sexta-feira, 1 de junho de 2018

Pantera Negra e Fahrenheit 451


Assisti essa semana o filme Pantera Negra e a despeito da belíssima estética envolvendo os cenários e o figurino, não gostei. Porque, para mim, o filme tem de dizer algo e o que o filme me diz não me agradou. Gosto de filmes de super-heróis, porque eles nos remetem aos sonhos de justiça que temos e que não podemos realizar. São metáforas dos nossos desejos de um mundo bom. Mas, os super-heróis que temos visto no cinema desde algum tempo na nova leva de renascimento dos personagens da Marvel não tem nada de bom. No geral, quando os vejo, acabo assumindo o lado dos “bandidos”, que me parecem mais justos que o tal do herói.

Vejam o Homem-de-Ferro, feito lindamente pelo adorável Robert Downey Jr. Fala sério, mano, o cara é comerciante de armas que adora matar árabes. Ele é o “bad gay”. Aí não dá, né?

E no Pantera Negra, o gurizinho vê o pai ser assassinado porque queria levar a liberdade a todos os negros da terra, segue no rumo do sonho do pai e ele é o que é bandido? Ah, aí é demais pra mim. Ver o rei de Wakanda voltar ao poder por conta da providencial ajuda de um agente da CIA, que é salvo em nome da “bondade” , foi muito uó. E por que a bondade do rei não se expressou no acolhimento ao primo, revoltado? Gostei não! Gostei não mesmo. E no final, o rei da fantástica Wakanda decidindo abrir um centro de ajuda a menininhos do bairro onde o primo viveu não me comoveu. É fato que nessa hora eu chorei. Mas, chorei de raiva. Filantropia a essa hora do dia. Foda-se!

Aí, como eu torci o tempo todo pelo primo do rei bundão, o bandido, fui atrás de saber quem era aquele garoto lindo. Michael B. Jornan, sublime! Então vi que ele protagonizou a nova versão do clássico de Ray Bradbury “Fahrenheit 451”. E aí sim vi a representatividade negra necessária. Ele faz o papel de Montag, o herói da trama. Heróis sem ser super. Herói na sua humanidade desesperada. Herói porque se entrega para salvar o sonho de um mundo bom.

A ficção de Bradbury fala de um mundo sem livros. E onde as pessoas que os possuem são presas. E Montag é um bombeiro que vive de atear fogo nos livros, até que se encontra com as palavras. É uma história fantástica. A nova versão para o cinema foge um pouco do livro, mas mostra o nosso tempo de internet, telas gigantes e esquecimento do sentido de comunidade. Ficou bom. Gostei. Também gostei de Montag ser representado por um negro. Creio que é por aí que se valoriza de fato a representatividade do povo negro. Um negro valoroso, um homem do bem, que entrega sua vida por uma comunidade que quer pensar livremente. Ah, que belezura. Esse sim me comoveu, bem mais do que o tecnológico e caridoso rei de Wakanda.

Recomendo fortemente essa bela nova versão do “Fahrenheit 451”, protagonizada por esse garoto espetacular, Michael B. Jordan. Ele é maravilhoso, e a história melhor ainda. É desses heróis que precisamos. Aqueles que a despeito de não terem nada a lhes proteger, se atiram no abismo em nome da justiça.


quinta-feira, 31 de maio de 2018

Audálio encantou

Texto com a reportagem sobre o pistoleiro do caso Sacopã/1959



Eu nem tinha nascido ainda e o Audálio Dantas já era um jovem repórter na revista Cruzeiro, a primeira revista de reportagens do Brasil com circulação nacional. Tempos depois, eu já conseguia ler seus textos nas revistas que ficavam na casa de minha avó Tila, na beira do rio Uruguai. Lembro que eu gostava de ler deitada na frente da porta da rua, que dava para o rio. Lá fora, os balseiros passavam devagar e ali dentro da pequena casa de madeira escura eu me aventurava pelas letras, barriga no chão, cotovelos fincados e a cabeça nas nuvens. Aprendi da beleza do texto na Cruzeiro. E muito aprendi com Audálio, o qual segui por toda a vida. Um texto fantástico.

Essa semana ele encantou e eu fui buscar a primeira revista na qual vi um texto seu, fazendo uma parte da reportagem que contava de um famoso crime acontecido no Rio de Janeiro: o crime de Sacopã. O texto ainda não tinha todo o brilhantismo que iria adquirir mais tarde, mas já era denso e carregado de impressões. 

Foi ele também, como repórter, que descobriu os cadernos de Carolina de Jesus, ao fazer uma matéria na favela do Canindé. O trabalho da escritora virou o clássico "Quarto de Despejo".

Tive a graça de conhecê-lo. Fica a saudade, sem dor, porque ele é eterno. Valeu Audálio... 


Da desinformação, dos desejos e da história



A crise do desabastecimento por conta da greve dos caminhoneiros vai passando devagar, deixando marcas indeléveis. E as redes sociais seguem no interminável frisson de notícias falsas e de fabricação de realidades que vão se incorporando na mente de muita gente que não tem outra fonte de informação. E assim, a televisão – cujo comando está nas mãos de quatro famílias e uma igreja – e o facebook, vão moldando pensamentos e ações. Nessa ciranda, tanto as gentes da direita como as da esquerda vão gestando um caldo grosso de mentiras e desinformação. As redes viraram pântanos onde no mais das vezes só é possível se afogar.

Acordo cedo e espio as notícias, um hábito que tenho bem antes da existência das redes sociais. Vejo que os bloqueios dos caminhoneiros vão sendo levantados e o debate que encontro é de que venceram os empresários. Afinal, o governo acabou isentando impostos das empresas ao propor a redução do preço do diesel. Eles terão um bom respiro enquanto o restante da população sofrerá com mais um aumento na gasolina, que por sua vez provocará aumento no gás e em outras mercadorias. Ou seja: ganham os caminhoneiros a sua pauta específica e perdem todos os demais mortais. E a culpa é de quem? Dos caminhoneiros reacionários que pararam o Brasil por 10 dias com o apoio dos empresários e das “forças ocultas”. Também se divulga a exaustão que os caminhoneiros todos querem a volta do regime militar e vai se tecendo uma opinião sobre eles que não é das melhores.

Há que pensar sobre isso. 

As pessoas se movem por interesses e desejos. O preço do diesel está alto demais, assim como o da gasolina, do gás, da luz. Mas, quem se moveu foram os caminhoneiros, principalmente os autônomos, donos de um, dois ou três caminhões. Tinham uma pauta bem específica: baixar o preço do combustível para poder dar conta de pagar as contas. A eles se somaram, é claro, as transportadoras, afinal, não seriam bobas de ficar de fora de uma movimentação como essa. E espertamente foram negociar com o governo, procurando tirar suas vantagens. Na política não há vácuo. Tanto que chegaram a fechar dois acordos, não reconhecidos pela massa que fechava as estradas. Tiveram de aguentar as pontas e esperar até que a maioria que bloqueava as estradas fosse decidindo voltar ou fosse retirada pela força. 

E enquanto os caminhoneiros provocavam uma convulsão nacional os partidos políticos de esquerda, sindicatos, centrais sindicais, movimentos sociais, relutavam em apoiar, entendendo que não era uma greve, mas um locaute, ou seja, algo provocado pelos empresários. Acabou que o tempo revelou ser o movimento as duas coisas ao mesmo tempo, com todas as contradições. Ali estavam os empresários e ali estavam trabalhadores, contapropistas (por conta própria), mas trabalhadores. E por fim, em meio a luta pela queda do preço do diesel, viu-se de tudo. Desde pedidos de volta dos milicos até o Lula Livre. Ou seja: o movimento envolvia todas as frações ideológicas e partidárias, pois, como sempre foi nas greves de qualquer categoria, nem todo mundo que para e luta é de esquerda. Sempre se trava um longo debate quando se inclui pautas mais abrangentes na pauta específica e corporativa. Quem vive o mundo sindical sabe disso muito bem. É sempre uma disputa. No caso da greve dos caminhoneiros, como não havia uma direção específica e a categoria estava espalhada pelo país, as pautas assomaram sem controle. 

Creio que se deu demais importância para o conservadorismo. No geral, uma boa conversa, com argumentos claros, convencem aqueles que estão abertos para o diálogo. E não são poucos. Óbvio que há gente conservadora e reacionária por convicção. Mas, muita gente é por não ter informação. 

Nessa quarta-feira, em Florianópolis, as centrais chamaram um ato em defesa da Petrobras. Quase nenhuma menção aos caminhoneiros. A impressão que dá é que venceu a ideia de que são todos “pelegos reaças”. Mas, cá no meu cantinho, penso que poderia ser diferente. Uma ação sistemática junto aos piquetes, com conversas e muita, mas muita escutatória, poderia ajudar as lideranças sindicais e partidária a compreender o fenômeno. As coisas estão mudando no mundo da política já faz algum tempo, mas as práticas seguem sendo as de um passado que não cabe mais. Há coisas novas no ar, e não estamos sabendo lidar com isso. 

Fiquei pensando sobre as grandes batalhas populares que tivemos no Brasil e em Santa Catarina: Canudos e Contestado. Tanto numa como na outra o mote político abrangente que movia as gentes era a defesa da monarquia. Uma pauta reacionária para a época, visto que assomava a República. Fiquei curiosa para saber como as forças de esquerda se comportaram. Teriam apoiado os camponeses que perdiam suas terras para latifundiários gananciosos? Ou será que se deixaram levar pelo discurso de aquela era uma gente atrasada, que não entendia a importância da República, que estava atravancando o progresso? 

E porque os camponeses maltrapilhos apoiavam a monarquia? Porque ela os havia deixado lá nos seus cantos, com suas terrinhas. E, para eles, o “progresso” da República representava o desalojo, a perda do espaço da vida. Estavam errados? Queriam vida boa e bonita, e enquanto a monarquia não mexia com eles, acreditavam que podiam seguir buscando. Praticavam a consciência ingênua e, pela lógica, só podiam apoiar a monarquia. Óbvio.

Foi assim com os Mapuche – única etnia sul-americana que não foi conquistada pelos espanhóis e portugueses – que só caíram depois que houve a independência. Eles então eram contra as guerras de libertação da colônia porque na monarquia eram capazes de manter sua soberania. Foram vistos como traidores da causa independentista e massacrados pelos vencedores.

Essas são contradições que precisam ser pensadas. A história está aí para ensinar, mas ao que parece, nem mesmo o povo que vive dizendo para os reacionários estudarem história, tem feito o dever de casa. Tampouco estudam história. 

A luta de classes é um espaço de contradição. E a consciência de classe não brota só do desejo da gente. Ela exige trabalho e construção. Ela exige estudo, autocrítica, novos estudos. Ela exige a delicadeza da escutatória. Ouvir o outro em profundidade. Compreender o que move os desejos das gentes. Não é coisa fácil. Mas, pode-se lograr. 

Temos visto as pautas neofascistas crescerem assustadoramente, muitas vezes impulsionadas por nós mesmos, na louca ilusão de que praticando julgamentos morais sobre as decisões dos outros poderemos mudar as coisas. 

Penso que a história nos ajuda a compreender. Revisá-la, escutá-la no mais profundo, pode fazer com que mudemos o rumo das coisas. E, para isso, precisamos de ferramentas como os partidos, os sindicatos e os movimentos. Mas, entendendo que mesmo ali há que haver mudanças para o tempo novo. Vinhos novos exigem odres novos. 

É tempo de estudar...  

terça-feira, 29 de maio de 2018

O Brasil, os caminhoneiros e a política



Quando em 2013 a direita foi às ruas houve uma surpresa geral. Havia muito tempo que esse campo não travava batalhas no campo aberto. Sua tática, desde o golpe de 1964, era a das salas acarpetadas, dos acordinhos espúrios, da pressão via dinheiro. Mas, tampouco o país tivera na direção alguém identificado  com os trabalhadores. Lula e depois Dilma vinham de um partido de trabalhadores e ainda que seguissem a cartilha liberal, o nome “trabalhadores” na sigla que os representava parecia perigoso demais. O período de vacas gordas na economia passara e a realidade de país dependente assomava outra vez. À classe dominante já não interessava mais o PT no governo e ela decidia que queria de volta o poder político.

Naqueles dias de 2013 a faísca que se acendera com a batalha contra o aumento da tarifa de ônibus deu vazão a uma série de outras demandas. E, de repente, as ruas, que eram território da esquerda e dos trabalhadores, passaram a se vestir de um verde-amarelo reacionário, com a classe média e até algumas socialites realizando passeatas e manifestações. O grito de Fora PT começou a aparecer e no meio da luta pelo transporte público surgiu a pauta da PEC-37 que tomou conta do país, com as pessoas defendendo seu arquivamento sem sequer saber o que ela significava. E nas ruas travou-se a batalha contra os partidos políticos, os sindicatos e os movimentos sociais. Ali já se pronunciava a semente do que estaria por vir. O arquivamento da PEC 37 deixava o Ministério Público com poderes de investigação tal qual a polícia e a operação Lava-Jato que nasceria mais tarde mostraria o quanto servira aquele arquivamento.

Naqueles dias as forças de esquerda também ficaram em estado de perplexidade, mas resistiram e enfrentaram os raivosos verde-amarelinhos em todos os campos. E quando tudo acabou, acreditava-se que aquele episódio não se repetiria. Mas, não foi assim. O nascimento de uma série de movimentos de direita e sua ação nas redes sociais deu volume aos gritos de “fora PT” e a situação econômica foi abrindo brechas na sociedade que não queria mais perder o que pensava que havia conquistado: a segurança financeira. O segundo mandato de Dilma que começava com promessas de manutenção dos programas sociais e de vida boa para todos fez água e ela decidiu aplicar um ajuste que cortava na carne da maioria. Virou inimiga, e com razão. 

A operação Lava-Jato e o jogo das delações premiadas começaram a mostrar um quadro de corrupção dentro da Petrobras, a maior estatal brasileira. Políticos do PT foram caindo um a um, até que chegou à presidenta. Como um rastilho de pólvora a pauta do combate à corrupção foi se espalhando capilarmente, com o engajamento ferrenho das mídias comerciais. Dilma estava com a cabeça à prêmio e, de novo, as forças da direita conseguiram empurrar para as ruas milhões de pessoas pedindo o impedimento da presidenta. Não havia crime, não havia provas, mas havia um frisson alucinante que exigia a punição, a queda, o desaparecimento do PT. E Dilma foi derrubada por conta das pedaladas fiscais, coisa que todo governante praticava. Tanto que logo depois da assunção de Temer, as pedaladas foram legalizadas pelo Congresso.

Com Dilma fora do caminho, o vice, Temer, assumiu e a próxima jogada no tabuleiro da política brasileira era derrubar Lula, apagá-lo da história, tirá-lo de cena como um reles ladrão, capaz de vender-se por um apartamentinho furreca. E tudo foi feito conforme o script. Lula foi envolvido nos esquemas de corrupção e hoje está preso em Curitiba por conta de uma acusação que envolve o recebimento de um apartamento como propina.

Enquanto essa novela palaciana se desenrolava, os movimentos sociais, sindicatos e partidos políticos seguiam com suas mesmas velhas práticas, sem perceber que algo havia mudado radicalmente nas entranhas do país. As redes sociais, misturadas de forma capilar na vida das gentes, viraram tanques de guerra a disparar notícias falsas e a constituir um consenso generalizado sobre a esquerda brasileira. Qualquer luta de trabalhadores virava coisa de “comunista” e até mesmo o PT foi acusado como tal. “Minha bandeira jamais será vermelha”, gritavam os verde-amarelos, possuídos pela sanha anti-comunista. E as ruas iam se mesclando de gente que misturava esse ódio ao comunismo a própria perda de vantagens econômicas, visto que a economia ia se desmilinguindo, sempre contra a maioria. Com Temer no comando o país foi sendo entregue em todas as áreas: riquezas naturais, estatais, soberania.

Um campo dos trabalhadores abraçou a batalha pela defesa do Lula. E, em todo o processo, que foi da acusação até a prisão, a vida se desenrolou por ali. Mesmo depois da prisão, que já leva quase 50 dias, esse grupo seguiu atuando no sentido de batalhar pela liberdade do líder. As demais pautas ficaram em segundo plano e mesmo a Reforma Trabalhista, que tirou direitos fundamentais dos trabalhadores não encontrou combate. Poucas foram as ações contra a reforma e ela passou no Congresso sem maiores atropelos. As centrais outrora combativas chegaram a suspender greves gerais marcadas, desmobilizando e enfraquecendo a luta dos trabalhadores.

A direita, que vinha se reorganizando desde 2013, com a construção de novos mecanismos de batalha, não deixou que o vácuo na política demorasse. Atuou com competência e venceu a batalha das ideias, tendo nas mãos os meios de comunicação e as redes sociais. Assim, a luta contra os “comunistas” continuou ganhando fôlego e incitando muitos grupos a exigirem até a intervenção militar. Assim, enquanto o país ia sendo entregue e a economia despencava, ia se criando o caldo de descontentamento totalmente vinculado ao campo da esquerda. Tudo de ruim que Temer provocava era culpa do PT. E ainda que houvesse sim responsabilidades do PT, o negócio não era tão simples assim.

Na última semana um movimento de caminhoneiros contra o preço do diesel surpreendeu outra vez o campo da esquerda. Das entranhas do país, pelas estradas carcomidas e perigosas que constituem a malha rodoviária do gigante brasileiro, homens e mulheres decidiram parar a circulação das mercadorias. E tudo parou. Sem gasolina os carros ficaram nas garagens, a comida sumiu das prateleiras, o gás desapareceu. Houve correria e as pessoas começaram a estocar coisas. Nas estradas, os caminhoneiros exigiam a queda do preço do diesel e agregavam outras pautas, como a intervenção militar, de cunho reacionário.

Identificados com o grupo de “paneleiros” como ficaram conhecidas as pessoas que bateram panela pelo impedimento da presidenta Dilma, foram vistos com ódio e rancor pelas forças de esquerda, que demoraram dias para perceber que ali, naquele grupo heterogêneo expressava-se todo o tipo de vozes, inclusive as de “Lula Livre”. Mas, os empresários e políticos da direita logo se somaram ao movimento, apresentando-se como lideranças e apoiadores, deixando a esquerda de fora. Somente passados alguns dias começaram a aparecer as notas de apoio por parte de centrais, sindicatos e movimentos.

Nas redes sociais as páginas de notícias falsas seguem a todo vapor e reproduzem à exaustão a desinformação, dificultando ainda mais a compreensão sobre o que de fato acontece. Enquanto a esquerda busca, lentamente, potencializar o movimento com a chamada de “Fora Temer” os empresários tentam encerrar a paralisação que já causou grandes problemas na economia. Os caminhoneiros, animados com o apoio popular, agora não querem aceitar o acordo feito por cima, entre empresários e governo, e exigem mais do que a queda do preço do diesel. Querem que baixe a gasolina e o preço do gás, atendendo assim a maioria e não apenas a categoria. Isso provoca mais apoio ainda por parte da população que vive o arrocho provocado pelo ajuste.

Nas ruas é o sanatório geral. Há quem queria que caia o preço da gasolina, que venha a intervenção militar, os que são contra a democracia, os que pedem o Fora Parente (presidente da Petrobras), o que pedem foram Temer, eleições já. É uma algaravia. O governo agora endurece contra as entidades que assinaram o acordo, porque não há cumprimento, e ameaça cobrar multa das associações. Também exige que a Polícia Federal prenda os líderes das manifestações. É uma confusão generalizada. E, na semana mais quente do país, com tudo parado, o Congresso Nacional vota regras para eleição indireta em caso de vacância de presidente, o que aponta articulação já amarrada caso Temer despenque do poder. Não há vácuo, as peças se movem e têm comando certo.

Infelizmente para os trabalhadores, as entidades sindicais e populares ainda não conseguiram definir o que fazer no contexto do movimento dos caminhoneiros e diante do aprofundamento do descontentamento popular. Domesticados por tantos anos de governo petista, poucos são os que conseguem atuar com consequência. No geral, estão descolados das demandas populares e, enfrentados com elas, acabam sendo rechaçados pela população que não os reconhece como parceiros no diálogo. Resta o choro nas redes sociais e a ausência nas ruas. 

Nessa quarta-feira (30) começa a greve dos petroleiros que procurará debater a questão da Petrobras, do petróleo brasileiro, das refinarias e a política entreguista que vem sendo praticada pelo governo Temer. O caldo pode engrossar, ou não. Se os caminhoneiros levantarem a greve, os petroleiros ficam sozinhos e podem não ter o mesmo apoio popular, até porque suas fileiras não comportam pautas reacionárias como intervenção militar, por exemplo.

Esse é o cenário. A considerar como as forças caminham é provável que a greve dos caminhoneiros vá enfraquecendo e a vida volte ao “normal”, com os partidos políticos preocupados com os candidatos das próximas eleições. Em Curitiba segue o acampamento que saúda Lula todos os dias, sem qualquer chance de ver a sua mais importante liderança fora da prisão. Esse assunto inclusive sumiu da pauta nacional em função da paralisação dos caminhoneiros.

Mas, caso a greve nas estradas não terminar e os caminhoneiros se unirem ao movimento dos petroleiros, novos cenários poderão se abrir, com o aprofundamento da crise e a possibilidade de uma saída comandada pelos trabalhadores. Resta acompanhar.