Uma das coisas difíceis de lidar no cuidado com as pessoas
mais velhas é a teimosia. E se elas têm problemas de memória então, valei-me São
José do passa-quatro. As coisas precisam ser repetidas e repetidas, sem
exasperação. Com carinho e cuidado, para que a pessoa não se estresse. Já é
duro ter de enfrentar a falta das lembranças, se tiver alguém forçando ou
impaciente, tudo fica pior.
Agora nesses dias de frio fui fazer o pai colocar um casaco
mais quentinho, para além das blusas de lã. Qual o quê!
- Esse casaco não é meu! Não é meu.
- Pai, é teu sim, tu trouxeste lá do Rio Grande.
- Nunca vi esse casaco na vida. Não é meu, não vou botar.
Respira, respira e respira. Lá fora faz 8 graus. E é lá que
ele quer estar.
Rendo-me e deixo o teimosinho sem o casaco. Pego um livro e
vou ler, como se nada. E ele fica por ali, no alpendre, com o cigarro entre os
dedos, baforando.
- Mas tá frio, heim? Ele diz, e vai para o quarto.
Dois minutos depois volta com o casaco que até poucos
minutos “não era dele”.
- Tá quentinho esse aí, pai?
- Tá ótimo!
É assim, na paciência, deixando que as coisas se acertem por
si, que vamos levando.
Elaine, por que será que é tão difícil? Em pensar que também nós ficaremos assim um dia... (?) E que eles também um dia observaram um idoso teimoso e garantiram: "eu não vou ficar assim". Cérebros.
ResponderExcluir