No mundo capitalista o espaço reservado ao pobre é o da servidão. Quem aceita isso vai arrastando a miséria. Quem não aceita, toma porrada. Não há concessões. Passeatas, protestos, manifestações, tudo o que envolver reivindicação, trabalhador, gente pobre, é enfrentado na bala. A polícia não arrega. E nós, no Brasil, tivemos provas bem concretas nos últimos anos, quando as passeatas dos apoiadores do atraso – os riquinhos e a classe média - eram protegidas pela força bruta, e até fotos eram sacadas com os soldados, “amigos da paz”.
Quando a noite cai, tudo o que acontece nas comunidades de periferia, nas favelas, nos bairros empobrecidos é bandidagem. E a polícia se compraz em entrar atirando. Aqui em Florianópolis, dia desses, mataram um menino de 12 anos. “O que um guri desses estava fazendo na rua a essa hora?”. Meia noite de uma noite quente. Deveria estar no teatro? Ah, mas era uma comunidade pobre e nela, para a força, tudo que se move, de noite ou de dia, é bandido. E há que combater o tráfico. E quando a comunidade em luto se rebela em protesto, mais balas, mais porrada. Para que o medo siga grande e imobilize.
Nos beach clubes de Jurerê, praia da elite, a droga rola solta. Mas, lá, não chega a força matando tudo que se move. Não. Lá estão os jovens brancos, sarados, criados a toddy, embriagando-se com champanhe, dando lucro aos bares da moda. Ali tudo é permitido: cocaína, heroína, boa-noite cinderela, estupro, o que for. Nada está fora da lei. Não há pé na porta, não há tiroteio, não há combate ao tráfico. Não. Traficante? Bandido? Esse tem cor e tem endereço certo. Não vou nem falar nos donos reais das drogas, né? Que certamente não são os gurizinhos da favela. Esses não têm aviões, nem salvo condutos presidenciais. Eles são apenas vendedores, um elo fraco da corrente.
O sistema é bruto e existe para foder com a maioria. Uma pequena parcela dessa gente, luta. Outra parcela, bem grande, aceita a servidão, seja por medo, por desconhecimento, por puro cansaço. Parece que se mantiver a cabeça baixa e aceitar a migalha, poderá viver em paz. Mas, não. Isso é ilusão. Mesmo o que se ajoelha vai ser pego, mais hoje, mais amanhã. Pode estar na rua numa “hora imprópria”, pode ser confundido com alguém, pode ter a cor errada, no lugar errado. Pode estar com a roupa errada ou segurando um guarda-chuva. O sistema não poupa ninguém, se for da classe trabalhadora.
Então, a única saída é enfrentar o bicho. Na porrada mesmo. No protesto, na manifestação, na batalha nas ruas. Porque quando muitos se juntam contra a minoria, acontecem coisas fabulosas, como a revolução russa ou a revolução cubana. O sistema tem um poderoso braço de propaganda, que engana, que mente, que esconde. Então, a parada é dura, dura mesmo. Mas, há que quebrar esse espelho de mentiras. E mudar as coisas. O sistema é bruto, mas podemos ser mais. O que ocorre é que não há escolhas. Quem luta pode morrer, mas quem não luta também. Então, qual vai ser? Que sejamos capazes do grito dos zapatistas. Já basta!
Que viva o povo em luta!
Que nossas noites tragam a primavera.
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