Uma das minhas gatinhas, que tem por nome
Juana Azurduy, tem medo de vento. É uma coisa bem incrível isso. Basta começar
a soprar o vento sul ela fica numa agitação sem fim e começa a miar
desesperadamente. Ela é do tipo que detesta qualquer carinho, e tomá-la no colo
é uma invasão a qual ela não permite de nenhuma forma. A não ser que tenha
vento. Só aí consigo apertá-la junto ao coração, acarinhando devagar. Ela vai
acalmando, acalmando e fica, com os olhos graúdos, olhando pra mim, já em paz. E
enquanto venta, não sai de dentro de casa.
Numa dessas noites de tormenta ela foi surpreendida
numa área que fica em cima no puxadinho de trás da casa. E, como sempre,
paralisou. Fica incapaz de se mexer. Era umas quatro horas da manhã e ouvi seus
miados de desespero. A chuva caia com força e o vento agitava as ramagens, que
batiam umas nas outras, como cabeleiras loucas. Os gritos de Juanita rasgavam a
noite.
Lá fui eu, noite adentro, buscar a bichinha. A
força do vento tornava qualquer guarda-chuva obsoleto, então, o jeito foi
correr pelo pátio e subir as escadas sem proteção. Juanita estava num canto,
horrorizada, e tanto que não me permitia pegá-la. A chuva nos fustigava. Desci
e peguei uma toalha, das grandes, e voltei. Ela gritando, em desespero. Atirei
sobre ela a toalha e segurei com força, para que não me rasgasse com as unhas.
Ela se debatendo em completo desespero.
Desci a escada correndo, entrei em casa, fechei a
porta e coloquei uma musiquinha, baixinho, enquanto acarinhava seu corpinho
trêmulo. Foi acalmando, acalmando, acalmando, até que se enroscou no sofá,
dormindo como um anjo. Não sei o que ela vê no vento, mas a parada é lôca.
Então, sempre fico atenta quando o vento vem. E mesmo que seja no meio da
madrugada, lá vou eu, tal qual um super-herói, salvar a "mocinha".
Os bichos nos têm!