Ele é um espoleta. Guri
ainda miúdo, que presta atenção em tudo, com olhos graúdos e coração alerta. No
meio dos cachorros e das galinhas, ele brinca de super-herói. Mascarado, pula
pelos troncos e pedras do quintal, salvando o mundo. Porque, afinal, são tantas
as maldades que precisam ser vencidas. Dia desses, numa das tantas praças do Uruguai,
abraçou-se a Artigas, porque o general dos povos livres parecia solitário.
Identifica-se com os perdidos da história e sonha viajar de Rivera até
Florianópolis num balão. Já tem até uma bússola para guiar seu voo de felicidade.
Faz perguntas difíceis e guarda as respostas como quem vigia um tesouro.
Outro dia, ouviu
atento as conversas da casa sobre a notícia de que a Câmara de Vereadores de
Porto Alegre havia votado e decidido que, a partir de agora, seria crime
participar de qualquer manifestação mascarado. Matutou, correu para lá e para
cá, seguiu sua vida. Hoje, ouvindo as notícias sobre o Carnaval no Brasil,
ficou, de novo, daquele jeito pensativo. Então, com sua carinha franzida e os
olhinhos apertados, perguntou, curioso e perplexo:
- Mãe, o carnaval é um
tipo de manifestação?
- Sim!
- E as pessoas vão
poder ir mascaradas?
Pois é, Simón
Ernesto.. quem pode entender todas essas contradições!!!
E ele, ainda matutando
as incongruências dos governantes, pegou seu uniforme de herói e saiu a
esgrimir os inimigos imaginários. Sabe deus que caraminholas andariam a pulular
na sua cabecinha de menino. Mas, estava de máscara, porque lá no Uruguai, elas
ainda podem ser usadas, seja no carnaval ou não.