Quando a revolução cubana se fez vitoriosa, os estudantes
universitários trataram de tomar a universidade. Assumiram o controle das casas
de estudantes, passaram a impor regras aos antigos professores e a intervir na
direção da universidade. Queriam fazer valer suas demandas. Começaram então
várias lutas internas porque a revolução precisava dar a linha para o ensino
universitário. Os estudantes queriam autonomia, e não aceitavam que o governo
revolucionário dissesse como iria ser o ensino e que carreiras seriam
prioritárias.
Então, o governo revolucionário mandou Che Guevara para
falar com os estudantes. Ele era um ícone. Haveria de ser ouvido. E o que Che
disse não foi o que os jovens queriam ouvir. Mas, foi o que era preciso dizer. “Dizemos
nossas verdades, talvez azedas, talvez injustas em alguns aspectos, que
machuquem talvez muita gente, mas que transmitem o pensamento de um governo
revolucionário honesto”.
E o que disse el Che aos jovens que estavam querendo decidir
seus destinos isolados da revolução? Que era preciso uma universidade capaz de
formar os técnicos, teóricos e profissionais de que Cuba precisava. Que era
preciso formar pessoas para fazer avançar a revolução. Que o governo
revolucionário tinha de apontar o caminho. “Quem tem o direito de limitar a
vocação de um estudante por uma ordem do Estado? Quem tem o direito de decidir
que apenas podem se formar dez advogados por ano e que devem se formar cem
químicos industriais? Isso é ditadura? Está bem, é ditadura. Mas a ditadura das
circunstâncias terá o mesmo caráter que a ditadura que existia antes sob a
forma de vestibular ou de pagamento de matrículas ou de exames que iam eliminando
os menos capazes?”
Che foi então confrontado com o ponto central que dividia os
estudantes. Eles clamavam por autonomia, não queriam a intervenção do estado. E Che enfrentou, com sua honestidade crua.
Jamais mentiria aos jovens para conseguir o que queria: “Não queremos aqui
mistificar as palavras e tentar explicar que não, que isso não é perda de
autonomia, que na realidade não é nada mais do que uma integração mais sólida,
como o é na realidade. Mas, essa
integração mais sólida significa perda de autonomia, e essa perda de autonomia
é necessária para a nação inteira”.
Ele insistiu com os estudantes que a batalha pela qual tantos
cubanos deram a vida era a luta de uma nova classe social que agora teria
direito à cultura: “O que tentamos fazer desaparecer em Cuba é a luta de
classes. Quem se opõe a que um grande número de estudantes de origem humilde
adquira os benefícios da cultura, está tentando exercer um monopólio de classe
sobre esta”.
A charla dura e verdadeira do guerrilheiro convenceu os
estudantes e Cuba seguiu seu caminho de belezas. Formou os profissionais que
precisava e é um dos países com mais alto índice educacional.