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"Chamam violento o rio que tudo arrasa, mas não as margens que o oprimem". Li hoje um comentário sobre os protestos na França. A pessoa dizia que aquilo tudo ( a violência) era fruto do multiculturalismo. Ou seja, uma racista que evitava dizer ser culpa dos negros e árabes. Como se fossem só eles os que protestam.
Os que protestam na França são os pobres, os que vivem o cotidiano da fome, da desnutrição, do desemprego, da violência mais vil. O aumento do preço da gasolina tem reflexos em toda a cadeia de preços. A vida fica pior. E coisas assim detonam toda a dor, todo desespero. A luta que muda o curso das coisas sempre é violenta, porque violento é o modo de vida que põe milhões na miséria para que meia dúzia vivam à larga.
Os fatos na França não têm a ver com o "multiculturalismo", até porque os negros e árabes que ali estão hoje apenas buscam viver um pouco do bem viver que lhes foi tirado por um país que tornou colônia muitos povos, que roubou e matou para extrair as riquezas desses povos. Os fatos tem a ver com o momento em que uma pessoa diz: basta, não posso mais. E responde como pode aos opressores.
Como no Brasil de 2013, os manifestantes não estão ligados a partidos, e realizam atos marcados via redes sociais, aparentemente sem coordenações centralizadas, mas os partidos já estão pegando carona no movimento. Todos os que são contra Macron já mostram as unhas. Macron já sinalizou que é preciso prestar atenção às reivindicações do protesto social, porque sendo ou não espontâneo ele expressa reivindicações de grande parcela da sociedade.
A vida é um sopro. Uma hora estamos, outra não mais. Por isso entendo que aos que amamos e admiramos temos de homenagear enquanto estão aí, fazendo coisas lindas, trabalhando, lutando, agindo no mundo para torná-lo melhor.
Uma dessa pessoas que quero hoje homenagear, é Pepe Pereira Dos Santos. Repórter cinematográfico, repórter fotográfico, companheiro de caminhada na batalha pela terra e pela vida. O conheci há muitos anos, logo que cheguei no Desterro na década de 80 do século passado.
Juntos trabalhamos em um vídeo incrível "O país dos sem", mostrando a dura realidade das gentes que ocupavam a Via Expressa e outras comunidades nascentes, como a Chico Mendes, Vila Aparecida e outras. Foi um trabalho lindo, num tempo em que os equipamentos eram grandes, pesados, caros. Um tempo em que para editar um vídeo tínhamos de buscar parcerias externas, como a que encontramos com o então padre Jaci Rocha Gonçalves. E para andar pelas comunas, contando com a presença sempre forte do padre Vilson Groh.
Foi um trabalho lindo, de parceria harmônica. Uma honra ter trabalhado com ele naquele então, e uma honra ter seguido a vida contando com ele sempre que foi preciso. Pepe é um homem doce, apaixonado, entregue a causa da vida do empobrecido. Um homem que caminha junto, se mistura e até se some no meio do povo que elegeu como seu.
Tenho um baita orgulho de tê-lo como amigo e principalmente parceiro na grande batalha pelo mundo novo, de paz e de Justiça para todos os que hoje padecem a tragédia do capitalismo. Hoje ele é agricultor e faz o sonho acontecer na Comuna Amarildo.
Te amo Pepe, e te reverencio como mago da luz.