quarta-feira, 15 de setembro de 2021

As manhãs



Todas as manhãs são tumultuadas ao extremo. Acordo seis horas para ter um tempinho com meu amor e depois começar a trabalhar, antes do pai acordar. É quando eu posso me concentrar. Depois que ele acorda a coisa fica difícil. Tem todo o ritual do despertar que demoooooora. Depois, o café. Quando ele está bem, toma sozinho, mas se acorda meio virado aí eu tenho de dar pouco a pouco. Vai um eito. Quando tudo se acalma de novo, volto ao trabalho.

Mas, aí, vem a confusão com os cachorros. O Steve Biko, que já é velhinho, é cismado com uma poltrona. Ele gosta de deitar naquela e ponto final. Se o pai está nela, ou algum outro bicho, ele inicia um circuito de latidos sistemáticos e insuportáveis até que eu levante e vá resolver o assunto. Não tem como ignorá-lo. A menos que eu queira enlouquecer. Se quem está na cadeira é a Mel, tenho de convencê-la a ficar em cima da cama, para que não fique também incomodando o pai, tentando subir nele. É um parto. Já o Dourado é tranquilo. Se ele vê o Steve enchendo o saco, por sua própria vontade sai da cadeira e vai deitar no tapete. Não sem antes me olhar como a dizer: que chato!

Lá pelas onze horas é a vez de chegar o Pezinho. Ele dorme em outra casa e só vem aqui pra comer. Quando ele chega, já sabemos. Antes mesmo de pular o muro ele já começa a miar alto, como se estivesse em grande perigo. Na verdade é seu miado de dizer: ei, estou chegando, arruma o rango aí. Lá vou eu arrumar a ração. Depois de comer ele vem pra cozinha, onde estamos todos  e exige o leitinho. É seu ritual. Já deixo pronto em cima da mesa. Ele vem, sobe, come e se manda de novo. A Ramona é de boa, se aboleta no espaldar da poltrona do pai e fica ali, dormindo junto com ele. A Juanita nem se toca, gosta de ficar distante e não incomoda ninguém. 

Quando chega a hora de começar o almoço tá todo mundo ajeitado no seu lugar. Já eu, tive de passar por pelo menos 500 situações de estresse. Valamideuzi. Quando então tudo parece se acalmar, o pai acorda do cochilo e começa o mexe-mexe. Ontem achou os óculos escuros do Renato e o colocou sobre o seu. 

- Tás enxergando, pai?

- Tô vendo tudo.

- Mas não tá escuro?

- Tá muito bom. 

Então tá!

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