A chapa 2, que representa a situação, venceu as eleições no
Sindicato dos Trabalhadores da UFSC: 592
a 441. Serão mais três anos de conservadorismo e esvaziamento das lutas. Muitas
festas, prêmios, brindes e viagens com diárias gordas. A velha prática
coronelista.
Mas, apesar do resultado que determina a vitória do
continuísmo, a campanha eleitoral apresentou uma novidade. A juventude da UFSC
despertou e está de pé. Essa nova geração de trabalhadores que chegou nos
últimos cinco anos compreendeu que a vida de todos passa pela ação coletiva e
colocou o pé na realidade da UFSC.
Durante a campanha, quando percorreram cada cantinho da
universidade, puderam perceber o quanto os trabalhadores estão desmotivados,
descontentes e sem esperanças na luta sindical. Tanto que a maioria dos novos
colegas não está filiada e tampouco quer estar filiada num sindicato que não os
representa.
Ou seja, a UFSC não está descolada da realidade brasileira.
De fato, nos últimos 15 anos, o sindicalismo passou por fases bem demarcadas: domesticação, cooptação e guinada para a
direita.
Como já ensinou o velho Marx, qualquer análise dos fatos
precisa ser precedida com uma mirada firme na vida concreta, na realidade. E o
que nos diz a realidade na UFSC?
A categoria dos técnico-administrativos configura a chamada
classe-média, este estamento da classe trabalhadora que sempre funciona como um
fiel de balança, ora pendendo para a esquerda, ora
para a direita, sempre levando em conta seus interesses particulares.
A universidade passou muito tempo sem concurso público,
então a categoria envelheceu sem vivenciar a oxigenação necessária do trabalho
conjunto com uma nova geração.
Os concursos só voltaram na era Lula e num contexto de
crescimento econômico. A maioria dos novos concursados entraram na UFSC apenas
como um degrau para novos concursos, em categorias mais rentáveis. Então, boa
parte dos trabalhadores não se identificava com a universidade ou as lutas
coletivas corporativas. Estavam de olho em outros mundos. Sindicalizar-se não
fazia parte dos planos porque a qualquer momento o trabalhador ou a
trabalhadora estaria saindo para novos lugares.
No segundo governo Dilma, o espetáculo do crescimento
acabou. A crise econômica mundial alcançou o Brasil e, com ela, também a possibilidade
dos voos para novas funções. Os concursos públicos escassearam e, com o novo
governo golpista, a tendência é acabar com tudo isso.
Então, quem conseguiu seu emprego público terá que se
conformar com ele. Haverá pouca margem de manobra para migrar para outras
categorias, mais bem remuneradas. Logo, a nova geração que agora vive sua vida
laboral na UFSC terá de assentar a cabeça e vivenciar a dor e a delícia de ser
um trabalhador da universidade. Não haverá saída.
Talvez por isso mesmo a oposição tenha avançado tanto. Nas
últimas eleições para o SINTUFSC, quando o grupo de oposição ainda era formado
pela velha geração - na maioria – a disputa foi menos acirrada. Os
trabalhadores técnico-administrativos da UFSC eram os mesmos de sempre e não
houve engajamento da nova geração, que preferiu trilhar o caminho da ação administrativa
no conhecido Grupo Reorganiza, esperançosos de que a nova reitora – recém eleita
e do campo da esquerda – haveria de encaminhar as resoluções que visavam a
implantação das 30 horas.
A história mostrou que os avanços dos trabalhadores nunca
aconteceram na paz. Sempre foi preciso muita luta e sacrifício para que as
demandas fossem atendidas e as vitórias só são garantidas com batalhas duras,
por vezes cruéis.
Os novos tempos da política e o mergulho na realidade
mostrou a essa nova geração que o caminho coletivo tinha de se dar pelo
sindicato, ainda um instrumento importante na luta dos trabalhadores.
Mas, como vencer as eleições do sindicato se a maioria dos
novos trabalhadores não está sindicalizada? Ou seja, os votos potenciais não
poderiam ser dados. Então, começou o trabalho de organização interna. Um
trabalho de formiguinha, que precisa de tempo. Recuperar o sentido do sindicato não é coisa fácil num
tempo em que as pessoas estão tão distraídas caçando pokemons e postando no
facebook.
Só que, como diz Marx, a realidade é o único elemento que
suleia a ação humana. E essa realidade vem e pega todo mundo pelo pé. Ainda que
sejam caçados milhares de pokemons, hora virá que os trabalhadores terão de
enfrentar o achatamento salarial, a perda de direitos históricos, a
superexploração, a dificuldade para encerrar o mês. Então, não haverá outra
coisa a fazer senão lutar.
O caminho trilhado por essa nova geração de lutadores da
base do Sintufsc é um caminho sem volta.
Quem acompanhou a energia e a força de
pessoas como a Brenda, o Luiz Artur, a Marina, a Dalânea, o Hélio, o Bruno, o
Rodrigo, a Carla, a Selma, a Camila, o Jorge, o João Henrique, o Renato, a
Simone, o Luciano, a Marilene, a Marina, o Fernando, a Cristina e o Eduardo,
sabe: essa é uma gente que não vai mais ficar quieta, com a boca escancarada,
cheia de dentes, esperando a morte chegar. Não! Esse é um pessoal que vai
seguir lutando, construindo a base para um novo sindicalismo.
A chapa vencedora – que representa o conservadorismo, o
autoritarismo, o coronelismo, as práticas nefastas da direita – recebeu 592 votos dos mais de três mil
trabalhadores. Há um universo imenso de colegas para ser navegado, para além
dos 441 que já confiaram e acreditaram nesse grupo novo, de TAEs LIVRES. Há sim
o bonde dos descontentes que ficarão ainda mais descontentes com o passar do
tempo. Porque a realidade virá cobrar pedágio e será essa mesma realidade a que
empurrará esse povo todo na direção da luta, porque não haverá outra saída.
Então, a ação coletiva será diferente.
Claro, há que ter paciência histórica. Como teve Marx, indo
para a biblioteca de Londres. Nossos companheiros e companheiras que tão lindamente
percorreram as veredas da UFSC para anunciar seus desejos de luta sabem que é o
trabalho cotidiano que muda o mundo. E não ficarão parados.
Todos nós, velhos e novos, que temos consciência de classe
sabemos que é a luta renhida que faz avançar os direitos e as conquistas dos
trabalhadores. E estaremos de pé. Juntos, unidos. Com risos, com estudo, com
debates, com lágrimas, com esperanças, fazendo o bom combate.
Nesse dia 10 de agosto nós oferecemos aos trabalhadores da
UFSC uma alternativa: guerreira, alegre, consciente. E seguiremos, porque somos
assim, forjados na certeza de que a luta coletiva é o único caminho para a
emancipação dos trabalhadores.
Agradecemos a todos os que confiram na Chapa 1 e reafirmamos
o compromisso de não esmorecer. Porque a luta não se esgota numa eleição.
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