solidariedade
Nunca é demais falar sobre
o papel da classe média no Brasil. Equilibrando-se entre o sonho de virar elite e a realidade que a aproxima sempre mais dos empobrecidos, ela é cada dia mais vítima de uma coisa que é muito poderosa. Falo da pedagogia da beleza, empregada pelo sistema capitalista para ganhar as almas claudicantes. Pedagogia é uma palavra que tem sua origem na Grécia, paidós (criança) e agogé (condução), ou seja, aquilo que conduz a criança. E é esta condução de beleza que faz com que milhares de pessoas se deixem seduzir pelas promessas do capital. Como assim? Simples...
Basta a gente ligar a televisão, onde o sistema suga a mais-valia ideológica das pessoas. Ali, nos intervalos dos programas, se expressa, vitoriosa, essa pedagogia, essa condução das gentes pelos caminhos da beleza, coisa tão sedutora. Entre tantas, há uma propaganda da Monsanto - maior produtora de sementes transgênicas do mundo - que é um exemplo claro disso que estou falando. http://www.youtube.com/watch?v=7y4EnsSW814
O vídeo abre com a música “mundo maravilhoso” de Louis Armstrog. E as imagens vão mostrando a vida nos seus instantes mais belos. E uma voz absolutamente sedutora diz: ‘imagine um mundo que preserve a natureza, o ar, os rios. Onde se possa produzir mais, com menos agrotóxico, sem desmatar as florestas.. e os transgênicos podem ajudar a gente nisso...Você já pensou num mundo melhor? Você pensa como a Monsanto!” O comercial dura um minuto, é é uma das coisas mais lindas do mundo. A gente fica emocionado. Impossível alguém ser contra o que o comercial diz. Isso é a pedagogia da beleza! O sistema oferece um discurso tão belo, imagens tão fabulosas, que as pessoas vão acreditando que é assim mesmo. Como ser contra quem quer um mundo melhor?
No meio desta pedagogia da beleza, o que fazem os sindicatos, os movimentos, os lutadores sociais? Eles aparecem sempre como os arautos da desgraça. Estão sempre prevendo catástrofes, anunciando maldições. As pessoas odeiam isso. Outro dia um amigo me disse, num ato pela Palestina. “Ninguém quer ver gente morta!” É, a verdade desconforta, desaloja. E a verdade não é coisa bonita de se ver às vezes. Mas às vezes é! Então, para mostrar essa verdade a gente também tem de usar a pedagogia da beleza.
Por isso creio que temos de anunciar também a boa nova. Mostrar para as gentes que o mundo com o qual sonhamos pode ser belo. Desvelar a verdade escondida na farsa dos donos do mundo que querem fazer crer que aquilo que é bom para eles - um minoria – pode ser aceito como verdade universal. Colocar isso a nu, mas também anunciar a beleza que pode ser o mundo pelo qual ansiamos, com justiça, vida digna e riquezas repartidas.
E como se faz isso? Ah.. O mundo está cheio de exemplos. Cooperação, solidariedade, partilha. Nos acampamentos do MST, em comunidades organizadas, nos bairros palestinos, nas lutas de libertação. Existem lindas histórias para serem contadas. A verdade da beleza que o modo de viver socialista inspira naqueles que acreditam que o mundo pode ser diferente, e caminham para isso. O sistema capitalista só usa a beleza como engano. Mas, aqueles que são profetas, vivendo hoje o que sonham para todos amanhã, estes não tem como enganar, porque expõe ao outro o exemplo.
Historicamente a classe média, na hora de escolher, quase sempre escolhe o lado dos poderosos. São vítimas dessa pedagogia enganosa da beleza, que brota na TV, nos jornais, na escola, em todos os lugares. Acreditam nisso. Mas, se a gente mostrar a beleza do nosso mundo, pode acontecer como no poema de Quintana, quando o menino espicha o pescoço para ver se vê a calcinha da equilibrista dizendo: Quem sabe, titio? Quem sabe?... Assim, nós...