Outro dia ouvia de uma amiga sobre as dores dos amores que passam. Dizia ela: “De repente aquela pessoa que era unha e carne, vai sumindo. Encontrou outro trabalho, outras pessoas, outros sonhos. Então, um dia, desaparece. Nunca mais a vimos, nem sequer recebemos uma mensagem na caixa do face. Sumiu. E fica aquele vazio, a sensação de que a amizade não foi forte o suficiente para se manter”.
Vi a dor naquele olhar, e não redargui. Só havia que abraçar
bem apertadinho e aquecer o coração que doía por um esquecimento, uma amizade
perdida.
Mas, cá com meus botões, me ponho a pensar. Não sei. Penso
que amor não é coisa que some. Se sumiu, não era. Então, não há mesmo porque
chorar ou ficar triste. Toca para frente. A vida é mais.
Eu mesmo tenho duas amigas que passeiam pela minha vida há
30 anos. As conheço desde o tempo de faculdade. Uma, encontrei na sala de aula,
bem na porta, no primeiro dia. Cabelo enroladinho, óculos de fundo de garrafa,
roupa de hippie. Era quase eu. E a outra chegou meses depois, pela mão de um
colega de apartamento. O namoro com ele não vingou, mas a amizade comigo, sim.
Nessas três décadas já vivenciamos muitas coisas, inclusive
longas distâncias. Cada uma criou seu mundo, outro círculo de amizade. E o que
fomos nunca se perdeu. Já brigamos muito, ficamos sem nos falar, acumulamos
mágoas e outras coisas ruins. Mas, o amor sempre prevaleceu. É verdadeiro. Vai
superando...
Uma delas tem a incrível mania de me ligar toda vez que está
feliz. O que é coisa rara. Compartilha cada pequena alegria e gosta de saber
das coisas boas que vivo. Algo único. Coisa que me revigora.
Com elas aprendi que a amizade é, como amor, um compromisso.
Não tem nada a ver com sentimento. É aquela certeza de que a vida que
escolhemos para andar conosco é como um cristal. Tem de ser cuidada, para que
não se quebre e não se perca. É estar por perto, mesmo longe. É compreender o
silêncio, vibrar com a alegria, sentir a mesma dor. E, caso quebre, juntar os
caquinho e colar, com dedicada atenção. Não voltará a ser fulgurante, mas não
deixará de ser o que é.
Amizade mesmo não some por se misturar a outras vidas. Pelo contrário,
se fortalece. Porque na relação com seres diferentes de nós vamos crescendo, mudando,
ficando melhores, e esse processo só tem sentido se compartilhado com aqueles e
aquelas as quais escolhemos amar.
Por isso, quando alguém se perde, há que deixar ir. Não
houve liga, não houve amor. A estrada humana é cheia de belezas. Não há o que
temer.
Um comentário:
As mãos de teu texto deitaram em meus olhos lágrimas quietas, grandes e caudalosas. Dessas lágrimas raras, guardadas para ocasiões especiais não por motivo de propósito, apenas por condição de existir. Me ver, e ver aquele nosso encontro de há 30 anos, em tuas palavras faz isso de me por em transbordamentos... poder lembrar daquele "Ó que tal", lá no Bar do Básico/UFSC, numa quinta-feira chuvosa, já quase fim de tarde, é ter o privilégio de saber onde os caminhos importantes da vida da gente começam a existir. Obrigada Negrinha: pela amizade, pelo carinho, pela ponte indestrutível de afeto/amor que tuas palavras sempre tão mágicas me oferecem... :´D
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