Saí da universidade por volta das cinco e meia da tarde.
Respirei fundo, pois, depois das cinco, já se sabe que o calvário será
doloroso. No geral, o ônibus leva uns cinquenta minutos só para ir da
biblioteca até a Eletrosul. Não deve dar mais de dois quilômetros. É um
martírio. E não há saída. Quem mora longe tem de pegar o ônibus. Não dá para ir
à pé e a bicicleta não é opção. Não há ciclovias e não há respeito com quem
pedala. Fazer o trajeto na magrela é arriscar a vida, sempre.
Agora para completar a tragédia da imobilidade ainda estão
em andamento as obras da duplicação de parte da Edu Vieira. Outra obra inútil,
pois duplica apenas um pequeno pedaço do trajeto, que novamente vai engarrafar
na Eletrosul. É uma coisa de louco. Talvez fosse bom a gente investigar sobre
os contratos da empreiteira que está fazendo o serviço, porque não tem
explicação racional para aquilo.
O fato é que depois das cinco e meia os ônibus andam lentos
e totalmente lotados. Quem vai em pé sofre demais, ainda mais carregando livros
e cadernos. É o terror.
Pois nesse dia uma cena grotesca me jogou no chão. Uma
daquelas coisas que nos deixa sem palavras, pelo tamanho do absurdo.
O busão seguia lento, o povo com aquelas caras de desespero,
apinhado no corredor. Na catraca, a cobradora, a cada ponto, recitava o mantra:
um passinho mais pra trás, por favor, tem mais gente pra entrar. Só que não tinha
mais espaço. Nenhum passinho podia ser dado. Todos com aquela cara de bunda, já
olhando feio para a moça. Mais um ponto e nem a porta conseguia abrir, de tanta
gente. Então, ela, tentando ser engraçada, começou a gritar: olha a barata,
olha a barata. Duas garotas que estavam mais a minha frente arregalaram os
olhos, cheios de terror. Eu acalmei. Bobagem, não tem barata. Só a tentativa
desastrada da guria em fazer as pessoas se apertarem mais.
Lá na frente a moça sorria de sua própria piada. Só ela,
ninguém mais. Eu, que ando com os nervos à flor da pele não consegui reter as
lágrimas. Que porra de mundo é esse? Que merda de sociedade a gente criou? Na qual
se tem de andar como bicho, olhos no chão, resignados? E ainda tendo de aturar
brincadeiras idiotas de quem infelizmente não tem consciência de classe.
Bateu uma tristeza infinita. Porque aquela moça é uma
trabalhadora. Deve também pegar o busão cheio para voltar pra casa. E
certamente seguirá cabisbaixa e triste como todos nós que levamos quase três
horas para chegar a casa depois de um dia de trabalho.
Do meu lado, as garotas rastreavam o chão, ainda sem
acreditar que não havia barata. E me olhavam, estranhadas, por conta das
lágrimas que corriam devagar. Vontade de quebrar o ônibus e a cara da mulher,
que seguia rindo. Tem dias que é uma merda, mesmo...
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