terça-feira, 28 de março de 2023

Ficamos velhos, carajo


Na foto, o grande Kirk Douglas... sim, ele ficou velhinho... e seguia com olhos de lâmpada...

Toda hora pulam nas minhas redes sociais matérias com as seguintes manchetes:  “Ídolos dos anos 70 ou 80. Respire fundo e veja como eles estão agora”. No geral eu respiro fundo mesmo, mas é de ódio. Que coisa mais estúpida e idiota. Se uma pessoa foi famosa nos anos 70, 80, é óbvio que estará diferente hoje, cinquenta, quarenta anos depois. Afinal, Dorian Grey só existe nos livros e no cinema. Na verdade, estas listas de pessoas velhas são produzidas obviamente por pessoas totalmente imbecilizadas.  É como se ficar velho fosse uma maldição. Mas, ao mesmo tempo, pode ser fonte de “likes” e “engajamentos”.

O pior é que tem gente que consome isso, que compartilha, que comenta, que discrimina os velhos, mandando que fiquem em casa, que se escondam, que escondam suas caras enrugadas, afinal, um dia foram belos, e há que manter a mágica. E essas estupidezes fazem com que pessoas velhas busquem harmonizações faciais, plásticas e sei mais o quê para manter um mínimo rasgo da juventude perdida. Principalmente os artistas, os que sempre viveram do corpo, esses são os que mais sofrem, imagino eu. Vi outro dia a turma falando mal da Madona que fez alguns procedimentos. Ora, os insaciáveis juízes da internet cobram juventude, e quando as pessoas buscam a juventude, são tripudiadas. É um verdadeiro inferno.  Mas é um inferno que movimenta a roda do capital.

O culto a juventude não é de hoje, não é sem razão que está no imaginário coletivo a eterna busca por Shangri-Lá, o horizonte perdido, onde todos são sempre jovens. Talvez fosse bom que a turma fosse lá ler esse famoso livro escrito em 1933 por James Hilton e ver como ele termina. Ninguém fica jovem para sempre. Ninguém. Então, mesmos estes imbecis que escrevem essas matérias ou comentários nas redes também envelhecerão. 

A velhice é uma merda. Traz uma série de limites, já é por si só bem difícil de enfrentar, principalmente sendo trabalhador, num mundo capitalista. Então porque dificultar mais ainda? Deixa o povo envelhecer e ficar enrugado.  Beleza não está apenas nos efebos. A beleza está também numa vida carregada de plenitude, de realizações, de criação e corre-corre. Quando a gente fica velho significa que já cumpriu um largo caminho, que acumulou extraordinárias experiências, que vivenciou milhares de pequenos momentos estelares. 

Eu estou ficando velha e, sim, me assustam os limites que a idade impõe, mas ao mesmo tempo gosto dessa mulher que me olha no espelho. Uma mulher que viveu, que fez coisas legais, que viajou, amou, enlouqueceu, chorou, sofreu. Sim, já fui bem bonitinha e charmosa. Não serei mais. Mas, que importa? Há outras coisas que podemos ser. O mesmo vale para os nossos velhos ídolos. Assim que não precisa respirar fundo para ver como ficaram os artistas ou os amigos do passado. Eles estão velhos. É tudo. Não ficaram menores ou piores. São velhos. E ponto final. Parem de ser idiotas. 

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