Eu não a conhecia, mas já tinha escutado sobre ela. Então,
ela me ligou, pedindo ajuda para divulgar um livro que havia escrito. Pedi que
me mandasse 20 exemplares que tentaria vender também. Ela mandou. O livro
chegou . “No corpo e na alma” era a narrativa de sua militância contra o golpe
de 64. A luta no movimento estudantil, iniciada na UFSC, depois na Ação
Católica, a clandestinidade, a prisão, a tortura e o exílio. Li de um único
fôlego, entre lágrimas. Um relato sem véus de um tempo cruel, no qual jovens
apaixonados pela vida e pela liberdade, deram seus melhores anos para defender
o bem-viver. No relato de “Leila” ficava bem claro o compromisso que foi
assumido para defender o Brasil e toda a gente da barbárie que representa um
golpe militar.
Pouco tempo depois, no universo das lutas da cidade, eu a
conheci pessoalmente. Parecia difícil crer que Leila era ela. Baixinha,
risonha, amorosa e delicada. Mas, ao passar dos dias, ficava cada vez mais
fácil ver a Leila na Derlei de Luca. Na luta para garantir a Verdade e a
Memória era gigante e implacável. E foi assim que todos nós fomos conhecendo e
convivendo com Derlei, acompanhando e compartilhando da luta para abertura de
arquivos, na busca dos desaparecidos, na manutenção da lembrança dos que
caíram, na perseguição da verdade.
O Coletivo Catarinense Memória, Verdade e Justiça, cujo
nascedouro foi ainda no início dos anos 80, teve Derlei como sua primeira
coordenadora e durante todo esse tempo foi impulsionado por ela. Estar com ela
era caminhar com a história da resistência, era aprender, na prática, o
conceito de não se entregar.
A Derlei agora não estará mais nas marchas, nem nas
audiências, nem nos gabinetes, iluminando os caminhos e clamando por Justiça.
Ela não estará. Encantou. Mas aquela força inquebrantável que a levou,
jovenzinha ainda, para a luta contra a ditadura, permanece naqueles que com ela
conviveram em todos esses anos.
Continuar a luta por Memória e Verdade, trincheira onde travou suas últimas
batalhas, é o que temos de fazer, para honrar sua vida.
Memória, Verdade e Justiça, tanto ainda por conquistar. Mas,
essa vereda construída e trilhada por Derlei seguirá aberta, para que todos nós
caminhemos.
Foi uma linda vida, Derlei. E nós te agradecemos por tudo!
Que bom que tivemos tempo para estar contigo, te abraçar e te dizer tudo isso.
Caminhada pela Verdade - 2014
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