quinta-feira, 1 de março de 2018

No enterro do Jango, o começo de uma caminhada




Era o começo de dezembro de 1976. Na pequena cidade onde vivíamos não se falava em outra coisa. Jango estava morto. A notícia se espalhou como um rastilho de pólvora, afinal, São Borja era sua terra-mãe. Em casa, o clima era de profunda tristeza. Nossa vida inteira tinha sido marcada pela presença de João Goulart. Meu pai trabalhava para ele na emissora ZYF-2 Fronteira do Sul desde os anos 60, quando Jango já era o dono da rádio. Com essa marca, de ser uma rádio do Jango, a emissora atravessou os anos de chumbo, sempre vigiada e com os censores à porta. 

Quando veio o golpe e Jango se exilou no Uruguai, ele distribuiu as ações entre os funcionários e a rádio funcionava como uma cooperativa, algo realmente inusitado naqueles dias de ditadura militar. O faturamento era dividido entre eles. O pai tinha o cargo de gerente e, por incrível que possa parecer, a rádio seguiu transmitindo, ainda que vigiada. Quando o governo de Garrastazu Médici já chegava ao final, em 1973, as coisas ficaram mais difíceis. A rádio começou a ter problemas. Os trabalhadores não conseguiam provar que as ações tinham sido passadas pelo Jango, e a fiscalização não deu trégua. O pai chegou a ir até o Uruguai junto com outro diretor da rádio para ver com Jango como regularizar tudo, mas não conseguiram. 

Finalmente, em 1975, já no governo de Ernesto Geisel, num belo dia, o representante do Dentel na cidade foi até o transmissor e cortou o cabo da antena. A rádio estava fechada, com o transmissor lacrado, sem nenhuma explicação. Era o fim da generosa proposta de uma emissora de rádio cooperativada. Aquilo tudo foi um baque na vida da família. Sem emprego e ainda com a marca de ser um dos caras do Jango, a saída do pai foi montar um pequeno negócio junto com outro diretor da rádio. Uma tabacaria, bem em frente à praça. Não deu certo, mas isso já é outra história.

Um ano depois do fechamento da rádio Jango estava morto e hoje é possível fazer as ligações sobre como a ditadura estava no pé do ex-presidente. Por isso não duvido de que tenha sido mesmo assassinado.

Naquele triste dezembro de sua morte, surpreendentemente, a família foi autorizada a trazer o corpo para ser enterrado em São Borja, embora houvesse ordens expressas para ser um enterro discreto, sem aglomerações.  Mas, esse foi um “milagre” que a ditadura não conseguiu realizar. A cidade fervia. Todos se preparavam para receber Jango. Ele teria as honras do povo. Lá em casa, preparávamos nossa melhor roupa. Iríamos ver o presidente, chefe do nosso pai, desse o que desse. O exército montou uma operação de guerra para impedir que houvesse qualquer manifestação. Já na ponte entre Libres (Argentina) e Uruguaiana o carro com o caixão foi parado com a ordem expressa de que seguisse até São Borja em alta velocidade, para que as gentes não pudessem saudá-lo. Ainda assim, se soube de centenas de pessoas à beira da estrada, despedindo-se do presidente. 

O combinado com o chofer era de que seguisse imediatamente para o cemitério. Mas, sabe-se lá como, o carro foi direto para a Igreja Matriz, onde as pessoas já se aglomeravam aos milhares. Nós estávamos lá, eu e meu irmão, agarrados à mão do pai. São Borja nunca vira uma manifestação como aquela. Eram mais de 10 mil pessoas rodeando a igreja. Depois dos ofícios, os milicos ainda tentaram sair com o caixão para levar, de carro, até o cemitério. O povo não deixou. O caixão foi arrancado das mãos dos milicos e levados pelos são-borjenses, em caminhada, até a morada final. Devia ter mais de 30 mil pessoas nas ruas. 

Eu tinha 15 anos, mas já estava familiarizada com a luta contra a ditadura. Lá em casa, sempre falamos e soubemos de tudo. E politicamente estávamos ligados ao então MDB. Mas, aquele enterro foi uma espécie de batismo na luta aberta, na ação de massa. Porque na clandestinidade já atuava, distribuindo panfletos do MDB, durante as noites, denunciando a ditadura. Só que naquele dia, no meio da multidão, devo ter entendido que quando estamos juntos, os nossos desejos não podem ser detidos. Nada do que o exército planejara aconteceu. Tudo saiu do script, pelas mãos do povo, e Jango atravessou a cidade nos braços dos seus. Aquilo foi bonito demais, e, hoje, recordando cada minuto daquele dia com a ajuda das memórias do meu irmão, percebo que foi também um divisor de águas para mim.

Quem conhece a fronteira sabe o quanto um dezembro pode ser calorento. Pois aquele dia foi assim. E durante o dia todo foi uma louca romaria, com os homens em mangas de camisa, suando em bicas, e as mulheres arrumadas para domingo, de salto alto e lágrimas no rosto. Eram quase cinco da tarde quando Jango finalmente desceu à sepultura. O cemitério cheio, gente por cima dos túmulos, todos dispostos a não arredar pé até o último instante de adeus.

Eu, meu pai e meu irmão, então com 10 anos, éramos um pingo na multidão. E fizemos todo o trajeto, rendendo as homenagens, como toda a gente. A manifestação, rebelde, popular e massiva, e a quebra de todas as regras impostas pelos milicos ficaram marcadas em mim como um sinal. Era preciso enfrentar o que fosse para que nossa gente enterrasse a ditadura militar. E aquela despedida missioneira, dramática, cadente e sofrida, se fixou nas retinas, para sempre. Dois anos depois, já em Minas, integrei-me visceralmente à luta pela anistia e nunca mais deixei estar no movimento popular. 

De todas as formas, a vida e o governo de João Goulart, o Jango, bem como sua morte, marcaram minha/nossa vida para sempre. E eu o tenho guardado dentro do coração. 




Pela Revolução Brasileira, com Nildo Ouriques

Nildo e a revolução brasileira - única opção 


Como pessoas sem filiação partidária, mas atuantes na luta popular e na política, decidimos apoiar o nome de Nildo Ouriques, que é pré-candidato à presidência pelo PSOL, para a disputa presidencial desse ano no Brasil. 

Já faz algum tempo que vivemos uma conjuntura difícil na América Latina. Depois de um período de ascenso de propostas populares e de democracia participativa, observamos o imperialismo atuando fortemente no continente. Começou com o frustrado golpe em 2002, na Venezuela, passando pela invasão do Haiti, em 2004, pelo golpe parlamentar/judiciário em Honduras, em 2009, o golpe no Paraguai em 2012 e agora no Brasil, em 2016, também usando as instituições do Judiciário e do Parlamento, numa nova forma de intervenção chamada de “poder suave”.  Nessa crise estrutural do capital que agora aparece com mais clareza, a hegemonia já está dada desde a década de 1990, e a única alternativa possível é a luta anticapitalista.

Essa conjuntura de golpe, especificamente no Brasil, constituída não só pela ocupação dos poderes por uma quadrilha de ladrões, se configura também como mais uma violenta onda de ataques aos direitos dos trabalhadores, à liberdade de expressão, às liberdades individuais, à expansão da ciência e do conhecimento, visando colocar os trabalhadores sob o jugo ainda mais pesado da superexploração, matando a possibilidade de uma aposentadoria digna, acabando com as universidades, com o ensino médio, com a possibilidade de soberania. Essa não é uma ação pontual ou isolada, é o capitalismo se expressando em mudanças estruturais que exigem dos governos ataques substanciais aos trabalhadores. Nesse contexto fica claro que a política de conciliação com a burguesia e a lógica das políticas sociais não serão suficientes muito menos aceitas. Até porque o Estado Liberal aceita distribuir migalhas e seguirá fazendo isso para acalmar as massas. 

Esta é, portanto, uma conjuntura que exige uma resposta clara e um posicionamento firme. Não é possível atravessar essa tempestade com a velha política de conciliação. Os 14 anos de governo petista já mostraram que essa via não resulta em vantagens para os trabalhadores, pelo contrário. A conciliação e as alianças ambíguas levaram ao golpe e ao aprofundamento da crise.

Diante disso, no espectro dos candidatos que hoje se apresentam na esquerda, na disputa pela presidência, e  que pode vir a ser uma força importante contra hegemônica e até revolucionária, é o professor Nildo Ouriques (pré-candidato do PSOL) aquele que expressa com mais clareza as propostas que essa conjuntura demanda. Decididamente não podemos repetir a experiência reformista e conciliadora do PT, que nunca chamou os trabalhadores e a população em geral para a luta concreta e não construiu a possibilidade de um poder popular, capaz de indicar o caminho para as mudanças estruturais necessárias.

A proposta apresentada pelo grupo de Nildo Ouriques representa a possibilidade clara de construção da revolução brasileira (construção de um programa mínimo, uma teoria revolucionária, transformações reais e profundas na sociedade), sem ambiguidades e sem vacilação. Partindo dessa proposta acreditamos ser possível a formação de uma Frente de Esquerda, tal como aconteceu há pouco tempo na Argentina e no Chile, onde a esquerda avançou de maneira significativa e segura, sem abrir espaço para oportunismos ou conciliações com propostas reformistas já fadadas ao retrocesso.

O PSOL terá, então, com a candidatura de Nildo, a oportunidade, nessa conjuntura, de apresentar uma proposta radicalizada contra o capital, sem a necessidade de compor com ideias vacilantes, completamente alinhadas ao velho petismo. Tampouco pode avançar com candidatos que trazem propostas reformistas aos moldes do PT, ou que não usam as palavras reais para expressar a realidade e tergiversam com eufemismos, como se a população não tivesse condições de assimilar o que vem a ser a revolução e quem são os inimigos.

As mudanças só podem vir com a luta firme e constante contra o capital.

O PSOL tem agora, nesse momento, um candidato que fala o que os trabalhadores anseiam ouvir. Nildo Ouriques encarna, no nosso campo, essa radicalidade perdida. Uma proposta que é firme na crítica do petucanismo, que dá o nome e o sobrenome dos inimigos: o capital e o Estado do capital, apontando que é necessário conhecê-los em profundidade para poder derrota-los. É a proposta que propõem uma virada radical, uma democracia participativa, para além da formalidade do voto bi-anual,  e que permitirá ao governante mandar obedecendo a uma população que fará política no cotidiano.

Nildo Ouriques é o candidato ideal para ajudar a construir a revolução brasileira. A destruição das estruturas podres do capitalismo liberal. Com ele, vamos. Abraçamos essa proposta generosa que ele defende. Qualquer outra opção que não seja a da revolução brasileira será o caminho do pântano e aí, não estaremos dispostos a seguir.  A América Latina já aprendeu, amargamente, como terminam as tentativas de conciliação de classe. Não repetiremos esse erro. Só apoiaremos propostas radicalizadas, com fundamento, que nos permitam superar a conjuntura atual.

Ou assumimos a radicalidade da luta contra o capital. Ou a barbárie vence.

Que o PSOL escolha a proposta da revolução brasileira, sem ambiguidades. Aí, estaremos juntos! Fora dessas condições, não estaremos.

Aos que concordam com esse texto, chamamos a ajudar na construção de uma alternativa revolucionária para o Brasil.

Danilo Carneiro – Grupo Tortura Nunca Mais/RJ
Elaine Tavares  - Jornalista
Maicon Cláudio da Silva – Economista
Glauco Marques  - Engenheiro Eletricista
Dilceane Carraro – Professora/ Serviço Social-UFSC
Marcos Mazzuco – Ator
João da Costa Chaves Júnior - Fisico-UNESP
Maurício Mulinari - Economista


quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

O pai e a autonomia


Quem acompanha as postagens que faço sobre meu pai sabe o quanto ele é marrento. Tudo tem de ser o seu jeito. Hoje ele acordou animado, depois de um dia de resfriado que o pegou de jeito e me deixou a noite toda acordada. 

Levantou serelepe lá pelas nove e meia, já com o cigarro entre os dedos. Quando chegou na cozinha foi que notei. Estava com um chinelo no pé e uma sandália no outro, esta ainda no pé errado, toda torta.

- Pai, tás com dois chinelos diferentes.

-Não tô nada. Tá tudo certo aqui - rebateu, olhando com cuidado os pés.

Eu como ando estudando Espinosa, que diz que as ações adequadas são aquelas que são úteis e aumentam a potencia de ser, deixei pra lá.  Afinal, decidir sobre sua indumentária é uma das poucas autonomias que ele ainda tem.

- Tá bom então, ficou até bonito.

E ele se foi, bem faceiro, arrumar a cama. 


terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

UFSC - primeiro dia de aula

Corredor do CSE

Trabalho na UFSC há 24 anos e sempre, a cada início de ano, vivo a mesma emoção: a chegada dos calouros. Nesse dia eu passeio pelo campus olhando as carinhas novas que vêm viver essa rica experiência de estar na universidade. Sempre encontro alguém que se parece comigo, no meu primeiro dia aqui, quando cheguei, aluna, em 1987. Algo perdida, algo feliz, algo curiosa e cheia de esperanças. 

Eu tinha então 27 anos (já era velhinha) e já tentara cursar Jornalismo em universidades privadas. Não conseguira. Trabalhava na área desde há tempos e podia ser considerada uma “macaca-velha”. Mas, queria fazer a faculdade. Só que não tinha dinheiro para bancar uma privada. Sempre tive que desistir pois, na escolha entre comer e estudar, acabava ficando com a primeira, óbvio.  

Foi então que passei na federal e o sonho acalentado por tanto tempo se fez real. Cheguei aqui num fevereiro calorento, munida de tudo o que tinha de meu: uma pequena mochila de lona verde, com algumas roupas e livros. Sem lugar para morar, sem emprego e sem conhecer ninguém. Chegar à UFSC foi uma aventura. Já não era uma guriazinha, mas tinha em mim todos os sonhos. 

E entrar na UFSC mudou minha vida. Aqui conheci aquelas que viriam a ser as amigas do resto da vida. Aqui encontrei o Sérgio Weigert, professor único e inspirador, que me jogou na estrada da filosofia e me apresentou a teoria do Adelmo. Ele virou minhas certezas de pernas para o ar. Ele provocou a revolução. É meu mestre eterno e inquebrantável. Sem ele eu não seria eu.

Entre trancos e barrancos consegui terminar o curso. Não foi fácil. Tinha de estudar e trabalhar. Nunca pude ficar fruindo o campus, a biblioteca e todas essas coisas que os estudantes fazem. Não, precisava andar correndo, saindo da aula para o trabalho, pegando dois ônibus, fugindo ora do estudo, ora do serviço. Mas, valeu. Foi a melhor coisa que me aconteceu.

Por isso, quando vejo essas carinhas sorridentes, algo assustadas, meio ripongas, lembro-me de mim, e me enterneço. Quantos ali não estarão em pânico, como eu, sem saber se chegarão ao fim. Quantos não terão de saracotear desesperados no transporte coletivo, na difícil tarefa se equilibrar estudo e trabalho. Quão dura é a vida da classe trabalhadora. 

Então, ofereço pagos aos deuses e deusas para que encham de força aqueles corpinhos, para vençam todos os obstáculos, para que descubram aqui belezas infinitas, para que se transformem. E que encontrem, nesse lugar, a porta encantada do conhecimento. Não o conhecimento ritualístico, que garante o exercício de uma profissão, mas aquele que lhes permitirá mudar o mundo.  

Então, volto para meu cantinho, deixando que corram algumas lágrimas. Que são de alegria, de pura alegria, por saber que tudo flui e a vida segue. E que os filhos e as filhas da classe trabalhadora seguem desbravando caminhos, a despeito de tudo. 

domingo, 25 de fevereiro de 2018

As dores dos jornalistas velhos

Redações: Mais modernas, mais enxutas e mais jovens

Um tema tem aparecido recorrente entre meus colegas: o triste destino dos jornalistas velhos. Muitos não conseguem compreender por que, ao chegarem a uma idade na qual estão muito mais experientes e acumulam tanto conhecimento, são demitidos dos seus locais de trabalho. Que lógica é essa que substitui um jornalista com anos de estrada por um novato inexperiente?  Por que tanta desconsideração com trabalhadores que, muitas vezes, deram sua vida pela empresa onde trabalham? 

A resposta é simples e deveria ser conhecida pelos jornalistas, visto que eles são os que mais se deparam com as notícias da vida, narrando-as. É o capitalismo. Simples assim. 

O dono da empresa fica rico a partir da exploração da força de trabalho do empregado. É o trabalhador o que gera valor. E como o capitalista lucra? Diminuindo cada vez mais os seus custos de produção. É por isso que o dono do jornal investe em inovação, em novas tecnologias. Para diminuir os custos. Assim, um trabalhador trabalhará oito horas, com máquinas que aceleram o trabalho, e produzirá mais para o dono do jornal. 

Esse tipo de coisa cria uma concorrência entre os próprios trabalhadores, porque a maior divisão do trabalho permite ao trabalhador fazer o trabalho de cinco, 10 ou 20 pessoas. Veja que hoje, no jornal, uma mesma pessoa dirige, fotografa, escreve, edita foto, filma, edita vídeo, posta na internet e compartilha. Uma pessoa fazendo o trabalho de oito. E quem não se adapta a isso está morto. É descartado por ineficiência. 

Marx mostra isso muito bem. Quanto mais aumenta a divisão do trabalho, mais simplificado fica o trabalho. Então, aquele jornalista velho, que tem muito conhecimento sobre seu fazer e sobre o mundo fica obsoleto. O sistema não quer alguém experiente e sabido. O sistema quer  alguém capaz de fazer muitas funções simplificadas, que não necessitam de muita experiência. E por quê? Porque aí pode pagar menos. E pagando menos, diminui seus custos de produção. 

Um bom jornalista, velho e experiente não se sujeitaria a trabalhar como “produtor de conteúdo”, com um salário de 600 ou 800 reais. Iria querer um salário que fosse compatível com todo o investimento que fez em si mesmo, já que tudo o que tem é sua força de trabalho para vender. Mas o sistema capitalista é cruel. Quanto mais tu investes em ti, mais caro tu ficas, então menos interessante para o patrão. O patrão quer sempre pagar o menor salário que, junto às inovações, vão aumentar seus lucros. E essa não é uma prática só de capitalistas não. Ela tem aparecido, amiúde, até nos sindicatos de trabalhadores, que se comportam como tais.

A equação, portanto, é de simples resolução. Na sociedade capitalista, o velho, o que tem experiência e conhecimento, o que investiu em si mesmo, deixa de ser lucrativo para o patrão. Porque exige mais e, muitas vezes, não aguenta o tranco da multifunção que é exigida agora. Então, ele é rifado. 

Atualmente, no mundo do jornalismo, pouca exigência de qualificação jornalística é necessária. O que se pratica nas redações é pura propaganda e qualquer novato, com um mínimo de conhecimento dos softwares, pode produzir um texto padrão. Não se exige mais o texto burilado, literário, bonito. Não se exige o repórter, aquele que vai ao local da notícia e ouve as pessoas, e vê o ambiente. O que, depois, monta uma complexa narrativa que é produção de conhecimento e que ajuda o leitor a entender toda a atmosfera na qual se deu o fato.  Jornalismo de verdade.  

Não, esse jornalista dinossáurico não é mais necessário. Pelo menos não para o dono do jornal ou da TV. E, como também explica Marx, quanto mais o capitalista da comunicação cresce e ganha dinheiro, os ganhos dos trabalhadores diminuem e a concorrência entre eles aumenta. A guerra mais mortífera se dá no campo dos trabalhadores. É perverso, mas é assim. 

Então, a luta por melhores salários nas redações acaba sendo aquela que, se vitoriosa, provocará mais desemprego. Uma armadilha de difícil desarme. Um problemão.

Diante disso, que fazer? Lutar pelo fim desse sistema de exploração. Derrotar o capitalismo. A única saída. Ah, mas é difícil. Sim, é difícil, mas não é impossível. E, para fazer isso há que estudar, conhecer, lutar e estar disposto a enfrentar a mudança. Pense no servo da gleba que, no interior do tempo das trevas, sonhava com liberdade. Quantos deles caíram para que chegasse o tempo do capital? E não foi para acabar armadilhado outra vez. O mundo burguês que assomou das brumas do feudo ainda não é o melhor dos mundos. É preciso transformá-lo. Para que se acaba a propriedade privada e o trabalho assalariado. E nesse novo mundo, os velhos terão lugar.

À luta, pois...