sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A pedagogia da beleza


solidariedade




Nunca é demais falar sobre 
o papel da classe média no Brasil. Equilibrando-se entre o sonho de virar elite e a realidade que a aproxima sempre mais dos empobrecidos, ela é cada dia mais vítima de uma coisa que é muito poderosa. Falo da pedagogia da beleza, empregada pelo sistema capitalista para ganhar as almas claudicantes. Pedagogia é uma palavra que tem sua origem na Grécia, paidós (criança) e agogé (condução), ou seja, aquilo que conduz a criança. E é esta condução de beleza que faz com que milhares de pessoas se deixem seduzir pelas promessas do capital. Como assim? Simples...

Basta a gente ligar a televisão, onde o sistema suga a mais-valia ideológica das pessoas. Ali, nos intervalos dos programas, se expressa, vitoriosa, essa pedagogia, essa condução das gentes pelos caminhos da beleza, coisa tão sedutora. Entre tantas, há uma propaganda da Monsanto - maior produtora de sementes transgênicas do mundo - que é um exemplo claro disso que estou falando. http://www.youtube.com/watch?v=7y4EnsSW814

O vídeo abre com a música “mundo maravilhoso” de Louis Armstrog. E as imagens vão mostrando a vida nos seus instantes mais belos. E uma voz absolutamente sedutora diz: ‘imagine um mundo que preserve a natureza, o ar, os rios. Onde se possa produzir mais, com menos agrotóxico, sem desmatar as florestas.. e os transgênicos podem ajudar a gente nisso...Você já pensou num mundo melhor? Você pensa como a Monsanto!” O comercial dura um minuto, é é uma das coisas mais lindas do mundo. A gente fica emocionado. Impossível alguém ser contra o que o comercial diz. Isso é a pedagogia da beleza! O sistema oferece um discurso tão belo, imagens tão fabulosas, que as pessoas vão acreditando que é assim mesmo. Como ser contra quem quer um mundo melhor?

No meio desta pedagogia da beleza, o que fazem os sindicatos, os movimentos, os lutadores sociais? Eles aparecem sempre como os arautos da desgraça. Estão sempre prevendo catástrofes, anunciando maldições. As pessoas odeiam isso. Outro dia um amigo me disse, num ato pela Palestina. “Ninguém quer ver gente morta!” É, a verdade desconforta, desaloja. E a verdade não é coisa bonita de se ver às vezes. Mas às vezes é! Então, para mostrar essa verdade a gente também tem de usar a pedagogia da beleza.

Por isso creio que temos de anunciar também a boa nova. Mostrar para as gentes que o mundo com o qual sonhamos pode ser belo. Desvelar a verdade escondida na farsa dos donos do mundo que querem fazer crer que aquilo que é bom para eles - um minoria – pode ser aceito como verdade universal. Colocar isso a nu, mas também anunciar a beleza que pode ser o mundo pelo qual ansiamos, com justiça, vida digna e riquezas repartidas.

E como se faz isso? Ah.. O mundo está cheio de exemplos. Cooperação, solidariedade, partilha. Nos acampamentos do MST, em comunidades organizadas, nos bairros palestinos, nas lutas de libertação. Existem lindas histórias para serem contadas. A verdade da beleza que o modo de viver socialista inspira naqueles que acreditam que o mundo pode ser diferente, e caminham para isso. O sistema capitalista só usa a beleza como engano. Mas, aqueles que são profetas, vivendo hoje o que sonham para todos amanhã, estes não tem como enganar, porque expõe ao outro o exemplo.

Historicamente a classe média, na hora de escolher, quase sempre escolhe o lado dos poderosos. São vítimas dessa pedagogia enganosa da beleza, que brota na TV, nos jornais, na escola, em todos os lugares. Acreditam nisso. Mas, se a gente mostrar a beleza do nosso mundo, pode acontecer como no poema de Quintana, quando o menino espicha o pescoço para ver se vê a calcinha da equilibrista dizendo: Quem sabe, titio? Quem sabe?... Assim, nós...


terça-feira, 1 de setembro de 2009

Eleições em Honduras


O governo golpista de Honduras está dizendo ao mundo que o país “volta à tranqüilidade” uma vez que já estão convocadas as eleições presidenciais para 29 de novembro e se inicia a campanha política. Mas, para as gentes que lutam pela volta do presidente Manuel Zelaya, este processo chamado pelo governo golpista não tem o menor respaldo e tampouco garante a volta da “paz” ao país. Um dos dirigentes da resistência, Rafael Alegría, confirma que o povo em rebelião não aceita a idéia de eleições sem a volta de Zelaya ao seu posto de presidente. “Não vamos aceitar nenhuma imposição dos golpistas. O povo não vai participar desta farsa”. Também alguns partidos de esquerda se recusam a participar do processo. Em Honduras, dizem, assim como aconteceu em muitos outros países da América Latina, é o próprio sistema político que está em questão. Essa democracia de votar a cada quatro anos em candidatos com velhas práticas está morta. Há que surgir novas práxis.

Por outro lado, há lutadores sociais que insistem não ser a abstenção às urnas a melhor solução para o conflito. Acreditam que a população poderia dar um sonoro não ao governo golpista e colocar no poder gente capaz de tirar o país da lama onde está. Mas, sem a participação de candidatos mais ligados às causas populares, como garantir isso?

Para os partidos políticos que legalmente disputarão as eleições de 29 de novembro se apresentam novos desafios. Já não bastarão as mesmas promessas de sempre, pois a população deu um salto de qualidade nestes dias de resistência e mesmo aqueles que decidirem participar do pleito estarão de alguma forma já impregnados do novo clima político que se inaugurou com o golpe.

Disputarão as eleições cinco partidos formalmente constituídos. A coalizão “Compromisso por Honduras”, traz, na disputa para deputados, nomes conhecidos que sempre estiveram na luta por uma Honduras melhor, tais como Matías Funes, Efraín Díaz Arrivillaga e Enrique Aguilar Paz e tem como candidato à presidência Bernard Martínez do Partido da Inovação e Unidade Social-Democracia.

A Democracia Cristã tem à cabeça a candidatura de um líder sindical também muito conhecido, Felicito Ávila, e este tem se proposto a caminhar pelo país, ouvindo os eleitores no cara-a-cara, marcando uma prática diferenciada.

O Partido Liberal apresentou a candidatura de Elvín Santos e o Partido Nacional a de Porfírio Lobo, mas como estes são os partidos tradicionais de Honduras, que representam visceralmente a situação golpista que hoje se instaura, é bem provável que tenham de trabalhar bem mais do que com suas velhas práticas assistenciais ou abuso de poder econômico. Há uma nova Honduras aí.

O favorito das eleições, e no qual parte da esquerda está colocando peso é o candidato independente Carlos Reyes, destacado líder popular e sindical que, inclusive, aparece palatável às elites locais. Ele é o primeiro candidato independente da história de Honduras nos últimos 28 anos e participou ativamente das manifestações pró volta de Zelaya coordenando uma Frente Nacional contra o golpe.

Sobre o movimento que luta pelo retorno de Zelaya os analistas falam da existência de três forças: uma que é a do setor liberal, outra de extremistas de esquerda e outra de um setor popular que não aceita a forma como Zelaya foi tirado do processo. Com três vertentes tão díspares ainda não se sabe como o movimento vai se comportar durante a campanha e as eleições, embora já tenha havido declarações de algumas lideranças pelo não comparecimento às urnas.

Entre os populares que não se filiam nem à esquerda radical, nem aos liberais, há o receio de que ao aceitar o jogo imposto pelos golpistas, a candidatura de Carlos Reyes acabe sendo a opção das elites moderadas que querem pôr um fim aos protestos e voltar a “normalidade”. Assim, se por um lado, não votar pode acabar dando a vitória aos velhos políticos de sempre – uma vez que o candidato liberal tem dito que qualquer cem votos elege o presidente - eleger alguém que aparece como “tragável” pela elite pode configurar a queda numa armadilha. A mesma na qual já caíram outros países, de colocar no poder uma esquerda que se direitiza. Optando pelo “menos pior”, o que pode esperar o povo em luta?
Esta é uma batalha que só o povo hondurenho pode travar.

*Com informações da Telesur