Conheci essas duas num março de 1988 e lá se vão 30 anos.
Uma delas vislumbrei na porta da sala de aula, no Curso de
Jornalismo, com seu cabelo enroladinho e roupa hippie. A conexão foi imediata.
Iriamos partilhar juntas toda a aventura de estudar jornalismo, lendo e
discutindo texto pelas noites a fio, com pipoca e chimarrão. Vez em quando
ainda meio bêbadas, chegando das domingueiras do Clube 15, depois de nos
esbaldar na lambada. Desde aquele março vivenciamos belezas e dores, sempre juntas.
Passamos por amores, viagens, noitadas de samba e cumplicidades. Brigamos,
ficamos sem falar, mas a amizade sempre foi maior que a zanga.
A outra entrou na minha casa pela mão de um companheiro que
morava comigo na república do Itambé. Namorou com ele, terminou, mas seguimos
amigas. No primeiro dia em que a vi, não gostei. Carinha de entojada e filha de
militar. Pacote perfeito para a exclusão. Mas, não sei por que cargas d´água,
acabamos acertando os ponteiros e nunca mais nos separamos. Enfrentamos
tormentas e alegrias. Ela é a única pessoa no mundo que me procura quando está
transbordando de felicidade. Uma qualidade ímpar. Brigamos, ficamos sem falar,
mas a amizade sempre foi maior que a zanga.
Todas duas têm suas diferenças e dessemelhanças. Por vezes
já se estranharam entre si, mas nossa unidade sempre prevaleceu. O tempo passa
e a gente segue se acompanhando, na alegria e na tristeza, na saúde e na
doença. Vivemos longe, mas estamos perto.
Ontem encontrei essa foto, de um dia de 2004, quando elas
vieram conhecer minha casinha, a primeira e única, meu cafofo, o sonho de uma
vida inteira, conquistada com a dificuldade de sempre na vida de um
trabalhador. E só foi possível, paradoxalmente, depois de uma demissão. Com a
grana da rescisão, ergui a casinha. Foram elas as primeiras a encher de boas
energias minha morada. Talvez por isso tenha tanta alegria aqui.
Nesse março celebramos 30 anos de amizade verdadeira, dessas
que não se quebra. É uma vida inteira, uma vida de partilha e de comunhão. Com
elas, aprendi e ainda aprendo, todos os dias. Com elas, a vida fica leve. Com
elas, pretendo seguir até que a ceifadora venha me levar. Porque juntas sempre
somos melhores.
Amo vocês... Feliz “Bodas
de Pérolas” para nós... 30 anos, não é bolinho!