Trabalhadores em luta contra o corte do futuro
Muita gente ouve falar em PEC, mas não sabe o que é uma PEC.
É como se fosse um projeto de lei, só que mais importante, porque muda a
Constituição. Daí a sua sigla, PEC, Projeto de Emenda Constitucional. No caso
do Brasil, a tão comemorada Constituição de 1988, que garantiu uma série de
avanços, frutos de importantes lutas sociais pós-ditadura, já foi emendada mais
de nove mil vezes, e isso até 2013. Quem levantou esse número foi o advogado
Thiago Santos Aguiar de Pádua, num artigo para a página Consultor Jurídico (http://www.conjur.com.br/2014-mar-09/thiago-padua-brasil-10-mil-pecs-25-anos-constituicao).
Ainda segundo os dados acima, a média geral de proposição de
PECs é de 360 por ano, e pasmem, no geral, sem qualquer debate público. Ou
seja, as bancadas - que representam interesses de grupos bem específicos e não
a população – decidem sobre a vida de milhões, sem sequer submeter o tema a uma
discussão mínima. Tudo se dá dentro do Congresso, com o silêncio obsequioso da
mídia comercial. Nas mídias independentes e alternativas a discussão aparece,
mas é claro que não tem o alcance dos veículos tradicionais e, geralmente, são
demonizadas como “coisa de petralhas”.
Somente quando é de interesse da classe dominante que o tema
PEC se populariza, como aconteceu em 2013, durante as manifestações de junho,
quando, do nada, todo mundo começou a vestir a camisa contra a aprovação da PEC
37, que tirava do Ministério Público o poder de investigação. Hoje sabemos por
que houve tanto apoio da mídia comercial contra essa emenda, que foi derrotada
a partir das grandes manifestações contra a corrupção. O Ministério Público
iria cumprir triste papel na perseguição a um grupo bem específico de
políticos: do PT.
A PEC 241
Pois na semana passada passou na Comissão da Câmara, pronta
para ir a plenário, a proposta de emenda à Constituição de número 241. Se
aprovada, garante ao governo o direito de congelar os gastos por incríveis 20
anos. Eu disse, 20 anos, duas décadas. Agora imagem ficar por duas décadas com
o mesmo orçamento para a saúde, educação, segurança, moradia, saneamento e
seguridade social? Vinte anos com a aposentadoria congelada, com os salários do
funcionalismo público congelado.
E em nome de quê esse ajuste tão perverso? Em nome do que o
governo Temer chama de “herança maldita do PT”.
Mas, qual é a verdade?
A verdade é que o governo está decidindo, num tempo de crise
sistêmica do capital, manter religiosamente o pagamento dos juros da dívida,
que consome mais de 45% do orçamento geral da União. Assim, opta por pagar os
banqueiros, de uma dívida ilegítima e ilegal, em vez de garantir direitos
básicos à população. Não tem nada a ver com o PT, já que, de fato, no período
em que esse partido governou, a economia estava em crescimento, o que permitiu
melhorias nas políticas públicas. Agora, com a crise, haveria que se fazer
escolhas. E o governo Temer está fazendo. Contra a maioria da população.
Não é sem razão que o governo recém-empossado já realizou
cortes em vários programas sociais, principalmente na Educação. Agora, caso
passe o congelamento dos gastos, outros setores da vida cotidiana vão sofrer.
Como a população brasileira ainda está inoculada com o ódio
criado contra Dilma, contra o PT e contra tudo o que veio do governo passado,
está bastante favorável para as bancadas que representam os interesses do
grande capital, imporem uma grande derrota a toda gente. Afinal, os efeitos
dessa proposta começarão a ser sentidos lentamente. E, quando aqueles que estão
agora cegados pelo ódio ao PT se derem conta, tudo já estará consolidado.
Nas ruas do país esta semana promete muita manifestação,
pois o Congresso deverá votar a PEC em primeira votação, caso o governo consiga
amarrar um acordo que garanta os 308 votos necessários para a aprovação. Nesse
domingo à noite, dia 9, as bancadas
aliadas estiveram conversando com o presidente Temer, para avaliar o cenário e
definir uma estratégia para vencer a batalha.
Nos movimentos sociais observa-se maior mobilização contra a
PEC, mas o movimento sindical brasileiro parece adormecido. Pouco debate e
pouca mobilização, o que possivelmente é fruto de todo o processo de
domesticação vivido durante o governo petista, e que agora vai levar algum
tempo para se recuperar. Aliado a isso, ainda tem a mídia comercial jogando
pesado na consolidação da “historinha” de que é inevitável que os trabalhadores
apertem o cinto para salvar o Brasil que o PT estragou.
Muitos dirão que Dilma também faria o ajuste e que isso é
necessário para tirar o país da crise. Mas, quem está no governo não é Dilma, é
Temer, e é ele o responsável por isso, nesse momento. Ou seja, o governo
brasileiro está fazendo uma escolha. Atender aos interesses dos grandes e
penalizando a maioria, que é quem precisa dos serviços públicos.
A luta contra a PEC 241 se dará nas ruas, ainda que sejam os
mesmos de sempre a gritar contra o “saco de maldades”. E é muito provável que a
Câmara dos Deputados, cuja conformação é completamente favorável ao governo a
aprove sem problemas.
Assim, o que se anuncia para os brasileiros é um longo tempo
de profunda escuridão, tristeza e dor, afinal, serão 20 anos com os gastos
públicos congelados. Isso significa que os valores que esse ano foram investido
nos serviços públicos como saúde, educação e previdência serão os mesmos daqui
a 20 anos, e mesmo a classe média, tão virulenta no seu ódio aos pobres, terá
de pisar miudinho para não se misturar aos que tanto despreza. Segundo
pesquisas realizadas pelo grupo Tendências Consultoria Integrada, dirigido pelo
liberal Maílson da Nóbrega, mais de 10 milhões de pessoas que integram hoje a Classe
C serão rebaixadas as classes D e E.
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