sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Eliana do Santa Amélia


Era uma linda mulher. Dessas que parecem iluminar tudo. E, como sempre, é preciso que um fato inusitado aconteça para que alguém, apenas vislumbrado num banco de ônibus, acabe sendo mais do que uma simples visão. E assim foi. O ônibus que vinha de Belo Horizonte à Curitiba parou na estrada em função de um acidente com um caminhão. Toca a descer todo mundo. Nenhum jeito a não ser esperar. Mas, na espera, os viajantes se falam, se conhecem, e deixam fluir suas belezas.

A mineira Eliana Rodrigues tem 43 anos e uma exuberância que a faz luminosa. E não haveria de ser apenas no físico. Sua beleza se espraia para a mente e o coração. Moradora de um bairro de periferia de Belo Horizonte, o Santa Amélia, ela não se conformou em ver a pobreza e a tristeza tomar conta das pessoas que faziam parte do seu viver. Adolescentes fadados ao narcotráfico, crianças sem futuro e velhinhos sem razão para seguir a jornada não encontrariam guarida ali. Não se ela pudesse fazer algo. “Eu tinha um emprego, poderia ficar na minha, mas acredito que a gente que tem um pouquinho, precisa ajudar o outro que não tem”. Ah, essas sabedorias socialistas!...

Foi por conta desta equação tão singela que Eliana criou, há cinco anos, o projeto “Gente ajudando gente” que desenvolve sem a ajuda de ninguém, a não ser da sua férrea vontade de ver sua gente feliz. Ela organiza oficinas, encontros e desfiles de moda, nos quais as “modelos” são gente comum. “Tem senhoras que viviam doentes, com depressão e que, agora, por conta do projeto, são outras pessoas. Estão vivas, felizes e até esqueceram suas dores, físicas e pasicológicas.”

Além dos desfiles de moda que fazem sucesso nas comunidades do Santa Amélia e São Gabriel, ela ainda realiza trabalho de reforço escolar com as crianças. E não é só coisa de acompanhar os estudos não, é acompanhar a vida, é dar nova chance, é espalhar amor e compreensão, é mudar existências. Porque Eliana é assim, como um facho de luz que tudo incendeia a sua volta. E é por ser assim que se diz feliz. Tem pouco, mas o pouco que tem, distribui. Porque afinal, desta vida nada se leva e poucas coisas podem suplantar a visão de uma pessoa saindo de seu casulo de dor e enfrentando a vida com alegria e otimismo. É isso que Eliana faz lá na periferia de Belo Horizonte, Minas Gerais. Ela se dá e, assim, vai fazendo desse mundo cão um lugar melhor. Gente ajudando gente. Sem pedir nada em troca. Profeta, fazendo agora, real, o futuro que poderia apenas sonhar.