelo (jagunços, milícias, criminosos a soldo) ou pelo terrorismo de estado. As mortes de lideranças sociais vão pipocando aqui e ali como se não estivessem ligadas entre si. 

E a barca segue. Até quando? 

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