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Não sou muito fã de carnaval. Muita gente. Me dá zica. Mas, aqui em Florianópolis se tem uma coisa que me dá imensa alegria é ver o Berbigão do Boca, o bloco que abre o carnaval uma semana antes dos festejos. Muito menos o desfile pelas ruas, com aquela multidão, e muito mais os bonecos. Sou louca com os bonecos. principalmente aqueles que representam mesmo a vida popular do carnaval dessa terra. O Lagartixa, a Nega Tide, Zininho, Carlinhos da Tuba, Cascaes, Negão Tenente, Maestro Mendes. Eu gosto de ir ver a saída do bloco no Mercado, só para ver os bonecos. Aquilo me emociona demais. Ontem passei no mercado, depois de ir ver a ponte com meu amigo Maicon Cláudio Da Silva e lá estavam eles fazendo o chamariz. Jazinho o carnaval vem aí... e lá estará o Berbigão com seus bonecos gigantes arrastando a multidão. Coisa mais linda do mundo... Eu amo essa cidade...
Eu tinha 17 anos, lembro como se fosse hoje. Era setembro. Meu irmão foi me avisar no colégio. Eu fazia contabilidade num colégio de Pirapora, cumprindo outro segundo grau só pra não ficar sem estudar. Chamou na porta da sala e eu já logo pensei que fosse desgraça. Afinal, ele ali, naquela hora, com a cara contrita. Chegou pra mim, falou baixinho: a mãe mandou avisar que o Papa morreu. O papa? Tá louco? Eu ri, pois já fazia mais de um mês da morte de Paulo VI. Vivíamos a alegria de ter na função o doce e querido Albino Luciani, aquele que viria para fazer da Igreja um espaço de belezas para os mais pobres.
Eu cresci na religião católica, minha mãe era devota. E eu, desde pequena já andava nas funções da Igreja. Mais tarde, atuando também nas CEBs, quando ainda vivíamos a noite escura da ditadura cívico/militar. O Papa era figura presente, mas eu mesma nunca fora com a cara do Paulo VI, muito sisudo e conservador. Por isso que quando o Papa que o sucedeu foi aquele italianinho querido, eu me enchi de amores. João Paulo I tinha alguma coisa santa, o seu sorriso, seu jeito de pensar a igreja, sua maneira carinhosa. Haveria de ser um Papa para a maioria das gentes e não dos poderosos da terra. Eu era uma guria cheia de esperanças.
Quando o meu irmão, ainda mais entristecido, me contou que quem tinha morrido agora era o Papa sorriso, eu desabei. Saí da aula correndo e fui pra casa chorar com minha mãe. Sentia que estávamos órfãos outra vez. Durara tão pouco tempo: trinta e três dias. Mataram ele, eu dizia, mataram ele. E assim foi. Mataram ele.
Depois daquela tristeza toda abandonei as coisas da igreja. A instituição não me interessava mais. Havia matado aquela doce criatura que queria mudar tudo. Nunca mais. Segui meu caminho, religiosa sempre, ligada às CEBs, mas sem qualquer esperança de que a igreja deixasse de ser o que era. Pensei que jamais iria me encantar com um Papa, pois quem iria superar o sorridente e doce Albino?
Quando, agora, depois da longa jornada do ultraconservador João Paulo II, finalmente um latino-americano assumiu o lugar do chefe supremo da igreja, meu coração balançou. Um argentino,aaaah. E escolhera o nome de Francisco. Bah! Haveria de ser gente boa. Mas, em seguida, a enxurrada de denúncias sobre a atuação de Jorge Bergoglio na ditadura militar me fez largar pra lá a figura do Papa.
Com o passar do tempo o argentino foi fazendo sua caminhada no pontificado e, de novo, o Papa chamou minha atenção. Num mundo louco, no qual o conservadorismo e o reacionarismo cresciam a velocidade vertiginosa, Francisco se destacava, com seu riso contagiante, sua delicadeza, sua maneira nova de olhar e viver o cargo. E, em alguns momentos, as palavras de Francisco chegavam a soar como mais progressista que as da dita esquerda. Por dios! Era engraçado. E ele foi me ganhando.
Não voltei à igreja, mas gosto de acompanhar a caminhada do Papa Francisco. E, vendo o filme “Dois Papas” que mostra seus equívocos durante a ditadura argentina, sua autocrítica sincera, fui criando empatia. As pessoas erram. É assim. Não sei se as coisas foram mesmo assim, mas o fato é que gosto dele. Gosto do Papa. Sei que ele não vai virar o Vaticano ou a igreja “patas arriba”, não tenho ilusões com a instituição. Ele não é o comunista que os reaças católicos dizem que é, óbvio. Mas tem alguma coisa nele que me toca. Talvez o charme argentino, essa coisa atávica, esse jeito engraçado de dizer coisas sérias, esse compromisso com os perdidos. Pode não ser como eu sonhava, mas me cativa.
Sei que isso não importa a ninguém, mas mesmo assim, senti que precisava verbalizar. Pela memória do amado Papa sorriso, ao qual amei com paixão. Francisco me faz lembrar ele. Só por isso já o quero bem. Imagino eu que a instituição igreja, que nunca dá ponto sem nó, tenha escolhido Francisco por isso mesmo, para ganhar fiéis, visto que o catolicismo perde gente. Mas, ainda assim, gosto do Francisco. Gosto mesmo. Até quando ele chuta o balde.
Escrevo sobre a doença do pai - demência, Alzheimer, caduquice, ninguém sabe ao certo - e procuro encontrar janelas de beleza. Sem romantizar. Porque a parada é dura. Dura mesmo. Mas, se o que não tem remédio remediado está, penso que é necessário driblar o desespero. E é o que faço colocando no papel as histórias dessa fase intensa com ele.
O pai não aceita colocar fralda. Ele ainda tem boa dose de autonomia e de vontade. Não quer e pronto. Faz escândalo. Então, há que deixar que ele se vire com suas necessidades. E cada dia é uma surpresa. Fazer cocô é complicado. Quando está bem, vai no vaso e segue os protocolos. Mas, quando não tá muito legal, o salseiro é grande. Eu fico na minha, deixo ele se resolver. Depois vou lá e limpo tudo, serenamente, cercada de óleos perfumados e luvas de borracha. Ainda brinco com ele que “as mãos amarelas” vão lhe pegar. Ele se diverte. Antes tinha um pouco de vergonha. Agora não tem mais. Não está nem aí. Fica mexendo nos “seus papéis” enquanto eu vou limpando.
Pois é, sujaram tudo aqui, eu digo. E ele, surpreso, responde com pergunta: sujaaaaaaaaram? Eu não fui.
Mas, se para o cocô ainda vai ao banheiro, para o xixi ele não escolhe lugar. Deu vontade, baixa as calças e vai mijando. Geralmente escolhe uma planta ou as pedrinhas do jardim e ainda faz mira. Se é de noite. Ele levanta da cama e ali mesmo, em pé, se alivia. Pode bater na parede, no guarda-roupa, foda-se. Ele mija mesmo. E eu, por perto, para a operação limpeza. Ele volta a dormir, bem tranquilo.
Agora, nos últimos dias, deu de levantar pelado. Cinco horas da manhã ele está na porta da cozinha, como veio ao mundo, sorrindo. Eu me comporto com naturalidade e vou, devagarinho, levando ele para o quarto.
- Bora botar uma roupinha, querido, que tá fresquinho.
E ele me segue, tranquilo, aceitando a roupa outra vez. Fosse no começo ele não me deixaria vê-lo nu. Tomar banho foi um calvário. Mas, agora, ele parece não estar nem aí com a nudez. Fico pensando que isso até que é bom. Para quem viveu tanto - vai fazer 88 - ter de passar quase um século seguindo regras morais e sociais, deve ser bem legal poder mandar tudo às favas.
Claro que pra mim o lance é pesado, a limpeza sextuplifica. Mas, sinto que pra ele é libertador. Então, enquanto posso, vou deixando. Nada paga o olharzinho sapeca de quem está muito bem com a vida. Seu Tavares não é fácil.
Viver em Florianópolis é duro. Principalmente para as famílias de baixa renda. Os aluguéis são pela hora da morte, mesmo na periferia. A renda da terra exorbita o valor dos terrenos, muitos deles conseguidos de foram ilegal, como atesta o musculoso trabalho de Gert Schinke no livro “O golpe da reforma agrária: fraude bilionária na entrega de terras em Santa Catarina”´. Terrenos valorizados, casas e apartamentos também.
E é por conta da impossibilidade de pagar os altos aluguéis que as famílias que nada têm se obrigam à luta pela moradia. Há que dar um lugar para os filhos viverem, e há que ter um lugar para descansar a cabeça. Por isso, o movimento dos sem-teto ocupa terras da União ou outras que não cumprem sua função social. Mas, as pessoas não querem terra ou casa de graça. Estão dispostos a pagar por elas, mas há que ser um preço justo e num lugar onde possam se mover e trabalhar. Só na capital existe um déficit de 20 mil moradias (mais de 75 mil pessoas) , a região metropolitana 40 mil ( 175 mil pessoas) e no estado inteiro são mais de 200 mil ( 750 mil pessoas). E o que isso significa na prática? Que essa gente toda não tem onde morar, não tem assegurado um direito básico. Não são números, são pessoas, com sonhos e esperanças de vida boa.
Na grande Florianópolis existem hoje várias ocupações, que se constituem nesse processo de luta por moradia. A Mestre Moa congrega 26 famílias, a Nova Esperança tem 300, a Beira Rio, 130 famílias, a Contestado, 150, a Fabiano de Cristo, 43, a Vila Esperança, 92, e a Marielle Franco, 134. São mais de 800 famílias só nas ocupações atuais, isso sem contar as mais antigas e consolidadas que seguem ainda na luta pela regularização. Nesse universo pulula a criançada, mais de 500 pequeninos e pequeninas, tão cedo jogados no campo da batalha por vida digna.
Pois esses pequenos precisam estudar e além de todo o processo de resistência contra o despejo e pelo direito de ter uma casa onde morar, suas famílias precisam enfrentar o desafio de manter as crianças na escola. Não é fácil. Garantir vaga e principalmente garantir a permanência é outra peleia constante. Por isso, os movimentos organizados estão realizando uma campanha para arrecadar material escolar, visando dar as condições para que as crianças possam se manter estudando.
Portanto, é hora da solidariedade concreta. O que é quase nada para alguns pode significar muito para outros. Faça sua doação em qualquer destes lugares até o dia 07 de fevereiro:
SINTESPE - SINTRASEM - SINTRAFESC - SINTRAJUSC - SINJUSC - SINTUFSC - ARCO IRIS - UDESC/FAED PET Geografia - FECESC - TENDA LULA LIVRE - Gab Ver. LINO - Gab Dep. PADRE PEDRO - SEEB BANCARIOS - SINTE Floripa - SINDSAUDE - BAIACU DE ALGUEM – RÁDIO CAMPECHE - ELETROSUL/SINERGIA – SINERGIA
Veja aqui a lista de material
Caderno Peq 1 Matéria
Caderno Gd 10 Matérias
Caderno de Desenho Gd
Caderno de Desenho Pq
Bloco A4 Pautado
Folha A4 Branca 100fls
Folha A4 Colorida 100fls
Estojo Escolar
Lápis Preto
Cx Lápis Colorido
Cx Lápis de Cera
Caneta Azul
Pincel Pq
Pincel Gd
Tinta Guache
Régua de 30cm
Apontador
Borracha
Cola Bastão
Cola Branca Tubo pq
Tesoura Sem Ponta
Fita Adesiva Transparente
Garrafa pra Agua
Copo Plástico Reciclável
Dicionário Pq de Português
Dicionário Pq de Ingles Português
Mochila Sacola ou Bolsa Escolar
Amor, Carinho e Solidariedade
A campanha é coordenada por: MNLM - Mov Nac de Luta por Moradia, Coletivo Ocupacoes Urbanas Gd. Floripa, IGENTES - Instituto Gentes de Direito