O filósofo Álvaro Vieira Pinto, no seu livro "O conceito de Tecnologia" faz uma profunda discussão sobre esse tema e sobre os países ditos subdesenvolvidos que, segundo ele, precisam atuar no sentido de caminhar com as próprias pernas e desenvolver a sua ciência com os recursos que têm. Isso não significa ficar fechado para o conhecimento gerado fora, mas toda a tecnologia importada não pode vir em pacote cerrado, sem que os cientistas nacionais saibam ou possam intervir.
Diz ele sobre isso: "A tecnologia de origem externa serve de instrumento para a aceleração do desenvolvimento da nação retardada unicamente se for uma aquisição de livre escolha por parte de seu centro soberano de poder político, que objetiva os propósitos da autêntica consciência de si, a saber, a de suas massas trabalhadoras. O poder de decisão na escolha, manutenção e direção da tecnologia não só quanto à origem mas igualmente quanto à natureza dela constitui o traço mais significativo para comprovar a posse da autoconsciência pelo país subdesenvolvido".
Isso é o faz Cuba, por exemplo, que está bloqueada pelos Estados Unidos, impedida de negociar com muitos países. Premida pela necessidade a ilha decidiu investir na ciência e na busca de saídas locais. Ainda assim manda seus cientistas para fora para estudar, aprender e depois, na volta, criar. Isso é soberania. Por isso Cuba tem a sua própria vacina hoje, quando as demais vacinas só existem nos países mais ricos e desenvolvidos. Todos os outros países terão de comprar a vacina desses centros.
No Brasil, a duras penas, temos o Instituto Butantan (instituição pública estadual), a Fiocruz (instituição pública federal) e outras pequenas ilhas nas universidades públicas onde a ciência pode se fazer. Mas, tudo sempre é muito sofrido. Os profissionais mal pagos, os recursos incertos, a precariedade. Cada dia uma batalha para se manter. E, agora, com esse comando genocida, tendo ainda de enfrentar o próprio governo. Não é fácil.
Ainda assim esses trabalhadores da ciência nacional conseguiram, a partir da tecnologia chinesa, desenvolver aqui a vacina contra o coronavírus. Um trabalho quase heroico, diante de tantos percalços, desafios e guerras políticas. Por isso, é para essa gente que devemos agradecer. Não fosse o fato de que permaneceram no Brasil, resistiram nas condições mais duras, e seguiram trabalhando nas instituições públicas provavelmente ainda não teríamos a vacina, visto que o governo tenta atrasar ao máximo a imunização.
Ainda vai demorar para que sejamos uma nação soberana, tal qual Cuba, e enquanto isso não é construído pelo povo em luta, há que se dizer obrigado aos homens e mulheres - desde os pesquisadores até os faxineiros - destas instituições públicas que conseguiram ontem oferecer a vacina aos brasileiros. Queria muita poder saber o nome de cada um , de cada uma, para registrar na memória. Trabalhadores públicos, cientistas comprometidos com a nação, trabalhadores privados cumprindo seu turno apesar dos riscos, todos e todas que tornaram isso possível.
Obrigada pessoal do Instituto Butantan, obrigada pessoal da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Por causa de vocês, nós, os que ainda sobrevivemos, temos uma chance.
Sabemos que agora inicia outra batalha para a distribuição das vacinas. Muitos obstáculos serão colocados. A nós, os de sempre, restará a luta para que as doses cheguem logo e sejam aplicadas. Cada dia uma luta nova. Seguimos, P´alante!
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