Na Palestina é assim. Ninguém é dono de si. Qualquer garoto saído dos cueiros, se for israelense e tiver uma farda, pode tudo. Eles humilham mulheres, homens, jovens e aterrorizam crianças. É coisa cotidiana. Acontece todos os dias, desde o fatídico 15 de maio de 1948, quando o Estado de Israel foi criado à força. Naquele dia, milhares de famílias tiveram de abandonar suas casas, suas oliveiras, suas mais sagradas lembranças e sair, na direção de lugar nenhum, fugitivas em sua própria terra. Desde aí, as gentes palestinas são desalojadas, no meio da noite, pela força dos tanques e da armas.
São mais de sessenta anos e o povo resiste. Vez ou outra explode o desespero, em violência. Há quem diga que os palestinos deviam dar o primeiro passo para a paz, fazer um esforço, deter o terror. Mas, como dizia o grande poeta Mahmoude Darwich, “ainda goteja a fonte do crime”, e esta fonte não fica no lado palestino.
O que podem as gentes diante de tanques? Hoje, Israel mantém prisioneiros mais de oito mil palestinos, destes, 380 são crianças. E que crime cometeram estes meninos de olhos aterrorizados? Nasceram palestinos! Há ainda denúncias de que alguns têm seus órgãos retirados por conta do tráfico de órgãos humanos, outros são torturados da mais variadas formas, mulheres são estupradas. É o terror.
Por isso o 15 de maio ecoa na voz árabe: AL Nakba, o dia da catástrofe. Um dia para não se esquecer. Um dia para celebrar a resistência heróica de uma gente que não se rende e busca, por sobre todos os muros, a flor da liberdade. Haverá de achar... Haverá de achar! Viva a Palestina!
ESTRANGEIRO NUMA CIDADE DISTANTE
Quando eu era pequeno
E belo,
A rosa era a minha morada,
E as fontes eram os meus mares.
A rosa tornou-se ferida
E as fontes, sede.
- Mudaste muito?
- Não mudei muito.
Quando voltarmos à nossa casa
Como o vento,
Olha para a minha testa.
Verás que as rosas são agora palmeiras,
E as fontes, suor,
E voltarás a encontrar-me, como eu era,
E belo,
A rosa era a minha morada,
E as fontes eram os meus mares.
A rosa tornou-se ferida
E as fontes, sede.
- Mudaste muito?
- Não mudei muito.
Quando voltarmos à nossa casa
Como o vento,
Olha para a minha testa.
Verás que as rosas são agora palmeiras,
E as fontes, suor,
E voltarás a encontrar-me, como eu era,
Pequeno
E belo...
Mahmoud Darwich