segunda-feira, 12 de junho de 2017

Do que vai se aprendendo



Uma das coisas difíceis de lidar no cuidado com as pessoas mais velhas é a teimosia. E se elas têm problemas de memória então, valei-me São José do passa-quatro. As coisas precisam ser repetidas e repetidas, sem exasperação. Com carinho e cuidado, para que a pessoa não se estresse. Já é duro ter de enfrentar a falta das lembranças, se tiver alguém forçando ou impaciente, tudo fica pior.

Agora nesses dias de frio fui fazer o pai colocar um casaco mais quentinho, para além das blusas de lã. Qual o quê!

- Esse casaco não é meu! Não é meu.

- Pai, é teu sim, tu trouxeste lá do Rio Grande.

- Nunca vi esse casaco na vida. Não é meu, não vou botar.

Respira, respira e respira. Lá fora faz 8 graus. E é lá que ele quer estar.

Rendo-me e deixo o teimosinho sem o casaco. Pego um livro e vou ler, como se nada. E ele fica por ali, no alpendre, com o cigarro entre os dedos, baforando.

- Mas tá frio, heim? Ele diz, e vai para o quarto.

Dois minutos depois volta com o casaco que até poucos minutos “não era dele”.

- Tá quentinho esse aí, pai?

- Tá ótimo!


É assim, na paciência, deixando que as coisas se acertem por si, que vamos levando.


Um comentário:

juliana aline Lehmen disse...

Elaine, por que será que é tão difícil? Em pensar que também nós ficaremos assim um dia... (?) E que eles também um dia observaram um idoso teimoso e garantiram: "eu não vou ficar assim". Cérebros.