Enquanto boa parte dos militantes e candidatos às eleições
de 2014 descansa da batalha pelos votos, os trabalhadores da UFSC voltam para
mais uma semana de luta. Serão completados dois meses de greve de ocupação, uma
greve nova, de trabalho, na qual nenhum serviço deixou de ser prestado. Ao
contrário, ampliou-se o atendimento para mostrar o quanto a universidade
precisa de estar funcionando de maneira ininterrupta, sem excluir ninguém. Uma
batalha de gigantes: trabalhar, dar conta de tudo, e ainda ter de organizar
reuniões, mobilizar, escrever, pensar, tudo sem ajuda do sindicato.
Dois meses de luta renhida e quase solitária. Na casa do saber
nenhum “intelectual” dignou-se a discutir o tema dos trabalhadores. Redução de
jornada parece ser um tema espinhoso demais. Nenhum iluminado quis indispor-se
com seus pares por um tema tão “tacanho”. O silêncio dos professores denota uma
gritante verdade: estão bastante satisfeitos com o chicote instituído pela
reitora Roselane Neckel. Muitos acreditam que a universidade pode funcionar
muito bem sem os trabalhadores técnico-administrativos, os computadores fazem
tudo agora. E a outros, os TAEs são tão insignificantes que não há porque mover
palha por eles. Que se virem. Ou então, que peçam ajuda, como verbalizou um
colega.
Também é sintomático o silêncio dos demais sindicatos da
cidade. Nenhuma nota de apoio, nenhuma manifestação pública, nenhum gesto de
solidariedade, nenhuma nota da greve nos seus informativos. E estamos lutando
na UFSC por uma pauta que é de toda a classe trabalhadora. Mas, ao que parece
os sindicalistas andam mais preocupados com suas questões corporativas, ou
talvez com as eleições. O próprio sindicato dos trabalhadores da UFSC puxa a
greve para baixo todos os dias. São tempos sombrios.
Na Câmara de Vereadores temos pelos menos dois vereadores
alinhados com as lutas dos trabalhadores. Um deles é professor da UFSC. Mas, de
lá, também não saiu qualquer manifestação. Nenhuma fala na tribuna, nenhum
pedido de reunião com a reitora. Nenhuma palavra pública de apoio à batalha
pela ampliação do atendimento na universidade. Na Assembleia Legislativa também temos os tradicionais
aliados. E lá, o silêncio igualmente foi total. Possivelmente a caça aos votos foi mais
gritante do que a resistência de um pequeno grupo de trabalhadores.
No campo da universidade, apenas o movimento UFSC à Esquerda e parte do movimento estudantil tiveram a coragem de se manifestar publicamente, comparecendo às assembleias e participando dos atos. Um grupo pequeno, mas valioso, capaz de insuflar coragem e entusiasmo aos trabalhadores.
E assim, com poucos parceiros, os trabalhadores vêm enfrentando a
maior onda de autoritarismo que já se teve notícia na UFSC. Nenhuma disposição
ao diálogo. Comissões de negociação são montadas, os professores dizem uma
coisa e, no dia seguinte, o que vem é algo totalmente diferente, sempre
golpeando e punindo. Descaso e
desrespeito. A luta pela ampliação de atendimento apontada como mais uma
tentativa de “vagabundagem”.
Na perplexidade dos dias, os trabalhadores em luta viram
suas reivindicações serem tratadas como busca de privilégio, tiveram seus
salários cortados e sofrem cotidianamente violência e assédio moral. Dois meses
e nenhum avanço. Pelo contrário, apenas a “mão dura” em nome de uma suposta
moralidade enquanto nos bastidores seguem sendo firmados acordos. “Não incomode
e a gente dá jeito”. Na verdade, o que ocorre no campo da administração é a
consolidação do horário como moeda de troca, só que agora revestido de novos
atores. Aparentemente tudo muda, para tudo ficar igual. E, aqueles que não
aceitam a lógica do “jeitinho” e que tampouco querem fazer de seu tempo espaço
de favores, são os que acabam recebendo a mais dura punição.
Na última semana a reitoria deu mais um duro golpe na luta. No
mesmo dia em que mandava aos trabalhadores uma “proposta” de negociação,
encaminhava a todos os grevistas uma notificação de desconto de horas.
Documento esdrúxulo porque não tem qualquer base material para sua existência.
Na verdade, era só um giro a mais do chicote. Um azote no lombo para que a
decisão pudesse ser mais “fácil”, uma lambada para incitar o medo e o terror.
A semana que inicia convoca os trabalhadores à reflexão. Afinal,
mesmo dentro da categoria encontramos os que ajudam a enfraquecer a luta. São
os que aceitam os acordos, os que aceitam a folha ponto sem questionar, os que
observam de longe, sem se misturar. Os que se mantém em silêncio diante do
arbítrio. Teremos nova assembleia na terça-feira e todos esses pontos deverão
ser discutidos. Continuar a greve ou aceitar a derrota sob o jugo do
autoritarismo? Temos unidade e força como categoria para seguir?
Aconteça o que for, a derrota dos trabalhadores da UFSC será
também a derrota de toda a classe. Mas, a vitória da administração será como a
de Pirro. Dobra os trabalhadores, mas entra para a história como a administração
mais autoritária, menos capaz do diálogo, mais assediadora, mais violenta no
trato com os técnico-administrativos. Uma marca infeliz. Mesmo que todos os
colegas professores tenham mantido reverente silêncio diante das ações da
reitora, isso não significa que haja uma aceitação por parte deles dessa administração.
Ela apenas está fazendo o trabalho sujo, que muitos deles – quando já estiveram
nessa posição – não ousaram fazer. É
isso que, em alguma medida, boa parte dos colegas docentes aplaude.
Para nós resta a sempre clara lição: a batalha por direitos
não é fácil. Exige altos preços a pagar. E, o que hoje estamos pagando - algum
desconto no salário – não se compara ao que pagaram os heroicos companheiros que
morreram na forca por lutarem pela redução da jornada para essas oito que hoje
boa parte dos trabalhadores faz.
A modernidade exige uma mudança nas relações de trabalho. As
novas tecnologias permitem que a redução de jornada aconteça agora. Estamos
apenas antecipando o futuro que está bem aqui adiante. Por isso, quer essa administração
queira ou não, as 30 horas vão chegar. E nós saberemos que fizemos a luta
certa.