quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Feliz despertar...

As celebrações de um novo começo na vida das gentes são tão antigas quanto a própria raça. Nas culturas mais remotas o “recomeço” era celebrado sempre no solstício ou equinócio de primavera (dependendo do hemisfério), quando tudo começa outra vez a florir. É que como o conceito de tempo ainda não havia sido aprisionado nos relógios a vida das comunidades se regia pelas estações. Naqueles dias, o povo se reunia em festivais, cantando, dançando e bebendo em honra da terra. As mulheres engravidavam e a vida florescia. Era a completude do ciclo da existência, sempre se repetindo.

De qualquer forma, na medida em que as culturas foram se complexificando, igualmente encontraram formas de medir o tempo. Os maias, por exemplo, lograram construir um intrincado calendário com 364 dias, e mais um outro, chamado de “dia fora do tempo”. Este, celebrado em 25 de julho, marca o início do novo ciclo. Já nas culturas do médio oriente, a festa era no equinócio de março, por conta da estação. A comunidade judaica comemora sua festa de Ano Novo, ou Rosh Hashaná, uma espécie de dia do julgamento, em meados de setembro ou no início de outubro, onde as pessoas fazem um balanço da vida. Os islâmicos celebram em maio, contando o tempo a partir do aniversário da saída do profeta Maomé de Meca para Medina, a Hégira, cujo marco corresponde ao 622 da era cristã.

Na China, o “recomeço” é celebrado em datas nem sempre fixas, mas entre final de janeiro e início de fevereiro. Lá, o calendário está relacionado ao movimento da lua e conta cada mês como o mês de um dos 12 animais que se apresentaram na frente de Buda e o ciclo da vida segue esta dinâmica, sempre começando na primavera.

O mundo ocidental também institui o seu “recomeço” a partir de um deus, que não é o cristão. Foi o imperador Julio César, no ano 46 antes de cristo, que determinou o primeiro de janeiro como o dia do início do ano, em homenagem a Jano, o cuidador dos portões. Depois, mais tarde, com a oficialização do calendário gregoriano, esta data permaneceu. Os franceses deram o toque romântico chamando-o de réveillon, que vem do verbo réveiller, cujo significado é "despertar".

E assim as gentes escolhem seus momentos de despertar, de balanço, de julgamento de suas vidas. Vemos que tudo depende da cultura onde se está inserido embora a idéia seja sempre a mesma: recomeçar, jogar fora o que foi ruim, esquecer, olvidar. Começar de novo, dar-se novas chances. E assim, vai avançando a raça, buscando aquilo que os filósofos gregos insitiram em chamar de “felicidade”. Pois eu, que reverencio a terra, os animais, as forças da natureza, que amo Jesus, Maomé e Buda, também vou comemorar. Que venha mais um ciclo, e que seja bom. Que floresça a vida, o amor e a paz. E que todos os povos possam vibrar na mesma onda cósmica. Eu te convido a dançar nesta bela noite de lua cheia, com os deuses e deusas, sob as estrelas. Para receber o ano novo, recomeçar... despertar! Ah, quanta bênção em se viver neste grande grande jardim!

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Mais-valia ideológica no ônibus


O pensador venezuelano Ludovico Silva desenvolveu um conceito perfeito para a televisão: mais-valia ideológica. Ele diz que o sistema capitalista, não satisfeito em sugar mais valia do trabalhador no seu local de trabalho, ainda suga a mais-valia ideológica quando ele pensa que está descansando diante de sua televisão. Na verdade, diz Ludovico, a pessoa diante da TV não está fruindo, curtindo ou descansando. Não! Está sendo inundada pelos apelos do sistema: compre isso, compre aquilo, siga as regras do natal, seja assim, vista aquilo. Prisioneira, então, da mais-valia ideológica.

Pois agora, a gente que vive sob o terror do transporte coletivo de Florianópolis, tampouco consegue se desconectar da mais-valia ideológica. Não bastasse todo o estresse de ficar nas insuportáveis filas que se formam ao longo do caminho nestes dias de verão de uma cidade turística que não tem estrutura, ainda temos de aturar uma espécie de televisão dentro do ônibus. Ali, enquanto as gentes bufam de calor e ódio, ficam passando propagandas: compre isso, compre aquilo, tal pré-vestibular é melhor. Vez em quando entra uma notícia sobre algum famoso e depois uma vídeocassetada. Um verdadeiro atentado à inteligência e à paciência. Pergunto-me, onde está o Ministério Público que não vê isso? Será possível que ninguém se importe que as pessoas sejam submetidas a esses abusos? O que pode fazer uma pessoa comum diante deste descalabro?

Ah, mas não é só isso não. Tem mais. Como o transporte é completamente desintegrado, a gente fica muito tempo sentado nos terminais de baldeação, esperando o terceiro ônibus que finalmente nos deixará em casa. E ali, por toda a parte estão as televisões com os quadros de horários. A gente fica olhando para ver quando vai sair o maldito ônibus e o quadro não vem. O que passam são propagandas, propagandas e propagandas. Infernal. Mas não é desrespeito não. É a mais-valia ideológica levada às últimas conseqüências.Uma verdadeira lavagem cerebral.

Outro dia vi uma informação de que em São Paulo já existem grupos contra isso. Bom,vou fazer a luta por aqui, mesmo o rebanho ache bom esse tipo de coisa. Odeio que me suguem a alma.


segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

SUS: um bom plano para quem não está doente


Insisto no SUS. Acredito nele. Sei que é um dos melhores planos do mundo, embora a maneira como vem sendo administrado possa colocar tudo a perder. Quando não se está doente serve muito bem. A gente vai ao posto de saúde, aguarda na fila, é certo. Mas, de um jeito ou outro se consegue a consulta para os exames de rotina e é possível fazer um bom acompanhamento da saúde. Os médicos de família são bons, as agentes visitam as casas, tudo certo.

Mas, a coisa estraga quando a gente fica doente. Como já não há mais diagnóstico sem exames, a pessoa corre o risco de morrer até que consiga um resultado. É o que passei neste final de ano infernal. De repente, me apareceu uma bola no pescoço. Pirei. Pronto, deve ser uma baita infecção. Fui ao posto. Médica olha, apalpa. Hum! Não parece grave. Vamos aguardar. Espera mais uma semana, aparecem outras bolas. Agora é a morte.

Estamos perto do natal. Febre, dor de cabeça, delírios. Não dá mais. Vou à Policlínica, na emergência. Médica olha. “Hum... Parece grave, mas tem que ir ao posto”. Toca a pegar outro ônibus, meio grogue, mas vamos lá. Chega ao posto, outra médica. “É pode ser toxo ou câncer no sangue. Mais pra toxo, mas vamos fazer um exame para confirmar. Enquanto isso, toma um antiinflamatório para aliviar a dor”. Lá vou eu marcar o exame. “Só depois do natal, tudo fecha amanhã”. Ah, tá!

Passa o natal e eu mergulhada na febre e na dor. Danação. Ir à emergência, nem pensar. Sem resultado de exame é perda de tempo. Passam os dias. Segunda-feira. Uff... Lá vou eu fazer o exame. “Moça, eu tô mal mesmo, será que dá para agilizar aí o resultado”. “Olha, é difícil, vem aí o ano novo, só lá pelo dia 4”. “Mas eu tô há três semanas me danando toda...” “É, mas não posso fazer nada. Só depois do dia 4”. E lá vou eu, outra vez, pegar o ônibus, meio aturdida. Uma semana mais de sofrimento. Entrando 2010 muuuuito bem. E assim é. Só no dia 4, isso se ainda houver vida para buscar o resultado. Enquanto isso, na UNIMED...

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Esperando o Natal



Eu sempre gostei de filmes de Jesus, desde pequena. A mim encanta esse homem que partilha, que caminha pelas estradas poeirentas, que ama o próximo e o distante. O que ampara a mulher adúltera, o que come com as prostitutas e os tribunos, o que está no mundo, mas não é do mundo. Gosto da sua violência contra os vendilhões e sempre me emociono demais com a absurda fé que ele tinha nas gentes. E, no filme de Zefirelli, a cena final sempre me faz chorar. É quando ele volta da morte, e está com os apóstolos. Alguém pergunta: e agora, para onde vais? Então ele olha para a câmera e como a fitar nossos próprios olhos diz: não tenham medo, eu sempre estarei com vocês! Acho isso de uma ternura abissal.

Nestes dias que antecedem o natal eu gosto de rever estes filmes. Até mesmo o de Mel Gibson, que escancara a tortura e a dor infligida a quem decidiu questionar a lei vigente. Penso que, de algum modo, em cada um dos diferentes “Jesus” que o cinema nos apresenta, há um pouco do homem que gostaríamos de ser. Esse que é capaz da mais radical doçura, que cura o doente, que ampara a alma em escombros. É por isso que o meu natal não tem Papai Noel, esse criado pela Coca-Cola em 1931. Não. Ele é repleto da busca desse Jesus que nos olha nos olhos e diz que sempre estará conosco.

Nestas noites de dezembro, confrontada com toda a fragilidade da vida, com a dor, a impotência, a solidão existencial, eu preparo com carinho o dia deste homem. Não vou esperar a meia-noite, como fazem todos, num ato ritual. Gosto de viver o dia, o 25, como se fosse mesmo um dia de aniversário. Vou fazer pudim e tomar pureza. Vou buscar a força em mim para domar o medo e deitar na sua rede, sem buscar entre os mortos aquele que vive.

Nietzsche dizia que só os fracos precisam de deuses, como muletas. Mas até ele se rendeu a idéia de que Jesus havia sido o único cristão. Nestes dias de desamparo, sim, quero assumir as muletas. Sou uma mulher que precisa de deuses. E espero Jesus, sem presentes, sem árvores luminosas, sem peru. Só com minha louca certeza de que os deuses são nossas redes. Nada podem. Apenas balançam, nos ninam e nos sussurram a frase necessária: Não tema, eu estou aqui!

Feliz Natal para todos!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Barca dos Livros é educação

O belissímo projeto Barca do Livros, que é levado na Lagoa da Conceição, com leituras de textos numa barca, pela lagoa afora, contação de histórias, debates e shows musicas vem há um tempo enfrentando problemas para se manter. O trabalho vai sendo feito no amor, por um pequeno grupo de pessoas que insiste em oferecer à comunidade a cultura que é negada pelo estado. Pois agora, o projeto foi vítima de declarações do Secretário de Educação de Florianópolis, no jornal da lagoa, que insite em dizer que cultura não é educação e que por isso a sua secretária não pode fazer nada para manter o trabalho. Talma Piacentini, que inclusive já foi secretária de educação da cidade, no governo de Edson Andrino, protestou:
Veja o vídeo:


Haiti e jornalismo


As Pobres e Nojentas tem um compromisso: trazer à luz o jornalismo que toma posição. Neste final de ano, ao encerrar o quarto ano da publicação, a revista chama para o lançamento da n. 20, com uma reflexão sobre a presença brasileira no Haiti, fazendo o sujo papel de capacho dos Estados Unidos. Então, neste dia 17 de dezembro, quinta-feira, a partir das 19 horas, na sede do Sinergia - Sindicato dos Eletricitários (Rua Lacerda Coutinho, 149. Centro - Florianópolis - Fone : (48) 3879-3011), te convidamos para mais este desconforto. Coisa difícil, sabemos, afinal é natal. Mas, por isso mesmo entendemos que ninguém pode ficar em paz sabendo que lá, numa ilha do Caribe, as gentes morrem e são violentadas por mãos brasileiras. No mínimo, precisamos saber...
Será cobrado R$ 5,00 no dia, mas confirme presença pelo e-mail revistapobresenojentas@gmail.com

Programação:
- Mostra do Vídeo Bleu et Rouge
- Lançamento da revista n. 20
- Coquetel - pão, patês e suco

Trailer Bleu et Rouge:

Sinopse:
Bleu et Rouge (azul e vermelho em francês: as cores da bandeira do Haiti) é um documentário sobre a cultura haitiana na comunidade Toberck, a 120 quilômetros da capital Porto Príncipe, do conflito e da presença militar brasileira. Tini, Bel, Cassandre, Daniel, John, Jhony, Lorry, Sephorah e Taïsha, com câmera e microfone na mão, entrevistam músicos, vuduístas, cozinheiros e jornalistas para mostrar às crianças brasileiras quem são. Ao exibir esses personagens culturais, os adolescentes se deparam com novas informações e com a hibridização de culturas de sua geração.

Direção e produção: Juliana Sakae
Orientação: Aglair Bernardo

Equipe:
Fotografia: Maurício Tussi
Assistência de Produção: Maria Fernanda Sakae
Produção (Haiti): Pierre Jentil
Trilha sonora: Dominique Messeroux
Identidade Visual: André Bathke Humeres (TCC em Design)
Pesquisa de Imagem: Pedro Santos
Legendagem: Murilo Bonfim

Idioma: Francês e Créole haitiano Legenda: Português brasileiro 2009 40’ documentário

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Um mundo maravilhoso


Patética cena. Na platéia, de mãos dadas, a realeza. Olhos sorridentes, expressão de gozo e aquela serenidade dos saciados. No púlpito, o arrogante soberano do mundo. Recebia o Nobel da Paz e falava da necessidade da guerra . Nada poderia parecer mais cínico. Justificando a postura imperial dos Estados Unidos, Barak Obama insistia na sagrada missão que este país tem de levar a democracia ao mundo, nem que seja sob o fogo grosso. A imposição da “liberdade liberal” a todo custo, com canhões e bombas.

Grotesca cena, assistida por milhões de pessoas no mundo. Os reis, feito cortesãos, aplaudindo o imperador. E este anunciava a decisão de enviar mais tropas ao Afeganistão, mais mortes, mais destruição, mais dizimação da cultura, da vida. E os lambe-botas, assentindo, extasiados, vendo o dono do mundo, no seu terno vistoso, cuspindo balas. “A guerra é fundamental para preservar a paz...” Que o digam os estadunidenses empobrecidos, os que perderam as casas na crise imobiliária, os que ficaram sem emprego por conta da quebradeira de empresas privadas “competitivas”, os que tiveram de ver seu governo investindo um trilhão de dólares para salvar os bancos, enquanto eles mesmos tem de viver em tendas, sem saúde adequada, sem esperança. Que o digam as gentes dos EUA que observam o Nobel da paz gastar dez bilhões de dólares ao ano com a guerra no Iraque, os que vem seus filhos chegar em caixões.

A guerra dos Estados Unidos não é uma missão confiada por deus para levar boa vida às gentes. A guerra é uma imposição do capital que precisa se expandir. Quando a produção é demais e não há quem compre, é necessário criar alguma destruição para que as empresas possam ter a quem vender. Assim, destruir um país parece ser um bom negócio. Não tem nada a ver com democracia, liberdade e outros destes conceitos bonitos que os cínicos usam para enganar os incautos. O capital lambe os beiços e vai se sustentando mais um pouco, construindo países que foram arrasados pelas bombas.

A teologia que move a sede de poder dos Estados Unidos não nasceu agora, não é exclusividade do jovem imperador. Ela vem de longe na história, e nós, na América Latina, já a sentimos na pele desde quando este país decidiu roubar as terras mexicanas no início do século XIX. Desde lá, as doutrinas de guerra vem assolando nossas vidas, com invasões armadas, invenção de governos ditatoriais fantoches, invasões culturais, invasões empresariais. Tudo isso em nome do “deus” dinheiro, tudo em nome do poder.

Ontem, na entrega do cínico Nobel da Paz, o jovem imperador escrachou a doutrina. Sem pejo. “Não há paz sem a guerra!” E os poderosos – defendeu com seu nariz empinado - tem o direito de impor sua vontade ao mundo. Porque tem os canhões. Michele, vestida como uma imperatriz, deu o toque familiar, limpando tal qual uma dona de casa típica, o fato do marido sob os holofotes. A Globo terminou aí sua matéria, com um riso de admiração no rosto de Bonner e Fátima, eles próprios um casal modelo. E, nas casas, as gentes sorriram. “Quão lindo é esse homem, e quê coragem em defender a guerra!” Enquanto isso, lá longe, no Oriente Médio, as bombas seguem caindo, assim como no Afeganistão, em Honduras, na Colômbia. Mas tudo bem, são só luzes. E é natal...

A razão cínica domina o mundo. Já não há disfarces. Mas eu acredito que uma hora dessas, as gentes acordarão e, decididas, dirão: Já basta! Ou isso, ou a barbárie
.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

“Escola das Américas”, dirigido por John Smilhula

A partir de entrevistas com diversas autoridades, o cineasta Smilhula revela o funcionamento do centro de treinamento, por onde passaram mais de 62 mil oficiais militares latino-americanos, entre os quais torturadores que violaram direitos humanos em países como Brasil, Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai. O filme conta a história desse centro de especialização de técnicas de tortura, desde sua criação no Panamá, em 1946, até a transferência, em 1977, para o Fort Benning, na Geórgia, onde recebeu a denominação de Instituto de Cooperação para a Segurança Hemisférica.

O documentário traz também comentários de Noam Chomsky, Eduardo Galeano, Michael Parenti e outros, sobre a política externa americana na América do Sul e América Latina, abordando a militarização, globalização, segurança nacional e o chamado terrorismo internacional. Apresenta depoimentos pessoais de vítimas da violência e da repressão na América Latina e levanta questões e preocupações referentes aos verdadeiros objetivos da política externa americana na América do Sul e Latina.

Co-produzido por Andrés Thomas Conteris que por mais de 25 anos viaja através das Américas do Sul e Central em luta pela proteção de Direitos Humanos na região e contra as estratégias americanas de desestabilização política da região. Em Janeiro de 2005, recebeu o prêmio de Direitos Humanos pelas organizações de Honduras pelo seu trabalho denunciando o envolvimento de oficiais e políticos americanos nos esquadrões da morte em Honduras.

Em 2007, Conteris compareceu a Reunião do Senado americano para protestar contra a confirmação de John Negroponte como vice-Secretário de Estado. John Negroponte era no referido período Vice-Secretário de Estado, o segundo no comando de Condoleezza Rice no Departamento de Estado ds EUA. Seu cargo anterior no governo Bush havia sido o de Diretor de Inteligência Americana.

A participação de Negroponte na América do Sul e Central está diretamente ligada as atividades dos esquadrões do chamado Projeto Condor, responsável pelo assassinato de centenas de participantes de movimentos de esquerda na região. Também ligado a Escola da Américas, onde são treinados paramilitares envolvidos na tortura e assassinato de dissidentes. Recentemente a Escola das Amíricas mudou seu nome para “The Western Hemisphere Institute for Security Cooperation”.
Contribuição de Telma Alencar (Canadá).

http://historiaemprojetos.blogspot.com/2009/02/documentario-escola-das-americas.html

domingo, 6 de dezembro de 2009

Não ao Emissário!

Comunidades do sul da ilha, articuladas no Movimento Saneamento Alternativo (MOSAL) se juntam para protestar contra a construção do emissário, um cano que jogará o esgoto da cidade no mar. A manifestação chamada de desconstru-ação, e criada pelo pessoal do Núcleo do Pântano do Sul, levou um emissário gigante para a praia e mostrou como será se isso for construído. A Casan segue com as obras, incapaz de ouvir o grito das gentes. Mas a luta segue!!!


sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Povo Xokleng diz a sua palavra

Reunidos em Florianópolis durante dois dias, 18 caciques das áreas Xokleng de Ibirama e José Boiteaux, falaram sobre sua história e discutiram seus problemas. Ninguém da grande imprensa compareceu. "A imprensa distorce tudo o que a gente diz e o povo branco não consegue nos enteder", denunciaram as lideranças. Mas, nós, da Pobres, lá estávamos e por aqui difundimos a voz originária.


quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Conheça a luta originária no Equador

Entrevista com Gonzalo Guzman - da Ecuarunari

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Árvore milionária e um Feliz Natal... pra quem?


Já vem chegando o Natal e, nas ruas da cidade, já se pode notar aquele agitar frenético das promoções, dos descontos e das liquidações. Tudo para alavancar as comprar e fazer o comércio aumentar o seu bolo de lucros. As gentes já circulam irrequietas, fazendo cálculos para gastar o décimo terceiro com alguma coisa que o desejo vem consumindo desde há meses e que, com a crise, não conseguiram comprar. Agora, quem sabe em 24 vezes... Há uma pressa louca em consumir, buscar presentes para amigos secretos, nem tão secretos, amores, filhos etc... E a nave capitalista vai, estraçalhando as finanças de gente que já ganha tão pouco. Mas, fazer o quê? A pedagogia da sedução metralha pela televisão todos os sonhos de consumo. Mais-valia ideológica sugando o sangue do povo.

Nestes dias, quase ninguém mais se lembra de que o natal é o dia sagrado do aniversário de Jesus, na crença cristã. Dia de oração, de momentos contemplativos. O Papai Noel só entrou na parada bem depois, em 1931, quando a Coca-Cola decidiu usar uma linda história de um bispo turco que distribuía presentes aos pobres nesta época do ano – São Nicolau – para aquecer as vendas. Colocaram nele uma roupa vermelha, as cores da empresa e difundiram a lenda do bom velhinho. Desde então, a figura do menininho Jesus começou a perder espaço diante da sanha pelos presentes.

A cidade de Florianópolis tem como tradição encher suas ruas de luzes no natal, assim como grande parte das cidades do mundo ocidental/cristão. O povo gosta, fica bonito. Mas as gentes se esquecem que isso custa dinheiro, e muito, um dinheiro que de algum lugar sai. É o caso da proposta da construção de uma árvore de natal gigante, de 60 metros, toda em alumínio, que será “oferecida” ao povo nas festas deste ano. O contrato está no Diário Oficial do Município do dia 16 de novembro. É uma árvore-palco que abrigará as festanças do dia de natal. A bichinha custará a bagatela de três milhões e setecentos mil reais. Uma dinheirama. A pergunta é: vale a pena isso aí?

Esta semana eu fui ao posto de saúde do Morro das Pedras marcar um dentista. A atendente disse: “não tem. Só no ano que vem, talvez... O contrato da dentista acabou e a prefeitura não contratou outro”. A moça da limpeza que trabalha na UFSC e mora na periferia também vai ter de passar o natal com o dente doendo. No posto de saúde aonde vai tampouco tem dentista. “E ainda vou ter de usar o meu décimo - terceiro pra fazer um ultrassom. Espero há um ano, mas a doença não”.

Bom, agora o povo de Florianópolis pelo menos sabe. Não há verba para contratar dentistas, mas há para fazer uma árvore natal gigante que será desmontada dias depois. Três milhões e setecentos mil garantiriam dentistas aos postos de saúde por anos seguidos. Mas não, é Natal. E há que dar circo ao povo. Aprenderam com os romanos que é assim que tem de ser para se manter no poder. Eu, cá na minha insignificância penso que temos de ter circo sim, mas também saúde e educação.

E todos os dias, as gentes ficam nas filas esperando vaga para aliviar a dor. Já naturalizaram a miséria, como outro dia na fila do posto. “Tinham de por um abrigo aqui pra gente não ficar no sol”, disse uma senhora, triste por estar mais de uma hora em pé, no tempo”. E eu a bufar: “Não tinha era que ter fila, minha querida. Isso é um direito da gente”. E ela, perplexa: “Mas... É mesmo!” E assim vamos...!


segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Um ano da tragédia em Blumenau


Em novembro de 2009 completou um ano da grande chuva que fez Blumenau derreter. Uma tragédia anunciada, visto que várias pesquisas e estudos de professores da FURB há muito denunciavam a fragilidade dos terrenos nas partes da cidade em que os morros desabaram. Mas, enfim, a desgraça baixou e mais de cinco mil pessoas ficaram sem suas casas, isso sem contar os que perderam sua vida. Boa parte destas pessoas acabou levada para abrigos e todas esperavam que suas vidas voltassem ao normal, afinal, não foi pequena a ajuda que as gentes brasileiras deram aos desabrigados de Blumenau. Mas, o que aconteceu foi bem diferente e um número muito grande de famílias ainda não tem um lar.

No dia 21 de novembro, um sábado, enquanto o prefeito da cidade, João Paulo Kleinubing, dava entrevista nos meios de comunicação de massa, falando da beleza da obra de reconstrução feita pela sua gestão, a cidade real se manifestava em frente à catedral, tentando mostrar para a população que passava apressada para as compras, que há uma verdade escondida e que não aparece no jornal.

Quem passa pela área dos pavilhões da PROEB vê como a prefeitura foi eficaz na limpeza e na reconstrução. Tudo está bonito. “Na verdade, a grande massa do dinheiro foi para os empresários, donos das cervejarias, para o atendimento aos turistas na Oktoberfest. As pessoas mesmo de Blumenau, as que sofreram com o desastre e não tem renda suficiente para recomeçar ou parentes ricos, estão ainda nos abrigos”, diz uma professora da Furb. “E tem mais, esse povo não vai na Oktober. Esta é uma festa para turistas”.

Uma artéria importantíssima da cidade como a Rua das Missões está há um ano com uma imensa cratera e tudo o que foi feito pela administração foi uma marcação com cones para que os carros não caiam no abismo. “A gente pobre segue como sempre foi. Abandonada”.

Na manifestação do Movimento dos Atingidos pelo Desastre participaram famílias desabrigadas de Blumenau, de Gaspar e Ilhota. E o que se pode notar é o desespero de não ver sua voz expressa com o mesmo destaque que a dos empresários e político. “Por favor, não esquece de falar aí na tua reportagem sobre o pessoal de Gaspar, a gente tá abandonado lá”, pedia um jovem pai, massacrado pela idéia de que nunca mais vai poder ter sua casinha de volta. “Era simples, mas era minha”.

Os representantes do MAD falaram da área de ocupação, em Blumenau, onde estão as famílias que se recusaram a ficar nos abrigos, uma vez que lá, sequer podiam se manifestar sem ser reprimidas pela vigilância da prefeitura. “Nós estamos ali na ocupação, todos os dias, resistindo, denunciando, ajudando as famílias desabrigadas, passando informações, organizando. A gente só pára este movimento quando a última casa for entregue ao último desabrigado”. Segundo os membros do MAD, restam ainda mais de 1500 pessoas sem casa e sem qualquer ajuda da prefeitura. Tudo é muito lento para os pobres. As prioridades são sempre para áreas mais visadas pelo turismo. Os abrigos provisórios vão se eternizando e as pessoas que lá vivem sequer podem fazer reuniões. São proibidas.

Os jornais que circulam em Blumenau como o Santa e o DC, ambos da RBS, deram destaque às obras de reconstrução da cidade, mostrando em infográficos tudo o que já foi refeito. Mas, como é natural em veículos que não praticam o jornalismo e sim a propaganda, as obras que aparecem como realizações da prefeitura são na sua maioria conclusões de obras já orçadas do governo federal. Tudo é computado como reconstrução do desastre, mas muito pouco do que está ali é coisa voltada para os desabrigados. Estes continuam tendo de se organizar coletivamente, com o apoio de sindicatos e alguns poucos políticos. Quem se atreve a andar pela Blumenau real imediatamente vê que o que dizem os jornais é só uma visão do poder. As famílias humildes que se concentraram em frente à catedral naquele sábado de chuva, com suas faixas e suas dores, precisam, além de lutar pelos seus direitos, enfrentar a terrível indiferença que já começa a se sentir por parte dos que voltaram à vida normal.

No geral, aqueles que conseguiram se reerguer seguem com suas vidas e, massacrados pela desinformação dos jornais, acreditam que os que ainda estão nos abrigos é porque não se esforçam o suficiente. Numa cidade onde o conceito de trabalho faz parte da vida como uma segunda pele, esta idéia de que os desabrigados precisam mais é trabalhar, fica visível no rosto dos passantes que, muitas vezes se recusam até de pegar um panfleto.

E assim segue a vida nesta cidade de festas de outubro, chope e bandinha. Mas, nas suas entranhas se move um povo que não pretende desistir. O desastre, com toda a sua dor, trouxe também o germe da luta para o vale. E isso já se espalha, lento, mas seguro!

Veja o vídeo do ato do dia 21. http://www.youtube.com/watch?v=mR-O1mrfgao

domingo, 22 de novembro de 2009

O futuro da espécie


Nestes dias em que as tormentas e os tufões fazem morada pelo nosso Estado tenho lido coisas que me fazem pensar. Primeiro são as que se remetem ao tempo mesmo. Parece até que estas desgraças causadas pelos ventos e chuvas são coisas que brotam do chão. Como se houvesse um deus vingador que, de repente, resolvesse jogar sobre a terra todas as maldições. Ora, as loucuras do tempo são obras humanas. É o domínio sobre a natureza, a destruição, o tal do progresso que não leva em conta o necessário equilíbrio que precisa haver entre as coisas vivas. E, é claro, a hegemônica ação de um sistema no qual para que um viva outro tenha de morrer.

O sistema capitalista que destruiu o feudalismo na Europa e depois se estendeu para o mundo todo tinha uma promessa bonita demais. Com o desenvolvimento das forças produtivas, com o progresso, a humanidade iria chegar a um tempo de fartura e saciedade como nunca tinha sonhado. E grande parte das pessoas entrou nessa onda. Pois bem, a promessa não se cumpriu. A fartura veio apenas para alguns e a multidão dos demais é o bagaço moído que possibilita a saciedade dos poucos. E, neste simulacro de beleza, estes poucos foram destruindo a vida mesma. Daí todas estas mudanças no planeta, resultado visível e “sentível” da sanha acumuladora.

Pois no meio destas tragédias ambientais uma coisa me chamou a atenção. Numa destas passagens de tufão, o Estado ficou dois dias sem luz. Os jornais, como sempre estúpidos e incapazes de narrar os contextos dos fatos, deram destaque ao fato de que a falta de energia deixou muitas famílias sem comida, uma vez que: “tudo que havia nos frízeres e congeladores tinha se estragado”. Fiquei a pensar. É da natureza do sistema capitalista a lógica da acumulação. Daí o uso do frízer ( escrevo assim mesmo, abrasileirado). A pessoa compra muito mais do que vai comer e acumula, acumula e acumula. “Tinha promoção”, “se não comprar agora fica mai caro depois”, estes são os argumentos que aparecem e são mesmo muito válidos. Mas, o que salta aos olhos é isso mesmo: acumulação.

Quando não se tinha geladeira a gente buscava a comida do dia. Nada de acumulações. As coisas eram frescas e saudáveis, e se não houvesse energia ninguém perdia suas provisões. Agora aí está. A natureza anda cobrando as contas. A ganância humana está botando o planeta a perder. Talvez fosse hora de as pessoas pensarem firmemente num outro modo de organizar a vida. Quando o mundo feudal estava em pleno vigor, ninguém imaginava que podia acabar e vir um outro tempo. Agora também é assim. As pessoas pensam que o capitalismo é inevitável, eterno. Bom, não é! E, ou a gente muda a vida, ou nossa raça se extingue. E essa decisão pertence a todos nós.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Sete pontos sobre o acórdão do STF e o jornalismo


Quando o mundo feudal europeu caiu, após mais de mil anos de existência, não foi por acaso. Esse processo foi fruto de uma profunda revolução levada pela classe burguesa em ascensão. Mais tarde, essa mesma classe trouxe à luz outros sistemas de organizar a vida – o mercantilismo e o capitalismo – que, com as invasões de território pós 1492, foram trazidos também para o que hoje chamamos de América Latina (ou Abya Yala), nosso espaço geográfico de existência. O capitalismo, depois de mais uma revolução tecnológica, nominada como revolução industrial, cresceu, ficou forte e passou por diversas crises, mas sempre sobrevivendo. Hoje, ele se expressa como imperialismo, que é o tempo em que a livre concorrência (proposta do capitalismo mercantilista) é substituída pelo monopólio.

Essa idéia de monopólio, que significa uma (ou pouquíssimas) empresa dominar as mais diversas faces de uma determinada produção, se expressa também no campo das idéias e a filosofia hegemônica passa a ser aquela que confirma essa fase do capitalismo. Não é à toa que no mundo do pensamento, o que apareça como dominante seja a idéia de que a expansão do sistema capitalista é uma coisa contra a qual não se possa lutar e, portanto, a única saída que temos é torná-lo um pouco mais humano. Mas, é da natureza do capitalismo não levar em conta o humano. Seu negócio é o lucro de alguns, e acima de tudo. Então, pensar em humanizar um sistema como esse é ingenuidade ou falta de capacidade crítica.

É dentro deste contexto de imperialismo que aparece a proposta de desregulamentação da profissão de jornalista. E isso pode ser percebido com absoluta clareza no acórdão do STF que julgou a questão, retirando a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão. Usando e abusando de sofismas, equívocos e inverdades, o acórdão nada mais faz do que consolidar a idéia de imperialismo, dando todo poder ao monopólio industrial da comunicação. A desregulamentação da profissão de jornalista é exatamente isso: uma expressão cabal do poder monopólico, cuja única função no mundo é superexplorar os trabalhadores e extrair o mais possível de lucro. Não está em questão, de nenhuma forma, a decantada liberdade de expressão.

Diz o ponto 5 do acórdão, uma pérola: “O jornalismo é uma profissão diferenciada por sua estreita vinculação ao pleno exercício das liberdades de expressão e de informação. O jornalismo é a própria manifestação e difusão do pensamento e da informação de forma contínua, profissional e remunerada. Os jornalistas são aquelas pessoas que se dedicam profissionalmente ao exercício pleno da liberdade de expressão. O jornalismo e a liberdade de expressão, portanto, são atividades que estão imbricadas por sua própria natureza e não podem ser pensadas e tratadas de forma separada”. Este foi um dos argumentos mais discutidos durante o processo e foi o que mais pesou na decisão. Inclusive na opinião pública que, levada a acreditar neste erro interpretativo pela mesma mídia que exigia o fim do diploma, apóia incondicionalmente a decisão do Supremo: “todos têm o direito de se expressar, por que só os jornalistas?”

Bem, há que desmontar esta farsa. Proponho sete pontos:

1 - Jornalismo não tem nada a ver com liberdade de expressão – Liberdade de expressão é o direito que qualquer pessoa no mundo tem de dizer a sua palavra, seja numa reunião, gritando numa praça, pichando um muro, desenhando, e também nos meios de comunicação, privados e principalmente os públicos. Digo isso, porque num veículo privado de comunicação, o dono dele pode muito bem dizer quem fala e quem não fala. Mas, na comunicação pública, esse direito tem de ser assegurado a todas as vozes.

Ora, a comunicação envolve várias formas de expressão na qual o jornalismo é uma parcela bem pequena. E mais, o jornalismo não é espaço de liberdade de expressão, ele é uma profissão que se dedica a narrar os fatos que acontecem num determinado espaço geográfico. Assim, ele é tão espaço de liberdade de expressão como é a medicina, a geografia, a arquitetura etc... Dizer que, por trabalhar com a informação, o jornalismo não pode ser pensado separadamente da liberdade de expressão é um equívoco inaceitável vindo de juristas, em tese, tão bem preparados. Ele não só pode ser pensado de forma separada, como deve ser, uma vez que jornalismo é profissão, portanto submetido a uma razão trabalhista.

2 - Obrigatoriedade do diploma não atrapalha liberdade de expressão – No ponto 6 do acórdão, o STF apresenta outra pérola e diz que “A exigência de diploma de curso superior para a prática do jornalismo – o qual, em sua essência, é o desenvolvimento profissional das liberdades de expressão e de informação – não está autorizada pela ordem constitucional, pois constitui uma restrição, um impedimento, uma verdadeira supressão do pleno, incondicionado e efetivo exercício da liberdade jornalística, expressamente proibido pelo art. 220, § 1º, da Constituição”.

Vejam vocês que os juristas aqui falam em “liberdade jornalística”. E o que é isso? Que conceito novo é esse? O diploma não fere a liberdade de expressão, mas a liberdade jornalística? Vamos explicar o que é isso. Pedimos ao leitor que faça um exercício de memória. Pense no último Jornal Nacional que assistiu, ou o Jornal da Band, ou da Record. O que lhe vem à cabeça quando pensa em “liberdade jornalística”?

Pois o que diz o ministro está corretíssimo se pensarmos no que produzem as empresas monopólicas de comunicação no Brasil. Nenhuma delas garante a liberdade de expressão. Onde estão os movimentos sociais em luta? Onde estão os negros? Os índios? Os homossexuais? As mulheres? As crianças? Quem, afinal, diz a sua palavra na televisão – que é um meio público? A “liberdade jornalística” da Globo, da Record e da Band é a “liberdade da empresa”, é o direito do monopólio se expressar, e mais ninguém. Quem define o que é notícia nestes veículos? Quais os interesses que se expressam na maioria das telas, nos rádios e nos jornais? Pense leitor!

3 - O que é, de fato, o jornalismo? - O jornalismo não é liberdade de expressão de todos os seres humanos. Ele é um fazer profissional que abre espaço para as vozes, num determinado veículo ou empresa. O jornalismo é narrativa das vidas que não se expressam sozinhas nestes ambientes. Um profissional faz a mediação entre as múltiplas vozes que participam de um fato e a população que não viu este fato. O jornalismo não impede a livre expressão das pessoas, tanto que mais de 60% do conteúdo de um jornal privado, por exemplo, é escrito por não jornalistas. O que as pessoas fazem nos blogs, páginas da internet, twitter etc... não precisa ser, em última instância, jornalismo, porque não está preocupado em oferecer as várias faces do fato.

O jornalismo é coisa perigosa. Por isso tem de ser restrito, calado, desregulamentado. Ele, quando praticado como tem de ser, desvenda o que se encobre por detrás dos fatos. Narrar uma notícia é, como ensina Adelmo Genro Filho, ser capaz de ao descrever um fato singular, levar o leitor a compreender a atmosfera totalizante na qual aquele fato se deu. Ou seja, se um latifúndio é ocupado por famílias de sem-terra, o que, de fato, levou a isso: a concentração da terra nas mãos de poucos, a improdutividade de extensões gigantes, o roubo, etc... O jornalismo existe para desvendar a universalidade, para provocar em quem lê, ouve ou escuta, a reflexão crítica.

4 – O que os donos das redes monopólicas querem não é jornalismo – Então, se jornalismo é isso que falei acima, o que se vê, ouve e lê neste país, é jornalismo? Não! O que aí está todos os dias nas telinhas monopólicas é um sistema bem urdido de propaganda, pois como já dizia o escritor George Orwell, os donos do poder temem a opinião pública bem informada. Então, eles usam a beleza de um direito como “liberdade de expressão” para, na verdade, defenderam a “sua” liberdade de expressão. E quando digo “sua”, digo a deles, unicamente. É por isso, que a “liberdade jornalística” destas empresas não contempla as vozes dos oprimidos, dos massacrados, dos pobres, dos feios, dos sujos, dos prescindidos. Estes só aparecem como vítimas, sempre recolhidos ao seu papel de gente subalterna, nos casos de incêndio, enchentes, etc... Ou como bandidos, relegados às crônicas policiais. O jornalismo das empresas monopólicas é só propaganda do sistema capitalista/imperialista, é indução ao preconceito, ao erro, é encobrimento. Esta é a “liberdade” que aparece muito bem defendida no acórdão do STF.

5 – Nenhuma ilusão com os donos do poder – É óbvio que os ministros do STF estão cumprindo com sua função. Eles são os que dão a última palavra na compreensão das leis do sistema no qual estamos mergulhados. Mas, é bom que se lembre, as leis não são coisas divinas, reveladas por um deus. Elas são criações humanas, produzidas em espaços legislativos nos quais “a ralé” não tem qualquer “liberdade de expressão”. Os vereadores, deputados e senadores do mundo liberal burguês são eleitos pelo voto, sim, é certo. Mas, este voto não é, no mais das vezes, fruto da liberdade e da visão crítica de pessoas autônomas. No mundo dominado pelo sistema capitalista/imperialista, o que vale são os interesses dos que dominam. Estes são os que articulam e colocam nos espaços legislativos aqueles que os representam, usando os recursos mais sórdidos de compra de votos e enganações típicas da sociedade colonial, que ainda sobrevive no imaginário e na prática. Então, a lei é expressão da “liberdade” dos dominantes. Logo, não há como ter ilusões.

6 – Todas as portas fechadas - O acórdão do STF não satisfeito em legislar sobre o fim da obrigatoriedade do diploma ainda estabelece mais um impedimento. Diz o ponto 7: “No campo da profissão de jornalista, não há espaço para a regulação estatal quanto às qualificações profissionais... {o que} leva à conclusão de que não pode o Estado criar uma ordem ou um conselho profissional (autarquia) para a fiscalização desse tipo de profissão. O exercício do poder de polícia do Estado é vedado nesse campo em que imperam as liberdades de expressão e de informação”. Com isso os ministros tentam impedir qualquer outro tipo de regulamentação da profissão, deixando a categoria totalmente entregue aos desejos dos patrões.

7 – Primeiro eles arrancam a flor no jardim do vizinho – E assim o poder dos monopólios desregulamentaram a profissão de jornalista, mentindo, escondendo, enganando. Mas, isso não lhes basta. O próprio ministro Gilmar Mendes deu entrevista dizendo: “... esta foi só a primeira. Se deverá criar um ´modelo de desregulamentação` das profissões que não exigem aporte científico e treinamento específico”. É, porque para os ministros do STF não é necessário que as pessoas estudem, aprendam, conheçam. As pessoas exercendo profissões desregulamentadas, sem qualquer amparo legal, podem ser melhor dominadas, exploradas, oprimidas. Hoje foi o jornalismo, amanhã, quem será? E o mais brutal é ver pessoas que atuam na profissão compactuar com essa medíocre decisão, acusando os jornalistas de impedirem a livre circulação das idéias. São apenas papagaios amestrados do sistema.

A regulamentação da profissão não coloca em risco a ação dos blogueiros, fazedores de página, comunicadores populares. Em hipótese alguma. Mas é importante que as pessoas se dêem conta que blogs, páginas pessoais e veículos populares não são empresas de comunicação, cujo objetivo é o lucro. Logo, não estão, de maneira alguma, submetidos à razão do mercado capitalista. Quando defendemos a profissão estamos deixando bem claro que é a que se expressa no mercado capitalista, na qual o sujeito está completamente a mercê das “liberdades jornalísticas” dos patrões.

Então, é como no poema. Hoje pisaram no nosso jardim. Amanhã será o seu. E aí?

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Notícias da América Latina

Se você tu queres saber o que rola na América Latina, o melhor lugar é no sítio do IELA. Ali vais encontrar artigos, análises, reportagens, notícias. Um outro olhar, diferente da mídia entreguista e cortesã. Faça um clic e fique por dentro das coisas de Abya Yala.
www.iela.ufsc.br

Consciência de classe



Florianópolis tem suas delícias, mas também abismos. Um deles é o transporte coletivo. Incrível como os políticos de plantão conseguem piorá-lo, quando se pensa que isso seria impossível. Pois agora inventaram de cortar horários. E os argumentos? Ah, os argumentos... São singelos: existem horários em que há menos gente circulando, logo há que ter menos ônibus. Lição de lógica. Assim, diminuem-se ainda mais os custos para os empresários, porque afinal, eles sofrem muito para manter suas frotas.

Bueno, mas se a lógica do serviço público é essa – e temos de lembrar sempre que o transporte coletivo é um serviço público – então teríamos de aplicá-la em todos os níveis. Assim, a partir de agora, os estados deveriam cortar a água nas residências no horário das 15 às 18h. É que nestas horas tem pouca gente usando água. E também deveriam cortar a luz entre 10 e 17h, pois parece que aí também tem menos gente usando a energia elétrica. E assim por diante...

O mais incrível destas decisões esdrúxulas da prefeitura de Floripa é que elas não provocam rebelião. Engraçado que outro dia, quando os motoristas de ônibus paralisaram algumas horas para reivindicar a permanência de seus colegas cobradores no emprego, teve gente que, indignada com os trabalhadores, chegou a destruir catracas no terminal. Gente tomada de ódio pelos motoristas, “esse povo irresponsável”.

Mas, contra o empresariado e os políticos que nos deixam horas e horas mofando nos terminais nestes dias de calor infernal, ninguém diz nada. Ninguém quebra catraca ou incendeia ônibus. Bom, parece mais fácil explodir contra os iguais. Outro dia peguei um ônibus, destes que não têm janela – o que é um atentado à vida. E o ar não funcionava. Tirando eu e outra mulher que bradávamos, ninguém dizia um ai. E fomos todos sufocando até o Rio Tavares. Eu havia conclamado o povo para ir falar com o fiscal, mas quando o ônibus parou, saíram todos correndo. Só eu fui pedir ao fiscal que não deixasse sair o ônibus, pois estava sem ar. Uma voz solitária e inútil.

Ele mentiu. Disse que ia tirar de circulação. Eu entrei no ônibus do Castanheira e quando vi lá estava o ônibus, indo para o ponto do Rio Tavares direto. Sai correndo, mas não deu tempo de impedir. As pessoas ficaram rindo de mim. Eu perdi meu ônibus e tive de esperar mais 30 minutos pelo outro. E as gentes de cabeça baixa, fingindo não perceber que aquilo que devia ser um direito lhes é negado todos os dias. Eu me indigno, mas não desisto. Um dia, quem sabe, os trabalhadores entendem o que é consciência de classe, que é essa coisa de saber o lugar que ocupamos no mundo.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Viva Sandino! Sandino vive!

Vídeo conta um pouco da saga de sandino, na Nicarágua.

domingo, 8 de novembro de 2009

Jornalismo nas margens

Já está disponível o pdf com o meu livro, editado em 2004, e que se encontra esgotado. É o Jornalismo nas Margens: uma reflexão sobre comunicação na comunidades empobrecidas. A reprodução é livre, pedindo-se apenas o devido crédito.

http://www.iela.ufsc.br/?page=noticias_visualizacao&id=1133

A História e a luta do povo Mapuche

Vivendo no sul do Chile, o povo mapuche enfrenta a discriminação, a prisão, a morte e os desaparecimentos. Nunca vencidos pelos espanhóis eles exigem do governo chileno o reconhecimento de sua autonomia. Leia reportagem na íntegra no enlace do jornal Brasil de Fato:

http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/analise/o-povo-mapuche-segue-em-luta

terça-feira, 3 de novembro de 2009

No meio do mundo

Um pé no hemisfério norte, outro no sul. A metade do mundo no Equador!

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Lentamente, ao sol!



Finalmente o sol. Queimando, esquentando, ardendo. Saio de um lugar ruim, cabeça fervendo. Caminho a esmo pelo centro de Florianópolis, olhando as pessoas e pensando na fragilidade da vida. Tão pouco tempo temos neste planeta azul. O tempo da gente comparado ao tempo histórico da raça é um grão de areia. Vou repassando nossa insignificância individual, enquanto percebo nas caras que passam por mim a urgência dos tempos modernos. Toda a gente tem pressa demais. Eu também, tal qual o coelho da terra encantada de Alice. “Não tenho tempo... não tenho tempo”. E o tempo, como já falou Einstein é tão relativo. Tempo do relógio? Tempo da natureza? Tempo biológico? Qual deles vamos seguir?...

Naquela tarde de quinta-feira meu tempo era o interior. Misteriosamente estava lento. Lembrei de Milton Santos, o nosso grande geógrafo, que dizia: “O futuro será dos homens lentos”. Ele era um mestre, deveria estar com a razão. Talvez seja mesmo hora de diminuir o ritmo, fazer como no poema... “Se eu tivesse que viver de novo tomaria mais banho de chuva, brincaria com barquinhos de papel, daria mais risada, ficaria mais tempo com os amigos...” Ah estes pensares outonais!

O sol seguia sua órbita escaldante. Melhor mesmo era tomar um chope. Três horas da tarde, depois de um dia inteiro enfrentando aparelhos estranhos. Sim, eu tinha direito. “Querido, um chope bem gelado!” O líquido dourado caiu, redondo, e na minha frente seguia o frenesi das pessoas. O mercado fica bem na boca do terminal urbano, por onde passam mais de 200 mil almas por dia, em desvairada carreira, correndo atrás do tempo, que escapa, fugidio.

O dia escorria e eu ali, pensando no tempo. Então fui ao banheiro. E no mercado isso é algo surreal. Para se chegar lá é preciso pegar um elevador que nos leva ao primeiro andar. Não há escadas, portanto, sem escapatória. Entra-se, aperta-se o botão e o elevadorzinho de ferro vai subindo, numa assustadora lentidão. E ali, presa na gaiola branca, fica-se a mercê daquele arrastado subir. Perde-se totalmente o controle sobre o tempo. O controle é da máquina. Prisioneiros somos.

Então entendi. A vida é um presente, um momento único. Cada instante vivido nunca mais vai voltar. Por isso se faz necessária a lentidão. Sorver os segundos, saborear cada instante. O viver é sopro, já se apaga. Nesta tarde de verão atrasado, nada mais nos resta a não ser um aceno curto e a frase pagã; “querido, traz mais um!”...

sábado, 24 de outubro de 2009

Paisagem Especulada

Será no Pântano do Sul, neste domingo, a partir das 10 horas. Para discutir a especulação desenfreada da paisagem e da vida nesta ilha dos empresários, o povo vai realizar uma obra de arta efêmera, na areia da praia, para mostrar que está atento e ativo. Venha quem puder!! Contra a especulação imobiliária, contra a destruição da nossa cidade!

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Um ato de amor!


Há dias em que pertencer à espécie humana me envergonha profundamente. Vi, outra noite, o que aconteceu em Chapecó, quando um grupo de jovens trucidou um rapaz. Os garotos se aproximavam do outro, caído, e chutavam, golpeavam com um capacete e até com uma barra de ferro. E o cara, ali, indefeso e só. Penso em quanta solidão também não haveria dentro daqueles que feriam. Quanto ódio guardado, quanta gana de causar dano... Fico pensando se nós, como humanos, não estamos in-voluindo. Que tipo de gente gesta uma sociedade baseada no egoísmo, no individualismo, no consumismo? Que tipo de gente pode vingar de um sistema em que para que um viva outro tenha de morrer? E é aí que me envergonho. Não por conta do gesto isolado de um grupo de desesperados, mas por este ato coletivo de construir uma sociedade tão pouco solidária e amorosa.

Eu vivo com alguns bichos e eles me dão lições todos os dias. Esta semana foi assim. Achamos uma gatinha perdida no mato. Algum humano havia “jogado fora” o serzinho para que morresse sem incomodar. Resgatamos, acolhemos e trouxemos para casa. Ela miava feito doida e logo todos os bichos da casa estavam ao seu redor. Juanita cheirou e arreganhou os dentes, brava pela intrusão. Zumbi, Tupac e Zé Pequeno também não gostaram da presença. Mas Steve, o cachorro, apesar de ser de outra “espécie” logo tomou para si a tarefa de protegê-la, e, lambendo-a, ia empurrando os demais gatos, bravos, para longe.

Miudinha, a gata cabia inteira na palma da mão. Estava assustada, então tomou leitinho e foi dormir na cama dos humanos, para ficar mais protegida. No meio da noite, o susto. A gatinha sumira da cama. Procura aqui e ali e nada. Então, alguém pensou em olhar dentro da casa do Steve e lá estava ela, encolhidinha, dormindo aconchegada ao cachorro.

No dia seguinte, outra lição. Já familiarizados com o cheiro e o miadinho, os demais gato foram se chegando. Não arreganhavam mais os dentes e até arriscavam umas lambidas. Mas, no fim da tarde, quando o sol despencava na barra do céu, vi a cena que me enterneceu. Buscando a peito de uma mãe, a gatinha parecia perdida sobre o tapete. Então Tupac chegou de manso, deitou ao seu lado e puxou-a com a patinha. Aconchegou no peito e passou a lamber, devagar, como a dizer: “não tema mais. Estou aqui”. Agora nossa Sub Ramona está assim, protegida pelos seus novos irmãos. Quão simples é um ato de amor!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

As lutas populares o financiamento


Eu lembro quando era bem menina e fazíamos campanha para os chamados anticandidatos do MDB. Era a ditadura militar e tudo se fazia escondido. Ainda assim, num mutirão de poucas pessoas recolhia-se dinheiro e faziam-se os panfletos que eram empurrados por baixo das portas durante a madrugada. Depois, no final dos anos 70, quando se começou a construção da CUT e do PT, os lutadores sociais faziam a mesma coisa. Era uma romaria com o chapéu para gente ir a encontros, reuniões, para organizar o povo. Todo o financiamento da luta era feito pelos próprios trabalhadores, pela gente em movimento. Ninguém media esforço. Era brechó, venda de disco, de livro velho, de tudo o que se podia imaginar, e na solidariedade de classe, íamos construindo o sonho da anistia, da democracia, da libertação.

Naqueles dias, as coisas também eram feitas por nossas próprias mãos. As faixas de papel, a cola de farinha, as tintas malucas para as pichações nos muros. Jamais se pensaria em pagar alguém para produzir um panfleto. Tudo era artesanalmente produzido, com os talentos que arrebanhávamos nas fileiras da luta. E, na azáfama de fazer acontecer, se dava a mística da solidariedade, da partilha, da cooperação.

Hoje os tempos mudaram, os velhos militantes apaixonados assumiram postos de mando nos sindicatos, nas centrais, nos partidos e tudo perdeu a sua aura. Agora, para não se perder tempo, os materiais de divulgação e propaganda são feitos por assessores, as faixas são terceirizadas e parece que todo mundo fica paralisado quando não há dinheiro para fazer as coisas.

Outro dia, durante uma discussão sobre a Conferência Nacional de Comunicação, a qual acredito que não servirá para nada, a não ser respaldar os desejos dos grandes empresários da comunicação, sugeri que fizéssemos uma conferência paralela, assim, com as nossas regras e não com as que foram impostas pelos empresários. Foi interessante observar a reação dos lutadores. A idéia soou como um completo absurdo. “Como vamos trazer as pessoas do interior?” “Como vamos alugar um lugar para o encontro? E onde as pessoas vão dormir? E todos os custos, quem vai bancar?” Perguntas tolas, diante da grandiosidade da liberdade...

Então eu lembrei a todos daqueles dias em que nós movíamos o mundo sem grana dos sindicatos, sem ajuda das fundações estadunidenses, sem grana do governo. Nós construímos partidos, centrais, mudanças importantes. Nós fizemos coisas demais com o financiamento dos próprios trabalhadores, com gente dormindo na nossa cama, comendo nossa comida, dividindo as parcas economias. Mas, naqueles dias, nós éramos movidos por uma paixão infinda, um desejo abissal de mudar o mundo e nossa pobreza jamais foi obstáculo para nada.

Hoje vejo alguns lutadores com ares de saciedade, descansando nos aparelhos, aceitando dinheiro das fundações estrangeiras, esperando migalhas do governo e, por conta disso, se rendendo às regras impostas pelos patrões.

Eu repilo isso. Tenho nojo e ódio. Quero de volta a luta renhida, feita por nós mesmos, financiada por nós mesmos, na solidariedade, no amor. Quando ninguém nos impunha pautas e ninguém nos infligia regras. Éramos livres! Pois quero outra vez essa liberdade... Ou nada!

domingo, 11 de outubro de 2009

Viva o dia da resistência originária!


É outubro na pequena ilha de Santa Catarina, um outubro friorento, nunca visto. Diferente, com certeza, daquele outubro de 1492, quando Cristóvão Colombo aportou em Santo Domingo, julgando ter chegado às Índias. Na manhã daquele dia 12 um pequeno grupo da etnia Taino observou a grande nau e preparou-se para o encontro. Na praia, eles esperaram, sem maldade. Pouco depois desciam os espanhóis e nunca mais a vida seria a mesma. Começava ali um processo de destruição que dura até hoje.

No rastro da invasão, povos inteiros foram dizimados, civilizações foram destruídas e milhões de almas aprisionadas. A conquista das terras novas, por espanhóis e portugueses, abriu caminho para a sangria das riquezas que, levadas para a Europa, propiciaram o florescimento do capitalismo, um jeito de organizar a vida tão predador quanto os tempos feudais.

As comunidades autóctones foram conquistadas por cavalos, canhões e homens de além mar. Mas, apesar da dominação, as gentes originárias nunca se renderam de verdade. Vencidas sim, mas não destruídas. Vez ou outra, ao longo destes 500 anos, levantaram-se os heróis da liberdade. Tupac Amaru, Tupac Catari, Sepé Tiarajú, Guaicaipuro, Daquilema Apu e tantos outros, abrindo caminhos que hoje seguem sendo trilhados.

Nestes primeiros anos do século XXI as culturas originárias estão vivendo um novo esplendor. Levantadas em luta elas buscam o reconhecimento de seus deuses, de seu jeito de viver. Querem ser reconhecidas como nacionalidades e recuperam seus verdadeiros nomes. Não mais índios, como se fossem uma coisa só. Não! São aymara, guarani, quíchua, shuar, bororo, caraíba, xavante, tamoio, uru, sioux, navajo, zapoteca, naso, embera, mapuche... e centenas de outros que voltam a dizer sua palavra viva.

Muito há para conquistar, muita luta por travar, mas a primeira delas é com os bem intencionados que dizem lutar pelos direitos dos originários, mas não lhes reconhecem o direito de ser quem são. É fato que grande parte das comunidades autóctones estão submetidas pela lógica do capital e, tal qual os empobrecidos de outras etnias são companheiros de classe: a dos oprimidos pelo sistema capitalista. Mas, de qualquer forma, para além desta condição de parceiros de classe, muitos dos originários que ainda vivem em comunidades estabelecidas por laços de parentesco tem sua especificidade étnica. Esquecer isso é não compreender que estes povos, mesmo tendo passado 500 anos, jamais se olvidaram de sua velha cultura, passada de pai para filho, no silêncio da resistência.

Não é sem razão que as comunidades autóctones tenham logrado conquistar o estado plurinacional na Bolívia e no Equador, garantindo assim a condição de seguir mantendo sua forma original de organizar a vida. Não como um retorno obtuso a um passado acrítico de tradições, mas dialeticamente uma volta acima, recuperando os conceitos que podem ser retomados e inventando novas formas de viver num mundo que já não é mais o mesmo de antes. Um jeito permeado de telúricas lembranças, sim, mas diferente.

Hoje, o movimento originário avança e não se submete mais a teorias alheias. Conquistou sua maturidade, construindo saberes próprios, desgarrados do eurocentrismo e da submissão. Lutam pelo seu território, pela sua cultura e seus deuses. Sabem que são parte de um sistema que depreda, que destrói, que esgota a natureza. Sabem ser também parte do mesmo exército de desvalidos que representam a periferia do capital. Mas, como nacionalidades, querem o direito de viver de acordo com suas próprias regras, atendendo ao chamado da terra-mãe.

É este novo movimento autóctone que dá o seu grito neste 12 de outubro. Não mais como um povo tutelado pelos estados-nação, mas como uma gente que conquistou a possibilidade de voltar a dizer seu nome e de gerir a própria existência. Hoje, neste 2009, nunca o dito de Tupac Catari foi tão verdadeiro. “Eu voltarei e serei milhões”. Pois assim é agora.

Viva a resistência dos povos de Abya Yala!
12 de outubro de 2009
Desde a terra dos Guarani - Meiembipe

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Caminhando pelo equador


A cidade de Quito é uma belezura. O chamado casco colonial parece sair das páginas de um livro. Não é à toa que foi tombado como patrimônio da humanidade. Tudo está muito bem conservado e a impressão que se tem é de que se está passeando pelas ruas de um longínquo 1800. As igrejas pulam em cada esquina, imensas, descomunais, expressão máxima da dominação. Toda a cultura originária está aplastada. O que assoma é a morada da aristocracia com seus solares, seus pátios internos, suas arcadas.

Muitas das casas hoje se transformaram em pequenos centros de compra e o contraste é inevitável. No meio da cultura colonial o que vende mesmo é o artesanato originário. Ou seja, o produto é a cultura autóctone, mas a arquitetura é a da dominação. Tudo acaba se integrando como o que de fato acontece nesta América mestiça. Nas ruas é a população indígena que aparece com mais vigor, imorrível, apesar de tantos anos de opressão. São originários os vendedores nas ruas, os pequenos comerciantes, a gente que caminha para lá e para cá, num afã febril.

Até mesmo antigos conventos passaram à condição de comércio e muitos chegam ao limite da heresia, o que parece estranho numa cidade tão católica. Contam que as dezenas de igrejas estão sempre lotadas nas missas, mas mesmo assim, fazem-se piadas com as coisas do sagrado. Uma delas diz respeito a um antigo monge, o padre Almeida, que costumava fugir do convento durante a noite para fazer cantorias com sua guitarra. Para sair pela alta janela ele tinha de escalar um crucifixo e pisar na cabeça de Cristo. Diz a lenda que um dia, quando o padre iniciava sua escalada para fora, ao pisar na testa cravejada de espinho de Jesus, ele teria suspirado e dito: Até quando, padre Almeida? E este, assustado, mas não persuadido de ficar no convento, teria respondido: Até a volta, senhor! Pois o lugar deste fato virou restaurante e ali está em destaque a figura do padre a fugir...

Ainda próximo a Praça Maior fica o solar de onde Manuela Saenz atirou uma coroa de flores para Simón Bolívar, quando este entrou na cidade, vitorioso. É uma casa imponente, toda rosa, cheia de janelas. Ali é ponto de peregrinação daqueles que sabem do que foi a força deste amor entre Manuela e Simón. No balcão parece bailar a paixão desesperante que levou aquela pequena mulher quitenha a se transformar na Cabaleresa del Sol, guerreira, indômita, senhora dos exércitos e libertadora do libertador. Seu nome ecoa pela cidade como um mantra e seu retrato está em todos os lugares. Ela, vulcânica, reina, deusa, na Quito das igrejas.

Também pelas estreitas ruas pode-se apreciar os “agachaditos”, que são as comidas callejeras. Tudo o que se vende por ali tem algo de milho, a cultura ancestral. Qualquer coisa é “agachadito”, pode ser uma fritura, um peixe, uma tortilla, uma sopa, um molho de galinha. Diz a lenda que o nome nasceu por conta do hábito de um antigo habitante que se fazia de dândi, metido a rico sem ter tostão. Ele andava pelas festas, vestido com roupas da moda, mas não tinha dinheiro para comer. Então, quando vinha a fome, ele buscava os vendedores de rua e comia seus quitutes. Para não ser visto pelos que o consideravam rico, ele se abaixava. Daí nasceu o “agachadito”. Coisas divinas feitas por mãos populares.

Toda a cidade de Quito pode ser admirada de cima do Panecillo, uma dos montes que cercam a cidade. Este, por ter o formato de um pão é assim chamado: pãozinho. Ao chegar lá em cima outra cena surpreendente desta cidade sem igual. Impávida, domina a paisagem a estátua descomunal de uma virgem, representando a cultura religiosa que é tremendamente opressiva por ali. O curioso é que para mostrar que também respeita a visão dos vencidos, a cidade decidiu colocar sob os pés da virgem imensa, um artefato originário, uma olla, que representa uma espécie de vaso cerimonial das culturas indígenas. Mas, basta uma olhadela para se verificar o quanto aquilo é só um gesto ritual. Enquanto a virgem recebe cuidados e atenção, tendo, inclusive, uma iluminação belíssima, capaz de ser vista de qualquer ponto da cidade, a olla se mantém na escuridão, escondida e abandonada, ruindo sob a ação do tempo.

Do Panecillo também se pode ter uma visão deslumbrante da cidade. Dali, é possível observar como se deu a Batalha de Pichincha, comandada pelo jovem general José Antônio Sucre, em 24 de maio de 1822. Em menor número - ao pé do grande vulcão que leva o nome de Pichincha - mas com uma estratégia genial, o mariscal logrou vencer as tropas realistas e libertar Quito do jugo espanhol. Em pé, no beiral disponível sob a virgem, chega-se a ouvir os gritos da batalha, tamanha é a magia que se desprende na noite quitenha, iluminada como se tivesse milhares de fogueirinhas.

Outro lugar cheio de energia é o mercado de artesanato no bairro de Mariscal. Ali se concentram mulheres e homens que tecem a beleza da cultura originária. Muitos deles vêm da região de Otavalos, onde estão os kichuas. Impossível não se embasbacar com a belezaa das mulheres originárias, com suas saias pretas, blusas bordadas e o indefectível hualca , colar de contas amarelas que representa a riqueza da cultura autóctone. “Isso nos faz ter sempre em conta aquilo que nos dá a vida, o sol, o milho, além de ressaltar a beleza da mulher”, dizem.

De resto, a cidade de Quito é cheias de outros escondidos encantos, como o mercado de Hipiales, onde se concentra o comércio popular. Ali, por entre as barracas, as gentes oferecem sacrifícios ao deus consumo. Isso sem contar os milhares de minúsculos bares e cafés que oferecem o tradicional “seco de chivo”, que parece ser a comida mais pedida por ali. É feita com carne de bode e me pareceu delicioso. Também tem as dezenas de praças, grandes, pequenas, de todo o tipo, onde as gentes descansam sob o sol andino. Nas fraldas dos vulcões se amontoam as casinhas da gente mais empobrecidas. Mas nada que se compare às favelas brasileiras. Talvez por causa do frio rigoroso, todas elas, mesmo as mais simples, são de material. Luis Gavillán, que trabalha como motorista, esclarece que com Rafael Correa as coisas estão melhorando. “Eu votei nele quatro vezes e não me arrependi”.

Outro ponto magnético é a pequena comunidade de Calacalí, a poucos quilômetros da capital. Ali, em meio a casinhas coloridas fica o exato lugar onde uma missão franco-espanhola, em 1736, mediu a metade do mundo, estabelecendo os equinócios e os solstícios. Um pequeno marco estabelece a linha e a pessoa pode ficar com um pé em cada hemisfério da terra. Não sei bem porque, mas algo nos atrai mais ao sul. Creio que é magia!

E assim é uma visão parcial desta cidade pulsante, cheia de contrastes e multicultural. Vigiada pelos vulcões que a circundam, por Sucre, por Manuela. Amada pelas gentes, espaço de disputas. Cidade/país em construção. E, por entre lutas, avanços e desacertos, os equatorianos seguem acreditando que por força de suas livres vontades, a vida vai ficar melhor. “Até hoje todos os presidentes desta república só nos roubaram. Agora, tem problemas, é fato, mas também há avanços incríveis. Nós vamos saber caminhar para um tempo melhor”, diz Luis. “E vamos conquistar outro tipo de desenvolvimento que não este, predador, do mundo neoliberal”, ensina Gonzalo Guzmán, líder indígena. O rosto altaneiro dos grandes caciques dos povos originários do Equador, que estão unidos em assembléia numa praça em frente ao teatro da Universidade Central, parecem concordar. Haverá de estar sendo gestado um novo Equador. Pluricultural, livre.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Homenagem ao Catatau

Hoje, no Projeto 12:30, que acontece todas as 4ªs feiras,na Concha Acústica/UFSC, será inaugurada a placa em homenagem ao Catatau (nosso eterno patudo).

Esta placa foi um esforço conjunto das três categorias da UFSC - alunos, técnico-administrativos e professores - e de simpáticos à causa, por meio da arrecadação com as vendas do material do Catatau (bótons e adesivos).

Com esta homenagem e adesões, nossa campanha torna-se mais acirrada contra o abandono no Campus da UFSC, controle populacional e preservação do bem estar daqueles que lá residem.

Assim, solicitamos a divulgação nos blogs, Grupos, Comunidades, etc, para que todos os amigos do Catatau se façam presentes.

Saudações,

Rogeria

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Mercedes




Assim a viu o grande Guayasamin, pintor equatoriano que mais que ninguém expressou a vida da nossa gente.

domingo, 4 de outubro de 2009

Duerme, negrita!

Por la mano de Vitor Jara: "Duerme, duerme, negrita, que tu mamà està en el campo, negrita"... Se foi "la negra", a mulher que nos anos setenta tanto me ensinou sobre "nuestra amèrica" e suas lutas... Com ela, ainda menina, entendi o Chile, a Argentina, as ditaduras e tantas coisas mais...

Mercedes encantou e è destes mortos que nunca morrem...

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Quito, a metade do mundo


È noite quando o avião começa sua descida na cidade de Quito, Equador. Da janela o viajante já pode notar o desenho de um lugar que a primeira vista parecer ser de sonho. As luzes aparecem em suas formas geométricas e formam figuras míticas. O aeroporto fica no meio de tudo e a impressão que se tem è de que o avião vai se arrastar por entre as casas. Mas, è de manha que vem a surpresa maior e as retinas brasileiras parecem não dar conta do que vêem. A cidade è cercada por vulcões e, de qualquer lugar onde se esteja ali estão eles a vigiar.

Pelas ruas a vida è puro fermento. Os professores estão em greve e fazem cortes de rua, os famosos “paros”. Querem mudanças na lei de educação superior que està em discussão no paìs. Também estão em movimento os indígenas, trabalhando igualmente para manter suas vontades na nova lei de águas. Ao todo são 14 novas leis apresentadas pelo executivo e a população vive as voltas com os debates e discussões. A nova Constituição assim o exige, tudo està para ser regulamentado. As coisas estão mudando no Equador e isso se pode sentir nas ruas. Hà um frisson e todos sabem o que està passando.

È certo que este não è um processo fácil. Não houve nenhuma revolução. As coisas precisam ser feitas sob a pressão de uma oposição dura. Então, tal e qual a Venezuela no inicio do século XXI, o Equador vive a luta de classes no seu cotidiano, e de maneira bastante acirrada. Entre um corte de ruas aqui e outro ali, a grande cidade de Quito e os demais recantos do Equador vão construindo seu presente com os olhos postos no futuro.

Em Quito também vigiam as mudanças os espìritos de Manuela Saenz, a grande mulher equatoriana, libertadora do libertador. E também Sucre, o mariscal apaixonado, artífice da libertação. Pelas ruas de pedra do centro histórico pode-se sentir que os desejos de liberdade que um dia afloraram nas guerras de independência, e ainda antes, nas revoltas indígenas, segue aprisionado. Hà muito por fazer, mas os equatorianos estão caminhando. Vulcânicos, apaixonados e seguros de que sò a vontade do povo unido pode mudar as coisas. Eu caminho por entre eles e aprendo!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Adelante companheiros!

A Rádio Globo Honduras foi fechada a força pelo exército hondurenho, mas pela força dos jornalistas tornou-se Rádio Clandestina e já reiniciou (com algumas dificuldades de audio) sua luta comunicacional.
Entrar pelo chat da rádio:
http://www.radioglobohonduras.com
Avante companheiros jornalistas, na luta contra o golpe.

domingo, 27 de setembro de 2009

Governo golpista decide fechar Rádio Globo e Canal 36

27.09.2009 – Em Honduras, recrudesce a violência do governo golpista contra os partidários da resistência. No sábado foi assassinado o sobrinho de Alejandro Villatoro, o dono da Rádio Globo, que tem sido incansável na divulgação de todas as manifestações do povo hondurenho. E neste domingo o governo liberou um decreto no qual determina o fechamento da Radio Globo, assim como do Canal 36, veículo que também tem se pautado por um jornalismo independente.

Não bastasse isso o governo golpista decidiu dar um ultimato ao presidente Luis Inácio para que retire Zelaya e também os brasileiros de dentro da embaixada. Segundo o chanceler golpista, como o Brasil não reconhece o governo de Micheletti, não há porque reconhecer a embaixada como um lugar neutro. “Estamos considerando um escritório privado”, ameaçou.

sábado, 26 de setembro de 2009

Jornalistas falam ao povo de Honduras

Veja o vídeo

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Solidariedade com o povo de Honduras

25.09.2009 - Por MIRIAM SANTINI DE ABREU - A Esquina Democrática, no centro de Florianópolis, transformou-se, por pouco mais de duas horas, em lugar de resistência e de combate pela liberdade. Sexta de luta em mais uma Primavera Quente, nome da série de atividades que o Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina realiza em setembro. Entre 11h30 e 14h, o SJSC organizou um ato com abaixo-assinado em solidariedade ao povo hondurenho, que está em luta para restabelecer o governo constitucional de Manuel Zelaya. Foram recolhidas mais de 200 assinaturas, que serão enviadas a Radio Globo de Honduras, à embaixada brasileira em Honduras e ao gabinete do governo golpista.

Quem passou pelo local leu os cartazes que explicavam o que está acontecendo em Honduras e conseguiu sair mais informado, uma vez que os grandes meios de comunicação mais deturpam a notícia do que repassam informes confiáveis. As pessoas que assinaram o manifesto ainda receberam um panfleto com uma breve história sobre Honduras e a luta pela liberdade.

O ato recebeu o apoio de várias entidades do movimento sindical e popular da Capital. Vieram o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), a Associação dos Docentes de Ensino Superior de SC, o pessoal do Sindicato do Judiciário Federal, dos Previdenciários, da Associação José Martí, do Portal Desacato, da Revista Pobres e Nojentas, jornalistas e estudantes de jornalismo, além de dirigentes do Sindicato dos Jornalistas. Todos se envolveram na distribuição de folhetos, na coleta de assinaturas e na conversa com a população.

A iniciativa do SJSC se deu diante dos fatos que se agravam em Honduras, com bloqueio de informações, retirada de sinal de rádios combativas, violência policial, assassinatos e desaparições, convoca todos os sindicatos e lutadores sociais para um ato em defesa do povo de Honduras, contra o cerceamento de informações, contra a violência e pelo retorno de Manuel Zelaya ao poder.

O ato mais uma vez teve o apoio estrutural do Sintrajusc, Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal no Estado de Santa Catarina, que forneceu o equipamento de som, mesa e cavaletes.
Leia abaixo o texto do abaixo-assinado:

Nosostros, periodistas y moradores de la ciudad de Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, firmamos esta petición en solidariedad al pueblo hondureño por su lucha para restablecer el gobierno constitucional de Manuela Zelaya. Repudiamos el golpe de Estado que tiene impuesto la violência, la censura a los medios, que asesina la gente en las calles, que apresa y desaparece militantes sociales. Exijimos que sean garantizados los derechos de la gente a libre manifestação, a la libre expresión, a la libre circulación. Hondura es una amada parte de nuestra Pátria Grande, y la vitória de la gente hondureña es la vitória de Nuestra América. Adelante pueblo. Fuera golpistas! Pátria o Muerte!

Ato por Honduras

Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina realiza hoje, na Esquina Democrática, das 11h30min às 14h, ato público em solidariedade ao povo hondurenho, com colheita de assinaturas.

FIRMA EN SOLIDARIEDAD CON EL PUEBLO DE HONDURAS, CONTRA EL GOLPE

Nosotros, periodistas y habitantes de la ciudad de Florianópolis, capital del Estado de Santa Catarina, Sur de Brasil, firmamos esta petición en solidaridad con el pueblo hondureño, por su lucha para restablecer el gobierno constitucional de José Manuel Zelaya Rosales. Repudiamos el golpe de Estado que ha impuesto la violencia, la censura a los medios de comunicación, que asesina a las personas en las calles, que detiene y desaparece a los militantes sociales. Exigimos que sean garantidos los derechos de la gente a la libre manifestación, a la libre expresión, a la libre circulación. Honduras es una amada parte de nuestra Patria Grande, y la victoria de la gente hondureña es la victoria de Nuestra América. Adelante pueblo. ¡Fuera golpistas! ¡Patria o Muerte!

Encaminado para Radio Globo de Honduras, Embajada de Brasil en Honduras y Gabinete del gobierno golpista.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Jornalismo de resistência


Nada é mais animador do que acompanhar a cobertura jornalística da Rádio Globo de Honduras nestes dias de golpe de estado. Primeiro porque a equipe chefiada por Don David Romero imediatamente tomou posição: contrária ao golpe. Claramente, sem vacilação. E depois, pela postura jornalística que esta mesma equipe tomou ao longo destes meses. Os jornalistas noticiam dia e noite tudo o que acontece no país. As mobilizações populares, as reuniões, os debates. Eles abrem o microfone para todas as vozes, mesmo as golpistas.

A rádio Globo e toda sua equipe está sendo nestes dias um ponto de apoio para toda a população. As pessoas confiam nos repórteres, ligam dos cantos mais remotos do país, passam informações, chamam seus companheiros para mobilizações. Usam a rádio como um espaço democrático e participativo de união e mobilização. E os jornalistas não se furtam a passar sua opinião sobre os atos dos golpistas.

Hoje, dia 22 de setembro, eram cinco horas da manhã quando o exército hondurenho chegou diante da embaixada brasileira e ali estavam os repórteres da Rádio Globo, relatando tudo. E mais, chamando o povo a sair de casa, a vir para a rua e se manifestar em apoio da legalidade constitucional, que é o retorno de Zelaya ao governo. Para quem vive num país onde a maioria dos jornalistas é cortesã do poder, este é um momento de pura emoção. Os jornalistas hondurenhos, pelo menos os da rádio Globo, estão do lado da maioria das gentes. Eles não ficam protegidos pelo exército golpista. Eles ficam no meio do povo, correndo os mesmos riscos.

Naquelas primeiras horas da manhã, as gentes que vivem longe da capital, congestionavam as linhas da rádio para passar informação. O país inteiro se expressa pelas ondas livres desta emissora que, apesar de privada e pertencer a um liberal, encontrou no seu corpo jornalístico o esteio onde amparar a realidade vista pelos olhos do povo.

Para nós, que somos informados pelo jornalismo entreguista e amorfo das grandes redes do Brasil, ouvir a Rádio Globo de Honduras é quase como sorver o néctar daquilo que devia ser o jornalismo em todos os lugares. Um fazer absolutamente encarnado na vida real, das maiorias, do povo. Um espaço de expressão de todas as vozes e não só de algumas. A equipe de jornalistas da Rádio Globo me enche de orgulho de ser o que sou: jornalista. Alguém comprometido e parcial. Porque não dá para ser neutro diante de um golpe ou diante da destruição da vida das gentes. Que vivam os jornalistas de Honduras, uma categoria que tem o amor e a confiança do povo. Coisa rara e por isso digna de nota.

www.radioglobohonduras.com.br

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O Paraguai inventado

21.09.2009 - O professor Mauro César Silveira, do Curso de Jornalismo da UFSC, foi o conferencista na primeira atividade do Núcleo de Estudos da História da América Latina, coordenado por Waldir Rampinelli. Ele trouxe as informações sobre o estudo que fez das charges publicadas em jornais brasileiros durante o episódio da Guerra contra o Paraguai, de 1864 a 1870. Este trabalho acabou virando livro, esgotou, e agora deve ser reeditado pela editora da UFSC em 2010.

Mauro tem formação em jornalismo, mas fez mestrado e doutorado em História, porque entende que o jornalismo só pode expressar seu compromisso social se tiver perspectiva histórica. E a opção pela busca do desvelamento da idéia-imagem do Paraguai durante o período da guerra contra aquele país surgiu justamente para observar como o jornalismo considerado mais crítico da época desenhou o conflito. “Eu sempre acreditei que o jornalismo tem como papel central quebrar estereótipos, eliminar os preconceitos e esperava encontrar isso nas charges, porque sempre foi do humor, da caricatura, essa coisa de questionar o poder”.

Mas, ao pesquisar nas folhas satíricas mais importantes da corte Mauro ficou surpreso ao perceber que todas elas, mesmo as mais críticas, tinham a mesma idéia preconceituosa do Paraguai. E mais, ao logo da pesquisa, ele constatou que a maior tragédia do continente latino-americano, que massacrou um povo inteiro, tinha sido apresentada como a saga de um “sanguinário e cruel” dirigente: Francisco Solano Lopes. Isso sem contar no desrespeitoso e preconceituoso tratamento dado ao fato de que a maioria dos paraguaios era indígena.

Mauro levantou 591 imagens que se referiam ao Paraguai, 202 delas especificamente relacionadas com a questão do conflito. E, em todas estas, a referência a Solano Lopes era a de um inimigo sádico e sanguinário. “Solano aparecia sempre associado ao demônio ou a uma ave de rapina, e os desenhos ainda apresentavam o castigo que ele devia merecer: a morte. Ou seja, o jornalismo estava totalmente submetido à visão oficial de que a guerra era uma cruzada civilizatória para libertar os paraguaios de um louco”. O professor destaca a importância deste tipo de trabalho para compreender como o jornalismo ainda hoje faz esse jogo de servidão ao poder instituído. Lembrou da invasão do Iraque, evento tão contemporâneo, que foi referendado pela mídia com a mesma lógica de mentiras.

O fato é que esta imagem construída durante a guerra contra o Paraguai - que é conhecida como um tremendo genocídio uma vez que dos um milhão e trezentos mil habitantes do Paraguai, restaram pouco mais de 200 mil no final do conflito – até hoje povoa o imaginário social, fazendo do país de Solano Lopes sempre um “lugar ruim”. Mauro lembra que até no esporte, um espaço do jornalismo que aparece como neutro politicamente, esta imagem do Paraguai é bastante reforçada. “Agora pouco se falava que os times pequenos que disputam o campeonato brasileiro são como cavalos paraguaios, ou seja, pensam grande e morrem no meio do caminho. Isso é uma alusão à Solano Lopes que, segundo a mídia da época, foi quem declarou guerra ao Brasil, sem se dar conta que lutava contra um gigante e por isso foi derrotado. Ora, nada mais mentiroso. A guerra começou porque o Brasil invadiu o Uruguai e servia aos interesses dos latifundiários gaúchos e do império inglês. Solano Lopes apenas se defendeu.

Mauro também mostrou uma reportagem bem atual da revista Veja em que ela mostra os dez países que mais fazem falsificações. Nesta lista não estava o Paraguai, mas o título da matéria era: Made in Paraguai. Isso só reafirma a idéia-imagem de um lugar onde reina a pobreza, a feiúra, a corrupção e a falsificação. Tudo herança daqueles dias da guerra. “Até o Almanaque Abril, na sua edição deste ano, divulga informações incorretas sobre o conflito. Diz que Solano declarou guerra contra o Brasil porque queria chegar ao mar. Não fala da invasão do Uruguai, não fala que o Brasil nem exército tinha, montou um com escravos e pobres. Ou seja, a guerra contra o Paraguai segue criando preconceitos e mentiras”.

O trabalho de Mauro Silveira é uma instigante reflexão sobre o caráter cortesão do jornalismo atual que, tal qual nos dias da guerra contra o Paraguai, nada mais é do que um modelo de propaganda como bem já apontou o teórico estadunidense Noam Chomski. Basta que se observe como trata a Venezuela, Hugo Chávez ou o aymara Evo Morales. Exceções há que só confirmam a regra.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O medo


É uma coisa assim, que chega no meio da madrugada, ou numa tarde de sol. A gente nunca sabe direito explicar. Vem e se instala. Paralisa, encaixota, prende. Alguns se deixam vencer, incapazes de sair da armadilha criada sabe-se lá como. Outros, debatem-se, agitam-se, e escapam. Não é coisa fácil porque, afinal, em cada esquina da vida ali está, a espreitar.

É a primeira espinha que deixa a carta torta, é o primeiro beijo que não se deu, é a nova escola, a cidade outra que não a mesma, outros amigos jamais feitos. É a timidez, é a insegurança, é o terror de abandonar as seguras margens onde sempre se esteve. O temor de dar o passo necessário, a ansiedade por não saber o que fazer.

O medo é essa coisa doida que desaloja, que desconforta, que dói. O medo é prisão da qual a alma se sente incapaz de sair. O medo vai sugando a alegria, o prazer, o sonho, a vida. O medo estanca todas as possibilidades. Ele é como um dragão, maior do que nós mesmos. Mas não é invencível. É só um balão inflado pelas nossas fantasias. Fruto da nossa incerteza. Tem remédio.

Dia desses, num encontro mágico, uma mulher quéchua me ensinou um encanto. Disse que quando ele viesse, voejando sobre mim, era para eu respeitar, porque o medo é só a outra face da coragem... “Há que rezar ao grande deus, Inti, e pedir que ele mande esta outra face. Depois, há que soprar, que o medo se transmuda em bravura. Mas tem que acreditar”. Desde então é assim! Quando o medo chega, eu sopro... E tudo fica como tem de ser.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Beleza!

Por Rubens Lopes

Esta noite "Tupã" fez ouvir sua voz de trovão. E o céu noturno, emocionado, derramou a "chuva das flores", como a gente chama lá em Minas. É a chuva que antecede a estação que recebe o mesmo nome dessa chuva, pré-anunciadora da beleza que tornar-se-á.

Como Guimarães Rosa notou, no caminho, as sementes encubadas pela poeira esperavam silenciosamente, até o momento em que a "chuva das flores" trouxesse a primavera que não tem fim... Assim acontece o milagre, e o que parecia sem vida apenas germinava.

Nesta manhã,extasiado,pude compreender o que o pai do Rubem Alves dizia ao contemplar a natureza depois da chuva: " Veja como estão agradecidas!". Com a natureza algo de nós tamém fica agradecido, e sentimos que melhoramos. Talvez seja esta a beleza das pequenas coisas que desfrutamos, alí onde se encontram as grandezas de Deus.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A pedagogia da beleza


solidariedade




Nunca é demais falar sobre 
o papel da classe média no Brasil. Equilibrando-se entre o sonho de virar elite e a realidade que a aproxima sempre mais dos empobrecidos, ela é cada dia mais vítima de uma coisa que é muito poderosa. Falo da pedagogia da beleza, empregada pelo sistema capitalista para ganhar as almas claudicantes. Pedagogia é uma palavra que tem sua origem na Grécia, paidós (criança) e agogé (condução), ou seja, aquilo que conduz a criança. E é esta condução de beleza que faz com que milhares de pessoas se deixem seduzir pelas promessas do capital. Como assim? Simples...

Basta a gente ligar a televisão, onde o sistema suga a mais-valia ideológica das pessoas. Ali, nos intervalos dos programas, se expressa, vitoriosa, essa pedagogia, essa condução das gentes pelos caminhos da beleza, coisa tão sedutora. Entre tantas, há uma propaganda da Monsanto - maior produtora de sementes transgênicas do mundo - que é um exemplo claro disso que estou falando. http://www.youtube.com/watch?v=7y4EnsSW814

O vídeo abre com a música “mundo maravilhoso” de Louis Armstrog. E as imagens vão mostrando a vida nos seus instantes mais belos. E uma voz absolutamente sedutora diz: ‘imagine um mundo que preserve a natureza, o ar, os rios. Onde se possa produzir mais, com menos agrotóxico, sem desmatar as florestas.. e os transgênicos podem ajudar a gente nisso...Você já pensou num mundo melhor? Você pensa como a Monsanto!” O comercial dura um minuto, é é uma das coisas mais lindas do mundo. A gente fica emocionado. Impossível alguém ser contra o que o comercial diz. Isso é a pedagogia da beleza! O sistema oferece um discurso tão belo, imagens tão fabulosas, que as pessoas vão acreditando que é assim mesmo. Como ser contra quem quer um mundo melhor?

No meio desta pedagogia da beleza, o que fazem os sindicatos, os movimentos, os lutadores sociais? Eles aparecem sempre como os arautos da desgraça. Estão sempre prevendo catástrofes, anunciando maldições. As pessoas odeiam isso. Outro dia um amigo me disse, num ato pela Palestina. “Ninguém quer ver gente morta!” É, a verdade desconforta, desaloja. E a verdade não é coisa bonita de se ver às vezes. Mas às vezes é! Então, para mostrar essa verdade a gente também tem de usar a pedagogia da beleza.

Por isso creio que temos de anunciar também a boa nova. Mostrar para as gentes que o mundo com o qual sonhamos pode ser belo. Desvelar a verdade escondida na farsa dos donos do mundo que querem fazer crer que aquilo que é bom para eles - um minoria – pode ser aceito como verdade universal. Colocar isso a nu, mas também anunciar a beleza que pode ser o mundo pelo qual ansiamos, com justiça, vida digna e riquezas repartidas.

E como se faz isso? Ah.. O mundo está cheio de exemplos. Cooperação, solidariedade, partilha. Nos acampamentos do MST, em comunidades organizadas, nos bairros palestinos, nas lutas de libertação. Existem lindas histórias para serem contadas. A verdade da beleza que o modo de viver socialista inspira naqueles que acreditam que o mundo pode ser diferente, e caminham para isso. O sistema capitalista só usa a beleza como engano. Mas, aqueles que são profetas, vivendo hoje o que sonham para todos amanhã, estes não tem como enganar, porque expõe ao outro o exemplo.

Historicamente a classe média, na hora de escolher, quase sempre escolhe o lado dos poderosos. São vítimas dessa pedagogia enganosa da beleza, que brota na TV, nos jornais, na escola, em todos os lugares. Acreditam nisso. Mas, se a gente mostrar a beleza do nosso mundo, pode acontecer como no poema de Quintana, quando o menino espicha o pescoço para ver se vê a calcinha da equilibrista dizendo: Quem sabe, titio? Quem sabe?... Assim, nós...


terça-feira, 1 de setembro de 2009

Eleições em Honduras


O governo golpista de Honduras está dizendo ao mundo que o país “volta à tranqüilidade” uma vez que já estão convocadas as eleições presidenciais para 29 de novembro e se inicia a campanha política. Mas, para as gentes que lutam pela volta do presidente Manuel Zelaya, este processo chamado pelo governo golpista não tem o menor respaldo e tampouco garante a volta da “paz” ao país. Um dos dirigentes da resistência, Rafael Alegría, confirma que o povo em rebelião não aceita a idéia de eleições sem a volta de Zelaya ao seu posto de presidente. “Não vamos aceitar nenhuma imposição dos golpistas. O povo não vai participar desta farsa”. Também alguns partidos de esquerda se recusam a participar do processo. Em Honduras, dizem, assim como aconteceu em muitos outros países da América Latina, é o próprio sistema político que está em questão. Essa democracia de votar a cada quatro anos em candidatos com velhas práticas está morta. Há que surgir novas práxis.

Por outro lado, há lutadores sociais que insistem não ser a abstenção às urnas a melhor solução para o conflito. Acreditam que a população poderia dar um sonoro não ao governo golpista e colocar no poder gente capaz de tirar o país da lama onde está. Mas, sem a participação de candidatos mais ligados às causas populares, como garantir isso?

Para os partidos políticos que legalmente disputarão as eleições de 29 de novembro se apresentam novos desafios. Já não bastarão as mesmas promessas de sempre, pois a população deu um salto de qualidade nestes dias de resistência e mesmo aqueles que decidirem participar do pleito estarão de alguma forma já impregnados do novo clima político que se inaugurou com o golpe.

Disputarão as eleições cinco partidos formalmente constituídos. A coalizão “Compromisso por Honduras”, traz, na disputa para deputados, nomes conhecidos que sempre estiveram na luta por uma Honduras melhor, tais como Matías Funes, Efraín Díaz Arrivillaga e Enrique Aguilar Paz e tem como candidato à presidência Bernard Martínez do Partido da Inovação e Unidade Social-Democracia.

A Democracia Cristã tem à cabeça a candidatura de um líder sindical também muito conhecido, Felicito Ávila, e este tem se proposto a caminhar pelo país, ouvindo os eleitores no cara-a-cara, marcando uma prática diferenciada.

O Partido Liberal apresentou a candidatura de Elvín Santos e o Partido Nacional a de Porfírio Lobo, mas como estes são os partidos tradicionais de Honduras, que representam visceralmente a situação golpista que hoje se instaura, é bem provável que tenham de trabalhar bem mais do que com suas velhas práticas assistenciais ou abuso de poder econômico. Há uma nova Honduras aí.

O favorito das eleições, e no qual parte da esquerda está colocando peso é o candidato independente Carlos Reyes, destacado líder popular e sindical que, inclusive, aparece palatável às elites locais. Ele é o primeiro candidato independente da história de Honduras nos últimos 28 anos e participou ativamente das manifestações pró volta de Zelaya coordenando uma Frente Nacional contra o golpe.

Sobre o movimento que luta pelo retorno de Zelaya os analistas falam da existência de três forças: uma que é a do setor liberal, outra de extremistas de esquerda e outra de um setor popular que não aceita a forma como Zelaya foi tirado do processo. Com três vertentes tão díspares ainda não se sabe como o movimento vai se comportar durante a campanha e as eleições, embora já tenha havido declarações de algumas lideranças pelo não comparecimento às urnas.

Entre os populares que não se filiam nem à esquerda radical, nem aos liberais, há o receio de que ao aceitar o jogo imposto pelos golpistas, a candidatura de Carlos Reyes acabe sendo a opção das elites moderadas que querem pôr um fim aos protestos e voltar a “normalidade”. Assim, se por um lado, não votar pode acabar dando a vitória aos velhos políticos de sempre – uma vez que o candidato liberal tem dito que qualquer cem votos elege o presidente - eleger alguém que aparece como “tragável” pela elite pode configurar a queda numa armadilha. A mesma na qual já caíram outros países, de colocar no poder uma esquerda que se direitiza. Optando pelo “menos pior”, o que pode esperar o povo em luta?
Esta é uma batalha que só o povo hondurenho pode travar.

*Com informações da Telesur