Dia 8 de dezembro é um dia de saudade para mim. Foi nesse
dia, no distante ano de 1932 que a minha mãe nasceu. Naquele início de século,
no interior da pequena Uruguaiana, fronteira com a Argentina, ela começou sua
caminhada no rumo da beleza. Guardo sempre na memória seu riso de cristal, meio
tímido, tão raro. No geral, era uma briguenta, e devo ter herdado dela essa
mania de criticar tudo. Foi uma mulher comum, dessas de vida simples, cuidando
dos filhos e da casa. Morreu em fevereiro de 1998, quase carnaval. Foi embora
poucas horas depois de termos falado ao telefone, quando me contava de um bolo
que estava fazendo. O bolo ficou no forno, enquanto ela dava seu último
suspiro.
Lembro que estava indo para a Univali, parada no ponto do
ônibus da UFSC, quando minha colega veio me chamar. Haviam ligado. Ela me
disse: tua mãe se foi. E eu ri. Não podia ser, acabara de falar com ela. Mas,
não era mentira. Num átimo, e ela era só saudade. A vida e suas peças. A
ceifadora sempre à espreita.
Meu primeiro contato doloroso com a morte foi com a do meu
avô, o qual eu amava com um amor sem tamanho. Por ele desacreditei de deus. Tão
bom tinha sido, tão generoso, e morrera sem sua terra, com o peito estourando
de tanta dor. Não me parecia justo.
Desde aí entendi que a vida da gente é feita de nossas
escolhas. E há que pagar alto preço se elas não estiverem dentro das regras.
Também vi que se há algo certo nesse mundo é essa hora dura em que temos de nos
despedir desse imenso jardim. Deixar de brincar, deixar de rir e conviver com
quem amamos, dar a mão à ceifadora e partir. Duro momento.
Nesses dias tristes, que mais sombrios ficam conforme
anunciam festas e festejos natalinos, assomam os meus mortos, os que já
encantaram. Sinto falta dos seus risos, do som da voz, do toque. E fica aquela
sensação de que não expressamos suficientemente o amor, distraídos que
estávamos em cuidar da própria vida. Mas, depois, pensando bem, imagino que o
melhor presente para eles deve ser isso mesmo: a capacidade de seguirmos
sozinhos, rasgando a vida sem medo.
Fico também pensando nos vivos, nos que ainda aí estão e que
amo. Muitas vezes sem poder ver, sem poder dar carinho, impedida do abraço. E
essa sim é a hora noa (da angústia), porque ainda há tempo, porque ainda correm
os minutos. E a vida mesma, essa doida, nos joga para cá e para lá, com seus
golpes. Até que venha o sopro fatal, quando nada mais restará.
São dias confusos e tristes... O balanço está vazio, o riso
desaparecido. Como minha linda Abya Yala, feneço, olhando nos olhos da
ceifadora, e paradoxalmente pedindo que espere um pouquinho mais...
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