Poucas coisas ainda mexem com o meu coração no que diz
respeito aos Sintufsc. Uma delas é a Banda Parei. Ainda vivem na minha memória
aquelas noites da greve de 2001, com os trabalhadores acampados no NPD, envoltos
em cobertores, o Assis em alvoroço, a Mida cozinhando, e a gente pensando sobre o que fazer. Eis que,
então, tivemos a ideia de criar uma banda, sem muita pretensão, apenas para
infernizar a vida da administração e dos colegas que ainda não tinham parado. A proposta veio da incansável guerreira Ângela Dalri. Nosso
modelo eram as caminhadas do povo argentino, sempre barulhentas e alegres. Discutimos no comando e a assembleia aprovou.
Em poucos dias lá estavam os tambores, os pratos, as tarolas e, sob o comando do
Pepê, a Banda foi se construindo. O Moisés Eller deu o nome: Parei! Não demorou muito e as gentes estavam
incorporadas. Cada um queria aproveitar e fazer o barulhão. Eu, a Terezinha, a
Nilza, o Ivalter, a Valdete, o Marlove, o Eduardo, o Batinga e tantos outros
companheiros queridos.
A Banda Parei começou a circular pelo campus, e sua batucada
meio desarticulada chegou a levantar a ira do professor Espíndola, porque
passávamos pelo laboratório de som e perturbávamos as pesquisas. Foram dias de
muito conflito, mas de muita beleza. Depois, a Banda começou a ser levada para
Brasília quando tinha caravana e, em pouco tempo, já era uma referência
nacional. A Banda Parei liderava as caminhadas e dava colorido para as lutas, normalmente sérias
demais. Marcava presença, inclusive, nos Gritos dos Excluídos, puxando as
marchas e alegrando os atos de protesto.
A Banda Parei foi uma das coisas que permaneceu ao longo do
tempo, mesmo depois que o sindicato passou para as mãos de outro grupo. Venceu
a beleza e a alegria, sem dar lugar a sectarismos. E é assim, que desde aquele
vitorioso ano de 2001, essa banda tem sido a sentinela de toda a luta que se
trava aqui na UFSC. Basta que se anuncie a rebelião e lá vem ela, com seu
barulho infernal, ora desarranjado, ora arrumadinho, mas sempre arrasador.
Hoje, na assembleia, na qual esperávamos a vinda da reitora,
a Banda Parei, mais uma vez, derreteu meu coração. Antes dos trabalhos, a
alegre banda passou em revista, circulando pelo auditório, como fazendo um
chamado para a luta. O toque firme do tambor é como o toque do coração. Ele
vibra na corda mais profunda e nos mostra que passe o que passar, a vida segue
brotando. Entre os "tocantes" muitas carinhas novas, misturadas às
"velhas". A certeza da renovação.
Lá no longínquo 2001, quando, entre lágrimas, realizamos a última assembleia com o desmonte
do acampamento do NPD, foi a Banda Parei que abriu o caminho para aquele dia de
vitória. E desde então, o batuque do tambor tem se misturado a essa batida
vital que mantém acesa a luta de todos nós.
Tenho certeza de que passe o que passar, nossa universidade
manterá vibrando esse som, que é o som da força, da valentia, da resistência,
da alegria, do compromisso. Depois, quando minha pressão subiu a 15, ao final
da assembleia, eu vim andando, pensando: "Y bueno, se eu passar dessa pra
melhor, que seja a Banda Parei a fazer a batucada da minha semeadura".
Para além de todas as divergências, a Banda Parei é dona do
meu coração.