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Na rave, com o pai
A vida pandêmica segue de maneira alucinada, apresentando sempre um novo problema na relação demência/cotidiano. Os dias passam atabalhoados, mas de boa. As noites é que são do peru. Como já contei aqui, cada vez que encontro uma solução para algum drama, logo outro aparece, quase que como a me desafiar. É pankeira. Mas, tudo bem, estamos na vida para isso, para ajeitar as coisas, para juntar o que está quebrando, para iluminar o que está escuro.
Sempre que a noite chega tenho de tomar uma decisão. Se eu dou o remédio de dormir para o pai, ele dorme quase a noite toda, mas apronta horrores com as incontinências, líquidas e sólidas. E aí é bem difícil, porque também não aceita que eu limpe ou troque as roupas. Ele ainda se recusa a usar fradas e nem o anjo do senhor o faz aceitar. Se eu não dou o remédio, sempre que ele quer fazer xixi ele desperta e levanta. Mas se levanta, não deita mais. E aí é um zanzar pelo quarto a noite toda, mexendo nas coisas, arrumando a cama, revirando papéis. Nada de dormir. Sem contar que quando faz xixi ou cocô, não vê lugar, vai fazendo. E eu atrás limpando, evitando que ele se suje ou caia.
O fato é que as duas opções igualmente me impedem de dormir. Então, o jeito é novamente inventar coisas para fazer durante a zanzação. Ou é Netflix, cujos filmes ruins eu já vi todos, acho. Ou fico no youtube vendo clipe dos meus amados cantores gaúchos, como o Luiz Marenco, o Mauro Moraes, ou então o Ricky Vallen, o qual amo de paixão. Quando tô nos filmes o seu Nelson me abstrai. Mas quando tô no youtube ele se antena, e faz a zanzada dele dançando. É bem engraçado. Vez em quando, pego ele pelo braço e saio dançando também.
Na madrugada, ao som do chamamé, juntam-se os cachorros e gatos. É uma espécie de rave bem singular, cheia de baldes, panos e muuuuita paciência, a qual vai tornando tudo enfim menos doloroso. Claro que há noites de calmaria, mas essas, das raves, são as que ficarão na memória.
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