Alzheimer/Velhice

sábado, 9 de fevereiro de 2019

Juanita e o vento



Uma das minhas gatinhas, que tem por nome Juana Azurduy, tem medo de vento. É uma coisa bem incrível isso. Basta começar a soprar o vento sul ela fica numa agitação sem fim e começa a miar desesperadamente. Ela é do tipo que detesta qualquer carinho, e tomá-la no colo é uma invasão a qual ela não permite de nenhuma forma. A não ser que tenha vento. Só aí consigo apertá-la junto ao coração, acarinhando devagar. Ela vai acalmando, acalmando e fica, com os olhos graúdos, olhando pra mim, já em paz. E enquanto venta, não sai de dentro de casa.

Numa dessas noites de tormenta ela foi surpreendida numa área que fica em cima no puxadinho de trás da casa. E, como sempre, paralisou. Fica incapaz de se mexer. Era umas quatro horas da manhã e ouvi seus miados de desespero. A chuva caia com força e o vento agitava as ramagens, que batiam umas nas outras, como cabeleiras loucas. Os gritos de Juanita rasgavam a noite.

Lá fui eu, noite adentro, buscar a bichinha. A força do vento tornava qualquer guarda-chuva obsoleto, então, o jeito foi correr pelo pátio e subir as escadas sem proteção. Juanita estava num canto, horrorizada, e tanto que não me permitia pegá-la. A chuva nos fustigava. Desci e peguei uma toalha, das grandes, e voltei. Ela gritando, em desespero. Atirei sobre ela a toalha e segurei com força, para que não me rasgasse com as unhas. Ela se debatendo em completo desespero.

Desci a escada correndo, entrei em casa, fechei a porta e coloquei uma musiquinha, baixinho, enquanto acarinhava seu corpinho trêmulo. Foi acalmando, acalmando, acalmando, até que se enroscou no sofá, dormindo como um anjo. Não sei o que ela vê no vento, mas a parada é lôca. Então, sempre fico atenta quando o vento vem. E mesmo que seja no meio da madrugada, lá vou eu, tal qual um super-herói, salvar a "mocinha". 

Os bichos nos têm!

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Que viva o povo bolivariano


Eu lembro de 2004 quando o mundo inteiro se manifestou contra a invasão do Iraque. Era óbvio que os Estados Unidos usavam da mentira para respaldar a invasão. Não havia armas químicas, nunca houve. Mas, os EUA sempre usaram da mentira, ao longo de sua história, para justificar seus crimes. E, ainda que houvesse passeatas, marchas, protestos em vários lugares do planeta, os EUA foram lá e promoveram a onda da destruição, que segue até agora. Já tinham feito a mesma coisa no Afeganistão em 2001 para perseguir seu velho amigo e aliado Bin Laden. Julian Assange, com o WikiLeaks foi quem desvendou os crimes e por isso vive trancafiado na Embaixada do Equador em Londres, jurado de morte pelos senhores da guerra. 

Nesse mundo é assim: os heróis de verdade, como Julian Assange e Edward Snowden  são perseguidos, enquanto os assassinos circulam livremente. 

Agora, a mentira da vez é a Venezuela. Os EUA precisam destruí-la, como destruíram o Afeganistão, o Iraque, a Líbia, o Líbano, a Síria. Há que atacar e dominar todos os lugares que têm petróleo. Venezuela desgraçadamente tem e desde a ascensão de Chávez usa os recursos do petróleo para a maioria da população. 

Então, os EUA e os lacaios locais decidiram estrangular o governo. Roubam seus recursos, seu ouro e sua possibilidade de atender a população. Fecham as portas do comércio e  impedem que entre a comida, os produtos de primeira necessidade. Vem a fome, vem o terror. 

O mundo inteiro se levanta contra mais essa ignomínia. Mas, os líderes mundiais que se ajoelham diante do império e também aproveitam para abocanhar algum ganho, não querem nem saber. Aceitam a mentira e respaldam o golpista que se autonominou presidente, sem ter recebido o respaldo das gentes venezuelanas. Aceitam porque querem lucrar com tudo isso. Dane-se o povo que morre de fome. Que morram. Assim poderão gritar aos quatro ventos que foi o bolivarianismo que os matou.

Lá dentro da Venezuela o povo bolivariano está sofrendo a fome, a falta de remédios, o terror. Mas, eles sabem de quem é a culpa. Dos vende-pátria, os mesmos que governaram a Venezuela por séculos, mantendo-os na escravidão. Os mesmos que agora se aliam ao império, aos senhores da guerra, para destruir a generosa proposta de Bolívar. O libertador sendo traído outra vez, num eterno retorno. 

Tenho muita clareza do que é o governo do Maduro e tenho muitas críticas a sua postura e política. Mas, jamais me aliaria aos monstros do terror apenas para tirá-lo do poder. A Venezuela precisa seguir seu caminho autônomo, com as gentes decidindo por onde ir. Se há oposição de esquerda, que se organize, que dispute, que enterneça os corações. Mas, como aceitar uma oposição que se diz de esquerda e que se junta ao deputado golpista, think-tank dos EUA? Nada justifica isso...

Sei que nossa voz se perderá no mar de ódio, de desinformação, de ignorância. Sei que nada podemos na nossa impotência. Mas, não poderia deixar de dizer que repudio a agressão que os EUA empreendem contra a Venezuela desde 1998, quando Chávez assumiu, e que agora assume sua cara mais nefasta. A mesma velha cara do terror que vem matando e destruindo a vida dos trabalhadores, dos lutadores, dos governantes que querem garantir soberania. 

Não há conciliação com o império. Que viva a gente bolivariana e chavista. Que resista e que se mantenha de pé. Mesmo que esteja sendo abandonada pelos oportunistas. 

A terra-mãe



A terra, como ensinam os povos originários não é só um lugar onde nós, os humanos, caminhamos.  Ele é viva, interage e se comunica. Viver em equilíbrio com ela é valor que faz parte de qualquer filosofia originária, de qualquer etnia dos povos antigos. Pacha é espaço e tempo, sem divisão. E nós, somos parte desse universo pulsante, aqui, hoje, ontem e amanhã.

Não descobri isso agora, há tempos comungo desse sentipensar, ainda que tenha de ver tudo isso ser ridicularizado por gente que nos chama de “pachamamistas”, ou “bicho grilo” ou “hippie” ou qualquer outra coisa de conotação depreciativa. Não importa. Creio nisso e sigo no meu caminho respeitando essa poderosa mãe.

Lá em casa tenho por costume dar pago à terra todos os dias. Cuido dela, alimento, acarinho, porque sei que ela também cuida de mim. Porque somos uma coisa só, parte da mesma grandeza infinita.

Percebi que no meu quintal desde alguns anos brotaram determinadas plantas que não havia lá: melissa, alecrim, fisalis, maracujá.  Ontem, sentada à sombra, com meu pai, tomando chimarrão, entendi que a terra que vibra em mim mandava mensagens. Todas essas plantas têm a ver com calmante e memória, duas coisas de que necessito agora, quando vivencio o processo de perda de memória do pai. Uma dura caminhada de aprendizado sobre a finitude.

Certa feita, lá no planalto central, caminhando na imensidão das terras secas, ouvi de um conhecedor das ervas essa verdade: a terra dá o que precisamos. Basta olhar ao redor e ali estarão as plantas que são vitais para nossas dores. Ontem, assim, num átimo, me surpreendi com a concretude dessa máxima.

Tudo está ao nosso alcance. Basta saber enxergar. Alegrei-me por ainda saber ver. E agradeci!