Do elevado em frente ao Rancho da Canoa alguns moradores
observavam a praia. Estavam silenciosos e inquietos. Na areia um festival de guarda-sóis
coloria toda a faixa e o mar batia forte. Ouvia-se o riso das crianças e os
gritos da juventude serpenteando sobre as ondas. Na cabeça de cada uma daquelas
pessoas em frente ao rancho passava um filme, sobre um Campeche sonhado e
lutado. Do lado, o rio Rafael vertia
água pútrida, caminhando direto para o mar. Janice Tirelli vaticinou: “é o
começo do fim”. O bairro-jardim, tão
duramente defendido ao longo dos anos de discussão sobre o Plano Diretor parece
cada dia mais distante. Ao longe, os condomínios assomam nas dunas, parecendo
tripudiar daquelas almas pensativas.
Ninguém ali é contra o turismo ou os visitantes que todo ano
procuram o Campeche para as férias. Não. O que sempre vigiaram foi o cuidado
com a praia, afinal, ela é de todos, nativos ou não. É pública, é bela, é
limpa. E assim tem de ser, para quem mora e para quem está de fazem fossa e que aproveitam a tubulação da
água pluvial para jogar o esgoto. É bom que se lembre: não há rede de esgoto no
Campeche. Além disso, também pesam as construções gigantescas – de licenças
ambientais duvidosas - na beira dos velhos riachos que até ontem corriam livres
e limpos. Assoreados, perdidos de sua vegetação nativa, eles tentam sobreviver,
sem conseguir. O máximo que conseguem chegar a ser é uma fossa aberta,
escorrendo para a areia, deixando-a verde, limosa e malcheirosa.
São pelo menos três pontos críticos no Campeche. No
riozinho, no rio Rafael, na Lomba do Sabão. E a comunidade cansou de esperar
pelo poder público. Por isso aquela gente estava ali, no domingo, em frente ao
rancho. Inquieta e impaciente.
Foram chegando devagar, dispostas a fechar os esgotos de
quem estava fazendo o malfeito. Em pouco tempo já era uma algaravia só. “Isso é
culpa do fulano, beltrano ligou esgoto, condomínio tal também”... Quem visse de
longe pensaria que era alguma briga. Povo agitado esse nosso. Em pouco tempo
apareceram os sacos de farinha, pás, enxadas. Num átimo e toda aquela gente já
subia pelas dunas em busca do ponto certo do rio onde botar os sacos de areia.
No minuto seguinte os sacos já estavam sendo enchidos e se formava um cordão de
gente até o rio, cada um dando seu melhor esforço.
No alto das dunas, um grupo de moradores de um dos
condomínios construídos na beira da praia observava a movimentação com cara de
nojo. Uma das mulheres dizia: “Temos de fazer um caminho do condomínio que
separe isso aqui”. O “isso aqui” éramos nós, os moradores preocupados com a
limpeza da praia. Nem ali, na boca da praia, a gente consegue fugir da luta de
classes. Marx sempre certo. Os endinheirados não estão nem aí para o lugar. Desde
que mantenha a aparência de limpo, está tudo bem.
Do outro lado, próximo ao rio, seguia a azáfama. Sacos e
mais sacos fecharam a saída para a praia. A intenção era fazer com que o esgoto
voltasse e entupisse as casas e condomínios que jogam esgoto irregularmente na
rede pluvial. “Aqui é a união, isso é a união. Não é marinha, não é governo, é
o povo, unido”, gritava Luis, uma dos garotos que está batalhando nas barracas
da praia e que tirou um tempo para vir ajudar. Ele também é morador do Campeche
e se importa com a praia.
A ação direta terminou quando a barra da noite já ia
aparecendo. Se a administração da cidade não faz, a gente faz. A semana será de
novas investigações e onde for achado esgoto será lacrado. No próximo domingo
já tem outra ação marcada. Será às 19 horas, com saída em frente ao Bar do
Zeca.
6 comentários:
Que bom que as gentes que amam o Campeche batalhem por uma praia limpa para todos! Só os imbecis curtem praia suja... e, àquela senhora que torceu a cara: que guarde para si o refugo de tudo que consome e vá curtir o que sua pouca delicadeza com a vida é capaz de produzir!
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Parabens pela brilhante iniciativa em preservar a praia do Campeche da poluicao de esgoto.
E continue fiscalizando por praia limpa e sem esgoto.
Parabéns pela iniciativa. Que continuem lutando para preservar um local tão belo. Vou a Floripa e já estive várias vezes no Campeche, na casa do Léo Moraes. Se der, me juntarei a vocês no próximo final de semana. Esgoto tem que ser tratado pelos órgãos públicos.
O bar do Chico foi fechado. Em seu lugar é na vizinhança foi autorizado vários edifícios com centenas de apartamentos com a ocupação de milhares de novos moradores que todos juntos poluem menos que um simples boteco?
Estive no Campeche conversando com o Ataíde e realmente a coisa tá difícil. As empreiteiras, junto com a prefeitura estão acabando com Santa Catarina. O cheiro de esgoto está no ar. Não importa para onde se vai. Terrível. É imprescindível que sejam feitas estações de tratamento de esgotos, mas JAMAIS nos rios, córregos ou assemelhados. As estações devem ser feitas na porta dos condomínios. Piscinas próprias para isso. Quem produz a poluição que se sujeite a limpá-la. Floripa não tem como suportar tamanha invasão. A grana que os turistas deixam na cidade, no estado, não vai limpar todo esgoto produzido.
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