A reunião realizada entre a comissão dos trabalhadores
técnico-administrativos e a reitoria para discutir o controle de frequência
acabou com algumas boas notícias. Temporárias, mas inegavelmente boas. A
primeira delas é que o relógio ponto não será instalado esse ano. E a segunda é
que a administração concordou em testar a proposta do controle social,
defendida pelos TAEs.
A reunião terminou bem, mas não foi fácil. Afinal, a
reitoria permanecia com a intenção de instalar os equipamentos de controle
biométrico (com a digital), pelo menos dois, para testar e para atender a ordem
judicial. A comissão insistiu sobre que não havia a obrigatoriedade de ser o
ponto biométrico. A última decisão judicial é bem clara: a universidade pode
decidir a modalidade de controle eletrônico que melhor atenda às suas
especificidades. Não há imposição de nenhum tipo específico, sob pena, como bem
diz a juíza de “ferir a autonomia”.
O fato é que a leitura do processo, de três mil páginas, por
parte dos membros da comissão, deixou bastante claro que houve um completo abandono
por parte da UFSC, sendo inclusive, perdidos prazos. A gestão Roselane/Lúcia
estava imbuída da vontade política de aplicar o controle leonino sobre os
técnico-administrativos, aceitando a sugestão do Ministério Público, que
apontava não apenas o ponto biométrico, mas também catraca e câmera. Quando a
gestão Cancellier/Alacoque assumiu, tampouco foi revisto todo o processo.
Seguiu-se aos encaminhamentos já determinados. Foi a insistência dos TAEs no
debate sobre o tema que levou a essa pequena vitória, alcançada agora no final
do ano.
A gestão do reitor pró-tempore, Ubaldo Balthazar, estava
dando sequência à instalação do ponto, acreditando que era mesmo uma exigência
da justiça. Não é. Isso ficou claro no processo. E mesmo a compra dos
equipamentos, que já foi efetuada, e com dinheiro do Reuni, pode ser revista,
visto que o modo de licitação foi o pregão, que permite a não consolidação da
compra caso os equipamentos não sejam instalados.
A mobilização dos TAEs e o trabalho da comissão que negociou
com a administração foi fundamental para que o ponto – que já estava para ser
instalado na BU, no Setic e na Secretaria de Ensino à Distância – fosse suspenso.
Nessa quinta-feira, o reitor encaminhou ao Ministério Público e ao judiciário um
documento, no qual explica todo o processo de tentativa de implantação do ponto
biométrico, alegando que as coisas tardaram em função da falta de orçamento e
também pelo drama vivido pela universidade com a prisão e posterior morte do
reitor Luiz Carlos Cancellier. Informa também que o controle eletrônico será
instalado até o final do ano, em outra modalidade, mas agrega ao documento um
cronograma de implantação dos pontos biométricos para o ano que vem.
Isso significa para os TAEs uma meia-vitória, visto que
agora eles terão os meses de janeiro e fevereiro para apresentar uma proposta concreta
de controle social. Esse é um trabalho que, de certa forma, já está bem
adiantado, pois há muito tempo que se discute essa forma de controle de
frequência, que deverá seguir os moldes da que hoje é usada para os professores.
O controle social de frequência desloca o foco de poder que,
com o ponto biométrico ficaria na mão do
chefe de plantão, para a sociedade. E como é isso? No ponto biométrico, apenas
os chefes e os órgãos de controle interno teriam acesso ao sistema. No controle
social a sociedade toda pode ter acesso e conhecer as especificidades do
trabalho dos técnicos. Hoje, na UFSC, existem mais de 30 profissões sendo
exercidas entre os TAEs e, cada uma delas, tem uma peculiaridade. São
engenheiros, médicos, enfermeiros, administradores, jornalistas, jardineiros,
assistentes de administração, zeladores prediais, psicólogos, assistentes
sociais, etc... São atividades muito distintas que não podem ser submetidas a
um sistema padrão de controle de frequência. Além disso, existem TAEs que atuam
também na pesquisa e na extensão.
Com o controle social não apenas os horários de trabalho,
mas também as atribuições dos trabalhadores estarão disponíveis para a
sociedade, tornando muito mais transparente o processo de trabalho, impedindo
que o controle vire moeda de troca para as artimanhas políticas, ainda muito
comuns na universidade.
Os professores, por exemplo, tem um sistema de controle que
é o Planejamento das Atividades Docentes, o PAD, efetuado eletronicamente todos
os anos. Nele, os docentes precisam relatar os horários de aula, o tempo de pesquisa,
os projetos que estão trabalhando, o tempo de extensão e os trabalhos que
desenvolvem nessa área. Assim, qualquer pessoa pode saber como as horas daqueles
professores estão sendo distribuídas. É bastante transparente. A proposta para
os TAEs é bem parecida e deverá ser viabilizada por uma comissão formada pelos
TAEs e pela administração.
É fato que as relações coronelistas ainda bem vivas na
universidade fazem com que muitos trabalhadores não confiem muito nessa ideia
de controle social. Muitos ainda preferem a relação visceral com as chefias,
porque permite negociações. O que mostra o quanto esse sistema em que o chefe
tem o poder sobre o trabalhador é nefasto e passível de manipulação. Por isso, é
fundamental que o sindicato realize uma boa campanha de divulgação sobre o que
é o controle social para que os trabalhadores e a sociedade possam perceber o
quanto é mais democrático e eficaz. A modernidade e as novas tecnologias de
informação já permitem que o tempo dos coronéis fique no passado. É a sociedade
que precisa saber e fiscalizar o serviço público. Daí que o controle social é a
ferramenta mais adequada.
Com esse respiro de dois meses, os TAEs terão de sacrificar
os meses de verão e possíveis férias para realizar esse importante trabalho.
Mas, a comissão está animada. Há muito a fazer e as ideias já pipocam. A
proposta agora é criar um canal direto de comunicação entre a comissão e os
trabalhadores para que todos possam acompanhar o andamento da construção do
modelo.
O ano termina e ainda que tenha sido bastante sombrio, com
todas as tristezas que se abateram sobre a instituição, os trabalhadores
conseguiram realizar um grane trabalho. Mostraram que o controle social é
possível e desvelaram todas as inverdades que estavam sendo vendidas como
certas. Os trabalhadores entendem que como servidores públicos têm de prestar
contas à sociedade sobre seu trabalho, e não apenas aos chefes imediatos. E é
nesse caminho que deverão construir o modelo de controle social.
Os representantes dos técnicos na comissão serão Veridiana
Oliveira, Gabriel Martins, Luciano Agnes, Ivandro Valdameri, André Ruas, Dilton
Rufino e Celso Martins.
É importante lembrar: o ponto biométrico ainda é uma ameaça. Só a luta concreta muda a vida. Também ficou decidido que os TAEs lutarão para incluir o HU - que já tem ponto biométrico - no sistema de controle social.
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