sexta-feira, 25 de março de 2016

Dia da Terra Palestina






































30 de março, 18h, Auditório do CFH/UFSC

A questão envolvendo Israel e Palestina é um desses temas em que a ideologia se sobrepõe à verdade. Criado artificialmente em 1948, o estado de Israel usurpou terras de milhares de famílias que viviam naquele território, provocando um triste e doloroso êxodo. Empurradas à ponta de fuzis, as famílias tiveram de abandonar suas plantações, suas casas milenares, seus animais, enquanto em todo o mundo os Estados Unidos - mentor dessa criação - dizia que os judeus estavam voltando para casa, numa terra que não tinha povo. 

Não bastasse essa ocupação à força e à custa de tanta dor, o estado de Israel uma vez criado foi subtraindo terras do restante do território onde se refugiaram as gentes palestinas. Com massacres atrás de massacres, a parte que caberia à Israel foi alargando e hoje restam pequenas ilhas de território palestino, cercadas de muros. Prisioneiras em sua própria terra até hoje as famílias palestinas são obrigadas as mais absurdas humilhações nas travessias dos muros. Como os pedaços ficam espalhados, para um pai visitar um filho em outra região palestina, ele precisaria passar por vários portões, com revistas vexatórias, violências e escárnio. Essa é a realidade cotidiana do povo palestino.

Não bastasse isso, vez ou outra Israel define algum ataque e bombardeia as regiões palestinas. Gaza é um exemplo concreto da desumanidade e do terror. A pequena faixa de terra aglomera milhões de pessoas, como se fosse um campo de concentração gigante. Bombas, experiências químicas e toda sorte de violências recaem sobre essa gente. Colônias de sionistas são criadas a toda hora em terras palestinas, alargando ainda mais o território de Israel, sempre com a ajuda dos tanques. É quase um genocídio. 

Mas, apesar de todo o terror cotidiano, os palestinos resistem, armados de pedras e de coragem. Enfrentam os tanques, enfrentam a violência diária e denunciam. Com eles também estão em luta, por todo o mundo, milhares de pessoas que reconhecem o direito do povo palestino de viver livre na sua terra. Por isso, sistematicamente realizam debates, conversas e reflexões em todo o mundo.

O dia 30 de março é um dia importante para o povo palestino pois se celebra o Dia da Terra, lembrança do dia em que Israel anunciou o confisco de terras em 1976. Naquele 30 de março os palestinos lutaram e realizaram uma greve geral contra mais esse roubo. Houve repressão por parte de Israel e seis jovens palestinos acabaram mortos, além das centenas de pessoas feridas e presas. 

Para celebrar a luta do povo palestino, várias entidades se reuniram e decidiram promover uma rodada de conversa sobre o tema Palestina/Israel. O encontro acontece na UFSC, nesse dia 30 de março, a partir das 18h, no Auditório do CHF/UFSC. Haverá debates e o lançamento do livro de Yasser Jamil: Nosso verbo é lutar: somos todos palestinos. 

Participe. Venha conhecer mais sobre o tema.
Veja a programação.

domingo, 20 de março de 2016

O jornalismo vivo e em ação



Fotos: Rubens Lopes 

A noite de sexta-feira foi intensa na Casa da Outra, que é a sede do portal Desacato, um espaço de notícias que, no mais das vezes, não saem nos meios de comunicação comercial. Por isso, "a outra". Uma outra informação, que faz do jornalismo aquilo que Adelmo Genro Filho ensinou: forma de conhecimento.

O dia fora intenso, com as manifestações contra o golpe e toda a montanha russa informativa vinda de Brasília e de São Paulo. Mas, ainda assim, um pequeno grupo de jornalistas - e gente que trabalha com comunicação - se reuniu para discutir jornalismo. Isso, por isso só, já seria muito, visto que esse fazer está um pouco desacreditado. Hoje, jornalismo é sinônimo de propaganda. Não há análise, não há contextualização, não há impressão de repórter. Tudo que há é mentira e enganação. Não que eu defenda que o jornalismo deva ser imparcial. Isso é bobagem. Toda forma de narrar é parcial. Mas, o que se espera do jornalismo é que ele possa mostrar todos os lados possíveis de um fato, além de apresentar o contexto histórico no qual o fato está imerso.   

Mas, o encontro no Desacato não foi para chorar pitangas, nem para criticar essa gosma que se nos oferecem alguns colegas de profissão. O papo era outro. Como seguir fazendo jornalismo de verdade nessa selva informativa de redes sociais e meios dominados pela classe dominante. Lembramos que esse grupo, em especial, vem produzindo conhecimento com o jornalismo desde sempre. Particularmente mais organizado desde o lançamento do projeto Pobres e Nojentas, em 2006, que buscava através de uma revista de classe, mostrar a vida e ação produzida nas margens do sistema. Da Pobres e Nojentas, que esse ano completa dez anos de atuação , saíram companheiros e companheiras que foram construir outros espaços - na mesma linha - como foi o caso do Portal Desacato, nascido em 2008 e hoje conduzido por Rosângela Bion de Assis, Raul Fitipaldi, Tali Feld e Juan Luis Berterretche, entre outros. Logo depois, a partir do Desacato, vem o nascimento de uma Cooperativa de trabalhadores que passou também a viabilizar a vida dos que produziam a comunicação no portal.

Nesse mesmo tempo, o grupo da Pobres e do Desacato foi articulando parcerias com companheiros e companheiras que estavam fora do eixo da capital. E, a partir de cursos de formação em jornalismo comunitário e popular, foram se apertando os laços com gente do oeste e do meio-oeste do estado, juntando a Associação Paulo Freire de Educação e Cultura, a Rádio Tangará, o Jornal O Comunitário, Agência de Notícias Contestado, jornal O Taquaruçu, a Abraço e outros agentes dispersos em vários veículos do interior, além de estudantes e agentes de comunicação popular. Um trabalho bonito demais, que vem, lenta e inexoravelmente,  gerando frutos suculentos.

Hoje, o Desacato, por exemplo, já pode contar com correspondentes que escrevem a realidade dessas regiões, dando ao portal uma qualidade que não se encontra em nenhum outro veículo. Porque narra a realidade do estado de Santa Catarina a partir da comunidade das vítimas do sistema. A voz do povo encontrando espaço para se expressar. E nessa vereda que está sendo aberta com extrema qualidade assomam jornalistas como Claudia Weinman e Júlia Saggioratto, de uma nova geração que decidiu atuar no campo do jornalismo de verdade, esse apontado por Adelmo.

Por conta de toda essa história, o encontro de pessoas para falar de jornalismo não podia mesmo ficar no mimimi. O debate seguiu o rumo da análise dos tempos e na construção de propostas que permitam dar mais visibilidade ao jornalismo que está sendo feito fora dos meios comerciais. Ali vibrava a vontade de narrar a realidade com todas as cores que ela tem, e não apenas aquela que interessa a classe dominante. Jornalismo comprometido com os trabalhadores, os destituídos de direitos, os oprimidos e explorados.

O debate na Casa da Outra principia uma ação que procuraremos manter sistematicamente. Encontros críticos, formulação teórica e proposições práticas. Paulofreirianamente indo, como nos ensina o companheiro Jilson Carlos de Souza. O jornalismo pulsa e vive nas narrativas dos "velhos", como eu, e na dos "novos", como a Claudia Weinman, que retrata o oeste de Santa Catarina como há muito tempo não se via na imprensa. O jornalismo como forma de conhecimento, buscando formar, mais do que informar.

E seguimos, as Pobres e Nojentas, Desacato e todos os demais amigos da Rede Popular Catarinense de Comunicação, que vamos pavimentando pouco a pouco, na solidariedade comunicacional, na alegria e no compromisso com outro, caído.

O jornalismo vive e está aí!