Já faz tempo que se ouvem vozes sobre o fim do jornalismo. Eu sempre defendi que não. Não morreu. Pode estar meio adormecido, solapado pelas empresas que preferem desinformar a formar opinião pública esclarecida e consciente. O jornalismo em si não tem nada a ver com isso. Ele não é um ser, é um fazer. E, como já ensinou Adelmo Genro, tem até uma forma de expressar a realidade como conhecimento e não apenas informação. O que pode estar em crise ou morto é o humano capaz de narrar a vida nesses termos propostos por Adelmo, partindo do singular e abarcando o universal. Ah, isso sim.
Agora, nesses dias de pandemia, o jornalismo reapareceu com força total, a pondo de as emissoras de televisão aumentarem seu tempo no ar para horas e horas. Repórteres cruzam os caminhos trazendo informação para lá e para cá. É uma enxurrada de notícias e reportagens. Num tempo em que as redes sociais pareciam ter tomado o lugar das empresas de comunicação, a atenção voltou a focar nos veículos tradicionais, como se, de repente, só o jornalismo pudesse ser capaz de trazer a notícia verdadeira. O que, de certa forma, é verdade. Os jornalistas têm se esforçado.
É fato que no campo da informação crua as emissoras estão indo bem. Passam os dados, os números, as notas dos governos, as orientações médicas. Tudo isso é muito importante. Mas, o jornalismo – e aí insisto em Adelmo Genro – não é só informação. Ele pode ser também conhecimento, e deve ser. É a função mais importante dele, oferecer possibilidades de compreensão da realidade para além da simples informação, ou da simples resposta das seis perguntas tradicionais do lead.
O que se percebe é que, como o uso do cachimbo entorta a boca, a maioria dos jornalistas parece que esqueceu como é fazer o bom jornalismo. Aquele jornalismo que é também análise, impressão, descrição e narração. Mesmo na mídia alternativa, comunitária e popular esse tipo de jornalismo pouco existe, salvo raras exceções. No geral, os jovens jornalistas, malformados a partir do ideal liberal de “mostrar os dois lados” se espantam com textos que aprofundam os temas, que singularizam as histórias, que descrevem a vida na sua imanência. Espantam-se e, surpreendentemente rechaçam. É uma catástrofe. Porque essa seria uma hora histórica, de retomar as boas formas de narrar.
Não é o que se vê e ao fim e ao cabo, vamos mudando de canal, ou saltando as páginas de jornalismo alternativo, e tudo o que vemos é a informação asséptica, que não tem lado, que não se compromete, que não consegue conduzir o leitor/espectador para a atmosfera universalizante do fato singular. Ouve-se o morador, o governador. Ouve-se o comerciante, o médico. Ouve-se o que espera tratamento, ouve-se o enfermeiro sem máscara. Mas nada de oferecer elementos de análise que permitam o leitor/espectador compreender o cenário, o pano de fundo, as contradições.
Eu me alegrei com a retomada do espaço jornalístico, mas já perdi a esperança. O espaço aumentou, mas o jornalismo segue esquecido. Faltam os bons narradores da vida, faltam os jornalistas capazes de contar uma boa história, sobram os liberais formados pelos manuais de jornalismo copiados dos Estados Unidos.
É desanimador! Ainda assim, vamos resistindo...
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